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4. CRIAÇÃO COLABORATIVA: O CURSO TÉCNICO EM DANÇA

4.2. CURSO TÉCNICO: CONCRETIZAÇÃO DO PROCESSO COLABORATIVO

4.2.3. Fundamento da Cultura Popular I e

Na metodologia de ensino de Maria Ana para FCP I, o processo de ensino-aprendizagem pas- sava por dois momentos: no primeiro mês, o conteúdo era direcionado para as questões con- ceituais sobre cultura, cultura popular, folclore 39, parafolclore, tradição popular etc., os quais

eram abordados por meio de textos, apostilas, filmes e documentários que geravam discussões e a manifestação dos conhecimentos dos alunos sobre tais assuntos ou de suas experiências nas 39 Nessa época, não fazíamos distinção entre “danças folclóricas” e “danças populares”, embora o termo “folclore” seja criticado, entre outros motivos, porque “fica com o objeto e descarta o sujeito”, como ressaltou a profª. Eloísa Domenici em nosso Exame de Qualificação.

comunidades em que moravam. O segundo mês - junho 40- era destinado à prática dos repertórios

de danças populares nacionais, escolhidos conjuntamente com os alunos, segundo Maria Ana (Entrevista, 11.5.2010), e a organização para apresentação de uma Dança, tarefa a ser realizada por toda a turma ou por subgrupos sobre uma tradição religiosa ou lenda escolhida pelos alunos. A tarefa a ser apresentada na Ciranda Junina 41 era decorrente de pesquisa e concepção coreográ-

fica e cênica dos alunos. Logo, era o primeiro trabalho cujo processo de criação era colaborativo. Os procedimentos de Maria Ana para os alunos realizarem as tarefas que finalizavam em uma miniprodução coreográfica compreendiam orientá-los quanto à escolha do tema que iriam de- senvolver, a divisão das tarefas - como fazer a pesquisa de campo, em livros e nas redes sociais -, mostrar a importância do grupo estar coeso nesse momento, em virtude, também, do fator tempo para efetuar a tarefa, compor o cronograma para a execução das tarefas, acompanhar os alunos na pesquisa de campo quando necessário, bem como orientá-los sobre a forma de utilizar o material obtido, auxiliá-los na construção de um roteiro para a composição da cena, no figurino, na seleção musical, entre outros detalhes que surgem nesse momento.

Para Maria Ana, o principal objetivo da tarefa não era apresentar a situação tal como acontecia, mas sim, fazê-los entender seu significado para a comunidade que a praticava, quais signos e símbolos existiam, observar gestos, expressão do corpo, emoções e sentimentos, a fim de desen- volverem a coreografia a partir de uma releitura. A professora enfatizava que, para a composição coreográfica surgir, todos teriam de colaborar no processo criativo, buscando coerência com a proposição do tema, assim como as experiências particulares de cada um seriam importantes para o desenvolvimento da criação, e finalmente que o olhar crítico sobre o trabalho que realizariam seria relevante para a consistência do estudo coreográfico.

Como professora-orientadora, procurava acompanhar todo o processo criativo a fim de ajustar as arestas surgidas entre eles e ensiná-los a abrir os sentidos para a experiência estética. Outro momento importante considerado pela professora eram as reuniões no final das aulas, que auxi- liavam os alunos a expor problemas encontrados, relatar o andamento das tarefas, os momentos prazerosos e o que haviam aprendido. Esse encontro era importante para um feedback de como a turma estava caminhando e do crescimento e amadurecimento do aprendizado do aluno. Portanto, a reunião após a apresentação do trabalho dos alunos era um momento de avaliação de todo o processo de ensino-aprendizagem desenvolvido na disciplina, para ambas as partes, aluno e professor.

40 No mês de junho a manifestação da cultura popular fica mais em evidência em certas regiões do Brasil pelas homenagens prestadas aos três santos juninos, Santo Antônio, São João e São Pedro. Nesse mês, a programação da cultura popular na cidade de Belém se destaca com as apresentações de danças folclóricas e populares, teatro popular, músicas e festas.

