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Navios e embarcações de desembarque

No documento Arte Naval - Fonseca - Vol 1 - 7ª Ed.- 2005 (páginas 132-139)

NAVIOS DE GUERRA

3.8. Navios e embarcações de desembarque

a. Operações anfíbias (aspectos doutrinários) – A operação anfíbia refere-

se, normalmente, a um ataque lançado do mar por uma Força-Tarefa Anfíbia (ForTarAnf), sobre litoral hostil ou potencialmente hostil. Esta operação comporta quatro modalidades: o assalto anfíbio, a incursão anfíbia, a demonstração anfíbia e a retirada anfíbia.

Fig. 3-12 – Fragata Classe Greenhalgh

A modalidade mais completa é o assalto anfíbio, ataque lançado do mar para, mediante um desembarque, estabelecer firmemente uma força de desembarque em terra. Pode ter como propósitos: conquistar área para o desencadeamento posterior de ofensiva terrestre; negar o uso de áreas ou de instalações ao inimigo; e conquistar uma área para o estabelecimento de base avançada.

A incursão anfíbia compreende uma rápida penetração ou a ocupação temporária de um objetivo em terra, seguida de uma retirada planejada. Tal operação pode ter como propósitos: destruir ou neutralizar certos objetivos; obter informações; criar uma diversão; e capturar, evacuar ou resgatar pessoal e material.

A demonstração anfíbia compreende a aproximação do território inimigo por forças navais, inclusive com meios que caracterizam um assalto anfíbio, sem o efetivo desembarque de tropas. Pode ter como propósito confundir o inimigo quanto ao local da operação principal ou induzi-lo a empreender ações que nos sejam favoráveis.

A retirada anfíbia abrange a retirada de forças de um litoral hostil, de forma ordenada e coordenada.

A operação anfíbia, na sua forma mais completa, observa uma seqüência de fases bem definida, compreendendo o planejamento, o embarque, o ensaio, a travessia e o assalto.

Os meios navais e aéreos e as unidades de fuzileiros navais empregados na operação anfíbia constituem a Força-Tarefa Anfíbia (ForTarAnf), organizada em função das tarefas previstas em seu planejamento e comandada por oficial do Corpo da Armada.

Estas operações caracterizam-se por grande mobilidade (habilidade de desembarcar forças onde quer que se faça necessário) e pela flexibilidade (escolha de hora do desembarque e métodos para fazê-lo, se por meio de aeronaves ou pelo uso de embarcações). Para sua efetivação, são exigidos diversos navios e embarcações de tipos e tamanhos variados, capazes de transportar material e pessoal ao objetivo.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a Marinha americana construiu cerca de 80.000 embarcações de desembarque, de mais de 40 tipos, variando em tamanho desde balsas de borracha até navios com mais de 5.000 toneladas.

b. Tipos de embarcações de desembarque – As operações anfíbias

utilizam variados tipos de navios na composição da Força Naval, porém dentre os navios ou embarcações que podem ser classificados como anfíbios destacam-se os seguintes tipos:

(1) navios de desembarque – Navios de alto-mar que transportam e desembarcam tropas, carga e viaturas desde o local de embarque até a costa hostil do objetivo. O desembarque pode ser realizado navegando, fundeado nas proximidades da praia ou mesmo abicados à costa;

(2) embarcações de desembarque – Quase sempre são transportadas nos navios de desembarque, de onde são lançadas ao mar, nas proximidades das praias onde podem abicar; e

(3) viaturas anfíbias – Podem ser transportadas nos navios ou nas embarcações de desembarque; são os únicos meios combatentes realmente anfíbios, pois se

lançam ao mar junto à praia e podem prosseguir operando em terra (com exceção dos hovercrafts modernos que, apesar de serem embarcações de desembarque, também prosseguem operando em terra).

c. Características principais – De modo geral, qualquer que seja o tipo, os

navios de desembarque (ND) e embarcações de desembarque (ED) têm características que os distinguem dos demais meios das Forças Navais, quais sejam: (1) pequeno calado – Nos navios, para possibilitar maior aproximação das praias; e nos navios que abicam, fundo chato (para não adernarem) e hélices acima da quilha (para não tocarem o fundo);

(2) âncoras na popa – Principalmente nos navios e embarcações maiores que abicam, a fim de auxiliar na manutenção de posição durante a abicagem e na manobra de retração da praia;

(3) lemes voltados para vante – Somente nas embarcações que abicam; servem para auxiliar a manobrabilidade na retração e manutenção da posição quando abicadas; e

(4) grande capacidade de realização de operações aéreas – Visando a possibilitar o emprego conjunto do desembarque utilizando o movimento navio-terra (MNT), por mar, e o movimento helitransportado (MHT), pelo ar.

