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A Cofradía del Santísimo Sacramento y de San Antonio de Padua, em Cabezamesada (Toledo, La Mancha)

CULTO RELIGIOSO E DEVOÇÃO POPULAR EM PORTUGAL E EM ESPANHA

2. O papel das irmandades de Santo António em Espanha

2.2. A Cofradía del Santísimo Sacramento y de San Antonio de Padua, em Cabezamesada (Toledo, La Mancha)

Outro exemplo importante da acção que uma irmandade pode exercer junto da comunidade da sua zona de influência é o caso da Cofradía del Santísimo Sacramento y de San Antonio de Padua, com sede na Iglesia Parroquial de la Inmaculada Concepción, da localidade de Cabezamesada, província de Toledo, comarca de La Mancha. A igreja, mandada construir em finais do século XV, guarda uma imagem seiscentista de Santo António, atribuída à escola de Mena que suscita grande devoção (Anexo I, Figura 65). Com efeito, embora esta seja a imagem de menor tamanho presente nesta igreja e não corresponda à imagem da patrona, é sem dúvida aquela que merece mais estima por parte dos habitantes desta povoação e de muitos devotos de localidades vizinhas que aqui vêm assistir à missa dominical, e sobretudo às cerimónias anuais dedicadas ao santo.

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As festas em honra de Santo António são organizadas pela referida confraria e desenrolam-se ao longo do mês de Junho. No dia 3 de Junho, a imagem é retirada do altar em que se encontra guardada e é colocada no lado esquerdo da igreja em local de destaque num palanque profusamente decorado com flores. Durante os nove dias seguintes, às 21 horas, é-lhe rezada a novena. No dia 12 de Junho, celebra-se as Vísperas, mas no dia 13 de Junho atinge-se o ponto alto das celebrações com a procissão que sai da igreja às 20.30h e dura cerca de duas horas para levar a imagem do santo a percorrer a aldeia, efectuando as paragens que forem solicitadas pelos habitantes. Este ritual, designado “encarar al santo”, ocorre diante de qualquer casa onde esteja a pessoa que o requeira e consiste em parar a procissão para fazer girar a imagem do santo, através de um mecanismo instalado no andor, na direcção da pessoa visada, frequentemente crianças, com o objectivo de pedir protecção ou agradecer uma bênção. No final do mês de Junho, a imagem do santo, depois de ter estado exposta durante todo o mês, em lugar de destaque na igreja, é devolvida ao seu altar numa cerimónia em que se pode tocar e beijar a imagem, e na qual são distribuídos os tradicionais pães.

A devoção popular a Santo António está muito enraizada, especialmente no que se refere a pedidos para encontrar objectos perdidos e para curar doenças, cujos efeitos protectores são visíveis também através dos azulejos colocados nas fachadas de muitas casas. A avançada faixa etária em que se encontra a maioria dos quatrocentos e oitenta e cinco habitantes desta aldeia, bem como dos moradores das localidades vizinhas, numa zona também marcada pela desertificação, justifica provavelmente que estas sejam as prorrogativas mais populares, sendo que os efeitos casamenteiros do santo não se fazem sentir muito por esta zona. Apesar de estarem contabilizadas apenas quinze crianças nesta aldeia, algumas delas filhas de imigrantes romenos, há ainda a tradição de vir

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apresentar os recém-nascidos diante da imagem do santo que está na igreja, pedindo a sua protecção, tratando-se muitas vezes de crianças descendentes de antigos habitantes.

O ano de 2010 trouxe novo fôlego à devoção antoniana em Cabezamesada, na medida em que se concretizou a aquisição de uma relíquia de Santo António, trazida de Pádua, por iniciativa da irmandade (Anexo I, Figura 65). Desloquei-me a esta localidade no dia 8 de Maio de 2011204, quando o pároco, D. Ángel Gómez Negrete, teve a amabilidade de dar a conhecer não só o processo seguido para a obtenção da relíquia mas também o impacto que esta tem tido na comunidade205.

