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O tal de Taturana, o Baiano, como Luís Inácio da Silva era conhecido entre a peãozada antes de se tornar o Lula famoso, poderia ser tudo na vida no Brasil da ditadura nova, menos líder sindical. Como é que um sujeito não atrelado ao governo nem a partidos que sempre se consideraram tutores da classe operária tem a coragem

de sair por aí dizendo que ―fajutaram as estatísticas e nos roubaram 34,1 por cento e

outros paus-de-arara e gritam:‖É isso aí, pau neles!‖ E as máquinas param. Era algo

inimaginável no Brasil dos anos 70 e, a partir daí, ―não havia mais tempo de gente

esclarecida curtir angústia, como antes era comum. (KOTSCHO, 1982, p. 4).

Dez anos depois de 1968, o quadro é completamente diverso, tanto no que se refere à conjuntura do país, quanto no que se refere a essa relação entre as organizações de esquerda, a participação estudantil e o movimento dos trabalhadores. Mas, algumas das formas de organização, mobilização e condução das greves, que haviam sido introduzidas e utilizadas nas greves de 1968, tinham ficado na experiência e na prática das lutas dos trabalhadores. Personagens das lutas de anos anteriores permaneciam em cena e as greves permaneciam na memória de alguns dos militantes e dos educadores que encontramos. Também o quadro era outro, no que se refere à participação das organizações e dos grupos de esquerda junto ao movimento sindical. E o regime militar, como vimos, esgotava suas condições de realizar o consenso em nível suficiente para que passasse incólume a sua legitimidade. O quadro do período, já relatado nas páginas do ítem 3.2 deste trabalho, vai propiciar o espaço para que o chamado Novo Sindicalismo possa protagonizar a elaboração discursiva necessária para dar andamento a novas mobilizações.

Uma publicação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) resume bem essa configuração das novas condições apresentadas pelo contexto, entre 1977 e 1979, que, como já foi observado aqui, mostrava um processo de transformação em direção ao crescimento da participação política e do questionamento às políticas econômicas do governo, bem como ao autoritarismo do regime. Lembrando que diversos setores da sociedade civil passaram a lutar por liberdades democráticas e que o movimento estudantil retomou as ruas das grandes cidades, exigindo o fim da ditadura, o texto assinala que:

Os movimentos sociais e populares pediam o fim da carestia, e o sindicalismo não comprometido com o regime reivindicava a reposição das perdas salariais, despertando os trabalhadores para as lutas sindicais, principalmente nas regiões mais industrializadas e grandes centros urbanos. As novas lideranças sindicais deram novo rumo ao sindicalismo brasileiro: contestaram os números da economia e reivindicaram reposições salariais; exigiram reforma agrária; pediram o retorno da democracia; tomaram posição em defesa de uma nova estrutura sindical; organizaram encontros intersindicais e fortaleceram as oposições combativas contra as diretorias sindicais pelegas. (MARQUES, 2007, p. 20, destaque nosso).

As formas de organização destinadas a fortalecer (ou recriar) o movimento sindical tiveram o mérito de introduzir cada vez mais encontros entre trabalhadores de diferentes fábricas e setores. Os encontros proporcionavam, a cada passo, melhores condições de organização em direção a uma representatividade mais abrangente, no rumo da recuperação

de uma entidade nacional dos trabalhadores. O mesmo texto registra o avanço dos movimentos grevistas e eventos trágicos que foram vividos pela classe trabalhadora no período:

O ano de 1979 foi marcado pela ocorrência de movimentos grevistas em todo o Brasil. Milhões de trabalhadores paralisaram as atividades reivindicando aumentos salariais e o atendimento de questões especificas de cada categoria profissional. A repressão policial era brutal, o que provocava, muitas vezes, o enfrentamento com os agentes do Estado, que agiam a serviço do governo e dos patrões, causando até mesmo o assassinato de trabalhadores. Foi o que ocorreu no mês de agosto, em Belo Horizonte. Durante greve dos trabalhadores da construção civil acabou sendo morto o operário Oracílio Martins Gonçalves. Outro assassinato aconteceu no dia 30 de outubro, durante greve dos metalúrgicos em São Paulo, quando foi morto por um policial militar o militante da Oposição Sindical e da Pastoral Operaria, Santo Dias da Silva. O assassinato de Santo Dias causou muita indignação, forte reação da Igreja Católica, e levou a uma grande manifestação contra a ditadura militar, que percorreu as ruas do Centro de São Paulo. (MARQUES, 2007, p. 31).