As embarcações anfíbias, devido às reduzidas dimensões e fundo chato, são normalmente bastante sujeitas à ação das vagas e de difícil manobrabilidade. Caracterizam-se por possuir armamento defensivo de armas automáticas antiaéreas. Modernamente, as embarcações de desembarque não têm sido empregadas nas primeiras vagas devido a sua vulnerabilidade quando abicadas. Primeiramente, têm sido empregadas viaturas anfíbias (e hovercrafts), que garantem mobilidade no solo hostil, sendo as embarcações utilizadas nas vagas subseqüentes, para o desembarque de maior quantidade de tropas e material.

A seguir são enunciados os principais tipos de navios, embarcações e viaturas anfíbias em utilização.

3.8.1. Navio de Desembarque e Assalto Anfíbio (NDAA) – É o maior tipo

de navio destinado à guerra anfíbia, com deslocamento variando entre 15.000 e 40.000 toneladas. Possui

todos os recursos de um navio destinado ao assal- to anfíbio, sendo capaz de desembarcar tropas e seus equipamentos de combate, por meio de aeronaves, helicópteros, embarcações de desem- barque e veículos anfí- bios. Como exemplo, podemos destacar as Classes Tarawa (LHA) e Wasp (LHD) da Marinha

3.8.2. Navio de Desembarque de Comando (NDC) – Provê comando e

controle para os comandantes da força anfíbia. Possui múltiplos e sofisticados equipamentos de comunicação, além de diversas facilidades para atingir esses objetivos. Como exemplo, podemos destacar a Classe Blue Ridge (LCC) da Marinha americana, que apresenta um deslocamento de 18.000 toneladas (fig. 3-15).

3.8.3. Navio de Desembarque de Carros de Combate (NDCC) – É um

navio que desloca entre 4.000 a 9.000 toneladas, sendo capaz de encalhar em uma praia para desembarcar viaturas através de uma grande rampa de mais de 100 pés na proa, sustentada por dois guindastes. Possui pequenos propulsores laterais (bow thruster) capazes de

manter o navio em posição, quando abi- cado, enquanto é feito o desembarque de viaturas anfíbias. Na popa, possui uma pla- taforma para pouso de helicóptero e uma porta para embarque/ desembarque de viatu- ras. Como exemplo, podemos destacar a Classe Newport (LST) da Marinha americana, da qual é proveniente o NDCC Matoso Maia (fig. 3-16).

Fig. 3-15 – NDC Classe Blue Ridge

3.8.4. Navio de Desem- barque e Doca (NDD) – São

navios com mais de 10.000 toneladas de deslocamento, bastante versáteis, pois são capazes de operar helicópteros e reabastecer navios de pequeno porte. Podem também, por ala- gamento dos tanques de lastro e aberturas de portas na popa, criar um porto flutuante, dentro do seu espaçoso convés. Como exemplo, podemos destacar os NDD Classe Ceará (fig. 3-17), além das Classes Anchorage (LSD), Whidbey Island (LSD) e

Harpers Ferry (LSD-CV) da Marinha americana.

3.8.5. Navio de Desembarque, Transporte e Doca (NDTD) – São os

sucessores do NDD, tendo a Marinha americana introduzido a Classe Austin (LPD) a partir de 1965 e a nova Classe Santo Antonio, a partir de 2002, esta última com deslocamento acima de 20.000 toneladas, capaz de controlar e apoiar forças de desembarque terrestres e aéreas. Podem transportar uma tropa em torno de 700 fuzileiros navais e hangarar uma aeronave.

3.8.6. Navio-Transporte de Tropa (NTrT) – São navios com deslocamento

acima de 5.000 toneladas, mais de 100 metros de comprimento e velocidade entre 12 e 18 nós que, embora construídos especialmente para as operações anfíbias, não podem abicar na praia, servindo para transportar no oceano a tropa, a carga e as embarcações de desembarque. Transportam carga e viaturas nos porões, e no convés principal podem conduzir algumas EDVP e um número limitado de EDVM. Como exemplo, podemos destacar três navios da nossa Marinha: Custódio de Mello, Ary Parreiras e Soares Dutra (fig. 3-18).

Fig. 3-17 – NDD Ceará

3.8.7. Embar- cação de Desem- barque de Carga Geral (EDCG) – Inici-

almente classificada como embarcação de desembarque de carros de combate, foi re- classificada como em- barcação de desembar- que de carga geral, devido ao seu emprego variado no transporte de material (fig. 3-19).

É uma embarcação com propulsão própria, de cerca de 40 metros de comprimento, possuindo uma proa quadrada, a qual se pode abrir formando uma prancha para embarque e desembarque de tropas e viaturas. Possui hélices protegidos, lemes a vante dos mesmos para facilitar a retração e uma âncora na popa para fundeio na abicagem.

As EDCG foram desenhadas para o transporte de carros de combate e veículos pesados, mas têm executado outras tarefas, como o transporte e desembarque de tropas de infantaria com seu equipamento. Hoje, há diversos tipos de EDCG, conforme o uso particular a que se destinam.

