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AS FÁBRICAS BRASILEIRAS DE TUBOS ATÉ A DÉCADA DE

4.3 A Companhia Mineira de Metalurgia

Pouco sabemos sobre as origens de Baldomero Barbará, além de que descendia de uma família es- panhola, imigrada para a Argentina durante o último quartel do século XIX. Nasceu na Espanha, tendo vindo, ainda pequeno, para o continente sul–americano.69 Consta que, jovem ainda, dedicou–se à industrialização e comércio de carnes bovinas, estabelecendo–se na cidade de Paso de los Libres, na Argentina, transferindo– se, após, para Uruguaiana, já no lado brasileiro do Rio Uruguai.70

Encontramo–lo no Sudeste, estabelecido na cidade do Rio de Janeiro, no comércio de representa- ções e, em particular, com uma empresa distribuidora de tubos centrifugados. Muito provavelmente, o seu relacionamento com Fernando Arens venha daí. O certo é que este o convidara a constituir uma empresa de centrifugação, licenciada no processo Arens, e que teria por acionistas principais a Baldomero Barbará, ao

69 - Infelizmente, apesar de inúmeras tentativas, não conseguimos entrevistar nenhum dos descendentes de Baldomero Barbará. Muitas foram as reticências

às nossas solicitações, muito embora fossem conhecidas as relações profissionais que, outrora, o Autor mantivera com Baldomero Barbará Filho, na extinta Companhia Metalúrgica Barbará. Lamentamos o fato que deixa encobertas muitas facetas da interessantíssima personalidade de Capitão de Indústrias, do fundador da Companhia Mineira de Metalurgia e propugnador de várias outras iniciativas técnico-comerciais e industriais. As poucas informações conse- guidas, são devidas às entrevistas realizadas pelo Autor com vários colaboradores e amigos de Baldomero Barbará e, também, das reminiscências das con- versas informais mantidas com Baldomero Barbará Filho, entre os anos de 1964 e 1970.

70 - É bastante provável que ele se tenha dedicado à criação de gado, nesse período. Sua paixão pelo criatório parece manifestar-se na denominação que

deu à vila residencial da administração de sua usina de Barra Mansa, já em 1938: Vila Carumbé. Carumbé era o nome de um touro que possuía no Sul; origi- nariamente, carumbé era o nome que se dava a um recipiente que transportava o cascalho diamantífero, ou o ouro, nas lavras, para a lavagem e apuração. O nome poderia ser significativo das satisfações econômicas que o tal touro realizara.

próprio Fernando Arens e ao seu genro, Caio Luís Pereira de Souza. A usina produtora da empresa a ser cons- tituída, deveria situar–se em Minas Gerais, junto a um altoforno produtor de ferrogusa para fundições, o que era recomendado pela anterior experiência de Arens na Usina Esperança, já havia 12 anos.

A sondagem na busca de um lugar adequado levou–os à figura de Israel Pinheiro, então jovem en- genheiro de minas, metalurgia e civil, formado pela Escola de Minas de Ouro Preto. Era ele o Agente Executi- vo Municipal da cidade de Caeté, a qual procurava desenvolver através da atração de atividades industriais (VAZ,1996; p.29).E os esforços de Israel não eram sem êxitos, porquanto já obtivera sucesso atraindo para Ca- eté as usinas guseiras de Gerspacher, Purri & Cia. e de J. S. Brandão & Cia.71

Convém seja lembrado, nesse ponto, que Caeté já contava com importante atividade industrial de base, a Cerâmica João Pinheiro, anteriormente denominada Cerâmica Nacional. Fundada por João Pinheiro da Silva e tendo participado ativamente da construção da cidade de Belo Horizonte, com o fornecimento de produtos cerâmicos de grês, em inícios da primeira década republicana; desde 1908 produzia tijolos refratá- rios para emprego em caldeiras e fornalhas; também os altos–fornos que foram construídos após 1918 eram revestidos com refratários daquela cerâmica (TAMBASCO, 1997: p.7–81).72

Israel Pinheiro da Silva não era um desconhecido para Baldomero Barbará. Este era sogro de João Pi- nheiro Filho, irmão de Israel; aquele contraíra matrimônio com Marina Barbará, também no ano de 1928. Considere–se, ainda, que Baldomero conduzia outros negócios em Minas Gerais, onde era concessionário da Loteria do Estado. Sua ação como investidor, estendia–se também ao Estado do Espírito Santo, onde era con- cessionário da Loteria do Estado – tal como em Minas Gerais – além de, mais tarde em 1935, ter fundado uma fábrica de cimento no município capixaba de Cachoeiro do Itapemirim. Era, pois, versátil e eclético, como um verdadeiro Capitão de Indústrias do início do século (VAZ, 1996; p. 29).

