Panorama sobre a atribuição de obras a Pedro Hispano
A. Obras transmitidas como de Pedro Hispano
II. Os comentários
2. Obras citadas pelo autor mas desconhecidas
51. De mathematicis
In mathematicis Opera matematica
Obra desconhecida.
Auto-citação na Sententia cum questionibus in libros De anima I-II: «Et de hiis [scilicet: utrum amor sit principium omnium] in mathematicis latius disputavimus» (Lib. I, lect. 14, q. 5, sol., ed. Alonso, p. 461, 6). Estas são as palavras finais do livro I e no resto da obra não há outra remissão para este título, nem mesmo na questão sobre se a matemática é mais digna que a ciência da alma (cfr. pp. 130-132).
Ref.: Alonso Comentario nr. 29: «Opera mathematica. De esta obra habla Pedro Hispano cuando en el Comentario al De anima dice Et de hiis in mathematicis latius disputavimus (fol. 91rb)». Mas, em Alonso Scientia esta obra já não é mencionada.
52. De motu celorum
De motu celorumObra desconhecida (e inexistente).
Na solução da questão «utrum anima sit motor corporis celestis ut possit dici quod corpus celeste habeat animam et quod ab anima moveatur» da Sententia cum questionibus in libros
De anima I-II, escreve:
«Utrum autem sit intellectus increatus an creatus in aliis discussimus. Nunc autem sufficiat quod movetur ab intellectu» (Lib. II, lect. 1, q. 8, sol., ed. Alonso, p. 530, 32-531, 1).
Daqui, Manuel Alonso (Comentario p. 24, nr. 30) deduziu a existência de uma outra obra: «De motu caelorum? A una tal obra parece aludir cuando dice: Utrum autem… [cfr. atrás]». (Note-se que na lista de obra em Alonso Scientia, este título já não vem mencionada.
A citação poderá indicar quer uma obra independente sobre o intelecto, quer algum comentário ao De anima. Mas deve notar-se que a segunda questão da lição 10 do livro I responde precisamente a «utrum intellectus sit creatus an increatus» (Pedro Hispano:
Sententia cum questionibus in libros De anima I-II, Lib. I, lect. 1, q. 2, ed. Alonso, pp. 370-
373) e todas as 6 questões desta lição se relacionam com este problema (cfr. pp. 366-382). Trata-se certamente de uma remissão para estas questões.
Sobre a origem da alma e do intelecto, sobretudo nos dois comentários zoológicos atribuídos a Pedro Hispano, ver J.M.C. PONTES: Pedro Hispano Portugalense e as
controvérsias doutrinais do século XIII. A origem da alma, Coimbra 1964, com edição de
textos nas pp. 255-282, mas onde esta questão não é abordada, nem ao longo da obra este passo parece ser discutido.
53. Questiones Physice
Obra desconhecida mas à qual se refere o autor na Sententia cum questionibus in libros De
anima I-II na questão «propter quid quelibet scientia utitur prima abstractione que est
universalis a particulari»:
«Et per hoc solvuntur rationes. Horum autem verificatio et cum supra questiones physice negocii dicte sunt» (Quest. Preamb. III, q. 2, ad rat., ed. Alonso, p. 113, 32-33).
Também poderá apontar para um comentário sobre a Física o que se lâ na questão «cui proprie competat diffinitio utrum, scilicet, substantie an accidenti aut utrique», da mesma obra:
«Utrum autem accidentium sunt propria principia per que diffiniantur, determinatum est in aliis» (Quest. Preamb. III, , q. 6.2.4, ad rat., ed. Alonso, p. 161, 8-10).
No Tractatus (Summulae logicales) II, 14-19 (pp. 22-25 da ed. De Rijk), onde se trata a definição e a questão do acidente, não é discutido directamente o lugar ou propriedade dos acidentes na definição.
Manuel Alonso quis ver nas duas autocitações um testemunho da autenticidade do Liber
naturalis de rebus principalibus naturarum (cfr. Alonso Comentario nr. 28), onde estas
questões também não são tratadas.
Ver, entre as obras desconhecidas e citadas por outros autores, o título: Lectiones in
54. Supra librum De sensu et sensato
Esta obra é apenas conhecida por autocitação nas Notule super Isagoge Iohannicii in Artem
parvam Galeni, no final da glosa sobre o lema «Virtus itaque sensibilis constat», lição onde
trata os cinco sentidos, sem propor qualquer questão, que substitui pelas palavras:
«Circa partem istam [sc. de quinque sensibus ] possunt queri multa vel quasi infinita dubitari; sed quia alibi sunt disputata et determinata sicut supra librum De sensu et sensato et supra secundum librum De anima, ad presens omittantur et in partibus illis requirantur» (Madrid, BN, 1877, f. 32va-b; cfr. M. GRABMANN: Mittelalterliche lateinische
Aristotelesübersetzungen und Aristoteleskommentare in Handschriften spanisher Bibliotheken, München 1928, p. 104; M. Alonso: Pedro Hispano, Obras filosoficas III, 1952,
pp. 28-29).
