Parte I - REVISÃO DA LITERATURA: O CONCEITO E DETERMINAÇÃO DO VALOR DA MARCA
5. Valor da Marca na Perspetiva Financeira
5.3. Com recurso a modelos baseados nos cash flows descontados ( discounted cash flow ) . 13
(discounted cash flow)
Desde 1960 que é utilizado o modelo baseado nos descontos dos cash flows futuros
(correntemente apelidado de modelo DCF), este tem sido o padrão-ouro para uma vasta gama de
aplicações económicas, abrangendo avaliações corporativas, decisões de orçamento de capital,
avaliação de bens de investimento, bem como situações de litígio (Lawrence, 2009). Fernández
(2007) considera este modelo o mais correto para avaliar uma empresa.
Para Azevedo (2013), o modelo dos DCF é considerado o melhor para demonstrar a
capacidade existente na criação de riqueza, pelo facto de considerar os fluxos de caixa, que
representam o futuro, em vez de valores contabilísticos, que representam o passado. Na avaliação
do DCF pressupõe-se que, o valor de um ativo é o valor presente de todos os fluxos de caixa
líquidos que serão admitidos no decorrer da vida útil do mesmo ativo. Neste método compara-se o
preço dos ativos com uma variável comum, como os lucros, o valor contabilístico ou o volume de
vendas.
Segundo Damodaran (2012) o modelo baseado em DCF distingue-se pelo tipo de ativo em
análise, ou seja, pelo fluxo de caixa utilizado ou pela taxa de desconto aplicada, que é definida em
função do risco dos fluxos de caixa estimados. Deste modo, este modelo pode ser analisado
através da ótica dos capitais próprios ou da empresa. Através da ótica dos capitais próprios,
analisa-se o valor da empresa para os sócios, acionistas ou credores, descontando o Free Cash
Flow to Equity (FCFE), ou seja, o fluxo de caixa residuais obtido depois do pagamento de capital
da dívida e encargos financeiros e do pagamento de despesas com ativos essenciais à exploração
que possibilitem o futuro crescimento da empresa, pelo custo do capital próprio (determinado pelo
Capital Asset Princig Model (CAPM)). O CAPM para determinar o retorno esperado da ação utiliza
três variáveis: a taxa de juro sem risco, o prémio de risco de mercado e o beta das ações.
Na ótica da empresa, o valor da empresa é aferido por via da aplicação do Free Cash
Flow to Firm (FCFF). O valor da empresa determina-se a partir dos fluxos de benefícios
planeados, descontados por uma taxa que inclua o custo de oportunidade e os riscos de
investimento e o mix de financiamentos (Azevedo, 2013). Neves (2002) defendeu que na ótica da
empresa o valor é calculado na perspetiva dos capitais totais. Em ambas as óticas descontam-se
os fluxos de caixa esperados, mas utiliza-se em cada uma os fluxos de caixa e a taxa de desconto
adequada a cada caso (Azevedo, 2013).
A avaliação pelo método DCF assenta no pressuposto de que o valor de uma empresa
depende dos benefícios futuros que irá gerar, descontados para o valor presente, através de uma
taxa de desconto determinada consoante o risco inerente (Luehrman, 1997). Pereira (2012)
afirmou que os fluxos de caixa variam de ativo para ativo e a taxa de desconto aplicada será a
função do risco dos fluxos de caixaestimados, na qual se atribui uma taxa mais elevada a ativos
com alto risco e a mais baixa para projetos seguros. Em qualquer das variações do modelo DCF é
necessário seguir as etapas seguintes: (1.º) delinear os pressupostos acerca das operações,
investimentos e financiamentos; (2.º) realizar projeções financeiras da demonstração de
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resultados, balanço e demonstração de fluxos de caixa para um dado período; (3.º) determinar os
fluxos de caixa esperados; (4.º) determinar a taxa de desconto; e (5.º) apurar o valor residual. Com
o intuito de prever com razoável confiança o comportamento das principais variáveis operacionais
é essencial que se projetem os fluxos de caixa das empresas a longo prazo. Este autor, ainda
mencionou que o método DCF (a) é rigoroso, na medida em que, se apoia em previsões
precauciosas para cada período de cada item financeiro relacionado com a geração de fluxos de
caixa; (b) proporciona ao investidor informação mais fiável acerca do valor da empresa; (c)
investiga a empresa no médio e longo prazo através de negócios atuais e futuros; e (d) incorpora
ativos tangíveis e intangíveis.
