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Classificação das embarcações – Nos navios, encontramos diversos

No documento Arte Naval - Fonseca - Vol 1 - 7ª Ed.- 2005 (páginas 173-180)

EMBARCAÇÕES MIÚDAS SEÇÃO A – EMBARCAÇÕES

4.2. Classificação das embarcações – Nos navios, encontramos diversos

tipos de embarcações miúdas que, de acordo com o tipo de construção, podem ser classificadas como lanchas, escaleres, baleeiras, botes, chalanas, embarcações de casco semi-rígido e balsas salva-vidas. Cada uma delas tem características próprias e emprego específico.

a. Lanchas – São embarcações a motor, exigindo portanto maior porte,

construção mais resistente e casco reforçado para suportar o peso e o esforço de propulsão dos motores. As lanchas recebem nome especial conforme o tipo de serviço a que se destinam: (1) vede- tas (fig. 4-1) – Lanchas com c a b i n e a r é , para uso dos Oficiais. São do- tadas de boa ve-

(2) lanchas cobertas – Dotadas de uma superestrutura ligeira para proteção do pessoal e da carga; e

(3) lanchas abertas (fig. 4-2)– De popa quadrada, servem para o transporte de pessoal e serviços pesados. Podem receber toldos. Possuem bancadas dispostas de um a outro bordo e podem transportar mantimentos, sobressalentes etc.; servem também para

espiar uma ân- cora e outros serviços no mar. Lanchas maio- res, deste tipo, tomam o nome de bois ou lan- chões.

b. Embarcações de casco semi-rígido (fig. 4-3) – As embarcações de

casco semi-rígido são de introdução mais recente em nossa Marinha. Apresentam vantagens significativas em relação às embarcações tradicionais. Com casco em fibra de vidro e flutuadores de borracha infláveis, foram introduzidas a bordo com o propósito de contribuir para reduzir pesos altos a bordo e permitir o emprego de aparelhos de carga menos robustos e mais leves. Apresentam as seguintes vantagens quando comparadas às embarcações tradicionalmente encontradas a bordo:

são de manuseio mais rápido e fácil (são rapidamente retiradas do berço e colocadas na água);

• podem operar em condições piores de mar;

• desenvolvem velocidades superiores à maioria das lanchas tradicionais; e

• apresentam boa manobrabilidade, além de conferirem ao patrão um amplo campo de visão em torno da embarcação.

c. Escaleres (fig. 4-4) – São

embarcações, a remo ou a vela, de proa fina e popa quadrada. Possuem de 3 a 6 bancadas, podendo ser de voga (dois remos por bancada) ou de palamenta (um remo por bancada). São particularmente úteis para os serviços leves no porto;

Fig. 4-2 – Lancha aberta

Fig. 4-3 – Embarcação de casco semi-rígido

d. Baleeiras – São embarcações, a remo, a vela ou a motor, com a proa e a

popa mais ou menos iguais, finas e elevadas, com grande tosamento a meia-nau. Diferenciam-se do escaler por esta forma de popa, são em geral menores do que ele e são mais leves que o escaler de mesmas dimensões. As de remo podem ser de voga ou de palamenta, estas últimas com 10 ou 12 remadores. Em razão de sua forma, são muito seguras para o mar, têm geralmente boa marcha tanto a remo como a vela, e são as mais próprias para aterrar numa praia, investir na barra de um rio etc. Todas as baleeiras têm forquetas e usualmente levam ainda uma forqueta a ré para a esparrela. São as embarcações mais usadas como salva-vidas, podendo neste caso ser a motor (fig. 4-5).

Baleeiras salva-vidas

As balsas, por suas características essenciais de leveza e simplicidade de construção, não podem assegurar aos náufragos mais que uma proteção ocasional em caso de emergência. Portanto, elas permitem uma proteção eficiente apenas a tripulantes e passageiros de navios que não naveguem escoteiro ou aos que estejam em águas onde se possa esperar por um socorro externo que não seja tardio.