Iniciou-se o processo em Janeiro de 2009, com um pedido dirigido a Pádua a partir dos órgãos dirigentes da Confraria, via correio electrónico. A resposta do Vigário Provincial de Pádua, indicando os requisitos, foi enviada, igualmente via correio electrónico, no dia 15 de Fevereiro de 2009, dia com significado especial por se tratar da data da Festa da Língua do Santo206. No dia 28 de Outubro de 2009, seguiram para Pádua, por via postal, os documentos solicitados e que fundamentaram o pedido, nomeadamente uma carta do pároco dando conta da devoção existente na aldeia e nas redondezas, e informando acerca do local específico a que se destinava. Esta carta, assinada também pelo Arcebispo de Toledo, recebeu resposta favorável no dia 22 de Abril de 2010. Organizou-se, então, uma peregrinação a Pádua com o objectivo de trazer a relíquia para expor na aldeia. No dia 13 de Junho de 2010, realizou-se a cerimónia oficial de recepção da relíquia, que foi dada a beijar aos devotos. Está

204 Acompanhei a minha amiga Susana Gala Pellicer nesta deslocação, a quem agradeço a hospitalidade e

as longas conversas “antonianas” durante os períodos de investigação que levei a cabo em Madrid, bem como as partilhas que perduram.

205 Este assunto encontra-se desenvolvido na dissertação de Doutoramento de Susana GALA PELLICER,

intitulada San Antonio de Padua en la Cultura Popular, apresentada na Universidad de Alcalá em 2012, concretamente nas pp. 136-140; 489-496.

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A festa da Língua de Santo António, também conhecida como Festa da Transladação de Santo António, é celebrada anualmente na Basílica de Pádua no dia 15 de Fevereiro. A festa celebra conjuntamente duas datas importantes: a primeira transladação do corpo do santo, realizada a 8 de Abril de 1263, quando se encontrou a língua incorrupta, e o dia 15 de Fevereiro de 1350, quando o túmulo do santo ocupou o seu lugar definitivo na actual capela.

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decidido, por acordo estabelecido entre o pároco e a Irmandade, que esta cerimónia será repetida sempre no dia 13 de Junho e no dia em que o santo é colocado de novo no altar. Este dia oscila conforme o calendário anual, fazendo recair esta cerimónia no último domingo de Junho ou no primeiro de Julho.

A chegada da relíquia, constituída por um fragmento de pele de Santo António acompanhado de um certificado de autenticidade, causou grande emoção entre os devotos e obrigou a algumas alterações quanto à logística desta peça, para que ficasse junto da imagem seiscentista. Procurando-se uma adequada acomodação da relíquia e da imagem, a Confraria procedeu à substituição da porta de vidro já existente por outra de melhor qualidade e mais segura, com fechadura, para guardar em segurança a peça em ouro e prata adquirida à conceituada casa Arte Martínez, em Horche (Guadalajara), especialista em arte sacra. Todo este processo demonstra a importância que a aquisição de uma relíquia atinge na conservação e renovação do culto a Santo António nos nossos dias.

É notório o empenho com que os elementos da Irmandade, fundada a 7 de Novembro de 1931, ano do VIIº Centenário da morte do santo, preparam as festas dedicadas a Santo António e zelam pela imagem e pela relíquia que tão recentemente conseguiram obter de Pádua e que constitui motivo de grande orgulho. Tive a grata oportunidade de conversar com alguns dos seus elementos, no mesmo dia, concretamente o seu Presidente, Benito Manuel, o Vice-Presidente, Leopoldo, e a Vogal María Luisa, e é evidente a fé e a devoção que os move, mantendo vivas as tradições associadas à festa de Santo António.

91 3. Devoções a Santo António – mosaico ibérico

A tradição popular foi transformando a figura de Santo António, moldando-a às necessidades das gentes e dos tempos. De santo pregador e teólogo a santo taumaturgo e casamenteiro, a imagem do santo foi-se desdobrando, incorporando características e adquirindo novos contornos.

A devoção popular não cabe apenas nas manifestações religiosas acabando por extravasar alegria e afectividade para com Santo António em festas de cariz profano. Esta proximidade do santo ao povo levou alguns estudiosos como Leite de Vasconcelos, Teófilo Braga e Luís Chaves a debruçarem-se “sobre os fenómenos de similitude de alguns dos atributos conferidos ao santo e a prática do seu culto, com velhos ritos pagãos”207

e até com as festas do solstício, assunto que José Anes e António Macedo desenvolveram208.

