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1.3 A descrição dos procedimentos metodológicos

1.3.1 A coleta e a organização dos dados

De acordo com Maria Waldenez Oliveira e colaboradores (2009), os sujeitos que participam de práticas sociais interconectam o aprendido em uma prática com o que estão aprendendo em outra, ou seja, o aprendido em casa, na rua, numa quadra de futebol, na cantina da escola, no posto de saúde, na praça por onde transita, de modo que todos esses lugares sirvam como ponto de apoio e referência para novas aprendizagens, inclusive aquelas que a escola visa proporcionar.

Os momentos de diálogo, de escuta e de fala, entre os diferentes integrantes da comunidade de trabalho, deram-se por meio de encontros em locais e horas marcados, como pode ser observado no quadro 3.

Dentre as técnicas de observação existentes, optamos, nessa pesquisa, pela observação direta, com o propósito de facilitar o entendimento do comportamento das pessoas que compunham a comunidade de trabalho. Trata-se de uma técnica muito flexível, pois permite registrar os eventos assim que ocorrem. A/O pesquisadora/or também é livre para trocar de lugar, mudar o foco das observações ou concentrar-se em fatos inesperados. A observação direta, além de permitir a comparação entre as informações recebidas das pessoas e a própria realidade, carece de cuidado ao se creditar confiança às percepções e impressões sensoriais da/o

59 pesquisadora/o, uma vez que esta/este pode ser conduzida/o a tirar conclusões precipitadas, conforme apontam Marina de Andrade Marconi e Eva Maria Lakatos (2002).

60 Quadro 3 - A sistematização dos encontros, as atividades desenvolvidas, as finalidades e breve descrição dos resultados.

ENCONTRO PARTICIPANTES LOCAL/ ATIVIDADE FINALIDADE RESULTADOS DO ENCONTRO

I 10:00 às 11:30 20/08/2016

Nas dependências da “casa espírita João

Urzedo - CEJU” universitárias/o; pesquisador; populares; colaboradoras/es da CEJU14. - Primeiro encontro e contato com o pessoal que frequenta a Casa espírita João Urzedo.

- Conhecer as instalações da casa espírita;

- Conhecer o trabalho desenvolvido pelo pessoal que frequenta a casa espírita;

- Conhecer as pessoas que frequentam a casa espírita;

- Saber com quais pessoas nós iríamos trabalhar e desenvolver as atividades de educação ambiental;

- Conversar com o pessoal para tentar perceber de que forma o grupo extensionista poderia colaborar com as ações em educação ambiental que pretendiam desenvolver e/ou vinham desenvolvendo

Visitamos as dependências da casa espírita; tivemos a oportunidade de conhecer os trabalhos e algumas/ns das/os trabalhadoras/es da casa, além de conhecermos alguns dos problemas que têm enfrentado. Entendemos que esse encontro serviu como uma forma de diagnóstico da realidade. II 18:50 às 17:20 22/08/2016 Na sala 2X02, bloco X, da Uniube. universitárias/o; pesquisador.

- Reflexão sobre nosso primeiro encontro; - Proposição de ações que poderiam ser feitas de educação ambiental junto com as pessoas que frequentam a casa espírita.

- Reunir ideias em torno do que-fazer junto ao pessoal que frequenta a casa espírita, levando-se em consideração o que por eles fosse apresentado. A preocupação era a de começar a traçar possíveis atividades que poderiam ser realizadas.

Conseguimos refletir coletivamente em torno das atividades que podíamos desenvolver junto ao pessoal da casa espírita, mas sempre lembrando da necessidade de ver com eles e pensar com eles o que juntos podemos fazer. Refletimos em torno desse como fazer juntos.

III 21:00 às 22:40 29/08/2016

Na sala 2X02, Bloco X da Uniube universitárias/o;

pesquisador.

- Discussão acerca das ideias que funcionariam como pontapé inicial para nossa ida à casa espírita desenvolver as

- Conceituar e apresentar o que cada integrante do grupo de estudantes compreende/entende como educação ambiental;

Produzimos uma síntese em torno do que cada um de nós do grupo entende como educação ambiental. Socializamos e refletimos coletivamente em torno das sínteses feitas. E, por último, elaboramos um rascunho de

61 atividades de educação

ambiental com o pessoal. - Reconhecer as convergências e divergências em torno da compreensão de cada uma/um;

- Estruturar o projeto com as sugestões feitas por cada integrante do grupo.

nossas ideias, para desenvolver as atividades junto ao pessoal da casa espírita.

IV 9:30 às 11:00 17/09/2016

Nas dependências da “casa espírita João

Urzedo” universitárias/o; pesquisador; populares; colaboradoras/es da CEJU. - Conversa com a comunidade de trabalho, para um possível diagnóstico do que fazer em torno da educação ambiental.