Finalmente, Caio Luís Pereira de Souza, filho de Washington Luís, então Presidente da República, a- portava não só parte considerável do capital inicial da nova empresa, como também carreava o necessário e indispensável suporte do prestigio político tão necessário ao empreendimento: seus principais clientes seri- am constituídos pelos diversos governos estaduais; ora, essas diversas administrações públicas comporta- vam–se criando constantes diferimentos dos seus compromissos financeiros face aos seus fornecedores, o que lhes causava frequentes crises de fluxo de caixa. Uma ação política eficaz, nos níveis públicos diretivos era–lhes, portanto, sumamente necessária.

O posicionamento ideológico desses industriais não era diferente daquele descrito por Marisa Saenz Leme: homens pragmáticos, voltados para a economia do setor de exploração, apresentando um nítido en- tendimento da inserção da economia brasileira no contexto internacional, sabendo–a inteiramente depen- dente (LEME, 1978, p. 159–161). Politicamente conservadores, buscavam apenas ganhar maior influência quanto às políticas econômicas, então voltadas fundamentalmente à agroexportação.

Caio, Arens e Baldomero eram homens de espírito conservador. Caio e Arens, próximos ao PRP e, por formação, autoritários e ligados às oligarquias federal e municipal; Baldomero, embora com uma mesma formação, era politicamente mais prudente, não se conhecendo nenhum seu posicionamento sobre a políti- ca partidária, provavelmente pelo fato de ser estrangeiro, de origem espanhola. Contudo, todos os três ti- nham consciência perfeita da necessidade das barreiras alfandegárias, protetoras da sua atividade industrial, como vimos em momento anterior.

Israel Pinheiro da Silva, por outro lado, era um espírito mais propenso às aberturas políticas: era um dissidente, dentro do PRM; por isso mesmo nunca fora além da administração municipal (MARTINS...& MARTINS, 1992; pp.50–51).

71 - Implantada em 1923, a usina de Gerspacher, Purri & Cia. era dotada de um alto-forno capaz de 15 toneladas/ dia de ferrogusa para fundições. Era uma

usina moderna, equipada de meios para a recuperação energética total dos gases produzidos e para a marcha contínua, independentemente das paradas dos seus periféricos, para a devida conservação mecânica e elétrica. A sociedade J. S. Brandão & Cia foi criada em 30 de abril de 1925, com sede em Belo Horizonte e usina em Caeté. A usina foi projetada com dois altos-fornos para 25 toneladas/ dia, mas realizada com apenas um dos altos-fornos projetados, conseqüência do seu pequeno capital de constituição. Em 02 de março de 1931 era transformada em sociedade anônima, com o nome de Companhia Ferro Brasileiro, incorporando todos os bens e direitos da sucedida, mas continuando como atividade guseira. Ver: (TAMBASCO, 1998);

Sua ascensão política se daria a partir de 1930, no seu Estado, por chamamento de Olegário Maciel e, após, a convite do interventor, Benedito Valadares.73 Nacionalista, como a maioria dos egressos da Escola de Minas de Ouro Preto, não era um extremado. Sua concepção da industrialização brasileira, através da indús- tria siderúrgica, era muito ligada ao conceito de equilíbrio da balança comercial: não mantinha ilusões sobre o possível aproveitamento dos carvões do Sul e via a exportação de minérios de ferro e manganês como um meio de trocas com o indispensável carvão europeu:

(...) nossa convicção de que a exportação do minério, facilitando e barate- ando a importação do coque metalúrgico, é a solução possível para o nosso problema siderúrgico (capaz de, por si só, resolver o problema econômico brasileiro) (...)74

E via, também, com muita nitidez, o magno problema da indústria guseira de Minas Gerais, que não tinha parceiros industriais em número suficiente para absorver a sua produção de matérias–primas, dado o fato que nossa indústria pesada havia parado na fronteira das aciarias, sem realiza–las. Por isso, saudava a ini- ciativa da CMM como um fator adicional do progresso industrial mineiro:

