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3. CARACTERIZAÇÃO DA RMPA

4.1 Arranjos institucionais da RMPA

4.1.2 Outras formas de articulação institucionais relevantes

4.1.2.1 Comitês de Bacias Hidrográficas

No Brasil, a partir dos princípios e obrigações estabelecidos na Constituição de 1988 e em sintonia com os conceitos derivados das conferências internacionais sobre meio ambiente e recursos hídricos, como a Conferência de Mar Del Plata e o Terceiro Fórum Mundial da Água, foi instituída em 1997 a Política Nacional dos Recursos Hídricos e criado o Sistema Nacional

86 Os municípios, que atualmente pertencem a RMPA organizam-se em Coredes fora do arranjo metropolitano. Na

criação do Plano de Desenvolvimento do Estado, Rumos 2015, toda a região metropolitana ficou incluída na Região Funcional Nº 1, que agrega um total de setenta municípios (ver figura 10).

de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (SINGREH) 87 por meio da promulgação da Lei Nacional nº. 9.433/97, com os seguintes objetivos:

(I) Garantir a quantidade dos recursos hídricos e sua qualidade à atual e às futuras gerações;

(II) Promover objetivos de desenvolvimento sustentável;

(III) Preservar e defender os recursos hídricos, promovendo seus usos racionais;

(IV) Prevenir contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais. (Lei Nacional nº. 9.433/97 cap. II, Art. 2º.). A Lei88 estabelece, como fundamento para alcançar os objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos: (I) a água é um bem de domínio público; (II) a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico; (III) em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais; (IV) a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas; (V) a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos; (VI) a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.

De acordo com Mancini et al (2011), uma das principais características do SINGREH é a abertura dada a participação de usuários e da sociedade civil em todos os plenários por ele constituídos, desde o Conselho Nacional de Recursos Hídricos até os Comitês de Bacias Hidrográficas, como forma de legitimar a decisão e também garantir sua implantação.

Para Mancini et al (2011, p. 113):

Os Comitês de Bacias Hidrográficas funcionam como órgãos colegiados com poderes consultivos e deliberativos, atribuídos por leis, com a participação de usuários das bacias, da sociedade civil organizada, de representantes de governos municipais, estaduais e o federal, para gestão de recursos hídricos por meio da implementação dos instrumentos técnicos e negociação de conflitos; promoção dos usos múltiplos da água; respeito aos diversos ecossistemas naturais; promoção da conservação e recuperação dos corpos d’água e garantia da utilização racional e sustentável dos mesmos.

87 Para colocar em prática tais princípios, o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH)

é dotado de um conjunto de instâncias decisórias, composto por um colegiado deliberativo superior formado pelo Conselho Nacional dos Recursos Hídricos e seus correspondentes nos estados, os Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos; colegiados regionais deliberativos a serem instalados nas unidades de planejamento e gestão, os Comitês de Bacias Hidrográficas de Rios Federais para os rios de domínio da União e os Comitês de Bacias Hidrográficas de Rios Estaduais para os rios de domínio dos Estados ou Distrito Federal e instâncias executivas das decisões dos colegiados regionais, as Agências de Água de âmbito federal e estadual. (Mancini et al, 2011, p. 116).

De acordo com Relatório de Pesquisa do IPEA (2013), conforme a legislação, os órgãos e entidades federais, estaduais ou municipais que exerçam atividades relacionadas à outorga do uso da água, ou licenciamento de atividades potencialmente poluidoras na bacia hidrográfica, também terão assento nos comitês, podendo participar das suas deliberações, porém, sem direito de voto.

Segundo IPEA (2013, p. 183):

Embora os comitês de bacias sejam um braço operante do poder executivo previsto na lei, eles têm uma importância estratégica na gestão metropolitana, na medida em que são arranjos que envolvem uma articulação intermunicipal composta, em grande parte, por entidades da sociedade civil, dos representantes da comunidade, dos usuários da água, do governo e de todos os agentes que tem suas atividades econômicas vinculadas ao uso da água, formando um “parlamento das águas”.

Os comitês, enquanto integrantes do SERH89, se caracterizam como colegiados, não possuindo figura jurídica90. Em função disso, a secretaria executiva dos comitês, em geral, recebe o apoio em uma instituição da sociedade civil, uma vez que, os recursos financeiros necessários para manutenção de suas estruturas funcionais são oriundos do Fundo de Recursos Hídricos (FRH), e repassados pelo SEMA91 mediante convênios (Relatório de Pesquisa, IPEA 2013, p.125).

De acordo com Mancini (2011, p. 118):

Nesse contexto, a gestão dos recursos hídricos se consolidou com enfoque na bacia hidrográfica como unidade de gestão e assumiu várias dimensões com conotações diversas que passaram a contar com o apoio gradual e consensual de cientistas, administradores públicos, industriais e associações técnicas científicas. É importante ressaltar ainda que, antes da criação do comitê, o gerenciamento da água era feito de forma isolada por municípios e Estado e as informações dispersas em órgãos técnicos, ligados ao assunto com dados não compatíveis, dificultando o planejamento sobre captação, abastecimento, distribuição, despejo e tratamento da água.

Nesta lógica, no processo de realização dos planos de recursos hídricos, a cargo dos comitês, as deliberações têm como uma das prerrogativas a participação da sociedade, com a mobilização de grupos interessados e voltados para demandas setoriais em relação ao uso da água, que pode ser direcionada para as atividades produtivas rurais, industriais e de serviços, e para o abastecimento público.