- Escutar as narrativas do pessoal da casa espírita, com o objetivo de anotar e registrar para proposição de atividades;

- Pensar junto ao pessoal, formas de superação dos problemas apresentados.

Levantamos junto com o pessoal da casa espírita o que seria de mais importante a ser resolvido ou solucionado primeiro, e, por isso, ficou decidido que elaboraríamos um ofício a ser encaminhado à prefeitura, com a finalidade de resolver o problema apontado com relação à travessia pela rodovia, para se chegar ao bairro Vila Esperança II ou ao bairro Jardim Anatê. O grupo escutou as sugestões do pessoal e ficou encarregado de organizar o ofício. V 19:00 às 20:40 22/09/2016 Na sala 2X02, bloco X da Uniube universitárias/o; pesquisador. - Reflexão em torno do encontro anterior; - Elaboração do ofício a partir das sugestões que foram feitas pelo pessoal que frequenta a casa espírita.

- Elaborar o ofício, conforme ficou sob

a responsabilidade do grupo. Refletimos em torno das nossas ações, a partir da extensão, com vistas a dar sentido à extensão, do modo como fazemos.

Elaboramos o ofício, que agora será levado ao pessoal para leitura e para perguntar se está tudo correto.

VI 10:00 às 11:30 22/10/2016

Nas dependências da “casa espírita João

Urzedo” universitárias/o; pesquisador; populares; colaboradoras/es da CEJU. - Conversa com o pessoal para leitura do ofício; - Leitura do ofício; - Conversa para definição da forma de entrega do ofício ao funcionário da prefeitura e para definir mais ações em torno da educação ambiental

- Fazer a leitura do ofício, com a finalidade da aprovação ou não pelo pessoal da casa espírita;

- Levantar outras ações e/ou situações em que o grupo pudesse colaborar.

Nós fizemos a leitura do ofício, que o pessoal aprovou, dizendo que contemplamos o que elas/es esperavam e foram feitas algumas proposições de atividades de educação ambiental que pudessem ser realizadas, como assistir a um documentário, chamado Vida Maria. Marcamos também nossa ida à prefeitura, junto aos representantes escolhidos, pelo pessoal, para entregar o ofício.

62 VII 24/10/2016 9:00 às 11:30 (aproximadamente) Ida à prefeitura entregar o ofício universitárias/o; pesquisador; populares. - Entrega do ofício ao responsável pelo setor de obras e infraestrutura da prefeitura.

- Conversar com o chefe do setor/departamento;

- Entregar o ofício em mãos.

Entregamos o ofício ao chefe do departamento de obras e infraestrutura da prefeitura de Uberaba. VIII 20:40 às 21:00 07/11/2016 Na sala 2X02, bloco X da Uniube universitárias/o; pesquisador. - Reflexão sobre o encontro anterior, do dia 22/10.

- Elaboração das atividades para serem desenvolvidas no próximo encontro na casa espírita.

- Combinar e definir quais seriam as atividades que cada integrante do grupo deveria realizar para que, no próximo encontro, que ainda antecederia ao encontro na casa espírita, pudesse ser feita a socialização do que ficou proposto para que fosse feito.

Conversamos sobre a importância de dar certo a iniciativa do ofício e definimos que deveríamos assistir, cada uma/um em sua casa, ao documentário Vida Maria, e produzir uma reflexão em torno dele, relacionando a educação ambiental. IX 19:00 às 20:30 09/11/2016 Na sala 2X02, bloco X da Uniube universitárias/o; pesquisador. - Assistir ao documentário Vida Maria; - Reflexão em torno do documentário.

- Traçar as estratégias para reflexão em torno do documentário com o pessoal da casa espírita;

- Discutir as compreensões do grupo em relação à educação ambiental, a partir do documentário.

Assistimos ao documentário Vida Maria e fizemos um comentário individual em torno do que entendemos e relacionamos com a educação ambiental. A partir daí discutimos sobre como faríamos a socialização ou o debate com o pessoal da casa espírita.

X 10:00 às 11:30 19/11/2016

Nas dependências da “casa espírita João

Urzedo” universitárias/o; pesquisador; populares; colaboradoras/es da CEJU. - Assistir ao documentário Vida Maria; - Reflexão com a comunidade de trabalho, sobre o documentário. - Conversa sobre a entrega do ofício à pessoa responsável pelo setor de obras, da prefeitura.

- Compreender a percepção que as pessoas que compõem a comunidade de trabalho têm, em relação ao documentário;

- Pensar, junto à comunidade de trabalho, formas de superação da realidade, a partir dos problemas apontados.