Moisés Espírito Santo considera Santo António um “caso interessante de apropriação popular de um culto católico”209 e explica que um santo só existe pela vontade dos seus fiéis que o modelam segundo a sua própria vontade. Adianta ainda que:

Este é um princípio importante do seu culto, que tem apenas uma longínqua relação com a mesma personagem da liturgia católica. O santo não é mais do que um nome, uma imagem e uma lenda, ou por outras palavras, é um símbolo, uma norma de conduta ou um modelo onde se reflectem os valores. (...) Logo que os modelos mudam, os santos que veiculam esses valores entram em decadência.210 O mesmo especialista esclarece que a tipologia dos milagres atribuídos a Santo António decorre de histórias “que no seu tempo se aplicavam aos santos populares do Islão marroquino”211

e que os rituais associados à festa em sua honra e em honra de São

207 Irisalva MOITA, op.cit., p. 27. 208

José ANES e António MACEDO, “O Santo António e as festas solsticiais”, in A.VV., O Santo do

Menino Jesus: devoção e festa, pp. 49-54.

209 Moisés ESPÍRITO SANTO, A religião popular portuguesa, p. 122. 210

Ibidem, p. 113.

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João remetem para “uma religião mediterrânica pré-cristã, naturalista, que persistiu até à baixa Idade Média”212

, considerando-os, portanto, “um exemplo de sincretismo, quer dizer, mistura de religiões sucessivas com substituição dos elementos teológicos.”213

José Manuel Pedrosa considera que os milagres atribuídos a Santo António “son similares a los que en muchas otras culturas y religiones tradicionales se asocian a un elenco extraordinariamente amplio, ambiguo y variopinto de magos, brujos, chamanes, druidas, santones y toda suerte de especialistas mágico-religiosos.”214

É assim que compreendemos o carácter plural, multicultural e transreligioso que impregna as manifestações devocionais a Santo António. De facto, encontramos por todo o mundo expressões diversas de religiosidade popular em torno de Santo António. Um campo particularmente rico de manifestações deste tipo é constituído pelas antigas colónias portuguesas e espanholas, onde se pode observar uma presença muito forte de Santo António, manifestada através da abundância de templos que lhe são dedicados e de tradições associadas ao culto religioso. Refira-se, por exemplo, a procissão que se realiza na localidade de El Chorro, município de San Antonio La Paz, na Guatemala, durante a qual são proferidas orações pedindo ao santo para que haja Inverno. Da mesma forma, no Brasil crê-se que colocar a imagem de Santo António ao sol virada de cabeça para baixo ou mudar de lugar a imagem do santo no oratório propicia a vinda das chuvas. Trata-se de mais um exemplo da maleabilidade que caracteriza a devoção antoniana e que remete para uma certa religiosidade primitiva marginal à fé cristã.

O culto prestado a Santo António reveste-se de contornos que permanecem ainda inexplicáveis à luz de teorias avançadas por historiadores, sociólogos e psicólogos, que o fundamentam no conhecimento lógico, sem querer reconhecer o valor da fé dos seus

212 Ibidem.

213

Ibidem.

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devotos, quando, de facto, o fenómeno da devoção antoniana assenta nestes dois pilares: o acontecimento histórico e a fé215.

Uma das vertentes da universalidade que a sua imagem encerra reside na espiritualidade que a sua presença exerceu na sua época e que tem perpassado todos os tempos, conforme assinala Maria Lourdes Sirgado Ganho: “Espiritualidade que, partindo do conhecimento teórico e profundo da Sagrada Escritura, se enraíza no terreno da realidade humana mais concreta, passando das palavras aos actos que a verificam.”216

Ponderando os vários matizes que a devoção popular a Santo António pode assumir, confirma-se que se trata do santo mais popular do santoral, de carácter multifacetado e sempre próximo dos seus devotos. Na verdade, pode-se considerar Santo António um caso único de congregação de virtudes e poderes milagrosos. “No geral, cada santo é advogado ou protector de uma determinada categoria de sucessos”217. “Ora, com Santo António, dá-se o contrário, pois é êle sòzinho a atender e

a acudir a várias calamidades que afligem os seus devotos.”218

Com efeito, Santo António é requisitado para resolver toda a classe de problemas um pouco por todo o mundo. No espaço ibérico esta pluricapacidade tem encontrado múltiplas formas de manifestação.

