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3. Revisão da Literatura

3.1 Deficiência Motora – Paralisia Cerebral

3.1.4 Classificação Médico-desportiva ou Funcional

Nosentidode conhecermos um pouco melhor o processo que legitima a participação de indivíduos portadores de sequelas de PC em competições desportivas, é nossa intenção fazer uma breve caracterização do mesmo. Para além disso, de entre as modalidades paralímpicas exclusivamente destinadas a esta população, o Boccia será também alvo da nossa atenção, não somente por ter uma grande expressão no nosso país, mas principalmente por ser a modalidade praticada pelo atleta João Paulo Fernandes. Pretendemos assim perceber a quem se destina este jogo, caracterizando o tipo de atletas praticantes desta modalidade desportiva.

O actual sistema de classificação desportiva da CP-ISRA tem já vários anos de aplicação e experiência. Embora ao longo do tempo tenha sido alvo de

que nos dias de hoje a classificação dos atletas seja fiável, na medida em que existe uma grande prática na utilização deste sistema (Brochado, 2001).

A principal finalidade desta classificação, segundo a CP-ISRA (2001 - 2004), para além de avaliar o nível funcional do atleta relativamente ao desporto que pratica, prende-se com o facto de facultar uma igualdade de circunstâncias na competição, ou seja, de garantir que os resultados obtidos pelos atletas não dependam das suas incapacidades motoras, mas sim do treino, das experiências competitivas, do nível de habilidade e da performance desportiva por estes adquirida (Sherrill, 1998). De acordo com Shephard (1990), esta classificação assume um carácter bastante complexo, devido ao facto de a lesão se localizar a nível cerebral.

A 8ª edição do manual de classificação da CP-ISRA (2001 - 2004), define como participantes elegíveis a integrar as suas competições, aqueles com um diagnóstico de uma lesão cerebral não progressiva com disfunção locomotora, tal como a PC, de uma lesão cerebral traumática, de um acidente vascular cerebral (AVC), ou condições similares, nos quais o nível de envolvimento neurológico determina incapacidade para treinar e competir nos diferentes desportos. Essa incapacidade deve ser claramente identificada durante a classificação, sem recorrer a exames neurológicos detalhados. Para participar em competições internacionais, os atletas têm que ter mais de 15 anos de idade (Brochado, 2001).

Na CP-ISRA, a classificação é feita por um grupo constituído por um médico, um fisioterapeuta e um técnico desportivo, os quais devem possuir um vasto e aprofundado conjunto de conhecimentos respeitantes às manifestações clínicas da PC, às lesões cerebrais traumáticas e aos AVC’s, para além das implicações do desporto nestas diferentes manifestações. De um modo geral, o diagnóstico efectuado contempla a qualidade do tónus e do movimento, os aspectos clínicos e patológicos do atleta, assim como aqueles referentes à prestação desportiva (Ferreira, 1998).

Consoante o resultado da avaliação, o atleta é incluído numa das oito classes que se seguem, sendo que à classe 1 pertencem os indivíduos com

complicações mais severas, e à classe 8 os portadores de afectações mínimas (Sherrill et al. 1988; Ferreira, 1998).

De realçar que depois da caracterização das oito classes, é nossa intenção ilustrar o morfótipo de indivíduo representante de cada uma delas, com as figuras 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9, adaptadas de Peacock (1988).

Classe 1 – Quadriplégicos: complicações severas.

Estão dependentes de uma cadeira de rodas eléctrica para se movimentarem, sendo incapazes de executar uma propulsão funcional da mesma. O controlo do tronco é escasso ou mesmo nulo, havendo grandes dificuldades em manter as costas rectas, postura importante para a realização dos movimentos desportivos. As extremidades inferiores não são funcionais, e nas superiores são visíveis severas limitações (por exemplo, na oposição entre o polegar e os outros dedos).

________________________________________________ Figura 2. Atleta da classe 1 (adaptado de Peacock, 1988).

Classe 2 – Quadriplégicos: complicações severas a moderadas.

Embora possuam um bom controlo estático do tronco, o controlo dinâmico é fraco. Podem ter um grau razoável de funcionamento em uma ou ambas as pernas, mas, em contrapartida, as extremidades superiores, nomeadamente as mãos, têm um envolvimento severo a moderado.

____________________________________________________________ Figura 3. Atletas da classe 2, afectados nas extremidades superiores e inferiores

(adaptado de Peacock, 1988).

Classe 3 – Quadriplégico moderado ou Hemiplégico severo.

Possuindo uma força muscular funcional praticamente completa, conseguem propulsionar a cadeira de rodas. Os movimentos da mão são, na sua maioria, grosseiros.

___________________________________________ Figura 4. Atleta da classe 3 (adaptado de Peacock, 1988).

Classe 4 – Diplégico moderado a severo.

Apresentam limitações mínimas de controlo no tronco e nas extremidades superiores, sendo observável um lançamento, uma propulsão e preensão normais. Não são capazes de percorrer grandes distâncias sem a ajuda de meios de apoio.

___________________________________________ Figura 5. Atleta da classe 4 (adaptado de Peacock, 1988).

Classe 5 – Diplégico moderado.

Poderá ser necessário o recurso a meios de apoio para caminhar, já que um ligeiro deslocamento do centro de gravidade provoca perdas de equilíbrio. Assim, embora tenham assegurado o equilíbrio estático, apresentam problemas no equilíbrio dinâmico. O atleta desta classe tem as funções necessárias para correr.

___________________________________________ Figura 6. Atleta da classe 5 (adaptado de Peacock, 1988).

Classe 6 – Atetósico moderado.

Contrariamente aos indivíduos da classe 5, nestes o equilíbrio dinâmico pode ser melhor que o estático. Três ou quatro das extremidades mostram dificuldades funcionais nos movimentos relacionados com o desporto.

___________________________________________ Figura 7. Atleta da classe 6 (adaptado de Peacock, 1988).

Classe 7 – Hemiplégicos ambulantes.

Os atletas desta classe caminham sem meios auxiliares, sendo assegurada uma boa capacidade funcional no lado dominante do corpo.

___________________________________________ Figura 8. Atleta da classe 7 (adaptado de Peacock, 1988).

Classe 8 – Diplégicos minimamente afectados

Estes atletas podem correr e saltar livremente, sem ser necessário o recurso a sapatos ortopédicos ou ortóteses. Podem apresentar uma ligeira perda da função provocada pela incoordenação, geralmente observada nas mãos.

___________________________________________ Figura 9. Atleta da classe 8 (adaptado de Peacock, 1988).

De realçar ainda que os atletas da classe 1 à classe 4, inclusive, se deslocam em cadeira de rodas, ao passo que os da classe 5 à classe 8 são ambulantes, isto é, não necessitam de qualquer meio de auxílio para se deslocarem.

Concluído que está este ponto, que teve como principal objectivo elucidar e esclarecer as questões relativas à caracterização desta deficiência e ao sistema de classificação funcional dos atletas com PC, faremos agora fazer referência ao Boccia, jogo que em 2000, nos Jogos Paralímpicos de Sydney, colocou o nosso Portugal no 2º lugar do pódio em termos do número total de medalhas (Federação Portuguesa de Desporto para Deficientes - FPDD, 2001).