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Transformações na estrutura socioespacial de Fortaleza na última década

Decorridos dez anos entre a realização dos censos demográficos, é possí- vel constatar as alterações na estrutura socioespacial da RMF a partir das comparações entre os dados censitários obtidos pela pesquisa amostral do IBGE segundo as Áreas de Ponderação (APs). Destacamos que foram mantidos os mesmos procedimentos metodológicos1adotados nos estu-

dos feitos em 2006 e publicados em 2009 como resultados das pesquisas elaboradas pela Rede Observatório das Metrópoles. (PEQUENO, 2009)

Mediante a utilização do software Statlab, constatamos os possíveis agrupamentos de áreas em torno da concentração de determinadas ca- tegorias sócio-ocupacionais, evidenciando-se tipos socioespaciais do- tados de especificidades nos seus conteúdos sócio-ocupacionais. Estas

1 Como variável principal para a definição da estrutura socioespacial, adotamos a ocupação decla- rada ao pesquisador do IBGE na referida investigação para todos os residentes nos domicílios onde as entrevistas transcorreram. Estas ocupações passam a ser agrupadas segundo as cha- madas categorias sócio-ocupacionais, definidas por metodologia da Rede Observatório das Metró- poles, compondo um conjunto de 24 alternativas referenciadas em algumas oposições: urbano

versus rural; formal versus informal; terciário versus secundário e, dentre estes, os diferentes níveis

de especialização; nível médio de formação versus superior; empregador versus empregado; nível de responsabilidade no processo de gestão, seja ela pública ou privada; porte da empresa com- preendendo o número de empregos.

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características apresentam tanto as possíveis predominâncias e homo- geneidades das Categorias sócio-ocupacionais presentes nas áreas de ponderação que compõem os tipos como oposições entre outras Cats, trazendo à tona possíveis conflitos socioespaciais e situações de segre- gação, sejam elas voluntárias ou não. Disto resulta a identificação de uma tipologia socioespacial, refletindo a hierarquia social presente no espaço metropolitano, compreendida a partir da delimitação e da locali- zação dos seus diferentes tipos componentes.

Tratando-se de estudo comparativo entre os dados dos Censos Demo- gráficos Amostrais realizados pelo IBGE em 2000 e 2010, ressaltamos algumas alterações ocorridas no recorte espacial desta pesquisa. Não bastasse a inclusão de dois novos municípios na RMF, quais sejam, Cas- cavel e Pindoretama, situados na direção leste, vale destacar que outras alterações foram promovidas pelo IBGE na definição das APs.2

Todavia, na análise de cada um dos tipos definidos para 2010, daremos um tratamento especial a esta questão de modo a esclarecer possíveis dú- vidas. Mais importante, a nosso ver, é considerar que foram utilizadas as mesmas variáveis, no caso, a ocupação dos entrevistados, garantindo a análise evolutiva da distribuição espacial das diferentes ocupações. Efe- tuados os procedimentos geoestatísticos, obtivemos a nova tipologia para a RMF, apresentada em seguida a partir de algumas variáveis demográ- ficas e espaciais, de forma a permitir algumas comparações entre 2000 e 2010, introduzindo o todo da metrópole antes de aprofundar os conte- údos de cada uma das suas partes, aqui denominadas tipos socioespaciais.

2 No caso, em 2000, havia a subdivisão da RMF em 98 Áreas de Ponderação (APs), das quais 71 correspondiam ao município de Fortaleza. Para 2010, constatam-se sensíveis mudanças na subdivisão da RMF em áreas de ponderação: o número total de APs aumenta para 107, mas Fortaleza tem o número de áreas reduzido para 55 APs; há uma maior fragmentação do recorte metropolitano periférico à capital, passando de 27 APs para 52 APs fora da capital; apenas os municípios com população inferior a 20 mil habitantes remanescem com apenas uma AP, sendo que, para os demais, houve a separação entre o recorte espacial urbano correspondente à sede do município e o rural; algumas APs definidas em 2000 vieram a ser fundidas numa só, assim como algumas áreas tiveram partes da sua composição repassadas a outras áreas.

As especificidades da RMF em seu processo de crescimento econô- mico, bem como decorrentes das diferentes formas de produção de mo- radia, brevemente expostas no início deste artigo, fundamentam e fa- vorecem a definição dos tipos socioespaciais, trazendo uma abordagem qualitativa aos estudos geoestatísticos. Conforme isto indica, sem a vi- vência do pesquisador e o domínio das dinâmicas urbanas presentes na metrópole, as análises estariam comprometidas e fadadas a explicações simplórias ou infundadas.

A nomenclatura para denominar os tipos socioespaciais teve como critérios: a presença de ocupações consideradas superiores quanto à con- dição de empregador, ao grau de responsabilidade do gestor e ao nível de instrução; a ocorrência de ocupações médias e do terciário especiali- zado, características de uma metrópole terciária; a presença de operários a mostrar a importância do setor secundário numa metrópole em longo processo de industrialização; a difusão da informalidade nas relações de trabalho por meio das ocupações consideradas populares ou inferiores na hierarquia social, onde predominam as ocupações não especializadas; as ocupações rurais, onde são reunidos agricultores e pescadores, repre- sentantes dos espaços pseudometropolitanos presentes, respectivamente, nas áreas periurbanas onde o sertão e o litoral se confundem com a RMF.

Como observamos, a análise dos cartogramas referentes à estrutura socioespacial da RMF, obtida com os dados do censo 2000 (Figura 6) e nova composição derivada dos números do Censo Demográfico de 2010, revela algumas transformações (Figuras 7). Estas tanto refletem mudanças nas atividades econômicas como sinalizam alterações vincu- ladas às formas diferenciadas de uso do solo, as quais traduzem, dentre outras dinâmicas: a concentração de investimentos públicos e privados sobrevalorizando determinados territórios em detrimento de outros que se empobrecem; a centralização do município polo frente aos demais, bem como a maior diferenciação entre os municípios da RMF em fun- ção das condições de desenvolvimento institucional que favorecem ou

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comprometem a chegada de novos investimentos; as evidentes dispa- ridades entre o centro e a periferia e as diferenças entre as frentes de expansão que acompanham os eixos viários metropolitanos.

Como os tipos socioespaciais se apresentam segundo seus