A aplicabilidade deste modelo em certo tipo de empresas requer muita informação com
elevado grau de detalhe. Desta forma, a falta de informação disponível no mercado dificulta a
aplicação do modelo DCF, ou seja, se os preços não estiverem formados em mercados
financeiros organizados avaliar os ativos revela-se um problema (Ross, Westerfield & Jaffe, 2010;
Hitchner, 2011).
Pereira (2012), tal como os autores acima referidos, também referiu o facto deste modelo
exigir informação com elevado detalhe como uma dificuldade de aplicabilidade, pois esta
informação é difícil de aglomerar em empresas com dimensão mais reduzida. Este autor ainda
referiu o modelo como de difícil aplicabilidade: (a) por impingir a determinação de pressupostos
sobre operações de investimento e financiamento que podem ser difíceis de apurar e variam com
o mercado; (b) por se apoiar em projeções que influenciam todo o processo; (c) quando não se
esperam fluxos de caixa positivos e em empresas que estão em início de atividade, dada a
carência de informação acerca do seu desempenho; e (d) quando não é fácil alcançar as taxas de
desconto e do custo do capital, devido à subjetividade inerente.
Este modelo pode tornar-se impraticável, quando as empresas apresentem fluxos de caixa
negativos, ou não consigam ser estimados com determinado grau de confiabilidade (Azevedo,
2013).
Na perspetiva da avaliação da marca a abordagem do DCF pretende isolar o efeito do
valor da marca nos cash flows da empresa usando a comparação com empresas de marca
genérica. Nesta metodologia estima-se o cash flow da empresa da marca a avaliar e o valor que
seria atribuído se se usasse uma estrutura idêntica à da marca genérica. Embora esta abordagem
pareça simples e intuitiva, a dificuldade está em encontrar empresas com dimensão e estrutura
semelhantes que produzam produtos idênticos genéricos (sem marca) (Damodaran, 2006). Para
obviar este problema, Damodaran (2006) recomenda o uso de três possíveis aproximações: (1) a
abordagem da margem operacional genérica; (2) a abordagem da rendibilidade do capital
genérico; e (3) a abordagem da rendibilidade em excesso genérica.
Na abordagem da margem operacional genérica substitui-se a margem operacional da
empresa com marca pela margem operacional da empresa genérica da mesma área de negócio,
mantendo as restantes variáveis do modelo relativas à empresa com marca. O pressuposto
implícito nesta abordagem é que o poder da marca está no valor dos produtos e que as empresas
com marca podem cobrar preços mais altos para produtos idênticos aos produzidos por empresas
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genéricas, ao reavaliar as empresas com marca usando a margem das empresas de genéricos
está-se a extrair os efeitos da marca, uma vez que, margens mais baixas conduzirão a
rendibilidades de capital mais baixos, e consequentemente, menores taxas de crescimento. Deste
modo, o valor da marca será a diferença entre o valor da empresa pelo método DCF com marca e
o valor da empresa com marca, mas usando a margem operacional da empresa de genéricos
(Damodaran, 2006).
Na abordagem da rendibilidade do capital genérico substitui-se a rendibilidade de capital
da empresa com marca pela rendibilidade de capital da empresa de genéricos assumindo-se
desta forma que, o poder da marca se reflete em rendibilidades de capital mais elevadas
(Damodaran, 2006). Implicitamente assume-se que o custo de capital é idêntico para a empresa
de genéricos e a empresa com marca (Damodaran, 2006).
