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Como os tipos socioespaciais se apresentam segundo seus conteúdos?

Num esforço de síntese, pontuaremos algumas constatações relaciona- das às mudanças e permanências ao longo do período estudado, consi- derando os diferentes tipos socioespaciais e analisando os conteúdos das áreas de ponderação que os compõem, especialmente no que se refere ao padrão de uso do solo, notadamente das condições de moradia.

Tipo superior: considerando as áreas de ponderação que o compõem, evidencia-se a concentração cada vez maior das ocupações dirigentes e intelectuais, refletindo-se na forma de verticalização dos bairros que compõem este tipo. Estes se diferenciam do restante da metrópole por serem dotados de infraestrutura e serviços urbanos, especialmente aque- les situados à beira-mar e utilizados como espaços turísticos na cidade.

De acordo com a tipologia proposta em 2010, foram poucas as alte- rações em relação às APs que compunham este tipo, quando o mesmo foi formulado a partir dos dados de 2000. Tais mudanças decorreram da nova subdivisão sugerida pelo IBGE: bairros na direção leste, que antes compunham o tipo médio, como os bairros Dunas e Praia do Futuro 1 e 2, somados ao Cocó; o bairro Joaquim Távora é vinculado ao Dionísio Torres numa mesma área.

Ainda que nos bairros ao leste do tipo superior se apresentem gran- des vazios urbanos, este tipo possui alta intensidade da ocupação do solo, bem como o maior aproveitamento do potencial construtivo em face da melhor situação das suas infraestruturas. A substituição de residências unifamiliares por edifícios multifamiliares tem provocado, desde os anos 1990, seu maior adensamento, além da expansão de comércio e serviços.

Não fosse o porte dos apartamentos e a finalidade de muitos dos edifícios como residências temporárias, este setor da cidade estaria enfrentando problemas de mobilidade ainda mais graves.

Em decorrência dos projetos urbanos em curso e previstos nas áreas que compõem este tipo, é possível prognosticar seu, ainda maior, aden- samento construtivo tanto residencial como terciário. Da mesma manei- ra, aponta-se a tendência de maior homogeneidade no padrão socioeco- nômico neste tipo socioespacial, considerando as recentes remoções de comunidades de baixa renda remanescentes e seu reassentamento em grandes conjuntos na periferia.

Tipo médio-superior: em comparação ao tipo de 2000, verifica-se o avanço junto à periferia sul desde o Centro, comportando-se como um divisor entre duas partes de uma mesma metrópole. Ao mesmo tempo, passa a ser alvo de novos investimentos imobiliários destinados à cres- cente demanda impossibilitada de se alojar nos bairros mais valorizados.

Já em 2000, o tipo médio-superior se destacava pela diversidade em seu conteúdo sócio-ocupacional, reunindo percentuais representativos profissionais de nível superior, ocupações de nível médio e terciário. Além disso, seu posicionamento ao oeste do tipo superior refletia a pre- sença de infraestrutura urbana em melhores condições de uso, junta- mente a áreas residenciais de menor qualidade, grande parte, inclusive, voltada ao mercado de locação, remanescendo, ainda, um parque indus- trial obsoleto e em desativação.

Passada esta década, a disponibilidade de infraestrutura, a presença de terrenos vazios e galpões industriais abandonados, o crescimento ur- bano metropolitano desordenado e a valorização imobiliária dos bairros que abrangem as melhores centralidades, tornam o tipo médio-superior uma nova frente para empreendimentos imobiliários. Assim, diversos bairros e suas respectivas áreas de ponderação são incluídos no referido tipo, o qual ganha novos contornos: chega ao extremo sul de Fortaleza, agregando os antigos conjuntos habitacionais do BNH, cada vez mais

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inseridos no mercado imobiliário formal; avança, também, para o oeste, extrapolando os limites político-administrativos da capital e fagocitando bairros-conjunto de Caucaia; sinaliza seu deslocamento para o sudeste, incluindo Messejana, antes considerado bairro operário popular.

Tipo médio: remanesce sua característica de tipo onde os conflitos territoriais são mais explícitos, dada a proximidade entre ocupações su- periores e populares. Este tipo talvez seja o que sofreu maiores alterações na sua configuração espacial: retração nas direções litorâneas ao leste e ao oeste; expansão junto aos bairros pericentrais ao sudeste; perda da faixa de praia ao leste de Fortaleza, devido a anexação a uma outra AP pelo IBGE. Sua retração na direção leste pode ser explicada pela maior presença de domicílios temporários nas áreas diretamente vinculadas ao turismo. E, ainda, os condomínios horizontais em vias de expansão nes- ta direção da RMF perdem força diante das demais formas de moradia por resultarem em setores com densidade muito baixa. Isto levou a que as APs do Eusébio e de Aquiraz adquirissem o perfil sócio-ocupacional operário rural.

