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Considerações sobre o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Integrado da Região

2. O DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL E O ESPAÇO RURAL

2.2 Iniciativas de governança no rural metropolitano

2.2.1 Experiências de desenvolvimento de planos metropolitanos integrados

2.2.1.2 Considerações sobre o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Integrado da Região

A elaboração do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de Belo Horizonte – PDDUI-RMBH se insere no novo Sistema de Gestão

Metropolitana do Estado de Minas Gerais, implementado a partir de 2004, após amplo processo de discussão pública liderado pela Assembleia Legislativa do Estado. Neste mesmo período também foram definidos como órgãos de gestão a Assembleia Metropolitana e o Conselho Deliberativo de Desenvolvimento Metropolitano, e como órgão de suporte técnico, a Agência de Desenvolvimento da RMBH. E, ainda participam também do sistema46 de gestão metropolitana as instituições estaduais, municipais e intermunicipais relacionadas às funções públicas de interesse comum.

O Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da RMBH foi iniciado em setembro de 2009 e concluído em novembro de 2010, tendo como objetivo integrar o conhecimento técnico ao espaço e ao contexto político e social, para a construção de uma RMBH melhor para se viver.

As políticas elaboradas para compor o Plano Metropolitano foram organizadas em quatro eixos estruturantes: Acessibilidade, Urbanidade, Seguridade e Sustentabilidade. Estes eixos consideram as dimensões territoriais e institucionais da região.

Em conformidade com o PDDUI – RMBH (2011, p.01):

Essa organização permite a amplitude necessária para envolver as diversidades socioculturais e econômicas, agregando as propostas de acordo com as expectativas e desejos amplos dos cidadãos e reunindo políticas multidisciplinares e transversais com o propósito de integrar os aspectos econômicos, sociais e ambientais, aglutinar as diferentes realidades de vida dos cidadãos e as instituições que as influenciam.

Conforme apontado nos relatórios preliminares do PDDI, mesmo não representando atualmente um papel de destaque na RMBH, como a mineração e a indústria, a agricultura é significativa em alguns municípios, principalmente o cultivo de produtos da horticultura que abastecem grande parte da RMBH. Há também municípios onde predominam a característica rural, com presença da agricultura familiar em pequenas e médias propriedades, além de festas típicas e outras expressões culturais relacionadas à vida no campo. Mesmo nos municípios mais urbanizados é recorrente a prática agrícola e pecuária em diferentes tipos de espaços e por distintas motivações.

46 O Sistema ainda inclui dois instrumentos de gestão: um de planejamento - o Plano Diretor de Desenvolvimento

Integrado (PDDI-RMBH), e outro financeiro, o Fundo de Desenvolvimento Metropolitano. O Fundo de Desenvolvimento Metropolitano é constituído de recursos do Estado e dos municípios integrantes da Região Metropolitana de Belo Horizonte, na proporção de 50% de cada uma das duas partes, sendo a contribuição dos municípios proporcional às suas receitas líquidas. Compõem ainda o Fundo: dotações orçamentárias, transferências do governo federal, operações de crédito internas ou externas, doações e outros.

Para Mor-Monte (2010, p. 01):

A Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana – AMAU47 (desde 2003), o

Centro de Referência em Agricultura Urbana e Periurbana - CAUP48 (desde 2008) são

espaços consolidados de interlocução entre diferentes organizações da sociedade civil e do poder público, que tem crescentemente chamado à atenção para que as experiências relacionadas à agricultura nos municípios da RMBH sejam compreendidas como formas de resistência à aparente homogeneidade das tendências de urbanização.

Entretanto, a manutenção das práticas agropecuárias na RMBH enfrenta uma série de desafios, como: o alto valor da terra e dos impostos territoriais; a crescente transformação das áreas rurais em áreas urbanas através dos planos diretores; a pressão para a construção de novas unidades habitacionais e 'condomínios' fechados; a degradação e contaminação dos recursos naturais (água, terra e ar); a pouca presença de organizações de base e outras institucionalidades relacionadas à agricultura; além de restrições para acessar as políticas existentes de apoio à agricultura familiar.

Apesar deste cenário desfavorável, diferentes grupos, organizações e movimentos sociais da região têm se mobilizado através da AMAU e do CAUP para construir coletivamente objetivos comuns, novas identidades e formas de luta que superem a dicotomia campo-cidade. Ações de formação e apoio técnico e organizativo têm envolvido iniciativas de agricultura familiar, de agricultura camponesa e ainda as iniciativas de agricultura dentro das cidades que se encontram dispersas na região.

Dentro deste contexto, observa-se que a produção, abastecimento e consumo alimentar tornaram-se atualmente objetos da Política Metropolitana Integrada de Segurança Alimentar e Nutricional (PMISAN) 49.

De acordo com o Relatório Final Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de Belo Horizonte (2011, p.547), entre os objetivos dos programas inseridos nesta dinâmica, pretende-se:

Erradicar a fome e a desnutrição, promover o consumo alimentar consciente e a agricultura urbana, além de contribuir para a articulação e melhoria da qualidade de vida da população rural e urbana da RMBH.

Dentre outros objetivos dos programas pode-se citar conforme Relatório (2011 p.547): - a garantia à qualidade de vida e a diversidade cultural no meio rural, inclusive nos seus aspectos produtivos;

47 Contribuições da AMAU - Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana. 48 CAUP - Centro de Referência em Agricultura Urbana e Periurbana.

