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Uma pesquisa tem por finalidade responder às indagações, de resolver um ou mais problemas. No entanto, a forma de como a pesquisa se dá depende fundamentalmente da natureza do problema. Assim, de acordo com o problema em estudo, pode-se utilizar diferentes abordagens e procedimentos.

Em relação às abordagens de pesquisa, as mais difundidas são a pesquisa

quantitativa e a pesquisa qualitativa (VAN MAANEN, 1979; BRYMAN, 1989;

GODOY, 1995a).

Quando o pesquisador define um plano de trabalho com hipóteses e variáveis operacionalmente definidas, ele está utilizando a abordagem quantitativa. Para Godoy (1995a) a preocupação aqui é com a medição objetiva e a quantificação dos resultados, com o pesquisador procurando enumerar e medir os eventos. No entanto, Godoy conclui que se a abordagem adotada pelo pesquisador envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos, possuindo contato direto do pesquisador e procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos participantes da situação em estudo, a abordagem utilizada neste caso é a qualitativa. Mas é de se apontar que mesmo que as pesquisas quantitativas lidem com números e usem modelos estatísticos para explicar os dados, diferentemente das pesquisas qualitativas que evitam esses números, as discussões sobre as diferenças entre pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa e sobre as diferentes formas de justapor as mesmas é uma discussão estéril e sem propósitos.

Para Bauer e Gaskell (2003) não há quantificação sem qualificação, aludindo ao fato de que a mensuração dos fatos depende da categorização, além de que não há análise estatística sem interpretação, afirmando que os dados não falam por si mesmos.

Já com base nos procedimentos de pesquisa adotados, segundo Bryman (1989), para as pesquisas organizacionais, esses procedimentos podem ser:

• a pesquisa experimental, permite ao pesquisador estabelecer uma relação de causa e efeito;

• a pesquisa de avaliação (survey), geralmente associada a questionários e entrevistas estruturadas ou semi-estruturadas;

• estudo de caso, envolve o estudo detalhado de um ou um pequeno número de ‘casos’, podendo ser o caso uma organização, departamento ou seção em uma organização;

• e a pesquisa-ação, envolve a participação do pesquisador em conjunto com os membros da organização, que colaboram na solução de um problema. O pesquisador passa a ser membro da organização, diferentemente do estudo de caso, onde o pesquisador é um observador e não é parte integrante da solução do problema em questão.

Qualquer que seja o procedimento de pesquisa adotado em uma organização, a parte preponderante de qualquer pesquisa é a coleta de dados. Neste sentido, algumas técnicas podem ser aplicadas:

• questionários: envolve uma coleção de questões que o pesquisado responde por si só;

• entrevista estruturada: envolve uma coleção de questões específicas e precisamente formuladas aos pesquisados durante o processo de entrevista;

• observação participante: é uma técnica em que o pesquisador gasta um período de tempo fazendo as observações dentro do contexto da organização. O grau de participação varia de estudo para estudo;

• entrevista não estruturada: diferentemente da entrevista estruturada, o pesquisador entrevista o pesquisado em uma maneira bem informal, não incluindo, inclusive, questões pré-formuladas;

• observação estruturada: envolve o registro de observações em termos de uma programação pré-estabelecida;

• simulação: pesquisados são levados a imitar uma situação real a fim de que se possa observar como eles reagem em diferentes situações;

• informações documentais: inclui documentos históricos, contemporâneos e dados estatísticos (BRYMAN, 1989).

Essas técnicas não são excludentes, mas altamente complementares, de modo que o pesquisador pode e deve utilizar diferentes técnicas como fonte de evidências para estabelecer um bom estudo de caso.

Na mesma linha de técnicas de coleta de dados, porém com abordagem qualitativa, Flick (2004) define dois grandes grupos de coleta de dados:

• coleta de dados verbais; • coleta de dados visuais.

Para a coleta de dados verbal realizada por meio de entrevistas semi- estruturadas, há o propósito de tornar explícito o conhecimento do entrevistado sobre o tópico em estudo, estabelecendo tanto questões abertas (Em sua opinião, qual é a tendência do PCP em sua empresa quanto à política de software?), quanto questões fechadas (Você acha que a melhoria do PCP da sua empresa passa pela aquisição de mais capacidade computacional?) ou (Você tem conhecimento sobre campanhas de melhorias como práticas de 5S, kaizens, entre outras, nos métodos de trabalho do PCP da sua empresa?). Mesmo para as questões fechadas, o objetivo é assegurar o significado que o entrevistado dá ao contexto, ultrapassando avaliações do tipo “sim” ou “não”.

Já para a coleta de dados visuais, o procedimento inclui as observações realizadas em campo, com o pesquisador participando por completo ou como observador. Questões como (Como as ordens de produção são transmitidas para o

chão de fábrica da sua empresa?) ou ainda (A sua empresa opera Kanban?) podem ser respondidas por meio de visitas ao processo produtivo ou por meio de análise de documentação disponível.

Na formulação de uma questão, referente às questões fechadas ou abertas, muitas buscam pela memória do entrevistado (Como foi a evolução da sua empresa nas últimas décadas em relação ao software de apoio para realizar as atividades do PCP?) e outras requerem o conhecimento contemporâneo (A equipe de PCP da sua empresa tem atribuições estendidas, oferecendo apoio computacional para vendas, contabilidade, compras, engenharia, processamento de dados, treinamentos de software, etc.?). Porém, mesmo para os conhecimentos contemporâneos, a qualidade dos dados coletados depende fortemente da memória do entrevistado e dos seus interesses, aludindo ao fato de expor ou não determinados acontecimentos. Dessa forma, alguns pontos fracos podem ser observados na coleta de dados por entrevistas como os assinalados por Yin (2005): imprecisão devido à memória fraca do entrevistado e respostas viesadas. Para diminuir ou eliminar esses pontos fracos é que são utilizadas múltiplas fontes de evidência, como a observação direta, análise de documentação, entrevistas com outras pessoas experientes, entre outras.

Além da classificação da pesquisa quanto à abordagem e aos procedimentos, pode-se classificá-la quanto aos objetivos. Nesse caso, quando uma pesquisa é realizada com o objetivo de entender melhor um problema, seja por um levantamento bibliográfico ou por estudo de caso, a pesquisa é do tipo exploratória, com aplicação de métodos de coleta de dados geralmente baseado em entrevistas com pessoas experientes no problema pesquisado. Se o objetivo for descrever os fenômenos, sem que ocorra a interferência por parte do pesquisador, utilizando geralmente, questionários e observação direta como método de coleta de dados, a pesquisa é do tipo descritiva, assumindo em geral a forma de levantamento de dados (surveys). Por fim, se a pesquisa tem por objetivo a definição de leis mais amplas, a estruturação e definição de modelos teóricos e identificação dos fatores que contribuem para a ocorrência dos fenômenos ou variáveis que afetam o processo, explicando os “porquês das coisas”, a pesquisa é do tipo explicativa, assumindo a forma de pesquisa experimental (GIL, 2002).

Como essa tese apresenta o estudo de caso como procedimento de pesquisa, a seguir, esse procedimento é colocado com maiores detalhes, com a identificação das etapas de pesquisa. O objetivo é expor brevemente os procedimentos que devem ser prescritos ao adotar o estudo de caso como procedimento de pesquisa.

3.2 UTILIZANDO O ESTUDO DE CASO COMO PROCEDIMENTO DE