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COMITÊ LAGOS SÃO JOÃO CONSIDERAÇÕES SOBRE OS RECURSOS HÍDRICOS E SUA GESTÃO

Estudo de caso 1:

COMITÊ LAGOS SÃO JOÃO CONSIDERAÇÕES SOBRE OS RECURSOS HÍDRICOS E SUA GESTÃO

NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Nunca duvide que um pequeno grupo

de cidadãos preocupados e

comprometidos possa mudar o mundo; de fato é só isso que o tem mudado.

(Margaret Mead, Antropóloga)

HISTÓRICO DA GESTÃO DOS RECURSOS

HÍDRICOS

A crise econômica do final século XIX e início do século XX, baseada na troca do modelo econômico agrário para o modelo econômico industrial, exigiu uma maior utilização água para a geração de energia elétrica.

Neste contexto sócio econômico, foi publicado o Decreto 24.643 em 10 de Julho de 1934, que aprovou o Código de Águas Brasileiro. Este código declara a água como um bem público, que pode ser de uso comum. O Código de Águas abordou a proteção dos recursos hídricos através da regulamentação da apropriação da água, principalmente com vistas a sua utilização como fonte geradora de energia elétrica.

No Contexto mundial, as primeiras discussões de importância a respeito da necessidade de reforma e modernização da gestão de recursos Hídricos surgiram quando da Conferência das Nações Unidas sobre a

água, ocorrida no ano de 1977, em Mar Del Plata,

Argentina, que em seu Plano de Ação destacava que “cada país deve formular e analisar uma declaração geral de políticas em relação ao uso, à ordenação e à conservação de água, como marco de planejamento e

execução de medidas concretas para a eficiente aplicação dos diversos planos setoriais. Os planos e políticas de desenvolvimento nacional devem especificar os objetivos principais da política sobre o uso da água, a qual deve ser traduzida em diretrizes e estratégias, subdivididas, dentro do possível, em programas para o uso ordenado e integrado do recurso. Seguindo o mesmo raciocínio, a Agenda 21, importante documento assinado durante a Conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento e Meio Ambiente (ECO 92), realizada no Rio de Janeiro, em 1992, diz em seu Capítulo 18 a respeito da qualidade e abastecimento dos Recursos Hídricos e estipula como seu objetivo geral “assegurar que se mantenha uma oferta adequada e de boa qualidade para toda a população do planeta, ao mesmo tempo em que se reservem as funções hidrológicas, biológicas e químicas dos ecossistemas, adaptando as atividades humanas aos limites da capacidade da natureza”.

No caso do Brasil, desde a publicação do Código de Águas Brasileiro, em 1934, vem-se produzindo leis e políticas que buscam consolidar a valorização dos recursos hídricos, bem como avançar na questão do gerenciamento deste recurso natural.

No ano de 1988, foi promulgada a Constituição Federal que diz em seu artigo 21: Compete à União: XIX – “Instituir o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e definir critérios de outorga de direito de seu uso.”

O período que se sucedeu foi de maturação destas idéias, e o processo de redemocratização do país, que impulsionou a realização de medidas que concretizassem a instituição de políticas públicas em relação à gestão das águas, até então discutidas, nacional e internacionalmente.

O grande avanço na gestão de Recursos Hídricos no Brasil ocorreu com a publicação da lei federal, 9.433 de 08 de janeiro de 1997, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

De acordo com Granziera (2003, p.675), a legislação sobre águas, no plano federal, até a edição da Lei n. 9.433, de 08 de janeiro de 1997, não fornecia os instrumentos necessários à administração dos recursos hídricos, no que se refere à proteção e a melhoria dos aspectos de qualidade e quantidade. Após anos de descaso, as medidas cabíveis para fazer frente à situação em que se encontravam as águas não mais se limitavam à aplicação dos preceitos do Código, cabendo a introdução de outras estruturas jurídicas e institucionais, por meio das quais se luta, hoje, visando proteger esse vital elemento da natureza. Mostrava-se necessária uma nova ordem jurídica para a água.