Ref.:Díaz y Díaz Index 1406 («traduntur in cod. Madrid BN 3314»); Glorieux La faculté nr. 352 (d), (só dá a cota e o título, acrescentando que o livro é mencionado na obra i) de PH [= Notulae super Johannicium (Madrid, BN, 1877, ff. 24-46 e Paris N.L. 6956], indicando o ms. Madrid, BN, 3314. Bataillon na sua recensão sobre esta obra e quanto a este ms dirá que «d) n’est pas de Pierre d’Espagne mais d’Adam de Bocfeld» (L.-J. BATAILLON: «Bulletin de
philosophie médiévale», Revue des sciences philosophiques et théologiques, 1973, p. 161); Lohr Medieval Latin Aristotle p. 360 nr. 5.
A Bibliografia Geral Portuguesa, II, 1944, p. 379 dá o título De sensu et sensato, De
morte et vita e De somno et vigilia, acrescentando «Comentários aos parva naturalia. / Na
mesma miscelânea [i.e., Madrid, BN, 1877]», o que é errado, mas parece referir-se às obras do ms. Madrid, BN, 3314, ff. 113r-117r, que Grabmann admitiu serem de Pedro Hispano por o ms. ter no seu início a Scientia libri de anima (M. GRABMANN: Mittelalterliche lateinische
Aristotelesübersetzungen und Aristoteleskommentare in Handschriften spanisher Bibliotheken, München 1928, p. 65), mas que de facto são de Adão de Bockfeld(Adam de Bocfeldius).
Note-se, e ao contrário do que tem sido admitido pelos diferentes autores, que a citação não indica que o seu autor também escreveu aqueles comentários, pode simplesmente estar a citar obras de outros.
55. Supra secundum librum De anima
Esta obra é apenas conhecida por autocitação nas Notule super Isagoge Iohannicii in Artem
parvam Galeni no final da glosa sobre o lema «Virtus itaque sensibilis constat», lição onde
«Circa partem istam [sc. de quinque sensibus ] possunt queri multa vel quasi infinita dubitari; sed quia alibi sunt disputata et determinata sicut supra librum De sensu et sensato et supra secundum librum De anima, ad presens omittantur et in partibus illis requirantur» (Madrid, BN, 1877, f. 32va-b; cfr. M. GRABMANN: Mittelalterliche lateinische
Aristotelesübersetzungen und Aristoteleskommentare in Handschriften spanisher Bibliotheken, München 1928, p. 104; M. Alonso: Pedro Hispano, Obras filosoficas III, 1952,
pp. 28-29).
Alonso quis tomar esta refência ao De anima II como argumento para atribuição a Pedro Hispano da Expositio libri De anima II-III, porque o tema dos sensíveis próprios e dos 5 sentidos não chega a ser tratado nem na Scientia libri de anima, nem na Sententia cum
questionibus in Aristotelis De anima I-II (Alonso 1952, pp. 29-30). Mas a referência também
tem sido usada para concluir que a Sentia deveria ser um comentário completo onde estas questões etariam tratadas.
Ref.:(não é mencionada em qualquer repertório).
Note-se que a citação não indica que o seu autor também escreveu aqueles comentários, pode simplesmente estar a citar obras de outros.
56. Tractatus de embrione
Obra desconhecida.
Auto-citação no final da enumeração das 6 questões a tratar na lição 10 do livro II da
Sententia cum questionibus in libros De anima I-II escreve:
«Questiones vero que incidunt circa modos omnes generationis et circa embrionem in tractatu quem sufficienter apponemus determinabuntur et in ipso requirantur et si placet determinentur hic». (Sententia cum questionibus in libros De anima I-II, Lib. II, lect. 10, p. 738, 27-30).
Contudo, o comentário não chega a este ponto porque os apógrafos conhecidos terminam na questão 4 desta lição, nem conhecemos se o tal tratado terá chegado a ser composto.
Ref.: Alonso Comentario nr. 30: «Tractatus de embrione. De esta obra se afirma autor el proprio Pedro Hispano cuando dice Questiones vero que incidunt circa modos … [ver atrás]. Quizá este tratado aparezca en ms. de Cracovia». Mas, em Alonso Scientia esta obra já não é mencionada.