O Movimento de Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo começou a existir no final dos anos sessenta. Em 1972, montou uma chapa, visando concorrer à direção do Sindicato, mas foi derrotado. Em 1973, houve a já mencionada greve na empresa Villares, na zona sul de São Paulo, que provocou o fortalecimento da oposição metalúrgica:

Após essa greve, a oposição começou a desenvolver uma política de organização sindical denominada Interfábricas, que consistia em encontros de metalúrgicos de varias fábricas de uma mesma região. Os trabalhadores visavam disputar as próximas eleições sindicais, mas a prisão de varias lideranças da oposição, no inicio de 1974, desarticulou o trabalho que desenvolviam junto aos metalúrgicos. Em decorrência do fato, no ano seguinte a oposição não conseguiu organizar uma chapa para concorrer ao sindicato, mas lançou um programa de ação dirigido aos metalúrgicos, o qual dava ênfase à organização de comissões de fabrica. (MARQUES, 2007, p. 33).

Um importante documento foi produzido pela Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo, trazendo as teses aprovadas no seu Primeiro Congresso, realizado em março de 1979. O texto do documento, de dezesseis páginas, começa questionando a estrutura sindical, o atrelamento dos sindicatos ao governo e a falta de bases sindicais nas empresas. Questiona proibições, por exemplo: ―É proibida a formação de uma central sindical. O que permitem é a organização de federações estaduais e nacionais de sindicatos de uma mesma categoria profissional, que não tem nenhuma autoridade diante dos sindicatos.‖ (CONGRESSO DA OPOSIÇÃO METALÚRGICA DE SÃO PAULO, 1979, p. 2). O documento prossegue, criticando a quase proibição de greves e o caráter eminentemente assistencialista dos sindicatos, para, em seguida falar do papel da Oposição Sindical, que ‖é o de desmantelar a atual estrutura e construir uma nova, independente dos patrões e do governo, a partir da

organização de fábrica.‖ CONGRESSO DA OPOSIÇÃO METALÚRGICA DE SÃO PAULO, 1979, p. 3).

Em seguida, o documento propõe linhas de ação, ―a todos os trabalhadores combativos‖, ―às oposições sindicais‖ e ―às diretorias sindicais combativas‖ que incluem organizar grupos dentro das fábricas e das empresas e, quando a situação for favorável, as Comissões de Fábrica ou de Empresa, exigindo seu reconhecimento e estabilidade. Esta é a preocupação central das teses aprovadas: a criação das comissões de fábrica, o entendimento do que são elas e de quais são suas características e objetivos. (CONGRESSO DA OPOSIÇÃO METALÚRGICA DE SÃO PAULO, 1979, p. 6-8). Toda a segunda metade do documento é sobre as Comissões de Fábrica, trazendo informação sobre a sua história e lembrando o que a experiência das lutas ensina. Este é um aspecto importante do documento, pois registra as experiências aprendidas nas lutas anteriores, como foi o caso de Contagem e Osasco, além das greves e ações ocorridas no período mais violento da ditadura. Segundo o Documento, há

[...] dois tipos de militância dentro das empresas: 1 – Militância isolada: são militantes conscientes nas fábricas, que fazem discussão, mobilização e organização com os companheiros. 2 – Grupo ou núcleo de fábrica: é a união de companheiros combativos para planejar e fazer lutas dentro da fábrica. O grupo não aparece para a maioria dos operários e para a direção. Os operários identificam o militante e não o grupo. Com a criação de comissões de empresa, os grupos de militantes não desaparecem, continuando como núcleos de atuação. (CONGRESSO DA OPOSIÇÃO METALÚRGICA DE SÃO PAULO, 1979, p. 9).