Quanto ao setor oeste, a redução do tipo médio, ao se confinar à faixa de praia, retrata o redesenho das APs pelo IBGE. Tal situação, neste caso, passa a traduzir com maior clareza a composição desta AP, anteriormen- te concentrando casas de veraneio, as quais tornaram-se alternativa para primeira residência de ocupações médias, do secundário e do terciário especializado. Neste prisma, a presença de muitos trabalhadores da si- derúrgica em vias de construção no Complexo do Pecém corrobora esta afirmação.

Além disso, a incrustação de uma AP do tipo superior (Luciano Ca- valcante/Salinas/Guararapes) e a forma como a AP Messejana, do tipo médio-superior, é envolvida pelo tipo médio atestam o forte imbricamen- to entre estes tipos, cuja delimitação mostra-se extremamente atrelada às dinâmicas do mercado imobiliário formal. A AP composta pelos bairros Lagoa Redonda, Coaçu, Guajiru e Sabiaguaba coloca-se como alvo futuro

do mercado imobiliário, dada a presença de sítios e vazios urbanos de grande porte.

Entretanto, a nosso ver, a maior alteração na composição espacial do tipo médio diz respeito à inclusão de áreas pericentrais de bairros ad- jacentes à centralidade, que se desloca na direção sudeste, assim como dos bairros próximos à Arena Castelão, as quais faziam parte do tipo so- cioespacial popular, realizado para 2000. No caso, além da expansão do imobiliário formal nesta direção, tem-se o reconhecimento dos impactos dos projetos de estruturação viária e as ações de urbanização de favelas, pautados na remoção para bairros periféricos. Isto reduz sobremaneira a participação das ocupações inferiores, informais e não especializadas no total da população ocupada neste tipo. Ademais, é possível ter havido uma substituição residencial nas próprias favelas, visto que o mercado imobiliário informal, tanto de compra e venda como de locação, mostra sinais de expansão, apesar da irregularidade fundiária.

Tipo operário popular: mediante análise comparativa da distribuição espacial deste tipo, observa-se, ao longo do intervalo 2000-2010, signifi- cativo movimento de retração, recolhendo-se à parte oeste do intraurbano da RMF. Dentre as áreas que se deslocam deste tipo, destacam-se alguns dos grandes conjuntos habitacionais produzidos pelo BNH, situados em Fortaleza e em Caucaia, os quais passam para o tipo médio-superior, e alguns bairros na periferia sudoeste de Fortaleza, que se tornam predo- minantemente populares com ocupações não especializadas. Contudo, novas APs são incluídas no tipo operário popular, algumas delas situadas nos municípios de Pacatuba e Maranguape e outras em Maracanaú, de- correntes da subdivisão destes em novas áreas de ponderação. Resultado de tais deslocamentos é a conformação de um compartimento estrutu- rado por um feixe de vias que interligam zonas industriais tradicionais e recentes, embora passando por interrupções e descontinuidades.

Marcado pela presença de ocupações irregulares e assentamentos populares, este tipo assiste à chegada de novas formas de moradia em

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decorrência da disponibilidade de recursos para a produção habitacional para as chamadas classes C e D, com algumas alterações na sua compo- sição social. Além disso, sua distribuição espacial na RMF, indo desde a faixa litorânea à periferia industrial, traz especificidades aos bairros integrantes deste tipo.

Primeiro, no caso, os bairros nas imediações da praia em Fortaleza, em face da proximidade com o Centro tradicional, das boas condições de mobilidade e de saneamento, passam a ser alvo do mercado imobili- ário formal, num franco processo de substituição residencial, tomando partido, inclusive, de alguns galpões industriais abandonados, resultado da reestruturação produtiva do setor secundário. Segundo, no outro ex- tremo tem-se a produção imobiliária para as classes C e D dos próprios municípios que expandiram seu parque industrial e assistem ao cresci- mento do terciário, com o fortalecimento de nova centralidade, como é o caso de Maracanaú, outrora totalmente dependente de Fortaleza.

Tipo popular: este também ganha novos contornos em decorrência dos resultados do Censo Amostral de 2010. Anteriormente vinculado à proximidade dos rios urbanos e à periferia de Fortaleza, observa-se o seu recolhimento em grande parte ao setor oeste, mantendo-se estruturado pelo Rio Maranguapinho, o qual permanece como corredor de degrada- ção ambiental. (PEQUENO, 2002) Soma-se a este corredor um núcleo de áreas de ponderação na periferia sul de Fortaleza, reunindo assenta- mentos populares, terrenos vazios sem infraestrutura urbana.

Tratando-se das áreas componentes do corredor do Maranguapinho, verifica-se a predominância de bairros populares, amplamente apropria- dos por ocupações ilegais e loteamentos irregulares, carentes de sanea- mento urbano e de serviços. Todavia, os projetos realizados nestas áreas precárias mostram-se norteados pela urgência no atendimento às áreas de risco situadas às margens do rio Maranguapinho, cujas comunidades têm sido reassentadas em grandes conjuntos periféricos. Além disso, desde o lançamento do PMCMV, observa-se, nestas áreas, boa parte dos

conjuntos voltados para a faixa 1, em atendimento a famílias com renda inferior a R$1.600,00.

