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5. A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA E SEUS

8.4 DOCUMENTOS RELACIONADOS A CURRÍCULOS

8.4.6 Projeto Pedagógico – 1990

O Projeto Pedagógico do Curso de Educação Física (PPC/CEFD/UFSM – 1990), datado de 1990, é apresentado como o resultado de dez anos de reflexão sobre as condições e as transformações ocorridas na área e traz uma reformulação curricular da Licenciatura Plena, turno diurno, “determinada pela Resolução n° 03/87, e pela necessidade de atualização do

currículo vigente”. Foi aprovado pelo Colegiado do Curso em 03 de julho de 1989, indicando a duração de oito semestres como o tempo médio para a realização da graduação. A carga horária semestral média era de trezentos e sessenta (360) horas, enquanto as Atividades Complementares deveriam alcançar quatrocentos e noventa e cinco (495) horas.

O documento define como objetivo geral daquela Licenciatura:

Formar profissionais capazes de contribuir para o desenvolvimento harmônico do indivíduo, com uma concepção transformadora, inovadora, fundamentados em áreas do conhecimento técnico, conhecimento do homem, conhecimento filosófico e conhecimento da sociedade. (PPC/CEFD/UFSM, 1990).

Tal objetivo182 envolve uma noção abrangente sobre o processo de formação dos alunos, considerando o conhecimento técnico, tão destacado na construção curricular no período anterior a 1990, como uma entre várias perspectivas constitutivas das relações de saber a serem estabelecidas entre docentes e discentes na graduação. A partir do aprendizado mediado por diferentes áreas do conhecimento, o profissional de Educação Física estaria preparado para atuar “[...] na formação biopsicossocial e [na] educação de crianças, adolescentes e adultos”, além de estar habilitado a realizar o estudo sistemático do movimento humano em diferentes contextos e circunstâncias, especialmente, nas áreas do esporte, da ginástica, da dança e da recreação.

Para tanto, o PPC detalha os objetivos específicos a serem alcançados para a contemplação da finalidade mais ampla apresentada para o curso. Estes se referem a ações educacionais com enfoque na Educação Básica e na educação superior, através do “planejamento e implementação” de programas de Educação Física; se referem à promoção da pesquisa e da extensão ligadas à ginástica, recreação, ao esporte e a dança – em clubes, secretarias de educação, indústrias, instituições de educação especial, academias, etc.; e indicam o desenvolvimento de assessorias técnicas para a realização de eventos como competições, festivais esportivos, recreativos ou ginásticos, além de incluir a incumbência de “prestar orientação e assessoria técnica para as entidades profissionais, bem como as ligas, federações e confederações esportivas”.

Tais objetivos estavam intimamente relacionadas às competências atribuídas, no documento, ao profissional de Educação Física. Estes estariam habilitados a atuar com o

182 Poderia, também, ser destacado o fato de não considerar explicitamente o papel do movimento humano no

próprio processo formativo, em meio às múltiplas perspectivas que relaciona em nome do “desenvolvimento harmônico do indivíduo”. No entanto, essa questão torna-se menos problemática, nesse caso, em função da totalidade do Projeto Pedagógico configurar um contexto que ‘situa’ a motricidade humana no processo de formação discente.

ensino, a pesquisa, a extensão, a administração, a consultoria e a assessoria técnica em diversos campos e atividades relacionadas à motricidade humana no meio comunitário.

Quanto às disciplinas183 que compunham o novo currículo, o PPC184 de 1990 apresentou uma organização das mesmas em três categorias: Matérias de Cunho Humanístico e Matérias de Cunho Técnico – ambas sob a denominação de Matérias de Formação Geral – e as Matérias Complementares.

A carga horária correspondente às disciplinas classificadas como sendo de ‘Formação Geral’ somava 2385h/aula. Para tanto, não foram somadas as horas relativas às disciplinas CEF 100, EPS 101 e EPS 102 que, segundo o Projeto Pedagógico, não fazem parte do Currículo Pleno, apesar de seu caráter obrigatório por força de lei.