Poderíamos ser levados a pensar que a devoção popular a este santo assumisse uma dimensão muito maior em Portugal que em Espanha pelo facto de ser de nacionalidade portuguesa. Nascido em Lisboa e acabado de formar em Coimbra, julga- se que tenha partido de Portugal no ano de 1220, para vir a destacar-se em Itália, onde morreu, mas contando com desempenho também no Sul de França. Embora não tenha pisado solo espanhol em vida, é inquestionável a devoção que em Espanha este santo

215

Henrique Pinto REMA, “A piedade popular e Santo António”, Cultura, p. 22.

216 Maria de Lourdes Sirgado GANHO, “A Espiritualidade de Santo António na Piedade Popular”, in

AA.VV., Piedade Popular: sociabilidades, representações, espiritualidades, p. 59.

217

Armando MATTOS, op.cit., p. 33.

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suscita desde cedo. Presumo que o período da unificação das coroas ibéricas tenha vindo contribuir de forma determinante para esta aproximação do santo aos espanhóis. Como já foi referido e terei oportunidade de voltar a afirmar, a figura de Santo António, entre outras do panorama histórico-cultural português, foi utilizada durante este período como ícone da identidade portuguesa, mas também espanhola.

A perspectiva plural de Santo António encontra-se bem patente numa das mais importantes obras seiscentistas de divulgação da sua figura. Refiro-me à extensa obra intitulada San Antonio de Padua, publicada em 1604. O autor, Mateo Alemán219, confessa-se devoto de Santo António e chega a contar um milagre pessoal que o santo terá operado, salvando-o da morte220. Ao longo do texto, de carácter hagiográfico e dividido em três partes, vai relatando a vida, os milagres e a canonização de Santo António, sublinhando a sua nacionalidade portuguesa, bem como o valor da cidade de Lisboa, berço do santo, e dos monarcas que a conquistaram aos mouros e a dignificaram221.

Outra obra importante neste contexto é o Epítome de la vida, acciones y

milagros de San Antonio, natural de la ciudad de Lisboa, que vulgarmente se llama de la de Padua, escrita em 1647 por Frei Miguel Pacheco, capelão da igreja e reitor do

Hospital de San Antonio de los Portugueses, em Madrid222. Escrita em língua castelhana, o autor português enaltece a projecção ecuménica de Santo António quando

219 Escritor converso espanhol, conhecido sobretudo pela sua obra Guzmán de Alfarache, uma das mais

importantes do género picaresco, cuja 1ª parte foi publicada em 1599, em Madrid. Publicou a 2ª parte do referido romance picaresco quando se deslocou a Lisboa, em 1604, para fazer a divulgação da obra sobre Santo António.

220 Mateo ALEMÁN, San Antonio de Padua, pp. 347-349.

221 Para uma melhor interpretação desta obra, veja-se Henri GUERREIRO, “El San Antonio de Padua de

Mateo Alemán: tradición hagiográfica y proceso ideológico de reescritura. En torno al tema de pobres y poderosos”, Criticón, pp. 5-52.

222 Obra publicada em Madrid, no ano de 1647, da qual são conhecidas duas traduções para a língua

portuguesa, em 1732 e 1735, respectivamente por Miguel Lopes Ferreira e por José Pereira Baião. Em 1694, foi publicado, em Lisboa, o Sermaõ do Glorioso Padre Santo António, única obra de Frei Miguel Pacheco redigida em português.