Observa-se, então, que a grande conquista na aprovação da lei federal 9.433/97 foi no campo social, impedindo que a água continuasse a ser utilizada como um instrumento do aumento da desigualdade social, prática essa utilizada por mais de quatro séculos pelos detentores do poder econômico.

Os objetivos pretendidos com a publicação da Lei 9.433 são: coordenar a gestão integrada das águas, arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos, implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos, planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos hídricos e promover a cobrança pelo uso da água bruta.

Fazem parte do Sistema Nacional de Recursos Hídricos: o Conselho Nacional de Recursos Hídricos -

CNRH; a Agência Nacional de Águas – ANA; os Conselhos de Recursos Hídricos dos estados e do Distrito Federal; os Comitês de Bacias Hidrográficas; os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais e municipais, cujas competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos; e as Agências de Água.

O Conselho Nacional de Recursos Hídricos é a mais alta instância do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, sendo instituído pela Lei nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997. É um órgão colegiado, que desenvolve regras de mediação entre os diversos usuários da água sendo, assim, um dos grandes responsáveis pela implementação da gestão dos recursos hídricos no País. Presidido pelo Ministro do Meio Ambiente (MMA), o CNRH é composto por representantes de Ministérios e Secretarias Especiais da Presidência da República, dos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, dos usuários de recursos hídricos e por representantes de organizações civis de recursos hídricos (consórcios e associações intermunicipais de bacias hidrográficas; organizações técnicas e de ensino e pesquisa, com interesse na área de recursos hídricos; e organizações não- governamentais).

Atualmente, compõe-se por 57 conselheiros, com mandato trienal, sendo que o total de representantes do Poder Executivo Federal não pode exceder à metade mais um do total de membros.

Possui como competências, dentre outras:

 Analisar propostas de alteração da legislação pertinente a recursos hídricos;

 Estabelecer diretrizes complementares para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos;

 Promover a articulação do planejamento de recursos hídricos com os planejamentos nacional, regionais, estaduais e dos setores usuários;

 Arbitrar conflitos sobre recursos hídricos;  Deliberar sobre os projetos de

aproveitamento de recursos hídricos cujas repercussões extrapolem o âmbito dos estados em que serão implantados;

 Aprovar propostas de instituição de comitês de bacia hidrográfica;

 Estabelecer critérios gerais para a outorga de direito de uso de recursos hídricos e para a cobrança por seu uso; e

 Aprovar o Plano Nacional de Recursos Hídricos e acompanhar sua execução.

A Agência Nacional de Águas – ANA – foi criada em 17 de julho de 2000, com a promulgação da Lei 9.984 e instituída em 19 de dezembro do mesmo ano, através do Decreto nº3.692. É uma autarquia federal com autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministério de Meio Ambiente. Seus objetivos são implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos e coordenar o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, através dos seguintes mecanismos: fiscalizar os usos de recursos hídricos nos corpos de água de domínio da União; elaborar estudos técnicos para subsidiar a definição, pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos, dos valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos de domínio da União; estimular e apoiar a criação dos Comitês de Bacia; arrecadar, distribuir e aplicar receitas auferidas por intermédio da cobrança; planejar e promover ações destinadas a minimizar efeitos de secas e inundações, no âmbito do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, em articulação com organismos competentes, em apoio aos Estados e Municípios;

prestar apoio aos Estados na criação de órgãos gestores; propor ao CNRH o estabelecimento de incentivos, inclusive financeiros, à conservação dos recursos hídricos; dirimir conflitos entre usuários.