O documento das teses da oposição sindical era bastante firme na defesa e promoção dos grupos e comissões, assinalando que ―A Oposição deve: propagandear a formação de grupos e comissões, mesmo onde não existam trabalhos de oposição. Deve lutar para que as comissões se tornem uma conquista da classe operária.‖ (Idem, ibidem, CONGRESSO DA OPOSIÇÃO METALÚRGICA DE SÃO PAULO, 1979, p. 12).

A oposição sindical já havia participado do III Congresso dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, em 1978, onde apresentou sua tese sobre comissões de fábrica. De acordo com o estudioso do movimento sindical, Iram Jacome Rodrigues, a tese teve bastante repercussão nos sindicalistas presentes, tendo levado a uma mudança na postura dos delegados ao congresso, "pois, até aquele momento, o que se discutia - relacionado com o tema da organização dos trabalhadores nos seus locais de trabalho - era a demanda por delegados sindicais no interior das fabricas". (MARQUES, 2007, p 31-33).

A relação com organizações de esquerda agora se dava de modo bastante diferente do que havia sido na década de sessenta. Um exemplo é a corrente chamada Unidade Sindical,

que foi criada entre o final de 1978 e início de 1979. Ela era impulsionada por sindicalistas ligados ao PCB, que ainda estava na ilegalidade. Havia, ainda, na Unidade Sindical, dirigentes sindicais de outras correntes comunistas, bem como militantes sem vínculos partidários.

Conforme esclarece Marques, ―A origem da Unidade Sindical está no Centro Brasil Democrático (Cebrade), entidade fundada em julho de 1978 por intelectuais, artistas, sindicalistas e políticos, e que serviria para fomentar a oposição contra a ditadura militar. O seu presidente era o arquiteto Oscar Niemeyer, militante comunista histórico, e o vice- presidente o historiador Sergio Buarque de Holanda, mais tarde um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT). Em dezembro de 1978, o Cebrade organizou o Encontro Nacional pela Democracia, e em agosto de 1979 o Encontro Nacional de Dirigentes Sindicais, este na cidade de Niterói, Rio de Janeiro, cujo principal objetivo era impulsionar a Unidade Sindical. O encontro de Niterói reuniu sindicalistas vinculados à estrutura sindical oficial, comunistas de varias tendências, antigos interventores e ate mesmo dirigentes sindicais combativos e comprometidos com o Novo Sindicalismo. ―O Cebrade e a Unidade Sindical eram partes da política traçada pelo PCB, para intervir no processo político, em âmbito nacional.‖ (MARQUES, 2007, p. 36).

Ao mesmo tempo, é importante relembrar aqui, que o PCB, naquele mesmo ano de 1978, estava a alguma distância do movimento dos trabalhadores:

Desde que passara a existir, em 1922, era a primeira vez na História que uma manifestação operária de grandes proporções (como a de 78), ocorria sem a presença, sequer uma informação detalhada, dos dirigentes do Partidão. Por mais que se pudesse alegar que a repressão desarticulara temporariamente a sua capacidade de intervenção, era evidente que se tratava de um sinal dos tempos, grave e de forma alguma alvissareiro. (REIS FILHO, 2014, p. 397).

De fato, conforme lembra esse autor, o

[...] caráter de massas do movimento (de 1978), expresso nas assembléias multitudinárias do Estádio de Vila Euclides; a combinação entre o recurso ao sindicato e o exercício da autonomia; a localização estratégica das indústrias e das cidades alcançadas pela greve; as lideranças operárias emergentes, entre as quais se destacou Luiz Inácio Lula da Silva; a capacidade imediata de irradiação – por volta de dois meses depois, meio milhão de trabalhadores, em cerca de quatrocentas empresas em dezoito cidades do estado de São Paulo, haviam partido para a greve -, todos esses aspectos tenderiam a modificar, e profundamente, as referências com que e até então as forças políticas – de direita e de esquerda – vinham participando

do processo político da ‗abertura‘. (REIS FILHO, 2014, p. 396).

O que fica claro é que a resistência operária continuava atuante e que a militância no interior das fábricas, nos locais de trabalho se mantinha ativa. Os acontecimentos do período,

que, como foi visto, colocavam em dúvida a legitimidade do regime militar, mostravam a sociedade em processos de mobilização e viabilizavam a abertura de espaço para diversos setores se organizarem.

