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2. PISTAS DA CRIAÇÃO COLABORATIVA NA DANÇA

2.1. PERCURSOS DO SENSÍVEL: DA CRIAÇÃO À COLABORAÇÃO

2.1.1. Colaboração como fenômeno

Elucidar o que seja a colaboração e as diferentes denominações existentes para designá-la é um modo de expor algumas tessituras que entrelaçam o fenômeno colaborativo em diferentes cam- pos do conhecimento,,e que apontam, sobretudo em textos acadêmicos, valores, características, problemas e distintos olhares sobre o assunto. A partir desse breve panorama sobre a colaboração em diferentes campos, entramos no contexto da dança apresentando-a como um decisivo aspecto do processo criativo.

A sociedade chamada pós-moderna valoriza o trabalho em equipe e, com isso, vemos desenvol- verem-se investigações e abordagens teóricas que destacam a colaboração como um fenômeno contemporâneo, presente na mídia, na cibercultura, no jornalismo, na economia, na psicologia, na educação e na arte. A concentração de pesquisas a respeito desse fazer são predominantes em alguns dos campos citados. Artigos sobre a práxis colaborativa são encontrados nas bibliotecas virtuais ou em livros; do mesmo modo, teses abordam o processo colaborativo em vários campos do conhecimento (TRACTENBERG; STRUCHINER, 2010).

O crescimento desse fenômeno também se deve às pesquisas no campo da Psicologia Social e 5 O Grupo de Dança Odundê surgiu em 1981, formado por alunos (de bacharelado e licenciatura) e professores da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia, sob a direção da Professora Conceição Castro. Foi reativado em 2011.

Organizacional que, ao longo dos anos, alega “benefícios para a flexibilização e o aumento da produtividade organizacional, para motivação dos trabalhadores e para a resolução de problemas e a realização de tarefas complexas” (ibid., p. 66). A investigação colaborativa ganha destaque na última década do século XX, em decorrência de todo um contexto de transformações sociais desse período (ibid.).

Com o tempo, percebeu-se que seria melhor compartilhar tarefas entre distintos e experientes especialistas, do que focar toda a responsabilidade em um único setor ou pessoa. Mais profis- sionais pensando sobre o mesmo assunto trariam ideias mais consistentes e coesas para resolver um problema, armazenar informações, desenvolver projetos compartilhados. No caso especí- fico da educação em artes, a troca de informações e trânsitos interdisciplinares entre docentes e artistas-pesquisadores e, entre seus estudantes, trouxe novos procedimentos pedagógicos à aprendizagem. Do mesmo modo, o trabalho colaborativo em artes oferece amplitude de suges- tões a processos criativos, como a interação das tecnologias digitais com a dança etc. Assim, os compartilhamentos de tarefas nas TICs (Tecnologias da Informação) propiciaram o crescimento da ação colaborativa também nos campos artísticos e acadêmicos.

O ato de colaborar ganha amplitude e evidência, mas sempre esteve presente nas ações sociais organizadas por projetos do governo, organizações não-governamentais e sociedades beneficen- tes, que reuniam e reúnem profissionais da mesma e de outras áreas para prestar serviços a uma comunidade, bem como quando algum país, estado ou localidade passam por uma catástrofe, em que a colaboração passa a vir de qualquer país ou pessoa que possa contribuir com sua habilidade particular para amenizar o problema.

Está presente, também, no cotidiano, por exemplo, em profissões nas quais o trabalho em equipe é indispensável, como em centros cirúrgicos, que reúnem vários especialistas, de acordo com sua capacitação, em uma cirurgia; nas coberturas de reportagens, em que, além do repórter e do cinegrafista, conta-se com um grupo colaborando para que o resultado da reportagem seja satisfatório; em jogos esportivos, ou em brincadeiras; em escolas, entre professores e gestores; em pesquisas científicas e artísticas; enfim, sob várias situações, direta ou indiretamente, por solidariedade ou pela necessidade de cumprir uma tarefa complexa.

O impulso, o interesse e a predisposição em participar e realizar a tarefa leva a uma ação, com ou sem consciência, que é uma colaboração, pois o importante é executar, integrar-se nesse fazer; contudo, reconhecer esse fazer, com frequência, torna-se difícil por estar tão incorporado ao nosso dia a dia. Assim, na maioria das vezes, não percebemos o quanto há de colaboração na atividade realizada. Colaborar implica ajudar, auxiliar, cooperar, participar com o outro em alguma tarefa. O termo toma uma proporção maior quando todos os integrantes trabalham em conjunto por um objetivo comum, sem apresentar hierarquia (Nitzke et al. apud TORRES; ALCANTARA; IRALA, 2004).

No âmbito da educação, inúmeras pesquisas e textos surgiram sobre a colaboração e cooperação dando ênfase à aprendizagem colaborativa, como: Lynn Alves (2008); Francisco M. Sánchez (2003); Maria Paz P. Espinosa (2003); Charles Crook (1998), Marco Gerosa, Hugo Fuks & Carlos Lucena (2003); Lupion Torres e colaboradores (2004); Tractenberg e Struchiner (2010) etc. Nas artes, a tendência no processo de criação colaborativo expandiu-se consideravelmente na arte multimídia, digital, literatura, teatro e dança, com suas especificidades.

Observamos, em divulgações de espetáculos, textos com comentários sobre o processo criativo com os termos cooperação e compartilhamento como sinônimo de colaboração, o que subenten- de que os membros do grupo ajudaram, contribuíram na criação e no compartilhamento entre os intérpretes-criadores, evidenciando a colaboração. Embora alguns textos provenientes do campo da educação discutam a sinonímia entre cooperar (ajudar alguém; auxiliar no trabalho; colaborar com) e colaborar, na arte nem sempre há distinção entre os termos, nem mesmo em trabalhos acadêmicos.

Como a fronteira entre um e outro – cooperar e colaborar – fica tênue quando a referência está no modo como os integrantes de um grupo se relacionam, é importante frisar o que entendemos por “colaboração” e por “cooperação” em grupo, e como esses conceitos, do ponto de vista de pesquisadores da educação, estão intrinsecamente relacionados ao processo criativo colaborativo. A colaboração no processo criativo requer que todos os envolvidos tenham um mesmo objetivo para que as propostas apresentadas sejam discutidas, negociadas e aceitas conjuntamente. Para Espinosa (2003), o grupo colaborativo tem sucessivos acontecimentos de comunicação que os caracterizam como bidirecionais. A ideia sugerida ao grupo é analisada e retornada ao colaborador com aceite, ou não, para que ele tenha oportunidade de argumentar a favor do que foi proposto. O grupo cooperativo pode ser unidirecional, quando há um elemento com expertise que sugere ideias para a realização da atividade, ou multidirecional, quando elementos do grupo buscam juntos resoluções e soluções (ESPINOSA, 2003). As atitudes do grupo colaborativo e do grupo cooperativo se entrecruzam em diferentes momentos no processo criativo.