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5. A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA E SEUS

7.1 A TÔNICA DAS NARRATIVAS

7.1.2 Colaborador B

A narrativa do Colaborador B152 remete a compreensão de que o CEFD é o reflexo de Santa Maria, apresentando um poder material e humano importantes no cenário nacional. No entanto, vê como um problema a falta união na comunidade, em geral, para que o Centro se consolide como espaço de esporte e de lazer para toda a cidade. Uma circunstância que leva a própria Educação Física Escolar a ser influenciada negativamente, uma vez que o distanciamento entre as pessoas e as instituições enfraqueceu o desporto escolar, outrora significativamente desenvolvido por meio de grandes competições entre os sistemas de ensino locais.

Eu vivi momentos em Santa Maria de grandes campeonatos municipais de Atletismo. [...] Eu acredito que no passado Santa Maria foi muito mais forte sobre o ponto vista escolar, do desporto escolar, atividade de Educação Física Escolar, do que hoje. (COLABORADOR B).

Nesse caso, apesar da Universidade ter crescido, houve redução na sua influência sobre as manifestações práticas na Educação Física Escolar, especialmente no que diz respeito a conteúdo esportivo, visto que eventos dessa natureza diminuíram acentuadamente na atualidade. Apenas eventualmente algum professor em atuação na Educação Básica vem ao Centro, solicita a utilização das estruturas físicas e auxílio de professores da Instituição para organizar e desenvolver competições relacionadas a alguma modalidade esportiva. Para além disso, não identifica maiores movimentos dessa ordem.

É importante que se diga que o papel destacado do fenômeno esportivo é, também, reconhecido nas ações formativas promovidas pelo CEFD, especialmente, nos seus anos iniciais, sendo sua manifestação, nas relações de saber, muito superior à preocupação com os aspectos pedagógicos inerentes ao processo de aprendizagem e de ensino no contexto da Licenciatura em Educação Física. Com isso, o Colaborador quer dizer que a teoria sobre o fazer no Curso era proporcionalmente inferior à prática no desenvolvimento das disciplinas curriculares.

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Sua atuação profissional, iniciada em 1978 na Instituição, envolveu o trabalho com a Pesquisa, a Natação, o Treinamento Desportivo, o Basquetebol, o Voleibol, o Desporto Universitário, a Chefia de Departamento, a Vice Coordenação de Curso, a Presidência da Associação Desportiva da Universidade, sua participação como Membro do Conselho Universitário, Membro do Conselho de Centro, integrante do Conselho de Pesquisa da Universidade e integrante da Comissão de Avaliação de Professores da Universidade. Além da sua graduação no CEFD/UFSM, Especialização em Biomecânica e em Lazer, e Mestrado e Doutorado em Educação Física.

No início o esporte foi o ponto central do Centro de Educação Física. Eu até diria assim: como o esporte era muito forte, foi meio negligenciada a parte pedagógica. Não um esquecimento a tal ponto de trazer prejuízo, mas a força que se dava ao esporte era infinitamente superior à força que se dava a questão pedagógica. Tanto é verdade que a maioria dos professores de Educação Física eram ligados ao esporte. (COLABORADOR B).

Esta ‘inclinação’ encontrava correspondência no próprio perfil dos docentes da Instituição. Os professores eram esportistas, alguns, inclusive, integravam a seleção brasileira em suas respectivas modalidades. No entanto, a tendência prática na composição das ações educacionais mudou com o passar do tempo. Há, na narrativa, o reconhecimento de uma sobreposição dos aspectos pedagógicos em relação a ela, desde o período de governo do então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. Nessa época muitos professores Doutores do Centro se aposentaram em um curto período de tempo, de modo que as alterações no quadro docente podem ter gerado o elevado [...] “foco na parte pedagógica [enquanto] a parte esportiva [ficou] um pouco esquecida”.

Outro aspecto importante ressaltado é a possibilidade de que os graduandos se tornem bons profissionais de Educação Física apesar de eventuais dificuldades relacionadas às intervenções motoras inerentes ao exercício da função, em oposição aos que, no CEFD, ainda entendem que os discentes devem ter rendimento esportivo elevado para avançarem na carreira. Contudo, salienta a importância de se promover um equilíbrio quanto a essas experiências na formação profissional, sem deixar de criticar a falta de vivência no esporte por parte de muitos docentes, hoje em dia.

Com grandes dificuldades de prática [...] Ela era excelente professora! [...] embora eu insista contigo: existem algumas pessoas que ainda defendem que os alunos de Educação Física devam ser pessoas que apresentam um desempenho esportivo elevado. Mas também não penso que o professor de Educação Física só [...] sabe teoria e conceito. Não viveram o esporte [...] Então nós estamos vivendo um momento um pouco complicado. Talvez até em função da progressão funcional das pessoas que trabalham na universidade ser em função de títulos. (COLABORADOR B).