41 A Ciranda Junina é um projeto Evento, idealizado pelos professores Maria Ana Azevedo e Éder Jastes, que iniciou em 2004 e passou a fazer parte do encerramento do 1º semestre. O objetivo desse evento é a apresentação do trabalho concebido pelos alunos dentro do contexto junino.

Na concepção de Maria Ana, assistir ao resultado era importante, mas a sua consideração maior estava no processo, como disse na entrevista: “Eu levava em conta o processo, a participação do aluno, o envolvimento dele no grupo” (Entrevista, em 11.05.2010). Essa sua atenção ao pro- cesso demonstrava dois pontos: o aprendizado do aluno sobre as etapas do processo de criação em se tratando de uma releitura como mostra a figura abaixo; o segundo ponto era que os pre- parava para uma próxima etapa, da qual esse estudo prático era um laboratório para as disciplinas que precisariam dessa pré-experiência, como FCP II e as Práticas de Montagens I e II.

Para vivenciar esse primeiro processo criativo, os alunos haviam passado por algumas disciplinas que auxiliariam Maria Ana nessa metodologia de ensino, além de obter um conhecimento prévio dos alunos por ter ministrado, no primeiro bimestre, Anatomia do Movimento; os dois meses com eles lhe propiciava conhecê-los e aprender a conviver com o grupo. E assim podia realizar procedimentos pedagógicos para mobilizá-los na realização das tarefas de FCP I. A professora, de modo geral, preocupava-se em atender às necessidades do aluno e a valorizar sua potencialidade. Figura 13 – Ciranda Junina – Turma de FCP I - 1º Módulo. Coreografia – Tambor – 2006. Fonte: Arquivo ETDUFPA.

Em FCP II, o professor Éder Jastes 42 ressalta as tradições populares e folclóricas da cultura local,

ou seja, do Pará, na parte prática; valoriza a improvisação das danças da região, partindo do princípio de que os movimentos básicos já estão impressos no corpo do aluno. Ao participar das brincadeiras, danças de roda, jogos, cantos, os alunos refletem sobre as transformações das tra- dições a partir das propostas de releituras feitas pelo professor, o que gera a escolha de um assunto a desenvolver, de uma pesquisa de campo, do encontro com os mestres de várias tradições e a expressão desses conhecimentos através da criação. É importante observar que os alunos mobi- lizam-se para criar um pequeno espetáculo, distribuem funções, pesquisam movimento e figurino, organizam toda a produção, enfim, o processo criativo colaborativo progride em prol do conhe- cimento adquirido para se expressar na linguagem coreográfica. A figura abaixo mostra uma produção do trabalho elaborado para o FPC II, da turma de 2006.

Com o passar dos anos, a Ciranda Junina tornou-se um evento da Escola coordenado pelos profes- sores citados acima. Inseria os alunos dos outros cursos - ver no programa da Escola (anexo) - no contexto da quadra junina, assim como valorizava e incentivava a participação dos alunos nos 42 Por problemas particulares e de saúde o professor Eder Jastes não pôde permanecer em minha pesquisa, porém faço alguns comentários sobre FCP II a partir de minhas observações e do convívio cotidiano com as turmas e com o colega.

Figura 14 – Ciranda Junina – Turma de FCP II - 2º Módulo. Coreografia – AmorDaçado – 2007. Fonte: Arquivo da ETDUFPA.

grupos parafolclóricos, convidando-os a se apresentarem no evento. A mobilização dos alunos de Dança para a produção do referido trabalho era e ainda é imensa, pela integração entre eles e professores e pela busca de uma qualidade em seus estudos iniciais artísticos dentro do curso. O trabalho em grupo com temas a serem pesquisados mobilizam de modo mais intenso os par- ticipantes para resolverem problemas. Demo (1998) enfatiza que motivar o aluno à pesquisa o leva ao hábito de tomar iniciativa da procura do material que irá substanciar o seu trabalho. A experiência da descoberta, as expectativas criadas a partir delas propiciam um aprendizado diferenciado pela efetiva participação do aluno. Considera-se, também, que a experiência sin- gular de cada integrante venha à tona, e assim impulsione, em parte, o andamento do trabalho.