(...) Além dessas dificuldades, vem esta indústria[a indústria guseira] lutan- do com outra maior, a da superprodução decorrente da capacidade reduzi- da das indústrias conexas, que trabalham e transformam o seu produto in- termediário em artigos de consumo direto.75 (ESTADO DE MINAS, 2 de se-

tembro de 1930);

As atividades siderúrgicas produzindo o ferro–gusa na região centro de Minas Gerais, carentes de capitais, não poderiam contar com mais que uma atividade transformadora, a do tipo de fundição em areia, acoplada aos altos– fornos. Aquelas, na época de que tratamos, produziam unicamente os fundidos ordiná- rios, próprios do tempo, como gradis, chapas de fogões à lenha, panelas de ferro, bicos de arados, caixas de descarga e seus sifões, rodas Pelton e seus complementos.

Na mais otimista das expectativas, elas poderiam evoluir para uma fabricação de utensílios em ferro fundido esmaltados, tais como panelas, pias e banheiras, que tinham boa aceitação no mercado da época. Contudo, esses produtos não seriam viáveis senão para um mercado regional, posto que o excesso de custo que lhes seria adicionado pelos fretes ferroviários eliminaria a sua competitividade em mercados mais lon- gínquos, como os do Rio de Janeiro e São Paulo.

Do mesmo modo, uma indústria de transformação do gênero metalmecânico que se integrasse às fundições locais produzindo peças e componentes, estaria totalmente descentrada do seu mercado consu- midor, introduzindo nas relações produtor–cliente problemas logísticos insuperáveis, muito embora esses produtos pudessem suportar bem o custo adicional devido aos fretes.

Tubos de ferro fundido centrifugado, produto com alto valor tecnológico agregado, seriam uma al- ternativa muito consistente, porque suportariam os fretes de então. Além disso, bens duráveis– verdadeiros bens de capital – empregados sempre de um mesmo modo e sob idênticos procedimentos, em qualquer

73 - Telegrama recebido através da rede da EFCB, em 03 de outubro de 1930, de nº 1000, originado da Repartição Geral de Telégrafos dirigido ao Presidente

da Câmara Municipal de Caeté e assinado por Olegário Maciel, Alaôr Prata e Levindo Coelho. O telegrama informava sobre a eclosão da Revolução de 30 se dera “às 17h, como planejado”; informava, mais, que em Belo Horizonte, as tropas federais estavam cercadas pela policia e lhes fora dado prazo para a de- posição das armas. In: Arquivo Israel Pinheiro- Museu João Pinheiro,Caeté. O documento mostra que, em outubro de 1930, Israel ainda era o Presidente da Câmara Municipal de Caeté, embora já não mais fosse o seu Agente Executivo.

74 - Discurso durante as solenidades de inauguração da CMM, em Caeté. In: O Jornal, Rio de Janeiro, 1930, 3 de setembro; O (ESTADO DE MINAS, 2 de setem-

bro de , 1930);

parte do país, sua produção não dependeria da proximidade do usuário e do centro produtor. A existência de bons catálogos dos produtos, fornecidos aos escritórios técnicos que estivessem encarregados dos projetos dos clientes, associados a uma eficaz assistência técnica pós–venda prestada pelo fabricante, seriam o bas- tante.

Do ponto de vista fabril, a articulação da empresa com o centro produtor do metal líquido era alta- mente benéfica, tal como já fora demonstrado por Fernando Arens, em 1915, junto à Usina Esperança, em Itabirito. Dessa forma, a implantação de tal atividade na cidade de Caeté seria duplamente benéfica: de uma parte, para os produtores do ferro–gusa que, fornecendo o seu produto a preços preferenciais, embora em nível de mercado, teriam um consumidor cativo para toda a sua produção. Beneficiavam–se, também, das despesas de comercialização e das comissões de venda relativas aos seus fornecimentos, as quais seriam eli- minadas. Além disso, o esquema integrador imaginado faria com que as indústrias locais produzissem com grande regularidade, libertando–as das crises de demanda do ferro–gusa, habitualmente geradas nos mer- cados do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Por outro lado, o consumidor do ferro–gusa, estando junto ao produtor, beneficiar–se–ia dos baixos custos locais dos fretes para o ferro–gusa; para os demais insumos, exceto o coque para os seus fornos cubi- lôts, o custo também não seriam muito expressivo; para o coque, que seria abastecido a partir do porto do Rio de Janeiro,o frete correspondente não oneraria em mais que 3% o seu preço de custo final.