Considerando-se a subdivisão das Matérias de Formação Geral, a carga horária das disciplinas de Cunho Humanístico somava 945h/aula na composição do curso de Educação Física, e estavam organizadas da seguinte maneira: Matérias relacionadas ao Conhecimento Filosófico – Antropologia do Movimento (60h) e Filosofia e História da Ciência (45h), totalizando 105h; Matérias relacionadas ao Conhecimento do Ser Humano – Anatomia- Educação Física (90h), Biologia (30h), Fisiologia (60h), Desenvolvimento Humano (45h), Fisiologia do Exercício (75h), Biomecânica dos Exercícios Físicos I (30h), Biomecânica dos Exercícios Físicos II (30h), Psicologia da Educação-Educação Física (90h), totalizando 450h/aula; Matérias relacionadas ao Conhecimento da Sociedade – Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1° e 2° graus (75h), História Geral da Educação Física (45h), História da Educação Física Brasileira (45h), Fundamentos da Educação Física I (30h), Fundamentos da Educação Física II (30h), Higiene em Educação Física (30h), Organização Escolar (45h), Legislação e Organização do Sistema Desportivo Nacional (45h), Currículo em Educação Física (45h), totalizando 390h/aula.

Já a carga horária das Matérias de Cunho Técnico somava 1440h, distribuídas da seguinte forma: Conhecimento Técnico Ginástica I-A (60h), Ginástica II-A (60h), Ginástica III-A (75h), Esporte Coletivo I (75h), Esporte Coletivo II (75h), Esporte Coletivo III (75h),

183

O Documento traz a proposição de que seja suprimida a disciplina identificada como CEF 100, que tratava da prática da Educação Física Obrigatória para os alunos do curso de graduação. O argumento para tal proposta reside no fato de que os alunos do CEFD já realizavam a prática da Educação Física em, pelo menos, cinquenta (50) por cento das atividades desenvolvidas nas demais disciplinas curriculares, de modo que a finalidade da lei já estaria sendo cumprida.

184 De acordo com o ‘Currículo Mínimo’, os Currículos Plenos para os cursos de graduação em Educação Física

deveriam ter uma parte de Formação Geral (humanística e técnica) e outra de aprofundamento de conhecimentos. Quanto ao denominado Conhecimento Técnico, “as IES deverão estabelecer os marcos conceptuais fundamentais dos perfis profissionais desejados, elaborar as ementas, fixar a carga horária para cada disciplina [...]” (CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, 1987).

Esporte Coletivo IV (75h), Esporte Individual I (45h), Esporte Individual II (60h), Esporte Individual III (60h), Esporte Aquático I (60h), Esporte Aquático II (75h), Dança (75h), Lutas (75h), Socorros de Urgência (30h), Metodologia de Pesquisa em Educação Física (60h), Estagio Profissionalizante de Educação Física (210h), Didática (60h), Didática Especial de Educação Física “A” (75h), Prática de Ensino de Educação Física “A” (60h).

Quanto as Matérias Complementares/Obrigatórias por Força de Lei, temos: Estudo de Problemas Brasileiros “A” 1°; Estudo de Problemas Brasileiros “B” 2°; Educação Física 1°; Educação Física 2°. A carga horária correspondente a essas disciplinas somava 120h.

No que se refere a disciplinas com destacados objetivos ligados ao contexto escolar, temos a ‘Prática de Ensino de Educação Física’, que tratava de “oportunizar ao estagiário, situações de ensino de 1° e 2° graus”, a fim de por em prática o que se aprendeu na graduação, além de formar atitudes e o desenvolvimento de habilidades necessárias ao exercício da profissão. Na mesma ordem, a disciplina ‘Didática Especial da Educação Física’ buscava estabelecer o relacionamento entre as bases nas quais se dava o ensino da Educação Física e a “prática pedagógica desenvolvida na realidade escolar”.