- Dar uma posição quanto ao andamento do ofício junto à prefeitura da cidade de Uberaba.

Nós conversamos sobre o andamento do ofício entre à prefeitura, e assistimos ao documentário Vida Maria, que foi seguido de uma boa discussão. Depois, foi definido que nós realizaríamos a limpeza do terreno que estava cheio de lixo, e onde havia o problema de travessia dos moradores. O grupo ficou responsável por conseguir os latões de lixo.

XI 28/11/2016 20:40 às 21:00 (intervalo de aula, na semana de trabalhos, que Na sala 2X02, bloco X da Uniube universitárias/o; pesquisador. - Reflexão em torno da última atividade desenvolvida na casa espírita; - Elaboração das atividades que nos coube

- Definir quais seriam as tarefas que cada pessoa do grupo deveria desempenhar até o dia do último encontro na casa espírita;

- Apresentar a nova integrante do grupo de extensão.

Ana Luíza foi apresentada ao grupo, passando a dele fazer parte. Stephanie anunciou que conseguiu três latões de lixo, Iago levaria os sacos para colocar os lixos. Conversamos também sobre a história do grupo, em torno da não institucionalização da extensão na pró-

63 antecedem as

provas finais) para o próximo encontro na casa espírita. - Apresentação de uma integrante nova no grupo.

reitoria e ensino superior da Uniube, universidade a que estamos vinculadas/os.

XII

10/12/2016 10:00 às 11:30

Nas dependências da “casa espírita João

Urzedo” universitárias/o; pesquisador; populares; colaboradoras/es da CEJU. - Realização da atividade de limpeza do terreno; - Conversa sobre o fechamento das atividades do segundo semestre de 2016.

- Promover a limpeza do terreno em conjunto.

- Encerrar as atividades do segundo semestre de 2016 junto à comunidade de trabalho, devido ao período de férias letivas.

Dividimo-nos em grupos e trabalhamos na limpeza do terreno, na tentativa de atenuar parte dos problemas enfrentados de deslocamento. Conversamos sobre a importância da limpeza desse terreno, para todos e todas. Reunimo-nos em separado para fazer um breve fechamento do semestre.

XIII

11/02/2017 09:00 às 12:30

Nas dependências da “casa espírita João

Urzedo” universitárias/o; pesquisador; populares; colaboradoras/es da CEJU. - Conversa sobre a apresentação da minha tese em virtude da qualificação. - Apresentar os resultados da qualificação da tese e fazer o agendamento para que possamos, em conjunto, reinterpretar as categorias de análise construídas.

Fiz a apresentação da tese, mostrando de sua introdução até ao capítulo 5, em que apresento e discuto as categorias de análise. A partir disso, propus à comunidade de trabalho a análise conjunta de tais categorias e, se for o caso, uma outra construção, coletiva, que contemplasse a realidade concreta.

XIV 09:00 às 12:00 25/02/2017

Nas dependências da “casa espírita João

Urzedo” universitárias/o; pesquisador; populares; colaboradoras/es da CEJU. - Re-interpretação das categorias iniciais de análise da tese.

- Re-interpretar as categorias iniciais de análise que foram previamente eleitas pelo pesquisador, a fim de elaborar/construir uma análise conjunta, conforme prevê a metodologia da pesquisa.

Nesse encontro fizemos a discussão em torno das categorias iniciais que foram previamente eleitas pelo pesquisador e nos propusemos a fazer a análise das categorias intermediárias e finais em dois outros encontros, previamente agendados. Foi um momento de intensa troca e aprendizado, com participação efusiva dos populares, conforme se observa no diário de campo.

XV

11/03/2017 10:00 às 12:30

Nas dependências da “casa espírita João

Urzedo”

- Re-interpretação das categorias intermediárias de análise da tese.

- Re-interpretar as categorias intermediárias de análise que foram previamente eleitas pelo pesquisador, a fim de elaborar/construir uma análise

Nesse encontro fizemos a discussão em torno das categorias intermediárias que foram previamente eleitas pelo pesquisador,

64 universitárias/o; pesquisador; populares; colaboradoras/es da CEJU.

conjunta, conforme prevê a

metodologia da pesquisa. considerando-se a eleição das categorias iniciais do encontro anterior.

XVI 10:00 às 11:30 18/03/2017

Nas dependências da “casa espírita João

Urzedo” universitárias/o; pesquisador; populares; colaboradoras/es da CEJU. - Re-interpretação das categorias finais de análise da tese.

- Re-interpretar as categorias finais de análise que foram previamente eleitas pelo pesquisador, a fim de elaborar/construir uma análise conjunta, conforme prevê a metodologia da pesquisa.

