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Os primeiros tempos da nova indústria em Caeté

A COMPANHIA FERRO BRASILEIRO: DE 1937 A

5.1 Os primeiros tempos da nova indústria em Caeté

Tão logo constituído o novo mando acionário, os controladores assumiram de fato os trabalhos da usina de Caeté, onde ficaram provisoriamente localizados, enquanto eram organizadas todas as diretorias. A primeira diretoria dessa nova fase foi eleita com a seguinte constituição: Presidente, Luís Adelmo Lodi (repre- sentando os interesses dos sócios brasileiros); Diretor Geral, Jules Verelst (representando os interesses da ARBED); Diretor–Gerente da Usina, Gaston Alexis Meigné (representando os interesses de PaM); Diretor, Louis Ensch (representando os interesses da CSBM). Na usina de Caeté, ainda representando PaM, situava–se o che- fe de contabilidade, Joseph Marchandeau; a direção administrativa da usina permaneceu nas mãos dos anti- gos acionistas, através de Francisco de Assis da Silva Brandão. Os serviços ligados à administração das propri- edades rurais, bem como aos do abastecimento de carvão e minérios permaneceram nas mãos dos antigos acionistas, através de Francisco de Paula Castro.

Um grupo de franceses e luxemburgueses veio ocupar as posições técnico–administrativas da usina; alguns eram celibatários, outros estavam acompanhados das respectivas famílias: J. Billet, G. Godefroid, Hans S. Blum, G. de Figeac, F. Hausmann, Yves Mathieu, Serge Serbinenko, Wladimir Serbinenko; e alguns anos mais tarde, René Lobisommer e René Martial Canaud, entre outros.95

Era uma população de hábitos sofisticados com relação às disponibilidades locais, o que obrigou a CFB, ao mesmo tempo em que fazia iniciar as obras de implantação de uma nova célula de centrifugação e do seu sistema de segunda fusão, à construção de casas para abrigá–la. Surgiram, desse modo, próximos à vila operária que já fora esboçada desde a fundação da empresa antecessora , os embriões dos bairros que viriam a ser denominados Bairro Americano e Bairro Europeu. Obviamente, o primeiro destinado ao pessoal administrativo de escalão subalterno; o segundo, destinado à classes dirigente, europeus em sua grande maioria. Principalmente neste último bairro, predominou uma arquitetura em tudo lembrando a arquitetura pesada do leste francês, inclusive o seu sistema de lareiras, com os frontões de ferro fundido, moldados com relevos caprichosos e artísticos.

A chegada dessa população levou a administração da empresa a prover certos serviços essenciais à mesma, como o da venda de complementos alimentares refinados e de diversões apropriadas. É obvio que tais serviços não eram estendidos à comunidade, embora as estruturas anteriores de armazéns de abasteci- mento ao operariado, que já se encontravam instaladas, apenas sofreram a devida ampliação nas quantida- des dos seus estoques, bem como na diversificação dos mesmos.96

95 - Após a compra do controle acionário da Companhia Metalúrgica Barbará, em 1951, René Canaud foi desligado da CFB e assumiu o cargo de Diretor-

Gerente da CMB; René Lobisommer assumiu o cargo de Gerente da usina de Indianópolis, da mesma empresa. Mais tarde, nos anos 60, René Lobisommer foi deslocado para a Alemanha, onde assumiu o cargo de Diretor Técnico de Halbergerhutte, A G.

96 - Memorando de 31 de agosto de 1938, da Seção de Armazéns, para G. Maigné. A nota se refere aos consumos de uma festividade havida em 27 de a-

gosto do mesmo ano e compreendia: 4 garrafas de champagne Veuve Clicquot,;29 garrafas de cerveja, para os músicos; 35 charutos. No despacho da nota de despesas, que montara a 347$400, o sr Maigné ordena seja aquela importância debitada na sua conta pessoal. Arquivos do Autor;

Também foi organizado um local onde os administradores graduados faziam suas refeições e cujos custos eram rateados entre os mesmos: era a “popote”, cujos participantes eram: sr. Maigné, sr. e sra. Mar- chandeau, sr. e sra. Billet, sr. Mathieu, sr. Godefroid, sr. Blum e sr Hausmann. Funcionários menos graduados, mesmo sendo de origem francesa, não eram admitidos a essa “popote”, como era o caso do sr. De Figeac, empregado da contabilidade e controlador dessas próprias despesas.