Segundo Abramo,

[...] a vivência de opressão e exclusão existente no interior das empresas criava uma base a partir da qual era possível, de alguma forma compartilhar essas experiências.

Por isso talvez o movimento de maio de 1978 tenha sido tão vulnerável ao ―clima geral‖ da conjuntura: porque dentro das fábricas também se vivia, de forma mais ou

menos difusa, a mesma insatisfação. O que estava acontecendo nas ruas chegava aos olhos e ouvidos dos operários, auxiliando-os a compreender a situação vivida, assim como a abrir perspectivas de reação. (ABRAMO, 1999, p.191).

É compreensível que a divulgação do falseamento dos índices de aumento do custo de vida se somasse ao conjunto de fatores que influenciaram nas mobilizações para as greves. Que vieram, começando por São Bernardo.

As greves que ocorreram no Brasil, no período que vai de 1978 a 1984 são chamadas de ―greves do novo sindicalismo‖26

, na medida em que caracterizam alguma mudança no desenho e na dinâmica da luta dos trabalhadores e na luta sindical.

Conforme ensina Blass,

[...] o novo sindicalismo, enquanto idéia e proposta, é construído e reconstruído coletivamente por vários atores sociais e a partir de diferentes lugares. Assim, sindicalistas trabalhadores (as), pesquisadores, governo, empresários e os meio de comunicação de massa participam, cada um a seu modo, desse processo de formação das classes trabalhadoras e da história do movimento operário e sindical brasileiro. (BLASS, 1999, p. 34).

A autora observa que o novo sindicalismo surge em oposição às práticas desenvolvidas pelo ―velho sindicalismo‖ que se orienta pela lei de sindicalização, promulgada em 1931. Trata-se da lei que estabelece o sindicato único por ramo produtivo e por base regional, além de possibilitar a intervenção do Estado no funcionamento dos sindicatos e na regulação das relações entre capital e trabalho. Esclarece, ainda, que:

26 Convem lembrar que o termo ―novo sindicalismo‖, segundo Hobsbawn, originou-se no final do século

dezenove e pode sugerir três idéias a um estudioso do desenvolvimento histórico do movimento trabalhista

britânico. ‖Sugere, primeiramente, um novo conjunto de estratégias políticas e formas de organização para os sindicatos, em oposição àquelas já existentes no ―antigo‖sindicalismo. Em segundo lugar, sugere um

posicionamento social e político mais radical por parte dos sindicatos dentro do contexto do surgimento do movimento operário socialista; e, em terceiro, a criação de novos sindicatos de trabalhadores até então não – organizados ou não-organizáveis. Conseqüentemente, também sugere um crescimento explosivo da organização e associação sindical.‖ (HOBSBAWN, 1987, p. 221).

A proposta de um novo sindicalismo é produzida e reproduzida no efetivo acontecer dos inúmeros protestos sociais e manifestações operárias que eclodem nas várias cidades brasileiras e nos vários setores produtivos, a partir do final dos anos 70 e no decorrer da década de 80. Partindo de um conjunto de estratégias sindicais, onde inclui a politização do cotidiano de vida e de trabalho e a organização dos trabalhadores nas empresas no confronto direto e na interlocução política com os representantes patronais e/ou governamentais para a conquista de reivindicações econômicas e sociais, busca estabelecer as regras mínimas de controle e fiscalização dos acordos assinados com o obetivo de viablilizar a sua aplicação nas empresas. (BLASS, 1999, p. 34).

Neves e Freitas acrescentam que, em Betim, o Novo Sindicalismo apresentava traços de ruptura e de continuidade com o passado. Segundo as autoras,

Ao mesmo tempo, era um sindicalismo diferente daquele existente no período populista, inclusive porque suas bandeiras e sua proposta de atuação, nmantendo uma estreita vinculaçãp com a vida cotidiana dos trabalhadores, eram diferentes daquelas sustentadas no período pré-64. Mas, de outro lado, o Novo Sindicalismo reafirmava velhas tradições mantidas por antigos militantes, sobreviventes das jornadas de maio e outubro de 1968 em Contagem. (NEVES; FREITAS, 1999, p. 192-193).