Não obstante, o que haveria de mais significativo para essa empresa era que, estando junto às fontes produtoras do ferro–gusa, poderia obtê–lo a tempo e à hora, sem necessidade de investir na construção de um alto– forno, ou na constituição de importantes estoques. Estaria fazendo uma verdadeira integração hori- zontal, em nível do município, num just–in–time caboclo, verdadeiramente precoce.

Por outro lado, item importante das suas despesas de conservação, a manutenção dos seus equipa- mentos de fusão, empregando tijolos e massas refratários, também seria convenientemente atendida, com excelente nível de qualidade, pela produção local da Cerâmica João Pinheiro.

A nova empresa foi constituída em 30 de dezembro de 1928 com o expressivo capital de 1.000:000$000, e um objeto industrial muito explícito, como descrito na sua ATA DA ASSEMBLÉIA DE CONSTITUIÇÃO: “(...)exploração da indústria de fabricação e comércio de tubos de ferro fundido ou em outros metais, ou qualquer artigo pertencente à indústria metalúrgica(...)”

Sua sede social foi instalada em Belo Horizonte, enquanto a usina o era em Caeté. O nome da nova empresa: Companhia Mineira de Metalurgia. À Assembleia de Constituição compareceram oito tomadores das ações constitutivas do capital social: Israel Pinheiro da Silva, Fernando Arens (por procuração), Caio Luís Pereira de Souza, Virgílio Machado, Cecílio Fagundes, Baldomero Barbará Filho, João Reverbel Barbará e Bal- domero Barbará.76

Os incorporadores da empresa foram Caio Luís Pereira de Souza, Baldomero Barbará e Israel Pinheiro, respectivamente nomeados diretor–presidente, diretor e diretor– gerente. Ao diretor– gerente foi atribuída grande soma de responsabilidades: administração geral das usinas [sic], assinatura das correspondências da empresa, guarda das atas e demais papéis relativos aos arquivos sociais. Isto mostra ter sido, Israel, o adminis- trador pleno, os demais estando ausentes do dia-a-dia industrial. Em realidade, Baldomero Barbará, que era o principal incorporador, assumia tacitamente a função de diretor comercial, posto que era, também, o princi- pal distribuidor dos produtos, através de sua empresa de comercialização, Barbará & Cia. Ltda., como pode- mos observar na propaganda comercial dessa empresa, publicada em revista da época e reproduzida a se- guir, na Fig. 4.3–I (REVISTA NTIC, 1931).

76-In: ATA DA ASSEMBLÉIA DE CONSTITUIÇÃO da Companhia Mineira de Metalurgia.Belo Horizonte,JUCEMG,microfilmagem:rolo 0469, fotos 0606-0608. Nos

ESTATUTOS DA CMM, JUCEMG, microfilmagem: rolo 0469, fotos 0609-0612, constam os nomes eleitos para o Conselho Fiscal e para as suplências da direto- ria e do próprio Conselho, onde encontramos relacionadas personalidades de destaque nos meios públicos mineiros de então, como:Cel. Virgílio Machado, dr.João Pinheiro Filho, dr.Abílio Machado, dr.Leandro Castilho de Moura Costa, Cel. Oscar Paschoal, dr. Paulo Monteiro Machado e Caio Nelson de Sena. O próprio diretor-presidente da novel empresa, Caio Luís Pereira de Souza, era filho do então presidente da República, Washington Luís, o que parece corro- borar a idéia de que a diretoria fora constituída voltada para uma orientação específica, da proteção financeira ao produto a ser fabricado.

FIGURA 4.3-1- Área de fabricação da CMM (1930). Visita de autoridades às instalações.

A usina de centrifugação de tubos foi implantada em área contígua a Cerâmica João Pinheiro, cedida à empresa pela família Pinheiro da Silva. Situando–se muito próxima à estação ferroviária de Caeté, a usina era servida por ramal ferroviário próprio, adentrando o vasto pátio de estocagem e expedição dos produtos acabados.