- Contribuir para o combate às mudanças climáticas e para a consolidação da RMBH como sociedade de economia limpa, com baixa emissão de carbono;

- Estimular mercados locais e regionais e o acesso a mercados institucionais;

- Regular o mercado de alimentos na RMBH, combinando os atributos de qualidade, variedade e preços justos;

- Ampliar as perspectivas da população rural da RMBH, de modo a evitar a emigração. Esta política também visa fortalecer o quadro institucional existente relativo às ações públicas no campo da SAN na RMBH. Desta forma, torna-se um importante instrumento de integração entre as áreas urbanas e rurais da RMBH, além de cumprir funções sociais, culturais, ambientais e econômicas. (Relatório final PDDUI RMBH 2011, p.547).

Entre os programas associados à PMISAN estão: - o Programa de Apoio às Atividades Rurais50;

- o Programa de Apoio às Atividades de Abastecimento51;

- o Programa de Agricultura Urbana52;

- o Programa de Promoção do Consumo Alimentar Saudável53; e,

- O Programa de Promoção da Qualidade de Vida no Meio Rural54.

Estes programas têm diferentes níveis de referência institucional. O nível de institucionalidade relaciona o aparato legal que define e rege a área temática e em alguns casos, regulamenta e normatiza iniciativas setoriais e temáticas. Este aparato legal envolve a legislação nos três níveis governamentais.

Quadro 1 - Programa e objetivos associados à PMISAN - 2011

Programa Objetivo Geral

1. Programa de Apoio às Atividades Rurais - Apoiar a produção de alimentos e outros gêneros e serviços da produção rural (infraestrutura, meio- ambiente, turismo rural, lazer etc.) em bases sustentáveis na RMBH.

2. Programa Metropolitano de Apoio às Atividades de Abastecimento

- Fomentar atividades de abastecimento de bens alimentícios na RMBH, promovendo a oferta de produtos de qualidade, variedade e com preços justos, fortalecendo canais de comercialização da produção

50 O Programa de Apoio às Atividades Rurais encontra amparo legal nas leis e normas que compõem a Política

Agrícola, tanto federal quanto estadual.

51 O Programa de Apoio às Atividades de Abastecimento é amparado pela Lei orgânica de segurança alimentar

(LOSAN)

52 O Programa de Agricultura Ubana está amparado no Programa Estadual de Agricultora Urbana (PEAUP) 53 amparado pela Lei orgânica de segurança alimentar (LOSAN) e pelo Programa Nacional de Segurança

Alimentar e Nutricional (PNSAN)

local e assegurando aos cidadãos os meios e informações para aquisição segura de alimentos com elevada qualidade e preços adequados.

3. Programa Metropolitano de Agricultura Urbana e Periurbana

- Fomentar práticas de agricultura urbana, através da promoção de programas e projetos de intervenção no campo da agroecologia, da economia popular solidária, da segurança alimentar e nutricional e do planejamento urbano.

4. Programa Metropolitano de Promoção do Consumo Alimentar Saudável e Sustentável

Promover e garantir o direito humano à alimentação adequada, através da promoção de programas e projetos de intervenção no campo social, nutricional e da saúde (caráter preventivo e corretivo).

5. Programa Metropolitano de Promoção da Qualidade de Vida no Meio Rural

- promover melhorias na organização da vida social, individual e coletiva da população rural metropolitana, buscando alcançar um desenvolvimento territorial socialmente justo e provedor da diversidade ambiental e cultural, fortalecendo assim, a identidade dos povos rurais e permanência da população no campo, principalmente de jovens.

Elaboração própria a partir do Relatório final do PDDUI da RMBH, vol. 3, 2011.

Na RMBH atualmente muitas são as interfaces entre as políticas propostas pelos diversos Eixos Temáticos (sustentabilidade, seguridade, acessibilidade, urbanidade e institucionalidade) e a PMISAN. Em outras palavras, a PMISAN e seus programas inserem-se nos princípios gerais do PDDI e, ainda entre suas atribuições procuram reduzir as desigualdades sociais e territoriais, construir e reconhecer a identidade metropolitana, subsidiar os municípios em relação ao estado quanto às funções de interesse comum, regulamentar a região metropolitana, utilizar a transparência da gestão e controle social e, colaborar de modo permanente entre o Estado e os municípios.

Neste sentido, após uma avaliação objetiva55 de governança metropolitana no Brasil, realizada pelo IPEA em 2013 observa-se que os resultados apontam que, entre as 14 RMs e a RIDE-DF estudadas apenas duas, São Paulo e Belo Horizonte possuíam um arranjo de gestão

55 A pesquisa IPEA, realizada em rede em 14 RMs e RIDE-DF, contou com levantamento de dados objetivos e

consolidado, com uma articulação para governança forte. Este estudo demonstrou que as RMs brasileiras ainda estão muito aquém de um padrão desejado de governança. No caso da RMPA, mesmo com um novo modelo de gestão instituído, a região ainda está longe de um padrão ideal de governança. Em outras palavras, a RMPA registrou menos da metade da pontuação ideal para um sistema de gestão institucionalizado e, um sexto da pontuação para um grau de articulação ideal (Martins e Carrion, 2016, p.844).

No capítulo seguinte serão verificadas algumas das limitações de governança que impedem a convergência ao desenvolvimento territorial no caso específico da RMPA. Para tal será inicialmente realizado uma breve caracterização da região relacionada aos seus aspectos territoriais, socioeconômicos, ambientais, e, por fim será apurada a forma de articulação entre os arranjos formais e outras formas de institucionalização relevantes na dinâmica metropolitana dado seus aspectos institucionais.