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Clavis operum Petro Hispano adscriptorum (Elenco das obras atribuídas a Pedro Hispano)

No documento Pedro Hispano (século XIII) (páginas 101-105)

Panorama sobre a atribuição de obras a Pedro Hispano

2. Clavis operum Petro Hispano adscriptorum (Elenco das obras atribuídas a Pedro Hispano)

A diversidade de obras atribuídas a Pedro Hispano tem suscitado alguns equívocos na sua designação e não é raro encontrar obras diferentes sob um mesmo nome ou a mesma obra sob diferentes nomes. Antes de partir para uma caracterização interna do corpus petrínico é imprescindível exaurir as informações que os manuscritos nos dão e que nos permitam identificar de forma sistemática e clara todas e cada uma das obras transmitidas nos manuscritos e eventualmente na literatura secundária antiga como sendo de Pedro Hispano. A melhor forma de o fazer é reunir num instrumento de fácil utilização todos os elementos que permitam caracterizar cada obra de um modo rigoroso, localizando exactamente onde está copiada ou editada e que ao mesmo tempo possa servir para a pesquisa de novos apógrafos. É o que se fará nesta secção a partir da análise da tradição manuscrita das obras atribuídas a Pedro Hispano, recenseada no volume I, sem deixar de ter também em conta a literatura secundária (onde por vezes são referidas obras de que não se conhecem manuscritos) e os precedentes ensaios de sistematização.

O modelo literário deste tipo de instrumento está já bem definido, de tal modo que as

claves operum são hoje um recurso de investigação imprescindível para qualquer medievista.

A mais famosa abrange toda a patrística latina até Rábano Mauro261 e está agora a ser prolongada com a publicação de claves “regionalizadas” sobre períodos posteriores262, mas existem outros exemplos de repertórios elaborados para regiões geográficas precisas263. Há

também vários exemplos possíveis deste género de súmulas para autores individuais264. Mais

261 Clavis patrum latinorum, cur. E. DEKKERS, adiuv. E. GAAR (Corpus Christianorum-Series latina)

ed. Brepols – Sint Petersabdij, Turnhout – Steenbrugge 1995 (3ª ed.); esta obra modelo foi entretanto continuada numa clavis da pratrística grega: Clavis patrum graecorum, cura et studio M. GEERARD, 5 vol. + Supplementum: cur. J. NORET — M. GEERARD (Corpus Christianorum-Series graeca)ed. Brepols, Turnhout 1983-1998.

262 A primeira a começar a ser publicada é a Clavis scriptorum latinorum Medii Aevi. Auctores galliae 735-987, 2 vol., cur. M.-H. JULLIEN — F. PERELMAN, (Corpus Christianorum-Continuatio mediaevalis) ed. Brepols, Turnhout 1995-1999 (em curso de publicação).

263 Vejam-se, por exemplo, os repertórios relativos à Península Ibérica (M.C. DÍAZ Y DÍAZ : Index scriptorum latinorum medii aevi hispanorum, Madrid 1959), às ilhas britânicas (R. SHARP: A

Handlist of the Latin Writers of the Great Britain and Ireland Before 1450, Brepols, Turnhout 1997),

ou aos Países-baixos (R. MACKEN: Medieval Philosophers of the Former Low Countries. Bio-

bibliography and Catalogue, 2 vol., Leuven 1997), o primeiro dos quais segue de perto o modelo da Clavis de E. Dekkers.

264 O segundo volume da obra referida na nota ante-anterior, todo ele dedicado a Alcuíno, é um bom

exemplo monográfico de clavis de autor singular. Para a definição do modelo adoptado foram também úteis: C. JEUDY: «Remigii autissiodorensis opera (Clavis)», em D. IOGNA-PRAT — C. JEUDY — G. LOBRICHON: L’école carolingienne d’Auxerre, de Murethach à Remi, 830-908, Paris

ambicioso é o projecto CALMA265, compêndio de todos os auctores da latinidade medieval e

renascentista, actualmente em curso de elaboração, no qual, apesar de se incluírem todas as obras de cada autor, dessas apenas são dadas referências bibliográficas e muito raramente o

incipit e apenas para desfazer equívocos, para além de se neglicenciarem as obras apócrifas ou

erradamente atribuídas que, ao contrário, aqui não poderão ser esquecidas.