A proteção aos náufragos é melhor assegurada por embarcações de casco rígido e, entre estas, a baleeira é o tipo preferido. Elas devem satisfazer os seguintes requisitos: (1) boas qualidades náuticas, mesmo em mar grosso; (2) facilidade de arrumação a bordo e nas manobras de arriar e de içar; (3) máxima capacidade de transporte de passageiros em relação ao tamanho; (4) devem ser duráveis, mesmo se expostas às piores condições atmosféricas; e (5) devem ser manobradas por poucos homens.

Esses requisitos especiais se opõem, mas como o propósito é prover a segurança do pessoal em caso de abandono do navio, o desenho de construção é principalmente dirigido para os seguintes aspectos: (1) os passageiros devem ser

desembarcados com segurança; e (2) suas vidas devem ser asseguradas enquanto forem obrigados a permanecer na embarcação. Assim, a questão de arriar a embarcação e afastá-la do costado deve prevalecer sobre a manobra de içar e sobre a boa arrumação a bordo. Da mesma maneira a flutuabilidade é assegurada pelos tanques de ar (fig. 4-6), permitindo à baleeira uma reserva de flutuabilidade que a impossibilite de ir a pique, a não ser em caso de avaria grave.

A estrutura do casco das baleeiras salva-vidas pode ser metálica, de madeira ou de fibra de vidro, sendo a primeira a mais empregada, por resistir a incêndios e por apresentar maior durabilidade em face das diversas condições de clima e temperatura a que as embarcações são submetidas. Nas baleeiras metálicas, as bancadas e algumas peças não estruturais podem ser de madeira.

As principais objeções ao casco metálico para a baleeira salva-vidas são: (1) se ficar cheia de água ou emborcar, ela vai a pique, o que não acontece com a de madeira leve, que flutua em qualquer posição; isto foi solucionado com a colocação de tanques de ar, que, em tal caso, ainda têm a vantagem de tornar mais fácil trazê- la à posição direita; e (2) os tanques de ar dificultam a limpeza, a secagem da água das chuvas e a pintura, por ficarem menos acessíveis os espaços interiores; deste modo desenvolve-se facilmente a ferrugem. Baleeiras de alumínio com tanques de ar de material plástico e baleeiras construídas inteiramente de materiais plásticos eliminam todos esses inconvenientes nos navios modernos, reduzindo ao mínimo as despesas de manutenção.

Os tanques de ar, constituídos por caixas de metal ou de material plástico, concedem uma grande reserva de flutuabilidade, que é característica das baleeiras de salvamento.

No sentido do comprimento, eles são distribuídos de modo que se tenha 50% de sua capacidade na proa e na popa, e os outros 50% no meio da embarcação.

No sentido da altura, a colocação dos tanques de ar interfere com a estabilidade da embarcação. Se muito altos, eles tendem a manter a embarcação na posição direita, ou trazê-la a esta posição se emborcar, mas obrigam a colocar as bancadas no alto, e se colocadas a meia-nau ocupam os lugares dos remadores e reduzem a facilidade de endireitar a baleeira quando emborcada, mas apresentam a vantagem de abaixar o centro de gravidade da embarcação, não somente por seu próprio peso, mas por permitirem a colocação das bancadas de tripulantes e passageiros mais em baixo.

Na prática, colocam-se tanques de ar tão altos quanto possível, na proa e na popa; até a altura das bancadas e somente debaixo delas, a meia-nau. O centro de gravidade da embarcação é abaixado por meio de uma quilha bem pesada, de ferro ou de chumbo. Deste modo torna-se a baleeira auto-endireitável, combinando esta vantagem, no caso de ela emborcar, com a estabilidade assegurada mesmo quando com sua lotação completa.

As baleeiras, assim como as balsas, dispõem de linhas salva-vidas – cabo preso em toda a cinta, de 60 em 60 centímetros, com caçoilos a meio, para nele se agarrarem os náufragos.