A escolha destes terrenos pelo setor da construção civil decorre princi- palmente do baixo preço do metro quadrado, independentemente da fal- ta de infraestrutura urbana e das difíceis condições de inserção urbana, transferindo-se, aos novos moradores, o ônus da má localização. Além disso, a adoção da forma condomínio horizontal, conforme os padrões estabelecidos pela Caixa Econômica e pelo Sinduscon-CE, como projetos referência desde o PAR, traz às periferias da metrópole novos padrões re- sidenciais que se refletem num aumento da fragmentação socioespacial. Mais ainda, como se verifica, novos empreendimentos habitacionais promovidos pelo Estado (em suas diferentes esferas de governo), em par- ceria com o setor da construção civil, com vistas ao reassentamento de famílias removidas por conta das intervenções viárias em curso estão sendo implantados em bairros do tipo socioespacial popular. Conside- rando o perfil socioeconômico das famílias alvo destes programas ha- bitacionais, acreditamos que tende a ocorrer a expansão das ocupações inferiores, informais e não-especializadas.

Tipo operário rural: trata-se daquele que apresenta maior crescimento em termos de área, encampando setores ao oeste, ao sudoeste, ao su- deste e ao leste de Fortaleza. Constitui-se num tipo essencialmente pe- riférico a Fortaleza, ocupado por atividades diversificadas associadas à agropecuária tradicional, à pesca, à avicultura, à reestruturação do setor produtivo secundário; estas, junto à segunda residência, compõem um quadro de usos do solo característico de zonas de transição urbano-rural. O tipo operário rural se espacializa de forma descontínua e fragmentada, constituindo-se em quatro grandes setores.

O primeiro setor corresponde ao sudeste, já definido na tipologia formulada a partir dos dados do censo 2000, aglutinando APs onde a presença dos estabelecimentos industriais é mais evidente, indo do Dis- trito Industrial de Maracanaú ao eixo industrial da BR-116 em Pacajus e

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Horizonte. Por sua vez, o segundo, ao leste, diz respeito aos setores do Eusébio e de Aquiraz, onde, apesar da forte presença do turismo como atividade econômica, prevalece a existência de pescadores artesanais, ao passo que os estabelecimentos industriais encontram-se em Eusébio. Destaca-se, neste agrupamento, a expansão de condomínios fechados atendendo à demanda de Fortaleza, mas cuja baixa densidade não inter- fere na composição sócio-ocupacional.

Um terceiro agrupamento ao sudoeste reúne APs de Maracanaú e Maranguape, o qual, apesar da descontinuidade, pode denotar similari- dades com o primeiro grupo, relacionando-se diretamente com a presen- ça de indústrias no município de Maranguape. Por fim, um quarto grupo de APs ao oeste, situadas em Caucaia, município onde existem alguns pequenos distritos industriais em torno da sua sede.

Entretanto, há algo de comum entre todos eles, no caso, a presença de sítios, chácaras e grandes vazios urbanos, às vezes com uso tipicamente agropecuário, num padrão de urbanização rarefeito e disperso, caracte- rístico das zonas de transição urbano-rural, onde as infraestruturas urba- nas e os serviços mostram-se precários e incompletos.

Tipo Rural: tratando-se do tipo socioespacial de maior extensão em km2, o tipo rural simboliza os problemas decorrentes da delimitação po-

lítico-administrativa da maioria das regiões metropolitanas brasileiras, no caso: a inclusão de municípios que não apresentam níveis de integra- ção suficientes com o município polo. Quanto à sua composição, segun- do se observa, algumas áreas de Caucaia e Maranguape se transferiram para o tipo operário rural. Todavia, a inclusão dos municípios de Cascavel e Pindoretama à RMF fez o tipo socioespacial rural crescer de tamanho.

Em meio a esse amplo território, destacam-se, como núcleos urbanos, as sedes de cinco municípios (São Gonçalo, Guaiuba, Chorozinho, Pin- doretama e Cascavel) e de alguns distritos, determinadas comunidades li-

torâneas, em torno das quais o turismo se expande, e principalmente o

os anos 1990. Todavia, a construção da siderúrgica em curso, bem como a refinaria em vias de ser iniciada, apontam a tendência para enormes trans- formações nesta direção, porquanto estas grandes plantas industriais, bem como a criação de uma zona de processamento de exportação junto ao porto, tendem a atrair novos investidores para o referido complexo.

Ao mesmo tempo, o tipo rural é marcado pela precariedade das suas infraestruturas urbanas, pelas limitadas condições dos seus habitantes, notadamente os residentes no campo. Mesmo as comunidades tradicio- nais de pescadores na faixa litorânea têm sido muito mais afetadas pelo processo de especulação imobiliária e grilagem envolvendo suas terras do que beneficiadas pela instalação de benfeitorias como infraestrutura, serviços e equipamentos.

Figura 6 - Tipologia socioespacial em 2010 para toda a RMF

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Figura 7 - Tipologia socioespacial em 2000 para toda a RMF

Fonte: Adaptado por Arthur Molina (IBGE, 2000).

Quais as diferenças entre os tipos quanto ao tamanho da