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APÊNDICE B – TRAMAS DA VIDA: FORMAÇÃO, EXPERIÊNCIA E PERSPECTIVAS

2. Do rio para o mar

Sob o meu olhar, a busca pelo conheci- mento se apresenta como um mar sem fim

(Maria Ana Azevedo, 2008).

A paixão pela dança foi maior que sua timidez, por isso inicia com nove anos o balé clássico. No decorrer de seus estudos, a dedicação para bailar cede a vez ao desejo de ser professora de Dança, um entusiasmo que a faz chegar à docência na ETDUFPA e ao doutorado.

Os estudos em Dança de Maria Ana começam no gênero do balé clássico, método Royal Academy

of Dancing; posteriormente, acrescenta sapateado e jazz nas Escolas de Dança Clara Pinto 53, com

aprovação dos pais, em especial do pai, por perceber que a filha se destacava entre as demais meninas.

Para conseguir o que havia escolhido como carreira profissional, começa em 1987 a licenciatura em educação física, por não existir licenciatura em Dança em Belém. Com a formação acadêmica 53 Fundada pela bailarina, coreógrafa, diretora artística e empresária Clara Pinto, no início dos anos 1970.

Fig. 5 - Maria Ana Azevedo. Fonte: Arquivo da ETDUFPA (2008).

em processo e frequentando cursos de dança, começa a ministrar aulas de sapateado e baby-class na escola em que havia iniciado seus primeiros passos de balé.

Ao terminar o curso da faculdade, Maria Ana prossegue com a determinação de manter-se como professora de Dança. Então, cria e apresenta um projeto para ensinar dança aos alunos da Rede Municipal de escolas públicas vinculadas ao município em Polos Esportivos 54. Ao ser aprovada

por concurso público para a Secretaria Municipal de Educação - SEMEC, inicia seu trabalho em 1991, em dois polos com metodologia específica, cujo resultado seria visto no espetáculo de encerramento do ano. Assim, o primeiro projeto realizado para Dança foi tão próspero que possibilitou a abertura de novos convênios institucionais com a SEMEC, o que propiciou au- mento do quadro de professores e atendimento de um maior número de crianças e adolescentes da rede municipal de ensino.

Para atualizar-se e acompanhar as tendências de ensino surgidas nos anos 1990, fez inúmeros cursos livres, oficinas e workshops ministrados por professores nacionais e internacionais, nas diversas linguagens da Dança, já mencionadas, assim como em dança moderna (técnica de Horton) e folclore. Complementa sua capacitação com a especialização em treinamento despor- tivo pela Universidade Estadual do Pará, direcionado para o treinamento corporal de bailarinos dos grupos de Dança da cidade.

No período em que ministra aulas nos Polos Esportivos, faz cursos de folclore, um deles dire- cionado para a pedagogia nas escolas municipais, com o propósito de fomentar reflexões sobre o significado, os valores culturais, sociais e educacionais a partir das tradições populares. Insere os conteúdos na metodologia dos Polos Esportivos na faixa etária juvenil. O trabalho desenvolvido produziu resultados artísticos apresentados no evento Noite do Folclore.

Maria Ana comenta que as alunas a auxiliavam na composição coreográfica, nessa experiência de PCC, sendo determinante para ela escolher a disciplina Fundamentos da Cultura Popular do Curso Técnico em Dança, onde aprofundará e aperfeiçoará o PCC, como apresentarei na seção seguinte.

Em 1998, ela inicia a especialização e é chamada para trabalhar na ETDUFPA como professora efetiva. Definitivamente, encontra a Escola de Dança, que irá atender a suas perspectivas, pois para ela, “trabalhar em uma escola de Dança sempre foi o meu objetivo, já que a proposta dife- renciava-se bastante do meu trabalho nos polos e eu almejava uma perspectiva maior de estudo e pesquisa na área da Dança” (AZEVEDO, 2008, p. 4). A natureza da Dança desenvolvida na nova escola lhe abriu oportunidades não somente acadêmicas e de coordenação, mas de experienciar, aprender e orientar trabalhos práticos de processos criativos.

54 Os Polos Esportivos da SEMEC foram criados a partir de convênios com várias instituições dentre as quais se inclui a UFPA, para atender a projetos propostos pela SEMEC, destinados à comunidade externa à universidade.

O trabalho da professora já era conhecido pelos docentes da ETDUFPA, pelo fato dessa insti- tuição ter sido mais um polo do convênio realizadxo entre SEMEC e UFPA, desde 1995. Como uma das normas do contrato era receber nesse polo crianças da rede municipal e da comunidade externa, Maria Ana fora convidada a participar dos estudos pedagógicos para o desenvolvimento do ensino da Dança na Escola, assim como os alunos do polo passaram a participar das atividades da Escola, o que a faz conhecer e interagir com os professores nas oficinas livres 55.

Ao conhecer a proposta de crescimento e estruturação da Escola de Dança, Maria Ana decide engajar-se nesse processo, participando da comissão de organização e coordenação do II Fórum de Artes Cênicas da Amazônia, coordenando o Curso Livre Experimental de Formação para Bailarinos (1999), criando a Feira Cultural de Dança (2000) e o Curso Técnico em Dança (2006). Ministra oficinas de sapateado, cujos resultados cênicos proporcionam-lhe prêmios nos festivais em que participava com suas alunas. Em parceria com outros professores, coordena algumas mostras de Dança, o projeto de extensão Ciranda Junina (2004 a 2007), entre muitas atividades que surgiram na crescente Escola de Dança.

Envolvida nos projetos da Escola, integra-se ao grupo de professores na condição de alunos especiais do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFBA, e com eles passa por 55 As atividades de Dança na ETDUFPA começaram com oficinas livres; a cada ano observa-se um crescente número de alunas. Assim o quadro docente da ETD foi sendo formado, sob a coordenação de Eni Corrêa, num processo de sistematização do ensino para torná-lo curso.

Fig. 6 - Feira Cultural do Curso Livre Experimental para Bailarinos (2000). Fonte: Arquivo da ETDUFPA.

todos os processos para entrar no mestrado e concluir o curso. Em 2004 apresenta a dissertação

O Tamanco e o Vaqueiro: a espetacularidade da Dança dos Vaqueiros do Marajó, na cidade de Belém. Esse estudo sobre uma dança popular, juntamente com a experiência nos Polos Esportivos

da SEMEC, possibilitaram-lhe assumir a disciplina Fundamentos da Cultura Popular I – FCP I, do Curso Técnico de Dança.

No Curso Técnico fica responsável pelas disciplinas FCP I e Anatomia, compartilhando com outro professor Composição Coreográfica e Prática de Montagem I e II. Coordena o curso em 2006. No ano seguinte, faz parte da comissão de elaboração do projeto de graduação em Dança e de sua implantação como coordenadora em 2008, ano em que começa o doutorado no PPGAC/UFBA. Suas experiências nessa Escola, principalmente no curso técnico, motivaram-na a pesquisar o espetáculo Outros Olhares, da primeira turma de Prática de Montagem II, pois para ela, “cada aula é uma nascente, uma nascente de criação” (Entrevista, 11.05.2010).

Fig. 7 - Espetáculo Outros Olhares - Teatro da Paz (2005). Fonte: Arquivo de Eleonora Leal. Foto: Marcelo Sebrae.