Além do material referido em 4.2 g (palamenta das balsas), as baleeiras possuem em sua dotação: leme e cana do leme; remos em número suficiente, mais dois remos de sobressalente e um de esparrela, com fiel e forqueta para colocá-lo

na popa; um jogo completo de forquetas ou toletes, com os respectivos fiéis presos à embarcação; uma âncora flutuante, um bartedouro, um balde, um croque e uma lanterna, mastros e velas; e uma agulha de escaler.

Requisitos das baleeiras salva-vidas dos navios mercantes

A Convenção Internacional para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar, as Sociedades Classificadoras e as leis de cada país estabelecem regras, as mais minuciosas possível, quanto ao tipo, lotação e número de embarcações para cada navio.

Tudo o que dissemos anteriormente sobre as baleeiras salva-vidas aplica-se às embarcações dos navios mercantes; mas são tão variados os tipos existentes, tão minuciosas as especificações, que a descrição completa foge ao propósito deste livro. Cada navio possui, nas instruções e nos desenhos, as particularidades de suas embarcações.

Após a Segunda Guerra Mundial, estabeleceram-se novas exigências para as embarcações de salvamento. De modo geral, os principais requisitos são:

(1) a capacidade, em pés cúbicos, e a lotação, em número de passageiros, devem ser marcadas em lugar bem visível;

(2) nenhuma embarcação de navios destinados a alto-mar deve ter menos de 18 passageiros de lotação (180 pés cúbicos de capacidade);

(3) as embarcações metálicas devem ter 1 1/2 pé cúbico de capacidade nos tanques de ar, para cada pessoa da lotação, além da capacidade necessária para mantê-las flutuando quando cheias de água e com toda a dotação;

Fig. 4-6 – Baleeira salva-vidas

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(4) todas devem ter equipamentos para usar remo de esparrela;

(5) as embarcações metálicas devem ter bujões com válvulas de mola, e as de madeira podem ter, ou estes bujões ou bujões comuns presos com correntes;

(6) navios de mais de 2.500 toneladas brutas, destinados a rotas onde devem se afastar mais de 200 milhas da costa, devem ter pelo menos uma baleeira a motor;

(7) nos navios que devem ter mais de 13 baleeiras, uma delas há de ser a motor;

(8) nos navios que devem ter mais de 19 baleeiras, duas delas serão a motor; (9) as baleeiras de maior porte, com lotação de 100 ou mais passageiros, se não forem a motor, devem ter propulsão manual de hélice; e

(10) as baleeiras a motor devem incluir na dotação um equipamento de navegação, uma pequena estação de rádio, e um holofote. A estação de rádio deve possuir equipamento que opere nas freqüências de socorro, com alcance não inferior a 50 milhas nas condições normais, de dia. A fonte de energia deve ter capacidade para 6 horas de funcionamento contínuo, pelo menos. Quando a mesma fonte fornecer energia ao rádio e ao holofote, deve ter capacidade suficiente para o bom funcionamento de ambos.

Número de baleeiras salva-vidas por navio

Navios mercantes – Devem ter um número suficiente de baleeiras para todos os tripulantes e passageiros.

Navios de guerra – Em tempo de paz: baleeiras salva-vidas e lanchas para 50 a 100 por cento da lotação; balsas para os restantes.

Lotação das baleeiras salva-vidas, por navio

Admite-se que sejam necessários 10 pés cúbicos do volume interior da embarcação para cada homem, a fim de mantê-la em boas condições de flutuabilidade.

Pode-se, também, determinar a lotação das embarcações miúdas do seguinte modo: determina-se uma borda livre para a embarcação e vai-se embarcando o pessoal em seus lugares próprios, até atingir a borda livre, a qual é marcada no costado. Considera-se ótima a borda livre de 23 centímetros para embarcações até 9 metros de comprimento, e 30 centímetros para as de maior porte.