A disciplina ‘Psicologia da Educação-Educação Física’, apresentava entre seus objetivos a promoção de relacionamentos entre as teorias da aprendizagem e as atividades escolares. A disciplina ‘Fundamentos da Educação Física II’, estava voltada para o conhecimento e a compreensão das tendências da Educação Física Escolar e não escolar, entre outras finalidades postas. A disciplina ‘Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1° e 2° Graus’, buscava promover conhecimentos sobre o sistema educacional brasileiro em várias perspectivas, abordando desde os aspectos legais até características da funcionalidade das organizações no ensino, de modo a colaborar com o desenvolvimento de perfis críticos e responsáveis, diante do exercício da profissão de educador.

A disciplina ‘Didática’, apresentava como objetivo “analisar as concepções pedagógicas relativas à prática escolar brasileira”, o que passava pela análise dos elementos que integram o planejamento do ensino. A disciplina ‘Organização Escolar’, tinha como finalidade promover a identificação de funções e o conhecimento a respeito da organização dos sistemas de ensino, levando em conta papéis como aqueles desempenhados pelo administrador, pelo supervisor e pelo orientador educacional. Na disciplina ‘História da Educação Física Brasileira’, havia o objetivo de promover a interpretação dos processos históricos relacionados e Educação Física no país, tanto no espaço escolar quanto no espaço

não escolar. Com a disciplina ‘Metodologia do Ensino’185, objetivava-se oportunizar experiências educacionais no primeiro e segundo graus, proporcionando o desenvolvimento de atitudes e habilidades ligadas à prática profissional.

Finalizando a lista, na disciplina ‘Currículo em Educação Física’, a finalidade era não somente conhecer e compreender como se estrutura o currículo da Educação Física no primeiro e segundo graus, mas também elaborar uma proposta curricular para esses níveis da educação formal.

Assim, somando-se a carga horária desse conjunto específico de Matérias, identifica- se a totalização de 525 h/aula, de modo que o PPC de 1990 apresentou uma evolução acentuada a respeito da abordagem de questões relacionadas ao universo da Educação Física Escolar em comparação com os documentos considerados anteriormente – Catálogos, Relatório, Ementários e Projeto de Curso. No entanto, isso representava apenas 21%, aproximadamente, da carga horária da graduação em Educação Física.

De outra forma, as disciplinas de natureza esportiva, significativamente abrangentes na constituição do primeiro currículo, continuaram com expressivo volume no PPC em questão, totalizando 600 h/aula no somatório das cargas horárias individuais. O que representava, aproximadamente, 24% da carga horária total das aulas.

Contudo, parece ter havido uma mudança na forma como a abordagem dos conteúdos passou a ocorrer a partir de 1990. Em vez de objetivos relacionados a “compreender e executar” ou “conhecer a metodologia de ensino dos fundamentos”, há uma tendência de priorizar o “conhecimento e a compreensão”, a “análise e a avaliação”, e a interpretação dos fenômenos ligados à motricidade humana no contexto da Educação Física. Essas são expressões apresentadas alternada e recorrentemente, na exposição dos diferentes objetivos tanto nas Matérias Complementares, quanto nas de Cunho Humanístico e de Cunho Técnico.

É válido levarmos em conta, também, que esse percentual – 24% – representa apenas parte da carga horária das disciplinas de Cunho Técnico, que na sua totalidade correspondem a aproximadamente 57% do volume de horas/aula do Curso, enquanto as disciplinas de Cunho Humanístico aproximavam-se dos 38%.

Por fim, o Documento ainda trouxe a proposta para que fosse suprimida a distribuição proporcional de vagas para o ingresso de alunos no CEFD em função do gênero do candidato. Até então, cinquenta por cento destinava-se ao público feminino aprovado no vestibular e os outros cinquenta por cento ao público masculino. A justificativa para tal iniciativa residiu no

185 Essa disciplina não figura nas classificações iniciais do PPC, onde estão organizadas as Matérias de Cunho

argumento de que não havia diretrizes no novo currículo que validassem uma diferenciação entre o público-alvo, de modo que as cem (100) vagas deveriam ser oferecidas sem o estabelecimento de qualquer distinção entre os classificados.