Na abordagem da rendibilidade em excesso genérica substitui-se a rendibilidade em
excesso (diferença entre a rendibilidade do capital e o custo de capital) obtida pela empresa com
marca pela rendibilidade em excesso da empresa de genéricos (Damodaran, 2006). Esta
abordagem, além de capturar os efeitos que a variação na rendibilidade de capital tem no valor da
empresa, também captura o efeito do custo de capital em diferentes níveis para as empresas com
marca e sem marca.
Em todas estas abordagens consideram-se dois pressupostos: (1.º) que a empresa
genérica existe e que temos acesso aos seus documentos financeiros, mesmo que ambas as
empresas não sejam cotadas; e (2.º) a marca é a única razão para a diferença nas margens,
rendibilidade de capital e rendibilidade em excesso entre estas duas empresas, ignorando o
impacto de outros ativos intangíveis no valor da empresa (Damodaran, 2006), podendo ser esta
uma limitação e crítica ao modelo.
5.4. Com recurso ao modelo economic value added (EVA)
O método Economic Value Added (EVA®) foi criado por Stewart (1991) e mede o lucro económico
da empresa e o suporte de um sistema integrado de gestão financeira e de remuneração variável.
A necessidade de adoção de uma medida de gestão eficiente e eficaz resultou na
perfilhação de uma nova filosofia de gestão direcionada para o valor, por um número crescente de
empresas. Devido à procura permanente de resultados positivos, debateu-se a nível empresarial o
valor acrescentado, uma vez que satisfaz as condições métricas que se baseiam no valor,
constata o encargo para o custo do capital próprio e obtém o valor acrescentado depois da
remuneração dos capitais (Rocha, 2000; Forker & Powell, 2008; Jiang & Li, 2008).
Segundo Soares (2014), o conceito de EVA tem vindo a ganhar enfase entre os gestores
das empresas devido a quantificar o valor criado pela empresa, todavia, este conceito já existia
mas denominado por lucro económico. O EVA é a diferença entre os proveitos gerados por uma
empresa e o somatório dos custos inerentes ao seu funcionamento e o capital investido (Rangel,
2008; Soares, 2014). Este método proporciona de forma precisa o lucro das empresas, uma vez
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que, considera como custos de capital os custos de financiamento por capitais alheios e os custos
dos capitais próprios (Janssen, 2005; Soares, 2014).
Janssen (2005) defendeu que o EVA engloba a produtividade de todos os fatores
empregados para a concretização do negócio. Quando o retorno originado excede o custo de
oportunidade há criação de valor na empresa. O EVA representa o lucro operacional depois dos
impostos, excluindo o custo médio ponderado do capital (Rangel, 2008). Este modelo por
considerar o custo de oportunidade do capital próprio revelou-se uma inovação para os métodos
tradicionais. Uma empresa só adquire valor para os acionistas se os resultados operacionais
forem superiores ao custo do capital usado nas operações, este capital sendo próprio ou de
terceiros, normalmente é captado no mercado financeiro. Deste modo, o EVA desenvolveu a
perceção dos gestores financeiros para a relevância do custo de capital na gestão da organização
(Rangel, 2008).As empresas têm como principal objetivo a maximização dos lucros. A criação de
valor de uma organização concede-se com o aumento do valor adicionado, a diminuição dos
custos, a exclusão de processos que não adicionam valor, entre outros. Assim sendo, acrescentar
valor consiste num maior retorno financeiro do investimento realizado (e.g., Chen & Dodd, 2001;
Abdeen & Haight, 2002; Christensen, Feltham & Wu, 2002; Cagle, Jr. & Fulmer, 2003; Fountaine,
Jordan & Phillips, 2008).