Além desses pequenos controles financeiros, havia um outro, de porte, que repugnava ao chefe da contabilidade, provavelmente pela sua complexidade, mas não pelo seu caráter paternalista: os constantes adiantamentos salariais ao operariado, cujas despesas do dia a dia eram realizadas através do Serviço de Ar- mazém, da própria sociedade. Marchandeau lastimava–se desse “...costume ancestral, contra o qual ainda não conseguimos agir: a Usina é a caixa pagadora de todas as despesas desse pessoal.” 97

Quem conseguia controlar e organizava tal “costume ancestral” era o diretor administrativo da usina, Francisco de Assis da Silva Brandão, responsável por todos os atos das relações humanas locais, da empresa, bem como pelos salários do pessoal brasileiro. Mas, ele era oriundo da antiga administração, irmão que era do fundador da usina, o que explicava a sua convivência fácil com tal sistema.98

O mundo entrara na Segunda Guerra Mundial. A necessidade de entretenimentos e informações pa- ra esta pequena comunidade de língua francesa, fora resolvida através de um Clube de convivência, onde, duas vezes por semana, eram exibidos filmes diversos e os tão esperados noticiários. A cidade de Caeté ainda não contava com tais facilidades de entretenimento, nessa época. A empresa subsidiou a iniciativa até certo momento quando, verificando as potencialidades próprias do Clube, retirou o seu apoio financeiro.99

Não deveria ser de todo fácil, e nem sempre agradável, a vida desses europeus no interior de Minas Gerais daquela época, eles que provinham de cidades onde todas as facilidades e prazeres de viver estavam presentes. Marchandeau, por exemplo, ao escrever para R. Wagner, complementando informes do “Relatório” periódico que lhe era enviado, escreve que se aproveitava da sua “solitude de domingo”, muito embora ali estivesse acompanhado de sua esposa.

Nessa mesma carta, o autor se queixa das dificuldades que estava encontrando para recrutar e for- mar o pessoal capaz de apreender e acompanhar o sistema de controle contábil adotado, que realmente a- presentava certa complexidade. Ademais – escrevia – o volume de relatórios que PaM exigia era muito gran- de; isso nos indica quão severo era o controle de além–mar, sobre a empresa e suas atividades.

Mas, para Marchandeau, suas dificuldades de recrutamento provinham, também, das não menos grandes dificuldades de deslocamentos entre Caeté e Belo Horizonte que, sem um veículo próprio, se tornava em verdadeira expedição(“vrai expédition,” na sua expressão original) que não podia ser realizada, ida e volta, em um só dia. “Os bons empregados são extremamente raros”, dizia Marchandeau. Aqueles que são recruta- dos, ignoram tudo sobre contabilidade, principalmente sobre a “contabilidade complicada que somos obri- gados a manter aqui” (“la comptabilité compliquée que nous sommes dans l’obligation d’avoir ici.”); e com- pletava o seu pensamento, dizendo que “a capacidade de julgamento e a iniciativa são qualidades que não tenho observado com freqüência.” Na seqüência de tais reclamações citava, ainda, uma outra observação que dizia provir de uma avaliação de Yves Mathieu: “um pedreiro, aqui, não produzia mais que ⅓ que seu equiva- lente francês.” A rigor, queria Marchandeau significar que, mutatis mutandi, também era essa a realidade para a sua contabilidade. Mas, ressalvava, aos poucos os empregados melhoram a qualidade do seu trabalho.100

Havia 500 operários na usina, sem contar aqueles empregados no abastecimento do carvão e nas obras em curso. Gaston Maigné, que se encontrava em viagem de serviço, ao retornar, e em carta de seis de

97 - Carta de 3 de julho de 1938, de J. Marchandeau para R. Wagner, administrador de ARBED em Luxemburgo. Arquivo do Autor.

98 - Ver Notas Internas , datadas de 4 dezembro de 1937, e 4 de janeiro de 1938. Arquivos do Autor.

99 - Bilhete de Maigné a Marchandeau, data provável: 1939; nesse bilhete, Maigné escreve “... Il n’est plus necessaire de maintenir indéfinimmente le geste

genereux dont j’ai fait partie au momment où il falait aider le Club et soutenir le cinéma.”. Arq. do Autor.