Em Betim, a oposição sindical, com um programa de atuação ligado aos princípios do novo sindicalismo, venceu as eleições para a direção do sindicato, em 1981, como veremos no próximo capítulo. Já, com relação ao Sindicato dos Metalúrgicos de Belo Horizonte/Contagem, a oposição sindical, que passou a se organizar a partir de pequenos grupos, nos locais de trabalho e nas mobilizações nos bairros, perdeu as eleições de maio de 1978 e teve vários de seus quadros demitidos. Não obstante a derrota, a oposição sindical conseguiu manter mobilizações na categoria e, a partir da campanha salarial de agosto desencadeou ―operações tartaruga‖ em diversas indústrias. (ver NEVES; FREITAS, 1999, p. 199). Foram mobilizações desse tipo que organizaram várias assembleias na campanha salarial, onde se decidia pela criação de comissões de operários nas fábricas, o que propiciou o fortalecimento do movimento para as greves que ocorreram em 1979. Ainda assim, como mostram Neves e Freitas, a oposição sindical de BH/Contagem

[...] só conseguiu ganhar as eleições para o sindicato em 1984, depois de anos de intervenção e de permanência de João Silveira à frente do Sindicato. Só a partir deste período é que o sindicato passou por uma reestruturação, estabelecendo como propostas da ação sindical as que caracterizavam o Novo Sindicalismo. (NEVES; FREITAS, 1999, p. 199).

Não nos deteremos aqui em uma discussão mais aprofundada sobre as greves daquele período, ou mesmo numa narrativa detalhada a respeito delas. Existe, hoje, uma vasta literatura sobre aqueles movimentos que foram, sem dúvida alguma, parte importantíssima

das matrizes geradoras dos aperfeiçoamentos que tivemos em vários setores dos direitos e da cidadania do nosso povo, com as conquistas democráticas realizadas a partir da década de 1980. A movimentação teve seu início com as greves dos trabalhadores do setor metalúrgico e automobilístico, no Estado de São Paulo.

Entre os autores que trataram dessa fase tão significativa do desenvolvimento das lutas da classe trabalhadora, relatando e analisando as greves ocorridas no período, estão Laís Abramo, (1999), Ricardo Antunes (1988), Celso Frederico (1991), John Humphrey (1982), Amnéris Maroni (1982), Paranhos, Kátia R. (1999), Éder Sader (1988) e diversos outros.

Os trabalhadores reivindicavam mais segurança no trabalho, pagamento por insalubridade, direito de ter comissões de fábrica, sobretaxa por horas-extras, pautas que já indicavam alguma novidade na qualidade da luta e no seu direcionamento. Ao mesmo tempo, havia uma luta já de oito meses de campanha salarial pela reposição de perdas advindas da manipulação pelo governo, dos Índices de Aumento do Custo de Vida entre 1972 e 1974.

De acordo com Laís Abramo, o que possibilitou o salto de qualidade na luta dos trabalhadores foi

[...] a divulgação pela imprensa, de dados que evidenciavam a manipulação oficial dos índices de aumento do custo de vida realizada pelo ministro da Fazenda, Delfim Neto, em 1973, e que teria acarretado uma perda salarial acumulada da ordem de mais de 30% para algumas categorias de trabalhadores. Os sindicatos imediatamente se mobilizaram, solicitando ao DIEESE o cálculo preciso da perda salarial ocorrida em razão da manipulação dos dados. (ABRAMO, 1999, p.192).

Como os reajustes salariais eram determinados por lei que os baseava em índices de custo de vida calculados pelo Governo, essa manipulação teve impacto pesado na renda e na qualidade de vida dos trabalhadores. Segundo Humphrey,

[...] a manipulação do índice de inflação nunca foi formalmente compensada, deixando um sentimento de injustiça entre os trabalhadores. Os operários achavam que continuariam a enfrentar o risco da queda de salários, enquanto a política salarial do governo permanecesse em vigor. (HUMPHREY, 1982 p.87).

3.10 As Greves de 1978/1979 e os Trabalhadores da Região Metropolitana de Belo