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afirma: “Solo Antonio es santo universal porque en todo hace el oficio de todos.”223

Acrescenta ainda que a melhor divisa que este santo tem é o Menino Jesus, que lhe confere a superioridade que o distingue. Parece haver nesta obra uma voluntária omissão da nacionalidade portuguesa de Santo António224, embora seja dada grande ênfase à nobreza dos pais do santo, encontrando origens espanholas para a mãe através de laços familiares com dignos elementos da sociedade, como por exemplo o Prelado Don Juan Tavera, bispo de Ciudad Real. Indica-se que os antepassados da mãe de Santo António descendem dos Taveiras, directamente do rei Don Fruela de Asturias, destacado monarca na resistência contra os muçulmanos225. Do lado paterno, enaltece-se a família Bulhões, conhecida pela bravura dos nobres cavaleiros que ajudaram o rei D. Afonso Henriques a conquistar a cidade de Lisboa aos mouros226. Acrescenta-se que em Castilla se encontram ainda alguns descendentes destes bravos cavaleiros227. Os referidos dados familiares seguem a tradição quanto à origem nobre dos pais de Santo António relacionada com as famílias Bulhões e Taveira, mas nota-se a valorização do importante desempenho de ambas as famílias no combate aos sarracenos e na fundação de reinos cristãos, dignificando as origens do santo, postas de algum modo ao serviço da autoridade reinante.

O aspecto mais curioso quanto à ascendência espanhola de Santo António, nomeadamente por parte da mãe, encontra-se no País Vasco. Relaciona-se o apelido Taveira, atribuído à mãe do santo, com a localidade medieval Tabira de Durango. Consta que Santo António tem as suas raízes familiares maternas em Pedernales, mais especificamente na localidade de Abiña, que corresponde actualmente à Playa de San

223 Miguel PACHECO, Epítome de la vida, acciones y milagros de San Antonio, natural de la ciudad de Lisboa, que vulgarmente se llama de la de Padua, p. 101.

224 Juan Ignacio PULIDO SERRANO, op.cit., p. 318. 225 Miguel PACHECO, op.cit., p. 7v.

226

Ibidem, p. 3.

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Antonio de Abiña, no perímetro da Reserva da Biosfera de Urdaibai. Conta-se que aí vivia a sua avó materna que se apaixonou por um marinheiro português, que viria a ser o seu avô, tendo ambos viajado mais tarde para Portugal. Esta historia encontra-se sustentada pelo costume que na Idade Media levava muitos portugueses às costas biscainhas em busca de castanhas a troco de carvão, facto que justifica a abundância deste mineral na zona e a toponímia do município, para além da, não comprovada e muito improvável, ascendência basca de Santo António. Ainda assim, existe nesse lugar uma pequena ermida dedicada ao santo, na qual se encontra uma imagem simples que o representa com os olhos claros, característica comum a uma grande maioria das pessoas oriundas desta região. Neste caso, pretende-se assim representar a marca hereditária da sua família de Abiña.

Por outro lado, esta tradição justifica o duplo patronato do Santuário de Aitá San Antonio en Urkiola. A incorporação de Santo António como patrono deste santuário, dedicado anteriormente apenas a Santo Antão, deu-se em resultado do facto de, segundo a tradição, o santo aí ter celebrado missa e de ter pernoitado na respectiva hospedaria de peregrinos, numa noite de grande temporal. As explicações para a visita ao santuário de Urkiola são várias: resultou da proximidade geográfica com o Sul de França onde Santo António exerceu a sua missão de predicador; aconteceu porque o santo se dirigia a Lisboa para visitar os seus familiares; tratou-se de uma passagem em peregrinação a Santiago de Compostela; ocorreu quando se deslocou à zona para visitar uns parentes228. Para alguns, a visita era mesmo destinada à sua avó materna basca e ocorreu quando o santo se encontrava em Toulouse229. Junto à ermida de Santo António, na localidade de Llodio, existe uma pegada esculpida numa pedra quando o santo se encontrava a caminho de Urkiola. Aí subsiste a convicção de que para curar dores de dentes, há que

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Joseba Iñaki LEGARZA ASTEGIA, San Antonio, p. 39.

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beber água da fonte de Santa Lucía, que fica perto da ermida, e conservá-la na boca enquanto se dirige à pedra com a pegada de Santo António, onde deve ser despejada. Para que a dor desapareça totalmente, deve repetir-se esta operação três vezes230.

Talvez inspirada no episódio da visita de Santo António a Urkiola, manifestando alguma confusão quanto à origem do santo e revelando a fusão de cultos entre Santo