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Classificação tradicional (ternária)

No documento Ação executiva lato sensu (páginas 68-71)

III. AÇÕES EXECUTIVAS LATO SENSU

1. Classificação das ações

1.1. Classificação tradicional (ternária)

Há na doutrina diversas classificações da ação civil. Como bem observado por Couture, o critério que informa essas classificações nada tem que ver com a ação, mas ora com a pretensão por ela veiculada, ora com o processo por ela originado, ou com a jurisdição em que é exercida, entre outros critérios.183

Assim, quando se fala em ações ordinárias e extraordinárias – nestas incluídas as sumárias e executivas – tem-se efetivamente uma classificação de

processos e não de ações. É considerada ordinária a ação que se faz valer

num processo ordinário, ou seja, aquele que reúne as máximas garantias processuais.

Da mesma forma, a classificação das ações em penais, civis e mistas é uma divisão que interessa muito mais à jurisdição, no sentido de competência em razão da matéria. Também a divisão em ações reais, pessoais e mistas revela-se uma classificação dos direitos invocados nas pretensões. Ações petitórias e possessórias, por sua vez, resultam de uma classificação que toma como critério a pretensão (petitória ou possessória) e o fundamento jurídico da demanda.

Por fim, a classificação das ações em públicas e privadas leva em consideração a iniciativa da demanda, pois se consideram públicas as ações que são promovidas por órgãos do Poder Público, normalmente o Ministério Público184.

Feitas essas ressalvas, pode-se afirmar que a classificação das espécies de ação, quanto ao processo de conhecimento, admite a existência de três ações:

183 Eduardo Couture, “Fundamentos Del Derecho Procesal Civil”, 4a. ed., Buenos Aires: B de f, 2002, p. 65. 184 Idem, pp. 65/72.

declaratória, constitutiva e condenatória185. Mas qual o critério utilizado para se estabelecer referida classificação?

Para responder essa indagação, não se pode olvidar, em primeiro lugar, que os pronunciamentos judiciais entram no mundo jurídico munidos de imperatividade. Aquilo que é produzido pelo ato na esfera do direito material – externo, portanto, ao conteúdo da sentença – é que se chama de efeito. Não é o trânsito em julgado que produz os efeitos da sentença. Eles preexistem a tal momento.186

Não se deve confundir a eficácia com efeito. Aquela é o próprio conteúdo da sentença, dotado de imperatividade; é a força da decisão. Denomina-se efeito, por sua vez, aquilo que é concretamente produzido pela sentença na esfera do direito material. Eficácia é efeito em potência.187

Com a precisão habitual, sintetiza Barbosa Moreira:

“uma sentença pode conter elementos diversos e produzir, por via de conseqüência, efeitos também diversos. O elemento declaratório, em particular, está presente em qualquer sentença. A cada elemento corresponderá um efeito próprio, sem que isso nos autorize a identificar este com aquele, nem embutir no conteúdo da sentença aquilo que ela projeta no mundo exterior”188.

185 “Quando se diz que as ações – e as respectivas sentenças de procedência – podem ser declaratórias,

constitutivas ou condenatórias, está-se a indicar ações de direito material afirmadas existentes, na correspondente petição inicial, e que na perspectiva da relação processual concreta onde elas se apresentam não serão mais do que simples hipóteses de trabalho com que o magistrado se depara.” (Ovídio Baptista da Silva, “Curso de Processo Civil”, vol. 1, 6ª. ed., São Paulo: RT, 2002, p. 160).

186 A exceção é a sentença de declaração, cujo efeito (certeza) somente surge com a coisa julgada material. 187. Araken de Assis, “Da execução de alimentos e prisão do devedor”, São Paulo: RT, 2001, pp. 43/60; e

também “Execução da tutela antecipada”, in “Processo de execução e assuntos afins – v. 2”. Shimura, Sérgio; e Wambier, Teresa Arruda Alvim (coord.), São Paulo: RT, 2001, pp. 44/47.

188 José Carlos Barbosa Moreira, “Conteúdo e efeitos da sentença: variações sobre o tema”, in Revista de

As ações e os provimentos judiciais189 são objeto de várias classificações, legais e doutrinárias. Ainda hoje persiste o debate na doutrina entre quem sustenta que os provimentos são apenas três – declaratórios, constitutivos e condenatórios – e aqueles que reconhecem cinco provimentos – declaratórios, constitutivos, condenatórios, mandamentais e executivos190.

A chamada doutrina clássica sempre teve predileção pela teoria tripartida, e ainda hoje há certa relutância em se aceitar a classificação quinária, embora ela tenha aceitação muito maior do que antes. A exceção sempre foi Pontes de Miranda. Afinal, deve-se justamente a ele a consolidação, entre nós, além da afirmação de que toda sentença é composta por um feixe de eficácias, a formulação teórica dos traços característicos dos provimentos mandamentais e executivos lato sensu.

A doutrina majoritária, porém, entendendo que a classificação ternária seria suficiente,

"encontrava dificuldades em explicar as ações de despejo e as possessórias, em que, como se sabe, não há processo de execução subseqüente à sentença, por desnecessário. (...) A experiência com as ações de despejo, as possessórias e o mandado de segurança habilitou o legislador a introduzir, no sistema, o preceito do art. 84 do CDC, cujo alcance é inquestionável. Estava aberto, assim, o caminho para a admissibilidade, na legislação processual, das tutelas mandamental e executiva lato sensu, orientação que se

189 Diz-se provimento para abarcar indistintamente sentenças, acórdãos e decisões interlocutórias. Não se

desconhece, contudo, a crítica de Barbosa Moreira à utilização, nesse contexto, do substantivo

provimento, empregado tradicionalmente para indicar o julgamento favorável de recurso (“Questões

velhas e novas em matéria de classificação das sentenças” - Temas de Direito Processual (Oitava série), São Paulo: Saraiva, 2004, p. 137). A lei, no entanto, fugindo à tradição da nossa linguagem processual, encampou o uso (art. 14, V, do CPC, introduzido pela Lei 10.358/01)

190 Além da classificação quaternária de Ovídio Batista, que não reconhece a existência da ação condenatória,

ratificou com a nova redação dada ao art. 461 do CPC, que, no essencial, repete o citado art. 84".191192

A classificação ternária, porém, mostra-se incapaz de esclarecer situações que se sucedem diariamente. Não há como se considerar “condenatória” a sentença que reconhece um bem ilegitimamente na posse do réu e determina desde logo a prática de atos para passar esse bem ao demandante.

Esse sistema, que supõe que a sentença é sempre condenatória, abrindo ensejo à demanda executiva, “não resiste ao fato de que as tutelas de restituição de coisa e de imissão na posse dispensam a condenação”193.

No documento Ação executiva lato sensu (páginas 68-71)