Diversos autores efetuaram estudos com o intuito de examinar o EVA como um dos
principais indicadores financeiros, explorando a criação de valor nas organizações (e.g., Biddle,
Bowen & Wallace, 1997; Lovata & Costigan, 2002; Cagle et al., 2003; Martin, Petty & Rich, 2003;
Ferguson, Rentzler & Yu,2005; McLaren, 2005; Carrilo & Niño, 2006; Griffith, 2006). Biddle et al.,
(1997) equipararam o conteúdo da informação do EVA e outras medidas com base na
contabilidade. Deste modo, evidenciaram que o lucro contabilístico e o fluxo de caixa operacional
estão associados às ações de rentabilidade e ao valor de mercado da empresa. Chen e Dodd
(2001) observaram o conteúdo da informação do EVA, em termos de valor de relevância, das
medidas de lucro operacional, lucro residual e EVA. Desta forma, verificaram que o lucro
operacional e o lucro residual possuem maior nível de informação que o conteúdo do EVA. A
medida de criação de valor facultada pelo EVA tem sido aproveitada como guia para a tomada
decisões de investimentos (Deyá, 2004).
O EVA pode ser calculado por diversas fórmulas algébricas. Segundo Jalbert e Landry
(2003) este método pode ser mensurado a partir do spread entre o resultado operacional e o custo
médio ponderado da totalidade do capital multiplicado pelo capital investido (ver equação 3). Deste
modo:
ROI WACC
IC
EVA (3)
onde:
EVA = Economic Value Added;
ROI = Return On Investment;
WACC= Weighted Average Cost of Capital;
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O custo do capital efetivo, ou WACC, para Young (1997) é igual ao somatório do custo de
cada um dos componentes do capital (dívida de curto prazo, dívida de médio e longo prazo e
capital próprio) ponderado para as suas dimensões relativas na estrutura do capital da empresa.
O capital investido é o somatório de todos os financiamentos da empresa, além dos
passivos operacionais não remunerados (contas a pagar, salários acumulados, e impostos
vencidos), i.e., o capital investido é igual ao somatório do capital próprio e a dívida remunerada.
Este, ainda pode ser calculado subtraindo os passivos operacionais do ativo total. Quando o
retorno gerado pelo uso do ativo líquido excede o custo de capital, o EVA é positivo e há criação
de valor (Young, 1997).
Jalbert e Landry (2003) referiram ainda que o EVA pode ser calculado através da
diferença entre o Net Operating Profit After Taxes (NOPAT) e o custo do investimento líquido
médio, ou seja, é retirado ao resultado de exploração líquidode imposto, o custo médio ponderado
do capital investido (ver equação 4). Isto é:
IC
WACC
NOPAT
EVA (4)
onde:
EVA = Economic Value Added;
NOPAT= Net Operating Profit After Taxes;
WACC= Weighted Average Cost of Capital;
IC = Invested Capital.
Segundo Carvalho (2014), o NOPAT pode ser calculado com base nas Demonstrações
Financeiras, através dos seguintes cálculos (ver equação 5):
ISRO
RO
NOPAT (5)
onde:
NOPAT = Net Operating Profit After Taxes;
RO = Resultado Operacional;
ISRO = Imposto Sobre o Resultado Operacional.
Sendo o resultado operacional calculado pela equação 6 a seguir:
OGO
CMVMC
ORO
VPS
RO (6)
onde:
RO = Resultado Operacional;
VPS = Vendas e/ou Prestações de Serviços;
ORO = Outros Rendimentos Operacionais;
CMVMC = Custo das Mercadorias Vendidas e das Matérias Consumidas;
OGO = Outros Gastos Operacionais.
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Se num dado período o valor do EVA for positivo significa que houve criação de valor, por
outro lado, se o resultado do EVA for negativo houve destruição de valor. Para que os investidores
usufruam de uma taxa de retorno adequada, esta deve ser elevada o suficiente para compensar o
risco. Caso isso não se averigue, existe fundamento para o investidor retirar o seu capital da
empresa e investi-lo noutro negócio (Carvalho, 2014).