Para determinar o peso que uma embarcação pode transportar, multiplica-se a lotação por 75 (peso médio, em quilogramas, de cada pessoa).

e. Botes – São escaleres pequenos, mas de formas cheias, isto é, têm uma

grande boca em relação ao seu comprimento. São embarcações de voga e comumente guarnecidas por dois remadores; destinam-se aos trabalhos leves no porto.

f. Chalanas – São embarcações de proa e popa quadradas, borda baixa e

fundo chato; servem para os serviços de pintura e limpeza da linha-d’água e do costado do navio. Possuem forquetas, mas usualmente são impelidas por um remo livre.

g. Balsas

Emprego – As balsas (fig. 4-7) são usadas quase exclusivamente para

salvamento. Em razão de seu pequeno peso, facilidade de arrumação e de manobra, tiveram uso intensivo na última guerra, principalmente nos navios de combate.

Partes principais:

(1) flutuador (fig. 4-7) – Geralmente de forma elíptica e forrado de lona; (2) estrado (fig. 4-7) – De madeira, ocupando todo o espaço interno do flutuador; serve de piso para o pessoal; e

(3) linha salva-vidas (fig. 4-7) – Cabo fino preso em todo o contorno da balsa, a intervalos iguais, com seios suficientes que o permitam flutuar, ficando a flutuação assegurada por caçoilos de madeira leve que se enfiam nele; a essa linha se agarram os náufragos ao se aproximarem da embarcação.

Palamenta – A palamenta de uma balsa é amarrada por um cabo que tem cada

um de seus chicotes preso a um lado da balsa, de modo a poder ser usada em qualquer dos lados. As peças da palamenta que possam deteriorar-se são conservadas numa caixa estanque. A palamenta consta de: dois remos; uma boça de cabo de fibra, de 7 cm de bitola e 30 m de comprimento; um recipiente apropriado para espalhar óleo no mar (cinco litros de óleo, pelo menos); uma quartola; equipamento de foguetes, sinais luminosos e fumaça; pequena farmácia; ração de emergência, constando de bolacha, alimentos desidratados etc.; e pequeno equipamento de pesca, incluindo uma faca.

Material do flutuador:

(1) balsa de madeira – O flutuador é de madeira extraleve, forrado de lona; emprega-se usualmente a pita ou outra madeira de balsa;

(2) balsa de metal – O flutuador é um tubo de cobre, de seção circular e revestido de lona. Para assegurar a flutuabilidade, o tubo de cobre pode ser dividido em compartimentos ou é cheio de cortiça ou madeira extraleve. Esse tipo não deve ser jogado de altura superior a cinco metros; e

(3) balsa de borracha – Constituída por um tubo de borracha mantido vazio e que, quando se desejar, pode ser cheio de ar ou de CO2 mantido sob pressão em pequena ampola.

Arrumação a bordo – São guardadas no convés, soltas, de modo a poderem

flutuar se o navio afundar, ou são amarradas sobre a borda, de modo a serem jogadas na água logo que se cortem as peias. Podem ser colocadas uma por cima da outra para economia de espaço.

h. Balsas salva-vidas infláveis (fig. 4-8) – Muito usadas atualmente, as

balsas infláveis são lançadas pela borda, podendo ser utilizadas pelos náufragos em poucos segundos. São acondicionadas no convés, em valises de lona ou em cofres plásticos, ficando assim protegidas da ação do tempo e dos borrifos do mar. São infladas por força deCO2 contido numa pequena ampola presa ao fundo.

Todo navio deve possuí-las em quantidade suficiente para, pelo menos, toda sua tripulação e destacados, mais uma margem de segurança de 10%.

Modelos

Existem diversos modelos, que variam conforme o fabricante. A maioria é para 15 pessoas, existindo algumas maiores (para 20 ou 25 pessoas).

Normalmente, são acondicionadas em casulos de fibra de vidro, de forma a ocupar reduzido espaço a bordo, o que facilita seu emprego e instalação mesmo em navios de pequeno porte. Os casulos são instalados em cabides próprios, nos conveses abertos. As balsas salva-vidas são fabricadas de acordo com as normas da Organização Marítima Internacional (IMO) e testadas para suportarem as condições de mar aberto por tempo indefinido, proporcionando condições de sobrevivência para o número de pessoas de sua lotação. Seus componentes básicos são mostrados nafigura 4-8.

Fig. 4-8 – Balsa pneumática auto-inflável classe I

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