Neste sentido, conforme Mancini et al (2011), o gerenciamento dos recursos hídricos compreende um conjunto significativo de atividades que vai do planejamento e administração

89 Sistema Estadual de Recursos Hídricos.

90 Essa organização não possui personalidade jurídica, portanto não têm CNPJ, bens, funcionários, utilizando

estruturas físicas e equipe técnica de seus membros (órgãos estaduais, municipais, ONGs, etc.) para seu apoio, inclusive para estudos de temas e elaboração de propostas (Mancini et al, 2010, p. 118).

do aproveitamento múltiplo, controle e proteção das águas até a articulação dos interesses, geralmente conflitantes, da complexa rede de agentes composta por órgãos da administração pública, empresas privadas e organizações da sociedade civil. Isso se deve principalmente às múltiplas finalidades da água – abastecimento urbano, abastecimento industrial, controle ambiental, irrigação, geração de energia elétrica, navegação piscicultura, recreação, dentre outras. No quadro 09 será apresentado a composição dos comitês de bacias com seu ano de fundação e breve caracterização.

Quadro 9 - Comitês de bacias hidrográficas: composição, ano de fundação, número de municípios e caracterização - 2013.

Instituição Composição Ano de fundação Número de municípios Caracterização Comitês de Bacias Hidrográficas (06) 1) Sinos (2) Gravataí 3) Taquari 4) Caí 5) Lago Guaíba 6) Baixo Jacuí 1988 1989 1998 1998 1998 2000 24 09 02 12 05 06

- Os Comitês enquanto integrantes do SERH se caracterizam como colegiados, não possuindo figura jurídica, e os recursos financeiros são oriundos do FRH e repassados pelo SEMA mediante convênios;

- A principal proposta dos Comitês de gerenciamento de Bacias, estaria no estabelecimento de atores locais em relação ao uso e à preservação dos recursos hídricos.

Fonte: Elaboração própria a partir de informações IPEA, 2013.

Conforme quadro 09, pode-se verificar que a Bacia do Rio dos Sinos se concentra o maior número de municípios da RMPA, 24 no total, seguida da Bacia do Rio Caí, onde se encontram 12 municípios metropolitanos. (Ver quadro 01, apêndice 12) O território de Porto Alegre, o município sede da RMPA é atravessado por 02 bacias hidrográficas, dos Rios Guaíba e Gravataí.

Para Martins e Carrion (2013), quanto aos comitês de gerenciamento de bacias hidrográficas, tem-se que a gestão de recursos hídricos, cuja unidade de gestão possível é os limites das bacias hidrográficas, é percebida como fundamental para o processo de desenvolvimento da RMPA. Conforme os mesmos autores o saneamento não é mais visto como uma questão meramente de infraestrutura, mas se tem a noção das suas implicações em relação ao meio ambiente.

Segundo Ipea (2013, p.183) os comitês de bacias hidrográficas tratam do saneamento, mas também:

da regulação do uso dos recursos hídricos, setores essenciais para a manutenção das atividades comerciais e da vida da população. Desse modo, os comitês têm servido de espaço para a discussão de grandes projetos, como as barragens, obras de infraestrutura ligadas aos consórcios, como o Pró-Sinos, na realização de projetos na área do saneamento e tratamento de esgoto e resíduos sólidos. Assim, por estar envolvido numa série de problemas que ultrapassam e envolvem diversos municípios da região metropolitana o comitê se caracteriza como um espaço de gestão metropolitana importante.

Neste sentido, no que diz respeito aos recursos hídricos, a modalidade de governança territorial, já bastante conhecida, é o Comitê de Bacias Hidrográficas, uma instância de discussão e deliberação, formadas por agentes e atividades representantes de diferentes setores da sociedade, permitindo um debate mais amplo sobre as alternativas de utilização dos recursos naturais regionais e proporcionando a adaptação da política às realidades físicas e humanas de cada região, garantindo que as propostas sejam resultados de negociações políticas, por meio do planejamento e administração do aproveitamento múltiplo, controle e proteção das águas, até a articulação dos interesses geralmente conflitantes na complexa rede de agentes.

A partir desse sistema, percebe-se que os problemas relacionados aos recursos hídricos têm fomentado a modificação das instituições, das práticas sociais e consequentemente têm influência sobre a organização do espaço geográfico representado pela bacia e pode ser ponto inicial importante e facilitador na tomada de planejamento local/regional, auxiliando o gerenciamento de forma sustentável, baseado na cooperação entre atores locais, por meio dos comitês.

Em outras palavras, os comitês de gerenciamento de bacias hidrográficas teriam uma importância estratégica na gestão metropolitana, na medida em que são arranjos que promovem uma articulação intermunicipal composta, além dos órgãos governamentais, em grande parte, por entidades da sociedade civil e dos representantes das comunidades, envolvendo problemas referentes ao saneamento ambiental, que ultrapassam os limites municipais (Martins e Carrion, 2013, p. 136).

No entanto, de acordo com IPEA (2013) em relação à articulação dos atores locais, independentemente do segmento da sociedade na RMPA, os participantes tendem a se manter restritos às suas instâncias de atuação. sem reconhecimento da gestão metropolitana, como é o caso dos integrantes dos comitês de bacias e Coredes.