Na visão do Colaborador, é possível que esteja na forma de progressão na carreira profissional a causa desse problema, ainda que entenda estar ocorrendo um encaminhamento importante na especificidade da formação em Educação Física a partir do desenvolvimento dos cursos em nível de Bacharelado e de Licenciatura na área, de modo que “o Bacharelado prepara mais para essa parte esportiva, e a parte da Licenciatura mais voltada para as escolas [...] o Centro está, realmente, com um trabalho interessante”.

Quanto às atividades institucionais no período da Ditadura Civil/Militar no país, há o apontamento de boas relações entre os administradores do Centro e as pessoas à frente da Educação Física no Ministério da Educação, de modo que se soube usufruir do momento histórico para o desenvolvimento institucional. Havia verbas para os projetos, boa organização e não ocorriam conflitos internos de natureza política. Lembrando a organização militar, as aulas começavam às sete horas enquanto nos demais cursos da universidade começavam às oito horas, também havendo uniforme para as atividades práticas e a separação entre homens e mulheres nas aulas de várias disciplinas do currículo.

Tanto é verdade que o Centro, nos seus primeiros anos, viveu uma época de ouro aqui dentro, não só financeiramente. Aqui no Centro de Educação Física, muitos prédios, o governo injetava muito dinheiro e porque a relação do Decano Milo Aita que, na época, era militar e depois trabalhou na universidade junto com o reitor Mariano, ele era amigo das pessoas que estavam no Ministério da Educação no setor de Educação Física. [...] Não tinha briga aqui dentro! Não tinha nada. As coisas aconteciam. [...] As aulas começavam às sete da manhã. Uma coisa interessante é que nós usávamos uniforme. Para ti ver como a condução era bem militaresca. [...] as coisas funcionavam! As instalações estavam sempre em ordem! [...] não lembro se eram cinquenta [meninas] e cinquenta meninos e viviam absolutamente em harmonia. Até porque as aulas eram separadas. Algumas eram juntas. Nunca houve problema. (COLABORADOR B).

O Colaborador entende que, nesse período, o Centro de Educação Física era o melhor do Brasil, favorecido não somente pelas boas relações da direção com o governo federal. Na verdade, havia muitas pessoas ligadas às forças militares que cursavam Educação Física na Instituição, de modo que essa conjuntura colaborou para a mobilização de aportes financeiros, para a organização e o desenvolvimento do curso.

Ainda nessa época, em função do Decreto n° 69.450/71, que tornou a Educação Física obrigatória também nas Universidades Brasileiras, foram instituídos os Clubes Universitários no CEFD, nos quais os alunos da graduação realizavam estágio. Desta forma, também auxiliavam no desenvolvimento das ações institucionais já que o número de professores era insuficiente para atender a demanda de estudantes provenientes de todas as graduações oferecidas pela UFSM – ainda que docentes tenham sido contratados, em função desse decreto, para atuarem nos clubes.

Por outro lado, há o reconhecimento de um equívoco quanto à forma de se considerar os testes de aptidão física realizados com os candidatos ao vestibular para Educação Física. Esses eram aplicados em caráter eliminatório, ou seja, os candidatos deveriam atingir níveis mínimos de rendimento para avançarem no processo seletivo, quando, na verdade, deveriam ser “[...] testes de aconselhamento. [...] eles não tinham a força de impedir ninguém de fazer o Curso”. Assim que, afirma ter-se corrigido esse erro cometido pelo CEFD, mais tarde.

Destaca, também, o fato de o CEFD ter recebido, historicamente, professores estrangeiros no desenvolvimento de suas atividades, além de ter apoiado a saída de docentes para estudos fora do país, de forma que isso gerou influências importantes naquilo que o Centro produziu, especialmente em razão dos contatos institucionais com os Estados Unidos e a Alemanha, com maior destaque para essa última.

Nós tivemos muita gente nos Estados Unidos, em uma linha americana, digamos assim, e também uma forte tendência no Centro de Educação Física junto à Alemanha. Muita gente veio para Santa Maria, da Alemanha, mais do que dos Estados Unidos. Eu te diria que a influência da Alemanha no Centro de Educação Física é muito forte. (COLABORADOR B).

Assim, o Colaborador salienta a presença de uma visão europeia na Instituição, proporcionado o contato com outras perspectivas de desenvolvimento da Educação Física nacional. Nesse caso, há especial referência à presença do professor Jürgen Dieckert, que atuou durante cinco anos no Centro de Educação Física, tendo em seu currículo, entre outras experiências, a presidência da Federação Alemã de Ginástica. Uma posição de grande destaque na área, em seu país.

É importante que se diga, ainda, que esse conjunto de perspectivas apresentadas pelo narrador diante do seu envolvimento com o CEFD é transpassado pela compreensão de uma necessidade de evolução cultural dos alunos, para além de se tornarem especialistas na profissão. Uma preocupação presente em suas ações profissionais, uma vez que tende a não conceber “[...] uma sociedade evoluindo, que não evolua culturalmente”.