O objetivo primordial da inclusão de conceitos e instrumentos que visam criação de valor é
a centralização de esforços essenciais para desenvolver operacionalmente os negócios e
maximizar a riqueza dos acionistas a longo prazo. A criação de valor é um conceito de
continuidade, quando um projeto ou negócio está apto para originar um retorno que compense o
custo dos capitais. Um negócio para além de apresentar um resultado líquido, pode não ter
continuidade. A análise de desempenho das organizações através do método EVA possibilita que
as mesmas consigam recuperar o planeamento estratégico, diminuindo o risco e facultando a
eficiência financeira. O EVA é benéfico, pois determinados métodos tradicionais de análise
empresarial detêm deficiências e imprecisões, por não avaliarem adequadamente o resultado dos
negócios sob a ótica da maximização da riqueza dos acionistas e não julgarem o desempenho dos
executivos (Rangel, 2008).
Para Jalbert e Landry (2003), o EVA diferencia-se dos métodos tradicionais por atribuir
elevado enfase à criação de valor para os acionistas e por considerar a totalidade dos custos dos
capitais investidos (capitais próprios e alheios), é uma medida completa por proporcionar a
identificação da eficiência com que o capital está a ser aplicado. Ao introduzir o conceito do EVA
numa empresa, a gestão passa a averiguar a necessidade de investir, evitando gastos
dispensáveis, o que resulta num aumento do retorno sobre o capital investido.
O EVA é um indicador de performance que pressupõe a eficácia da gestão das operações
e do capital, possibilitando a criação de um sistema de incentivos eficiente, relacionado com o
desempenho dos gestores na criação de valor (e.g. Young, 1999; Christensen et al., 2002; Dutta &
Reichelstein, 2002; O’Hanlon & Peasnell, 2002; Cagle et al., 2003; Jalbert & Landry, 2003; Deyá,
2004; Fernández, 2005).
Este método compara a criação de valor em excesso com o retorno mínimo requerido
pelos fornecedores de capital da empresa. Este pode ser associado periodicamente, ao longo do
tempo, ao invés dos métodos tradicionais que não diferenciam os períodos de elevado
investimento e performance operacional de gestão (Stewart, 1991; Chen & Dodd, 2001).
Soares (2014) considera o EVA vantajoso por: (a) considerar o custo da totalidade dos
capitais; (b) ser um conceito simples e fácil de comunicar; (c) ser um bom mecanismo de
motivação e responsabilização das pessoas, em consequência da possibilidade de o subdividir por
áreas funcionais; e (d) possibilita uma análise constante entre os objetivos dos acionistas e os
resultados dos gestores, uma vez que é uma medida periódica. Segundo Duarte (2011), a
aplicação do EVA possui os seguintes benefícios: (a) fácil de calcular e interpretar; (b) existe a
possibilidade de se aplicar a uma empresa de forma global ou unicamente a uma unidade de
negócio ou departamento; (c) reconhece os projetos/investimentos que destroem valor; (d)
proporciona um valor de mercado da empresa mais preciso; (e) funciona como uma base de
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sistemas de incentivos; (f) acautela para a criação de valor para o acionista; e (g) existe a
possibilidade de se aplicar a qualquer empresa.
Fernández (2005) referiu que vários consultores propuseram o EVA para avaliar a criação
de valor para os acionistas em cada período, todavia, é um erro, porque o que faz sentido é propor
metas para os gestores e unidades de negócio. Nesta perspetiva, Cheremushkin (2008a) referiu
que o EVA não deve ser observado como um método que alcança totalmente a criação de valor,
mas como um progresso ao longo do resultado líquido ou ROI, por incluir custos de capital. Forker
e Powell (2008) constataram que os resultados apontam fortemente que as diferenças entre outros
métodos de desempenho e o EVA são mínimas, mas os ganhos de qualidade são benfeitorizados
quando se utiliza o EVA, por incorporar o custo de capital próprio na medição dos resultados.