Nesse encontro fizemos a discussão em torno das categorias finais que foram previamente eleitas pelo pesquisador, considerando-se a eleição das categorias intermediárias do encontro anterior. Finalizamos a eleição das categorias de análise da tese, que resultou em categorias (algumas delas), diferentes daquelas que apresentamos quando na qualificação.

XVII

02/04/2017 10:30 às 12:00

Nas dependências da “casa espírita João

Urzedo” universitárias/o; pesquisador; populares; colaboradoras/es da CEJU.

- Diálogo sobre como resolver o problema da construção da passarela, que ainda não foi resolvido.

Traçar novas estratégias de luta em torno da construção da passarela que liga o bairro Jardim Anatê ao bairro Vila Esperança II, onde fica a CEJU e discutir em torno do que já foi feito por algumas/uns moradoras/es do bairro Vila Esperança II e frequentadores da CEJU.

Nesse encontro decidimos que a partir da ida do grupo de moradora/es do bairro Vila Esperança II até à câmara municipal da cidade de Uberaba, para uma conversa com os vereadores, organizaríamos um manifesto de comoção local.

65 A coleta de dados foi feita por meio de diários/notas de campo, que entendo como o “relato escrito daquilo que o investigador ouve, vê, experencia e pensa no decurso da recolha e refletindo sobre os dados de um estudo qualitativo”, a partir do que colocam Roberto Bogdan e Sari Biklen (1994, p.150), o que pressupõe construções detalhadas, precisas e extensas. Com a finalidade de garantir a fidedignidade dos registros, todos nossos encontros foram gravados, com aparelho em áudio digital de marca SONY – Modelo ICD-PX213F, mediante ciência e consentimento de todas as pessoas dos presentes nos encontros. Esses registros foram feitos no que denominei diários de campo, e, conforme previsto pela metodologia da análise de conteúdo, a partir de Laurence Bardin (2006), foram posteriormente organizados e digitados, a fim de permitir a leitura geral do material coletado. A organização deu-se da seguinte maneira:

a) escuta das gravações: passei à escuta atenta das gravações em sua íntegra, com o objetivo de enriquecer e aprimorar ainda mais os meus registros no caderno de campo;

b) transcrição das gravações: procedi com a transcrição dos momentos de diálogo que entendi como necessários para complementar os registros das falas que já constavam nos diários de campo, mas que não estavam feitos em sua integralidade.

c) revisão dos diários de campo: fiz uma leitura geral dos meus registros no

caderno de campo, com vistas a relembrar todo o processo da pesquisa e, a partir disso, atrelá-los às gravações.

d) reestruturação dos diários de campo: a partir da revisão dos registros e das transcrições, fiz a organização dos diários de campo, inserindo parte dos diálogos transcritos em consórcio com os registros realizados. Entendo que esse processo permitiu que os diários ganhassem ainda mais detalhamento. Pesquisadoras/es envolvidos com a elaboração dos diários de campo devem ter coragem para não desistir antes de tentar fazê-las. A disciplina acadêmica é fundamental para o êxito do registro das observações, uma vez que até a memória pode ser disciplinada. É interessante lembrar que as notas não “requerem tantas exigências como a generalidade dos textos escritos” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p.151). É possível exprimir um jeito muito

66 particular de elaborar as notas de campo e, por isso, justifica-se sua feitura até mesmo na primeira pessoa.

É interessante também que a/o pesquisadora/or tenha, ao descrever, cuidado e delicadeza, citando as pessoas que constituem a comunidade de trabalho, em vez de “resumir o que elas dizem” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p.163). O autor e a autora afirmam que o maior objetivo é propositadamente “tomar em conta quem são e como pensam, o que aconteceu no curso do estudo, e de onde é que as suas ideias surgiram. Elas/es dedicam-se a registrar estes aspectos de modo a conseguirem um melhor estudo” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p.167).

De acordo com a autora e o autor supracitados, os aspectos descritivos das notas de campo englobam as seguintes áreas: retratos de sujeito, reconstruções do diálogo, descrição do espaço físico, relatos de conceitos particulares, descrição de atividades e o comportamento do observador; enquanto que a parte reflexiva engloba: reflexões sobre a análise, reflexões sobre o método, reflexões sobre conflitos e dilemas éticos, reflexões sobre o ponto de vista do observador e pontos de clarificação.

A parte reflexiva do diário de campo é muito subjetiva e isso demanda, por parte da/o pesquisadora/or, o esforço de registrar, com o maior detalhamento possível, o que observou. É nesse sentido que a autora e ou autor afirmam que “todos os métodos de investigação têm as suas forças e as suas limitações” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p.167). E vai mais além quando afirmam que “as notas de campo devem ser detalhadas e descritivas, mas não devem assentar nas suposições que o investigador faz acerca do meio” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p.172).