Ela foi equipada com nove máquinas centrifugadoras, agora fornecidas pelo fabricante suíço Louis von Roll, com sede em Choindez, Suíça, o que evidencia que a antiga oficina Martins & Roll, Construtores, já não mais operava em São Paulo para estes produtos, a tecnologia construtiva tendo sido transferida para a Suíça. Um forno de tratamento térmico, fabricado e montado pela empresa italiana Ilva, completava o setor de centrifugação. Os demais equipamentos de acabamento e testes hidrostáticos eram de fabricação nacio- nal. Dois fornos cubilots garantiam a fusão diária de 5 a 6 toneladas por hora de ferro líquido.

Catálogos de produtos, da época, demonstram que a linha de produção era extensa: tubos de ferro fundido centrifugado de 1½ até 20 polegadas de diâmetro, no comprimento de 2 até 4 m; conexões de liga- ção dos tubos, em toda a extensa gama de tipos e diâmetros então empregados; registros, válvulas, compor- tas e adufas; componentes para tanques fluxíveis, caixas de descarga; grelhas, tampões, hidrantes, bocas–de– lobo e demais acessórios para o saneamento urbano (CATÁLOGOS DE PRODUTOS, 1932).

Na linha industrial, produziam: cilindros para máquina de fabricação de papéis, em diâmetros até 2,5 m e comprimentos até 4 m, moinhos para cerâmicas, tornos e morsas de bancada, conchas e cetilhas para

rodas Pelton, de turbinas hidráulicas, para o acionamento de geradores elétricos. Finalmente, era mantida uma linha de postes, em ferro fundido, para a iluminação pública e para redes de distribuição.77

Uma linha de produtos para a construção civil, da qual constavam armações fundidas para janelas basculantes e adornos para o equipamento de logradouros públicos, além do ordinário da época, como cha- pas para fogões à lenha e panelas, fechava a extensa linha que, curiosamente, não cuidava de implementos agrícolas. Podemos tomar isso como um indicativo da formação industrial do idealizador da empresa, Bal- domero Bárbara, mais distante das necessidades da agricultura, embora estando sediado em um centro agrí- cola, como era Minas Gerais.

A associação entre Baldomero Barbará e Israel Pinheiro possibilitou a concretização do pensamento integrador que este desenvolvia e do qual aquele também participava. Realmente, durante os oito anos em que operou em Caeté, a empresa não apresentara qualquer tendência à verticalização de sua produção; quando veio a fazê–lo, foi após ter sofrido as pressões do Cartel Mineiro do Gusa, organizado e presidido por Euvaldo Lodi, e ter–se decidido a transferir sua empresa para o Estado do Rio de Janeiro.

A CMM foi, dessa forma, uma das primeiras manifestações de integração regional metalúrgica com um pensamento de horizontalização da produção, mas com a total independência dos integrados, de tal forma que, gerando produtos finais com reduções de custos robustecidas, podia enfrentar o efeito perverso dos fretes de então, com custos muito elevados, para qualquer parte do país.78

A inauguração oficial da usina deu–se em dois de setembro de 1930, em solenidade que contou com a presença do Presidente do Estado, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, dos diretores da CMM e do inventor do processo de centrifugação, Fernando Arens, entre outros. A fotografia 4.3– 2 mostra flagrante do evento, tomada no banquete que se seguiu à inauguração e realizado no Solar do Tinoco, residência de Israel Pinhei- ro.

O Presidente do Estado, ao discursar, enfatizou a contribuição da CMM, que vinha completar um es- forço de industrialização urgente, posto que o Brasil “ainda despendia altas somas com a importação de tu- bos”.[sic] Assinalava a urgência das iniciativas privada e pública voltarem–se para a indústria do ferro, dado que as importações de trilhos e outros produtos de aço já absorviam anualmente a cifra de 15.000.000 de li- bras esterlinas.

Informava, reforçando sua assertiva, que as indústrias transformadoras do ferro–gusa eram, naquele momento, em número de quatro, “sendo três laminadoras e uma fábrica de tubos, em São Paulo, à qual vinha juntar–se a CMM”. Reconhecia ser o esforço industrial que iniciavam, uma peça importante das nossas neces- sidades siderúrgicas.

A capacidade inicial da usina era de 50 toneladas por dia, em tubos acabados e, em 1933, essa capa- cidade foi ampliada para 100 toneladas por dia, embora tenha operado ao nível de 60 toneladas, em regime de um turno de 8 horas de trabalho, durante quase todo aquele ano (ESTADO DE MINAS, 1933; 28/ 07). As-