• Nenhum resultado encontrado

Sobre minha aproximação e inserção junto ao grupo de estudantes que fazem

Quando estava cursando a disciplina do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSCar, Estudos em Práticas Sociais e Processos Educativos I, no primeiro semestre de 2014, foi feita a proposta, pelos professores condutores da disciplina, que fizéssemos uma inserção, numa prática social, que se aproximasse ou pudesse, em potencial, ser aquela da qual pudéssemos depreender seus processos educativos.

Por meio de uma conversa, em uma quarta-feira à noite, quando ministrava a disciplina Projetos Integrados, na turma XIV do curso de Engenharia Ambiental (também no primeiro semestre de 2014), percebi, pelo relato de um grupo de alunas/os, que elas desenvolviam uma atividade fora da universidade e, naquele momento, elas/es relatavam estar desenvolvendo ações de educação ambiental numa escola municipal da cidade de Uberaba. Interessando-me pelo assunto, perguntei como é que elas/es estavam se organizando para desenvolver essas atividades. Foi por meio desse diálogo que fui convidado para fazer parte de uma reunião em

8 A descrição do grupo extensionista será desenvolvida na apresentação metodológica, a partir de minha aproximação/inserção junto ao grupo.

45 que seria apresentado um projeto de Educação ambiental a ser desenvolvido na escola municipal, em parceria com a empresa Junior Ambiental9, criada e gerida por alunas/os da universidade. Foi quando perguntei se poderia me inserir junto a elas/es como um delas/es, ou seja, fora da posição que ocupo como professor do curso. Fui interrogado quanto aos motivos desse afastamento, e expliquei se tratar de um trabalho desenvolvido na disciplina Estudos em Práticas Sociais e Processos Educativos I do curso de Doutorado que fazia na Universidade Federal de São Carlos. O grupo me aceitou na perspectiva de colaborar com o pensar o projeto e também sua execução.

Apenas após a quinta inserção junto ao grupo, por meio de conversas com as/os integrantes do mesmo e também após retomar estudos das referências bibliográficas indicadas na disciplina, é que comecei a entender a prática social a ser estudada: a extensão popular, que tinha a educação ambiental popular como referencial teórico. Essa prática foi decorrente de dois momentos distintos: o primeiro, de reuniões do grupo formado por quatro alunas e um aluno do curso de Engenharia Ambiental da Uniube, que tinha como objetivo propor e executar um projeto de educação ambiental com crianças e pré-adolescentes de uma escola pública, e por meio dele, colocar em prática o que estavam aprendendo nos bancos da universidade. Esse projeto, em nenhum momento, estava desprovido da escuta que faziam em torno do que denunciavam as/os alunas/os da escola na qual estavam engajadas/os.

A interação entre as/os estudantes se dava por meio do diálogo, da externalização de experiências anteriores, de angústias, preocupações quanto ao “como será” e do medo em organizar e elaborar e executar um projeto pela primeira vez com uma comunidade escolar. Seria esse o medo do novo, do enfrentamento de um grupo com o qual ainda não tinham a experiência de ter trabalhado. A extensão, para o grupo, configurou-se como espaço de oportunidades para junto às crianças da escola, construírem um outro modo de ver e pensar o mundo, de um modo mais crítico. Entretanto, existia também o cuidado de escutar as crianças e, junto com elas, decidir, escolher ou até mesmo construir caminhos e atividades de educação ambiental.

De acordo com o grupo, a extensão universitária tinha início a partir do momento em que reuniões eram agendadas com vistas a discutir e dar forma ao projeto a ser executado na escola e em que ideias eram lançadas, e/ou pesquisas eram feitas, para elaboração de estratégias

9 A Empresa Júnior Ambiental é uma Associação Civil sem fins lucrativos formada e gerida por estudantes de Engenharia, com foco para a Ambiental, na Universidade de Uberaba/MG, que visa a capacitação humana e profissional dos seus membros através da prestação de serviços de assessoria empresarial e da vivência de uma pequena empresa. Essa empresa, em especial, desenvolve e executa projetos voltados ao campo ambiental. Dentre os projetos que a empresa desenvolve, inclui-se aqueles que têm objetivos educativo-ambientais.

46 e ações educativas na temática ambiental, na preocupação, sempre, do fazer junto, pensar com, na tentativa de prezar pela realidade dos alunos e alunas da escola. Interessante que em nenhum momento o grupo mostrava-se distante dos seus objetivos e do fato de que se tratava de um público infantil. Essa prática estendia-se para além das reuniões, pois no término delas o assunto continuava, até chegar à execução, na escola, das atividades anteriormente pensadas nas reuniões ou até mesmo fora delas.

