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2. Representação e participação dos trabalhadores na gestão da empresa

2.4. Experiência estrangeira

2.4.3. Itália

2.4.3.4. Comissão empresarial europeia

A comissão empresarial europeia380 foi estabelecida pelo Decreto Legislativo n. 74, de 2 de abril de 2002, concretizando a Diretiva n. 94/45/CE381. A mencionada regra europeia busca harmonizar, naquele continente, o direito de participação dos trabalhadores na gestão da empresa por meio da criação do conselho referido ou de procedimento para a informação e consulta dos trabalhadores em empresas ou grupo de empresas de dimensão comunitária.

Considera-se empresa de dimensões comunitárias aquela que tenha, ao menos, mil empregados nos Estados membros da Comunidade Europeia e, além disso, pelo menos cento e cinquenta trabalhadores por Estado membro em, no mínimo, dois Estados membros382. Grupo de empresa de dimensões comunitárias é aquele que tenha, no mínimo, mil trabalhadores, com ao menos duas empresas em Estados membros diversos, sendo que, em cada uma destas, haja, ao menos, cento e cinquenta trabalhadores383.

A direção central da empresa e uma delegação especial, composta de acordo com o disposto no artigo 7º do D. Leg. n. 74/2002384, negociam os detalhes estruturais da

378

Ponto 19 da segunda parte do Acordo Interconfederal de 1993. 379

Ponto 20 da segunda parte do Acordo Interconfederal de 1993. 380

Em italiano, comitato aziendale europeo (CAE). 381

Importante notar que o Decreto Legislativo n. 74/2002 é bastante similar ao Acordo Interconfederal, de 27 de novembro de 1996, voltado à recepção da Diretiva 94/45/CE.

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Artigo 2º, parágrafo 1º, letra ‘b’, do D. Leg. n. 74/2002. 383

Artigo 2º, parágrafo 1º, letra ‘d’, do D. Leg. n. 74/2002. 384

In verbis: “1. La delegazione speciale di negoziazione e' costituita da una persona per ogni Stato membro in cui l'impresa o il gruppo di imprese abbia almeno uno stabilimento o impresa e, comunque, nel limite minimo di tre e massimo di diciotto unita'. 2. Ulteriori unita', nell'ambito del numero massimo di cui al comma 1, debbono essere ripartite secondo il seguente criterio: a) un seggio supplementare per ciascuno Stato membro in cui sia impiegato almeno il 25 per cento dei lavoratori dipendenti negli Stati membri dell'impresa o del gruppo di imprese; b) due seggi supplementari per ciascuno Stato membro in cui sia impiegato almeno il 50 per cento dei lavoratori dipendenti negli Stati membri dell'impresa o del gruppo di imprese; c) tre seggi supplementari per ciascuno Stato membro in cui sia impiegato almeno il 75 per cento dei lavoratori dipendenti negli Stati membri dell'impresa o del gruppo di imprese. 3. La direzione centrale o

comissão empresarial europeia a ser criada ou o modo como se realizará o procedimento de informação e consulta dos trabalhadores385. As despesas da negociação mencionada deverão ser suportadas pela empresa386, fato que demonstra o modo como a comissão e o procedimento de informação e consulta são entendidos na Itália e na parte do continente europeu que deve cumprir a Diretiva 94/45/CE. Não há a ideia de criação de um ente contrário aos interesses da empresa, mas sim de um ente que, reunindo pessoas com interesses contrários ao do empregador, deve ter acesso aos dados relativos à atividade produtiva, para, de modo qualificado, dialogar com a direção empresarial e, assim, beneficiar a empresa. As figuras de empresa e empregador não coincidem. A empresa é formada por empregador e trabalhadores, os quais, por meio da comissão ou do procedimento de intercâmbio informativo, podem exercer o respectivo direito de participação na gestão empresarial.

O acordo obtido pelas partes negociadoras deve conter os seguintes itens: entes empresariais atingidos pela avença; aspectos estruturais da comissão; a competência e o procedimento de informação e consulta; detalhes relativos à realização da reunião da comissão; os recursos materiais a serem repassados à comissão; conteúdo da informação e da consulta387. É possível negociar um ou mais procedimentos de informação e consulta, de forma conjunta ou alternativa à criação da comissão388, fato que evidencia a tentativa do legislador de conferir o máximo de transparência à relação entre empregador e trabalhadores.

