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4. Contrato de compra e venda: o mais importante dos contratos

4.2 Classificação do contrato de compra e venda

Segundo PEDRO ROMANO MARTINEZ(53) é possível classificar o contrato de compra e venda como um contrato típico, oneroso, sinalagmático, de natureza real e obrigacional e de execução instantânea.

4.2.1 Contrato típico

No que concerne à primeira características, MENEZES LEITÃO(54) diz-nos que o contrato de compra e venda é, desde logo, nominado e típico. Nominado porque a lei

o reconhece como categoria jurídica; típico, porque a lei estabelece-lhe um regime,

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LUÍS MANUEL TELES DE MENEZES LEITÃO, Ob. Cit., p., 21.

52 PEDRO ROMANO MARTINEZ, Ob. Cit. p., 22.

53 PEDRO ROMANO MARTINEZ, Ob. Cit. p., 23 e ss. LUÍS MANUEL TELES DE MENEZES

LEITÃO, Ob. Cit. p., 14, NUNO MANUEL PINTO DE OLIVEIRA, Ob. Cit. p., 14, entre outros, que também apresentam características qualificativas do contrato de compra e venda. Embora não seguindo exactamente a mesma ordem que PEDRO ROMANO MARTINEZ, elas são, na sua maioria, coincidentes. Daí, optamos por seguir, por motivos de maior coerência, a ordem apresentada por PEDRO ROMANO MARTINEZ. Todavia, as mesmas serão sempre que possível completadas pela doutrina/parecer de outros Autores.

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quer no âmbito do Direito Civil (arts. 874º e ss), quer no âmbito do Direito Comercial

(arts. 463º e ss CCom(55)).

4.2.2 Contrato oneroso

Diz-se que o contrato de compra e venda é oneroso porque pressupõe o pagamento de um preço pela transmissão do direito. Para NUNO MANUEL PINTO OLIVEIRA(56) estamos na presença de um contrato oneroso sempre que existe

atribuições patrimoniais de ambas as partes, ligadas entre si, de acordo com a comum intenção dos contraentes, por um nexo ou por uma relação de correspectividade ou de equivalência.

Aliás como refere MENEZES LEITÃO(57) resulta da própria definição apresentada pelo art. 874º CC que a compra e venda é essencialmente a transmissão de um direito contra o pagamento de uma quantia pecuniária, constituindo

economicamente a troca de uma mercadoria por dinheiro. O Autor refere, ainda, a

importância desta característica que permite distinguir a compra e venda do contrato de doação (art. 940º do CC). Não havendo qualquer contrapartida, o contrato é qualificável

como doação.

4.2.3 Contrato sinalagmático

No entender de NUNO MANUEL PINTO OLIVEIRA(58) o contrato de compra e venda enquadra-se no grupo dos contratos bilaterais perfeitos ou sinalagmáticos. É sinalagmático porque as prestações do comprador (pagamento do preço) e do vendedor (entrega da coisa) estão em correspectividade, ou seja, são recíprocas e

interdependentes (art. 874º e 879º do CC); as suas obrigações constantes das als. b) e c)

55 De acordo com CARLOS FERREIRA DE ALMEIDA, Ob. Cit. p., 28, não é só no Direito Civil que os

contratos se encontram previstos. O nosso Ordenamento Jurídico é expansivo e abrange os contratos de direito comercial, em especial os contratos constitutivos de sociedades comerciais e os contratos corporativos, onde se evidenciam os contratos colectivos de trabalhadores.

56 Ob. Cit., p., 16. 57

Ob. Cit., p., 12.

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do art. 879º, continua o Autor, estão ligadas entre si por um nexo ou vínculo de

interdependência ou de reciprocidade.

Segundo MENEZES LEITÃO(59) a própria característica de contrato oneroso, implica a característica de contrato sinalagmático uma vez que as obrigações do

vendedor e do comprador constituem-se tendo cada uma a sua causa na outra (sinalagma genético), o que determina que permaneçam ligadas durante a fase de execução do contrato, não podendo uma ser realizada se a outra não o for (sinalagma funcional).