Devido às suas dimensões e recursos podem tanto ser transportadas no interior de navios com docas quanto navegarem por distância razoável até a abicagem. São as maiores embarcações de desembarque de casco rígido.

3.8.8. Embarcação de Desembarque de Viaturas e Material (EDVM)–

Existem atualmente dois tipos, EDVM 6 e EDVM 8, que se distinguem pelos tamanhos e capacidades de transporte. Ambas podem ser transportadas no interior dos navios com docas e são, em síntese, um batelão aberto, de fundo chato retangular, de proa quadrada e retrátil, que é utilizado como prancha para o desembarque (fig. 3-20). Em geral, participam das vagas anteriores às das EDCG.

3.8.9. Embarcações de Desembarque de Viaturas e Pessoal (EDVP) –

São embarcações anfíbias pequenas, de aproximadamente 12 metros de comprimento (fig. 3-21), muito utilizadas durante a Segunda Guerra Mundial.

Fig. 3-19 – Embarcação de Desembarque de Carga Geral

Transportam pessoal e viaturas pequenas (de até 1/4 de tonela- da) e possuem a pe- culiaridade de não possuírem fundo cha- to, o que não as capa- cita a serem transpor- tadas nos conveses- doca de navios. Em geral, são transporta- das sobre berços em navios anfíbios e arriadas por meio de aparelhos de força nas proximidades do

objetivo. Semelhantes às EDVM, porém com dimensões e recursos bem menores, são muito influenciadas pelo estado do mar, o que, às vezes, dificulta uma abicagem com vagas altas.

3.8.10. Embarcação de Desembarque Guincho Rebocador (EDGR) – As

EDGR são empregadas nos desembarques anfíbios para instalação dos pontões e desencalhe das demais embarcações de desembarque.

3.8.11. Carro de Combate Anfíbio (CCAnf) – Tem um casco estanque

montado sobre lagartas, como os carros de combate terrestres. Quando a embarcação está na água, as lagartas agem como pás de roda, para propulsão; além disso servem para o governo da embarcação, pois são independentes, podendo diminuir a velocidade em um dos bordos, como os carros de combate de terra. O casco é levemente blindado e transporta metralhadora ou um pequeno canhão. Tem pouca velocidade, mas pode mover-se em águas rasas, ou sobre praias, recifes e pântanos, sem necessidade de mudar o meio de propulsão. Sua grande vantagem é poder atingir uma praia defendida, provendo maior segurança às tropas de infantaria que teriam que desembarcar e andar a pé.

3.8.12. Carro La- garta Anfíbio (CLAnf) –

Tem uma carroceria estanque e com pequena blindagem, montada so- bre lagartas (fig. 3-22), como os CCAnf. É utilizado para desembar- que de tropas, armas, munição e suprimentos, levando-os a pontos mais interiores da praia- objetivo Pode atravessar arrebentações e trafegar

Fig. 3-21 – EDVP

nos mais variados tipos de terreno, sem, no entanto, ter capacidade para ultrapassar recifes tão bem quanto os CCAnf. Possuem a vantagem, sobre os CCAnf, de contarem com propulsão hidrojato (quando no mar) para incremento da velocidade e da manobrabilidade.

3.8.13. Embarcação de Desembarque Pneumática – É

uma balsa de borracha, cuja câmara de ar é dividida em vários com- partimentos. Para manter a forma de bote, tem um vigamento interno leve. Como quase não tem calado, pode ser empregada em águas muito rasas. Pode ter um motor externo, de popa, mas usam-se remos, em geral, por não fazer barulho. Capacidade: 10 homens, com armamento portátil e equipamento (fig. 3-23).

Devido ao seu pequeno tamanho e silêncio (quando utilizando remos) é muito utilizada para o desembarque de grupos precursores (operações especiais) anteriores ao desembarque anfíbio propriamente dito.

3.8.14. Hovercraft – É uma embarcação com razoável capacidade de carga

de pessoal, material e viaturas que se desloca sobre colchão de ar, trafegando tanto sobre a terra plana como sobre o mar (fig. 3-24). Desenvolve velocidades superiores a 40 nós, atingindo até 70 nós em algumas classes da Marinha russa.

É equipada tanto para o desembarque anfíbio como para patrulha, e pode possuir armamento tanto ofensivo como defensivo, incluindo lançadores de mísseis. Utilizam a mesma propulsão para deslocamento sobre a água e sobre terra, que são turboventiladores de alto desempenho, o que lhes garante rapidez na transição mar-terra e grande manobrabili-

dade.

São as embarcações mais modernas utilizadas para o desem- barque anfíbio devido à rapidez e à segurança oferecidas à tropa e ao material desembarcados. Os hovercrafts serão tratados mais detalhadamente na seção D deste capítulo.

No documento Arte Naval - Fonseca - Vol 1 - 7ª Ed.- 2005 (páginas 132-139)