A inserção nessa prática social se deu por meio de seis encontros junto ao grupo, em salas de aula da Universidade, ponto comum de encontro para todas/os as/os envolvidas/os, ou ainda, na escola Pacaembu. O espaço marcado para o primeiro encontro era a sala de aula do bloco Z da universidade de Uberaba, que tinha aproximadamente 60 cadeiras. Quando cheguei, as alunas que propunham o encontro estavam organizando a sala, colocando as cadeiras de modo a formar um semicírculo. As cadeiras eram pesadas e, para essa organização e reunião, contaram com a ajuda de outros oito alunos. Antes do início, o clima estava descontraído, até que depois de alguns minutos passados do horário marcado foi lembrado por um aluno presente a necessidade de iniciar a conversa. Configurava-se assim o espaço durante minha primeira aproximação com a prática social.

Aproximação essa que, no sentido atribuído por Enrique Domingos Dussel (1996), encurta distâncias até algo ou alguém, que pode tanto nos afastar quanto nos receber ou acomodar, acolher. A proximidade permite buscar a origem dos significados, uma vez que o ser humano se insere em uma determinada cultura, em uma totalidade dotada de símbolos que o nutre nos signos de sua construção histórica. Então, para que haja compreensão dos significados de um grupo social, faz-se necessário aproximar-se dele, de sua leitura de mundo. A inserção na prática social da extensão universitária se deu com o objetivo de alcançar essa proximidade, ou seja, construindo uma relação face-a-face com as/os participantes dessa prática, sem esconder a motivação que me levou a estar junto delas/es e sem deixar de considerar os ensejos que já tinham antes da minha inserção. E mais, estou em um contínuo esforço de afastar-me da posição de professor, para entender-me como pesquisador extensionista.

O grupo permaneceu junto à escola Pacaembu até o final do segundo semestre de 2014. Encerrando as atividades do ano letivo, entramos em período de férias. No ano de 2015, o grupo optou por dedicar-se aos estudos das disciplinas ofertadas, uma vez que estavam cursando, a maioria deles, os dois últimos períodos do curso de Engenharia Ambiental, que culminaria com estágio, elaboração de trabalho de conclusão de curso, e por último, colação de grau e

47 formatura. Mas, comprometeram-se em executar ações ou desenvolver atividades esporádicas, especialmente em escolas, quando possível, ao longo do ano. Ainda assim, nós nos reunimos em diferentes momentos. Vale ainda lembrar que, como resultado dessa inserção junto a esse grupo, resultou um artigo que teve como objetivo apresentar os processos educativos dessas/es estudantes em extensão popular em educação ambiental. Esse artigo foi publicado na última reunião anual da Associação de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação – ANPEd, em Florianópolis/SC, no ano de 2015.

Com a colação de grau de três das integrantes do grupo, restamos em apenas três (incluindo a mim). No início do semestre letivo de 2016, fomos procurados por três alunas do curso de Engenharia Ambiental, que se aproximaram dizendo que sabiam das atividades que havíamos desenvolvido e que gostariam de integrarem-se a nós. Trata-se de Isadora, Paula – a quem chamamos carinhosamente de Paulinha – e Stephanie. Vale destacar que se trata do nome verdadeiro das integrantes, que hoje são Iago, Isadora, Paulinha, Stephanie, Alessandra e Tiago. Mais recentemente integrou-se Ana Luíza (que também assinou ao termo de consentimento livre e esclarecido), em meados de novembro, disposta a junto conosco trabalhar na extensão. Logo, hoje somos em sete integrantes. O grupo anterior, no qual me integrei, a princípio, era formado por Carmélia, Mariana, Danielle, Alessandra, Iago e Tiago. A experiência do saber feito, trazidos por Alessandra e Iago, colaboram muito para que continuássemos seguindo a empreitada da extensão.

A partir disso, considerando a oportunidade de colaborarmos com o pessoal do Centro Espírita João Urzedo, e por ter vislumbrado a possibilidade de junto com elas/es construir essa tese, uma vez que já estava inserido junto a essas/es estudantes universitárias/os, que faziam extensão popular, há quase um ano e meio, fiz a proposta de, por meio de minha inserção, realizar essa pesquisa de doutorado. No ato de apresentação da proposta, estavam presentes Iago e Alessandra, estudantes que estavam juntos desde o princípio, e também Stephanie, Isadora e Paulinha, as novas integrantes que passaram a somar esforços.