Colhendo nestes vários modelos os critérios que melhor se adaptem ao caso de Pedro Hispano, a estrutura da notícia de cada obra não se afasta das claves tradicionais, incluindo:

1) título sob uma forma normalizada (apresentado de modo destacado e precedido do número de ordem na Clavis) e variantes do título, colhidos, em ambos os casos, nos testemunhos manuscritos;

2) descrição do texto através de: títulos usados nos manuscritos (inscriptio), incipit, desinit e explicit (dos prefácios, questões iniciais ou livros), colofão quando este traga elementos de relevo; no caso de haver variantes significativas sobre cada um dos elementos elas são dadas, indicando-se de modo abreviado os manuscritos onde ocorrem;

3) referência em outros repertórios, para facilitar a identificação de cada obra e de modo a desfazer possíveis erros de identificação. Inclui-se a referência de cada obra nos seguintes repertórios alfanuméricos, citados de modo abreviado: Wickersheimer

Dictionnaire266, Alonso Comentario267; Díaz y Díaz Index268; Alonso Scientia269; Glorieux La

1991, pp. 457-500; B. DISTELBRINK: Bonaventurae scripta authentica, dubia vel spuria critice

recensita, Roma 1975.

265 C. LEONARDI — M. LAPIDGE (eds.): Compendium Auctorum Latinorum Medii Aevi (500-1500),

Firenze 2000-seg. (em curso de publicação).

266 E. WICKERSHEIMER: Dictionnaire Biographique des Médecins en France au Moyen Age, 2 vol.,

Paris 1936 pp. 638-640: «Pierre Hispanus» (ed. ut.: reimpr. Genève 1979). Convém assinalar que nesta notícia não se incluem os textos de medicina do ms. Madrid, BN, 1877, que Grabmann revelara desde 1928, mas no final da notícia refere as obras atribuídas no ms. Paris, BN, 6956, que de facto são de autores salernitanos, e outross comentários médicos.

267 M. ALONSO ALONSO (ed., introd., notas): Pedro Hispano, Obras Filosóficas II: Comentário al de anima de Aristóteles, Madrid 1944, pp. 13-25: «Bibliografía. I- Fuentes: Obras de Pedro Hispano». 268 M.C. DÍAZ Y DÍAZ : Index scriptorum latinorum medii aevi hispanorum, cit. [também publicado

com a mesma paginação em 2 vol. dos Acta Salmaticensia, 13 (1959)], pp. 290-295 (nn. 1379-1406): «Petrus Hispanus, postea Iohannes papa XXI».

269 M. ALONSO ALONSO (ed., introd., notas): Pedro Hispano, Obras Filosóficas I: Scientia libri de anima, Barcelona 1961 (2ª ed.), pp. XI-XXII: «Bibliografía. I- Fuentes: Principales obras de Pedro

faculté270; Lohr Medieval Latin Aristotle271, LindbergA Catalogue272, P. Kibre Hippocrates latinus273. Esporadicamente são ainda citados outros repertórios;

4) indicação dos manuscritos conhecidos; por uma questão de brevidade, para algumas obras mais difundidas ou já criticamente editadas remete-se apenas para eventuais listas de manuscritos já ante publicadas ou para os manuscritos base dessas edições; pela mesma razão de brevidade, no caso dos comentários anónimos e de autor ao Tractatus reuniram-se as informações remetendo apenas para as páginas do vol. I;

5) edições (integrais ou parciais); seguindo o mesmo critério, dá-se a referência das edições no repertório Schönberger—Kible274;

6) traduções da obra (integrais ou parciais), dá-se também a eventual referência das edições no mesmo repertório Schönberger—Kible;

7) eventuais notas sobre a atribuição a Pedro Hispano, ou sobre outros assuntos que mereçam destaque.

Uma vez que na parte II se discutirão alguns problemas relacionados com cada obra, aqui apenas esporadicamente afloram questões relacionadas com fontes, estrutura, teorias particulares. Porque aí também se darão indicações bibliográficas mais precisas e porque existe no final do volume uma bibliografia comentada também pareceu redundante dar aqui uma bibliografia específica para cada obra.

O primeiro problema a resolver prendia-se com a organização interna da clavis e, naturalmente, a ordem alfabética do título normalizado seria a usada, mas é evidente que não poderiam ser colocadas ao mesmo nível obras que em todos os manuscritos são transmitidas como de Pedro Hispano, ou obras que são de outros autores e lhe foram atribuídas por erro, ou outras que são simples equívocos da literatura secundária.

Por essa razão, e conjugando a lição dos manuscritos com o que foi possível apurar nos capítulos anteriores sobre a história de atribuição de obras a Pedro Hispano, estabeleceram-se critérios de triagem que se transformaram nas diferentes partes da clavis, que são as seguintes:

270 P. GLORIEUX: La faculté des arts et ses maîtres au XIII.e siécle, (Études de Philosophie Médiévale,

59), Paris 1971, pp. 284-286: «352. Pierre d’Espagne».