A comissão empresarial europeia estabelecida na Itália contando com, no mínimo três e, no máximo, trinta integrantes389, deverá ser composta da seguinte maneira: um terço de membros designados pelas organizações sindicais que tenham estabelecido o contrato coletivo nacional de trabalho aplicado na empresa ou no grupo de empresas interessadas; e dois terços oriundos da representação sindical unitária da empresa ou grupo de empresas envolvidas390. Note-se que, assim, como na composição da representação sindical unitária, garante-se um terço das posições aos entes sindicais, ressaltando a il dirigente di cui all'articolo 4, comma 1, e le direzioni locali sono informate della composizione della delegazione speciale di negoziazione, con lettera congiunta delle organizzazioni sindacali di cui all'articolo 5, comma 1”.

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Artigo 8º, parágrafo 1º, do D. Leg. n. 74/2002. 386

Artigo 8º, parágrafo 7º, do D. Leg. n. 74/2002. 387

Artigo 9º, parágrafo 2º, do D. Leg. n. 74/2002. 388

Artigo 9º, parágrafo 3º, do D. Leg. n. 74/2002. 389

Artigo 16, parágrafo 5º, do D. Leg. n. 74/2002. 390

relevante participação de tais entidades no interior da empresa. Os sindicatos, no sistema italiano, não se atêm apenas à atuação externa à empresa.

A boa-fé, evidentemente, permeia todo o processo de troca de informações empresariais entre empregador e representantes dos trabalhadores. Nesse sentido, o Decreto Legislativo n. 74/2002 determina que os membros da comissão especial de negociação, da comissão empresarial europeia, os especialistas em determinado assunto que eventualmente os auxiliarem e os representantes dos trabalhadores que mantiverem contato com informações empresariais qualificadas como sigilosas não podem revelá-las a terceiros, durante o mandato e por um período de três anos após o respectivo término, cabendo, em caso de infração, a imposição de sanção nos termos do contrato coletivo aplicado391.

Importante salientar que o direito dos trabalhadores à informação empresarial não é absoluto, pois a direção central pode negar a transmissão de dados que possa causar prejuízo à atividade empresarial, havendo a possibilidade de as partes criarem uma comissão técnica de conciliação com competência para resolver questões relativas ao sigilo e à impossibilidade de informação392. Tal comissão é bastante importante para o adequado funcionamento do procedimento informativo, pois zela pela efetivação do direito dos trabalhadores que, em caso extremo, poderia restar inviabilizado caso o empregador utilizasse de modo abusivo a prerrogativa que lhe foi concedida pela lei de qualificar a informação como sigilosa. A composição da comissão de conciliação revela como o diálogo é essencial no sistema jurídico italiano: são três membros, sendo que cada uma das partes escolhe um membro e o terceiro é indicado consensualmente. O resultado do trabalho da entidade conciliadora deve ser entregue em até quinze dias após a apresentação da reclamação393.

Os membros da delegação de negociação e os integrantes da comissão empresarial europeia são beneficiados por tutelas que lhes são conferidas para o adequado desempenho da função, como o direito a, ao menos, oito horas trimestrais de licença remunerada, além das situações previstas nos artigos 22 e 24 do Estatuto dos Trabalhadores, atinentes, respectivamente, às questões de transferência de local de trabalho e licença não remunerada.

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Artigo 11, parágrafo 1º, do D. Leg. n. 74/2002. 392

Artigo 11, parágrafos 2º e 3º, do D. Leg. n. 74/2002. 393

A comissão empresarial europeia tem o direito de reunião com a direção central da empresa, uma vez ao ano, para ser informada de questões relativas ao desenvolvimento da atividade empresarial394, devendo o encontro versar sobre os temas previstos no parágrafo 9º do artigo 16 do Decreto Legislativo n. 74/2002395. Eventual reunião extraordinária também poderá ocorrer, especialmente em casos de dispensa coletiva ou fechamento de estabelecimento396.

Assim como ocorre com a comissão de negociação, a comissão empresarial europeia é custeada pela direção central da empresa, a qual, aliás, deve fornecer-lhe os meios materiais necessários para o adequado desempenho de sua função397. É medida que evidencia a concepção, como dito anteriormente, de que a comissão é parte integrante da empresa, apesar de defender interesses contrapostos aos do empregador. É órgão com atividade de colaboração, diferentemente do ente sindical, que apresenta postura reivindicativa.