Questionei10: vocês aceitam que, junto a vocês, eu possa realizar minha pesquisa de

doutorado, que traz como objetivo principal conhecer os processos educativos que vocês construirão, a partir da extensão que realizaremos, em educação ambiental, junto ao pessoal desses bairros?

10 Trago aqui parte da descrição do encontro que tivemos, para que eu pudesse fazer a apresentação da proposta de pesquisa ao grupo. Não fiz a construção do diário de campo, nessa oportunidade, mas fiz a gravação do encontro, mediante autorização dos/as estudantes presentes.

48 Alessandra, na oportunidade, fez a seguinte colocação: mas você estará junto com a gente para nos ajudar, né? Como é que vai se dar a sua participação?

Respondendo-a: então Alessandra, eu já estou junto de vocês há um tempo. Confesso ainda que tenho dificuldade de me afastar da condição de professor, ou seja, daquele que assume, em certa medida, a linha de frente, ou a de orientação, para desempenhar um papel o mais próximo possível ao que vocês realizam. Estou em um esforço constante de me entender pesquisador, uma vez que também estarei fazendo pesquisa, de como será a condução desse processo de pesquisa, e também na tentativa de, junto com vocês, somar forças na mesma direção, para juntos construirmos um rico aprendizado. Quero entender melhor como que, a partir da extensão popular, em educação ambiental, vocês aprendem e se formam educadoras/es ambientais ou engenheiros e engenheiras ambientais. Por isso estou apresentando essa proposta para vocês.

Stephanie, após minha pausa, perguntou: você está nos dizendo, então, que vai participar com a gente, e que vai colaborar, de todo modo, com a gente, só que vai usar dessa convivência, dos resultados de nossa ida lá no Centro, para colaborar com o pessoal, para construir sua pesquisa? É isso?

Quando respondi: é exatamente isso Stephanie. Vou desenvolver a tese junto com vocês. Juntos construiremos essa pesquisa, esse trabalho.

Iago, depois de ouvir todo o diálogo, dirigindo-se a mim, disse: mas como faremos com o pessoal do Centro? Nós vamos informar que se trata de uma pesquisa? Vamos informar que você está fazendo sua pesquisa de doutorado junto com a gente?

Stephanie, pediu licença para falar: então Iago, na verdade, eu acho que o fato de o Tiago estar fazendo doutorado e desenvolvendo sua pesquisa com a gente, não interfere em nada nas atividades que vamos desenvolver lá. Acho que não faz diferença isso. Porque, de todo modo, nós iríamos lá de todo jeito, com a pesquisa ou sem ela.

Depois dessa interlocução (e compreendendo a fala de Stephanie), respondi: o grupo é que vai dizer se precisamos ou não fazer esse esclarecimento. É preciso que entre nós isso esteja claro, mas que isso também não muda em nada a minha participação. Se vocês acharem necessário, informamos ao pessoal lá do centro que nós estaremos junto com eles e que eu estaria ali para, também fazer uma pesquisa. Questionar ao pessoal se eles estariam de acordo é importante. Se não se fizer nenhum impedimento, tudo transcorreria em seu curso normal. O que acham?

49 Nesse momento, o grupo concordou, mediante a sugestão de Isadora, a procurar pela professora Roberta, a fim de saber, por meio dela, se eu poderia, estando com eles, desenvolver essa pesquisa. Três dias passados a esse encontro em que fiz a apresentação da proposta, Alessandra e Stephanie procuraram pela professora Roberta, na secretaria do bloco Z, dos cursos de Engenharia, da Universidade de Uberaba. Segundo as alunas, depois da explanação à professora de minha proposta, que era a de fazer a pesquisa estando junto ao grupo, na extensão, Roberta disse que não haveria problema nenhum, que, muito pelo contrário, seria interessante para que as pessoas soubessem quais seriam, na verdade, os resultados de nossas ações junto deles. Mas, fez a ressalva de que consultaria o pessoal, mas que acreditaria não haver, realmente, nenhum problema. Roberta informou às meninas que estaria, em breve, com o pessoal e que faria a pergunta. Dois dias depois, em uma segunda-feira, Roberta trouxe a resposta positiva de que estávamos acertados quanto ao desenvolvimento da pesquisa.