271 C.H. LOHR: «Medieval Latin Aristotle Commentaries. Authors: Narcissus - Richardus», Traditio 28

(1972) 281-396, cfr. pp. 356-361: «Petrus Hispanus (Petrus Juliani; Johannes XXI)».

272 D.C. LINDBERG:A Catalogue: A Catalogue of Medieval and Renaissance Optical Manuscripts,

Toronto 1975, pp. 111-114 (nr. 206).

273 P. KIBRE: «Hippocrates Latinus: Repertorium of Hippocratic Wrigtings in the Latin Middle Ages», Traditio, I: 31 (1975) 99-126; II: 32 (1976) 258-292; III: 33 (1977) 253-295; IV: 34 (1978) 193-226; V: 35 (1979) 273-302; VI: 36 (1980) 347-372; VII: 37 (1981) 267-289; VIII: 38 (1982) 165-192; ed.

revista: EADEM: Hippocrates latinus. Repertorium of Hippocratic Wrigtings in the Latin Middle

Ages, Revised Edition, New York 1985, 19892.

274 R. SCHÖNBERGER — B. KIBLE: Repertorium edierter Texte des Mittelalters aus dem Bereich der Philosophie und angrenzender Gebiete, Berlin 1994, pp. 607-610 (nn. 16628-16655).

1. Obras transmitidas como de Pedro Hispano: onde se incluem todas as obras que não são integráveis nas secções seguintes, embora a sua inclusão numa mesma secção não signifique que pertencem a um mesmo autor, mas apenas que são o núcleo de obras (juntamente com as das secções 2, 3 e 4) que importará ter em consideração directa para resolver a questão petrínica. Inclui os títulos 1 a 50;

2. Obras citadas pelo autor mas desconhecidas: agrupa as referência que se encontram em duas das obras da secção anterior e que não foram ainda identificadas em manuscrito. Inclui 6 títulos (números 51 a 56);

3. Obras de autoria não verificada: 3 títulos mencionados nos manuscritos e que não é possível saber se mesmo aí são atribuídas a Pedro Hispano (números 57 e 59);

4. Obras não localizadas, citadas por outros autores: agrupa as referências da literatura secundária a obras de facto ainda desconhecidas e que não é certo que tenham existido. Inclui 5 títulos (números 60 a 64);

5. Obras atribuídas a (um) Pedro Hispano, mas de outros autores, conhecidos ou

anónimos: reúne aqueles títulos cuja autoria ou história foi possível determinar e que obrigam

a excluir qualquer atribuição a um Pedro Hispano. Inclui 29 títulos (números 65 a 93);

6. Obras não existentes: são títulos usados de modo defectivo pela literatura secundária e que não correspondem a qualquer obra; apenas se mencionam aqui para desfazer equívocos. Inclui 7 títulos (números 94 a 100).

Fica assim claro que na elaboração deste repertório são tidos em conta todos os

índicios sobre obras atribuídas a Pedro Hispano, desde os que se apresentam confirmados por

vários e múltiplos testemunhos, até aos que resultam de erros grosseiros ou de descuidos mais ou menos graves. Admite-se, de facto, que há sempre algo a aprender e a reter em todos eles. E a detecção de erros nos mecanismos de atribuição de obras pode ser tão ao mais importante sobre esse processo que a mais inquestionável evidência275.

Por outro lado, deve ter-se presente que este primeiro ensaio de elaboração de uma

Clavis das obras atribuídas a Pedro Hispano é um passo intermédio e introdutório do que se

dirá nas partes seguintes, findas as quais poderá haver elementos que permitam introduzir divisões que, por exemplo, venham a permitir distribuir as obras das secções 1 a 4 entre diferentes autores “Pedro Hispano” e a transferir outras para a secção 5.

275 Veja-se a este propósito o estudo dos meandros e consequências da atribuição a Pedro Hispano do

comentário de Guilherme de Aragão sobre a Physiognomia do pseudo-Aristóteles, em J.F. MEIRINHOS: «A atribuição a Petrus Yspanus das Sententie super libro de physonomia de Guillelmus Hispanus, no Manuscrito Vaticano, Urb. lat. 1392», Mediaevalia. Textos e estudos, 7-8 (1995) 329- 359.

No documento Pedro Hispano (século XIII) (páginas 101-105)