As competências desta autarquia podem ser avaliadas sob diversos prismas. Age como um órgão executor ao implementar o sistema nacional de gerenciamento, tendo como foco a gestão por bacia e a implantação dos comitês. É também um órgão regulador clássico, uma vez que lhe compete, por um lado, regular a oferta e a demanda e, por outro lado, fiscalizar os usos dos recursos hídricos, inclusive mediando os conflitos e dispondo de poder de polícia. Por fim, dispõe de um poder outorgante, visto que lhe cabe autorizar o uso de água em rios de domínio da União.

(FREITAS, M. et. al, 2001,p1-10) Sendo um sistema de gestão integrada dos recursos hídricos, o processo de tomada de decisões não fica a cargo somente de quem detém o poder, ao contrário, todos participam das funções referentes ao planejamento, execução e acompanhamento, sendo uma gestão descentralizada, com a participação do poder público, dos usuários e da comunidade. Assim sendo, há um compartilhamento de poder e responsabilidades entre o Estado e os diversos segmentos da sociedade.

Este modelo aqui adotado inspira-se no modelo Francês, instituído naquele país em 1964 (Lei Francesa, n° 64-1245 de 16 de dezembro de 1964). Por este modelo, é criado um sistema nacional onde as ações e os instrumentos de gestão são estabelecidos para serem aplicados na bacia hidrográfica, a qual pode ser considerada como base para implantação de organizações que formam o arranjo institucional da

gestão dos recursos hídricos, como é o caso, por exemplo, das Agências de água. A descentralização desta gestão é denotada pela criação destes instrumentos nos níveis estaduais, estabelecendo o conjunto de regras que incidirá sobre os corpos d’água de domínio estadual. Assim, cria-se um recorte espacial específico para as atividades de gestão dos recursos e, assim, definição de suas regras reguladoras.

Os órgãos representativos da sociedade civil constituem uma maneira de atuação dos cidadãos, representando os interesses das suas respectivas instituições, visando que os interesses coletivos sejam atendidos da melhor forma. Portanto o grande desafio desta gestão é possibilitar a todos os integrantes da sociedade o direito de uma participação igualitária neste modelo de gestão descentralizada, conscientizando todos os atores sobre o seu papel.

O Plano Nacional de Recursos Hídricos - PNRH definiu a Bacia Hidrográfica como unidade de implantação de sua gestão. De acordo com PIRES DO RIO E PEIXOTO (2001), ao institucionalizar a bacia de drenagem, a Política Nacional de Recursos Hídricos “criou uma nova arena para diversificadas alianças intervenientes na gestão ambiental e territorial das quais os recursos hídricos fazem parte”, ou seja, a bacia teve sua função modificada de uma simples área física e geográfica para compreensão dos processos de drenagem para um espaço institucional, o qual se caracteriza pela existência de uma organização com implicações econômicas e políticas, sendo um espaço aberto, integrado e com capacidade de evolução.

Porém, a grande limitação à implantação do Modelo Francês no Brasil e mais especificamente, no Rio de Janeiro, é o fato de que, enquanto a França é

uma República unitária, com um governo central, o Brasil é uma federação, havendo assim aqui duas titularidades sobre os rios: o rio federal, de domínio da União e o rio estadual, de domínio dos estados. Esse “duplo comando” gera uma gestão muito mais complexa e dificultosa, visto que em uma mesma bacia hidrográfica, podemos ter um rio principal federal, cuja competência de gestão é da União, mas quase todos os seus afluentes serem estaduais, com competência de gestão de um ou mais estados da federação de acordo com LANNA, A. E. e DORFMAN, R. (1993,p 63-73).

Há de considerar que os entes federados não se subordinam entre si, Isto é, pelo definido na Lei 9.433/97, os gestores estaduais de recursos hídricos podem apresentar políticas diferenciadas entre si e a União para as mesmas águas de um rio ou de uma bacia. Isso exige um sistema de gestão integrado, não pela subordinação, mas sim pela livre negociação entre os diversos atores envolvidos.

SISTEMA ESTADUAL DE GERENCIAMENTO DE