4.2.4 Contrato de natureza real, obrigacional e de execução instantânea

ARMANDO BRAGA(60) afirma que a compra e venda é simultaneamente um contrato com natureza real e obrigacional. Reforçando a ideia de contrato de natureza real, diz-nos ASSUNÇÃO CRISTAS e MARIANA FRANÇA GOUVEIA(61) que o legislador no CC não se limitou a dizer, apenas, obrigação de transmitir ou transmitir-

se-á, antes disse, transmite-se, logo qualifica-se a compra e venda, forçosamente, como

um contrato de natureza real. Além do mais, continuam as Autoras, os arts. 408º, n.º 1, 879º e 1317º al. a) são suficientes, só por si, para justificar tal entendimento(62). Ora, neste sentido encontra-mos também o Prof. Doutor INOCÊNCIO GALVÃO TELLES(63) que atribuí à compra e venda natureza real constituindo assim um dos seus principais efeitos a transmissão da propriedade ou do direito vendido.

Classificamos o contrato de compra e venda como um negócio jurídico também obrigacional, por que para ambas as partes nascem direitos e deveres e para a sua celebração basta o consenso. Isto é, no processo de formação da compra e venda a entrega da coisa é dispensável. Portanto, a natureza obrigacional da compra e venda opõem-se ao contrato real quoad constitutionem, onde a relação contratual só se

59 Ob. Cit., p., 16. 60 Ob. Cit. p., 12. 61 Ob. Cit. p., 23. 62

Indubitavelmente, nesta fase, surge-nos a pergunta: O que se entende por direito Real? Direito real é um direito absoluto, independente de qualquer relação, podendo fazer-se valer contra qualquer outro direito. O direito real é válido erga omnes.

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INOCÊNCIO GALVÃO TELLES, “Contratos Civis (Projecto Completo de um Título do Futuro

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constitui após a entrega da coisa. É exemplo o depósito (art. 1185º do CC) onde a

relação contratual só se constitui depois de o depositante entregar a coisa ao

depositário.

Por seu turno, a natureza real do contrato de compra e venda é quoad effectum onde, normalmente, a transferência do direito real, objecto do negócio jurídico, dá-se por mero efeito do contrato, nos termos do art. 408º, n.º 1 do CC.

Para ilustrar toda esta situação, PEDRO ROMANO MARTINEZ(64) dá-nos como exemplo o momento em que se celebra uma escritura de venda de um prédio, onde a propriedade se transfere para o comprador, independentemente da sua entrega.

Neste sentido, aponta também MENEZES LEITÃO(65) que, em primeiro lugar, a compra e venda é um contrato obrigacional, determinando a constituição de duas obrigações: a obrigação constante da al. b) do art. 879º, obrigação de entregar a coisa e, a obrigação constante da al. c), a obrigação de pagar o preço. Continua dizendo que, a compra e venda é também um contrato real quoad effectum, uma vez que produz a

transmissão de direitos reais (art. 879º, al. a)).

O n.º 2 do art. 408º do CC, diz-nos, no entanto, que se tratando de uma venda de coisa genérica (o Autor supra citado, dá o exemplo de 100 Kg de trigo), só se transfere a propriedade aquando da concentração (art. 541º do CC) e não com a celebração do contrato. Mas qualquer que seja a situação, conclui o Autor, a propriedade transfere-se

sempre como consequência do contrato de compra e venda, não carecendo de subsequente acto de disposição.

Por fim, diz-se contrato de execução instantânea ou de execução sucessiva(66) porque os seus efeitos esgotam-se(67) de uma só vez. Portanto, o efeito translativo é

imediato. Todavia, o contrato de compra e venda pode ser um contrato de execução

continuada, a que é exemplo, o contrato de fornecimento de gás onde uma das partes se

obriga a prestar os bens de forma sucessiva ou continuada e o preço é pago pela outra parte de forma periódica(68).

64 Ob. Cit. p., 25. 65 Ob. Cit. p., 15.

66 ARMANDO BRAGA, Ob. Cit. p., 13.

67 NUNO MANUEL PINTO OLIVEIRA, Ob. Cit. p., 23. Em regra, o contrato de compra e venda é de

execução instantânea: a conduta exigível do vendedor – entrega da coisa – e a conduta exigível do

comprador – pagamento do preço – esgotam-se num único acto ou num único momento.

68 LUÍS MANUEL TELES DE MENEZES LEITÃO, Ob. Cit., p., 17, considera que não devemos admitir

os contratos de execução continuada, devido à sua natureza específica, como verdadeiras compras e

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