Segundo Soares (2014), as desvantagens deste método são: (a) complexidade no cálculo
do custo do capital; (b) complexidade em circunscrever ajustamentos à contabilidade, embora com
o auxilio de técnicos financeiros qualificados esta questão é facilmente ultrapassável; (c)
complexidade de comparações por incoerência em relação aos ajustamentos, que por vezes
podem revelar-se inúteis; (d) investigar e tratar delicadamente a informação financeira resulta
determinadas vezes resulta em questões ocultas que inesperadamente se tornam visíveis; (e)
suporta-se em dados contabilísticos; (f) penaliza as empresas com investimentos em ativos com
retornos de longo prazo; (g) não dissemina a satisfação e fidelidade dos clientes, melhoria do
processo de produção, inovação e motivação dos colaboradores; e (h) a sua implementação é
cara e complexa.
O recurso do método EVA a informações contabilísticas para apuramento do resultado
operacional e do custo de capital próprio tem sido criticado pois sofre as mesmas restrições dos
métodos baseados em resultados (Cheremushkin, 2008b).
O EVA tal como as restantes medidas financeiras fundamenta-se em apenas um período,
todavia, os investidores laboram num horizonte de projeção de diversos anos, originando uma
análise bastante complexa (Kiriazis & Anastassis, 2007). Estes autores e Tsuji (2006), ainda
mencionaram que, o EVA não é mais pertinente devido a certos pressupostos tais como: a
estimação do beta, o custo da dívida e do WACC, que podem ser divergentes dos participantes do
mercado.
A dificuldade do cálculo do NOPAT é uma das limitações do EVA, uma vez que requere
160 ajustamentos às demonstrações financeiras executadas conforme os princípios contabilísticos
geralmente aceites. A execução destes ajustamentos é dispendiosa e acarreta uma margem de
erro, bem como interpretações incoerentes. A determinação do montante do capital investido na
empresa e o seu custo é outra dificuldade apontada ao EVA, na medida em que, o custo de capital
não é totalmente observável, sendo estimável (Cagle et al., 2003; Jalbert & Landry, 2003).
Weissenrieder (1997) aponta como principal razão para o EVA não ser utilizado na gestão
baseada no valor, o facto das empresas não executarem os ajustamentos recomendados (cerca
de 5 a 15). O autor ainda se interroga se apenas um ou dois ajustamentos alteram
substancialmente a informação do EVA e que diferença fará na informação com 160 ajustamentos.
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Para Young (1997), o número fundamental de ajustamentos depende da empresa e do
setor de atividade, existem empresas para os quais é dispensável executar ajustamentos. A
maioria dos ajustamentos não são pertinentes para o cálculo do EVA, apenas originam um efeito
marginal, pelo que utilizar as demonstrações financeiras fundamentadas em princípios
contabilísticos geralmente aceites é mais relevante (Young, 1999).
Apesar de, muitos gestores utilizarem o EVA em toda a organização, existem alguns
gestores que apenas podem utilizar este método em níveis superiores de gestão (Lovata &
Costigan, 2002).
Tsuji (2006) realizou um estudo à eficácia do EVA, no qual averiguou que este método
pode aumentar, consoante: (a) aumentam os resultados; (b) diminui o investimento do capital; e
(c) diminui o custo de capital. Desta forma, através dos dois primeiros fatores é suscetível a
reestruturação ou inconveniente manipulação do resultado. Em investimentos de longo prazo, o
EVA tende a ser negativo no início e vai-se tornando positivo à medida que se amortiza o
investimento, suscitando dúvidas de reinvestimento por parte dos gestores.
Em suma, segundo Brealey, Myers e Allen (2011) ao compararmos duas empresas que
possuam um resultado líquido positivo, uma pode estar a criar valor para os seus acionistas e a
No documento
O Valor da Marca Banco BPI
(páginas 26-35)