100 - Carta de 3 de julho de 1938, para R. Wagner, já citada. Não fica claro, entretanto, se a “comptabilité compliquée” a que se refere o autor da carta era de-

julho de 1938, ao próprio René Wagner, justifica o ar de queixas que Marchandeau transmitira na carta ante- rior, concluindo que se encontravam em uma “crise de crescimento.”

A viagem de Maigné, referida acima, estava ligada aos projetos futuros de PaM, no Brasil, posto ter– se tratado de uma longa visita à usina de Barra Mansa, da Companhia Metalúrgica Barbará, bem como à zona carvoeira dessa usina, na região do sertão de Angra dos Reis e Bananal, próximo a Barra Mansa, e nos limites do Estado do Rio de Janeiro com o de São Paulo. Torna–se bem evidente que o interesse de PaM, pela usina da CMB, não havia cessado e o conhecimento pormenorizado da sua organização era obtido através sucessi- vas viagens, realizadas pelo próprio Maigné, por Mathieu e, mais tarde, por outros,como René Canaud e René Lobisommer.101

As dificuldades assinaladas por Marchandeau, com relação aos denominados “costumes ancestrais” continuaram por vários anos e, em 10 de outubro de 1941, registra–se um “abaixo assinado” com cerca de 450 assinaturas e dirigido ao Diretor da Usina. Nesse documento, os operários pediam que suas despesas com a compra de rmedicamentos, realizadas na farmácia do bairro operário, lhes fossem descontadas na folha de pagamento.102 Talvez por se tratar de medida bem ao gosto paternalista da época, o documento originou nota interna que foi enviada pelo diretor geral ao chefe da contabilidade, mostrando suas simpatias com o pleito. Este responde, opondo-se à medida, argumentando que cerca de 70% dos valores salariais já eram retidos, mensalmente, em função dessas práticas; apoiava sua argumentação em pareceres de dois brilhantes advogados da empresa, o dr. Oliveira Paula, de Belo Horizonte e o dr. Trajano de Miranda Valverde, de São Paulo. Estes advertiam para a legislação trabalhista em vigor, em especial para a Lei de 10 de maio de 1940 que, justamente, vinha de interditar práticas que levassem à retenção de mais de 70% do salário operário.

O pleito seria dirimido pelo memorando da própria Diretoria Geral que, lembrando estarem em cur- so os estudos para a mecanização da folha de pagamento, e que os três prestadores de serviços consultados para tanto – Burroughs, Remington e Hollerit – vinham encontrado dificuldades, instransponíveis, para con- ciliar o elevado número de descontos e viabilizar a mecanização completa daquela folha. Não foram aceitas, pois, as possibilidades de novos descontos.103

A empresa foi organizada e prosperava; as novas instalações passavam a produzir experimental- mente a partir do final de 1938. Em 1939, ela fornecia 30 km de tubos de diversos diâmetros para as redes de abastecimento d’água de Belo Horizonte (REVISTA MINEIRA DE ENGENHARIA,1940;p.48–49). Em 1940, a Em- presa contratava com o Governo do Estado de Minas o fornecimento de tubos para as obras de abastecimen- to de água da cidade de Uberaba, no Triângulo Mineiro: tratava–se de 2.100 m de linhas de adução em 14” e 40.000 m de linhas diversas, de distribuição e subadução,de 8”a 20” (FOLHA DE MINAS, 1941, p.14).

O ano de 1943, por exemplo, foi excepcional em resultados para a empresa: em reunião de Diretoria no dia 17 de janeiro de 1944, na cidade do Rio de Janeiro, o sr Adelmo Lodi congratulava–se com toda a Dire- toria, pelos resultados particularmente brilhantes alcançados no exercício anterior. Discutiam o orçamento para o exercício de 1944, consignando as verbas seguintes: Cr$ 7.000.000,00 para a continuação das obras na usina, inclusive para a construção de parte da fundição em areia; Cr$ 3.000.000,00 para a importação de mol- des metálicos para centrifugação; Cr$ 500.000,00 para a aquisição de novas reservas florestais; Cr$ 100.000,00 para donativos e igual importância para fins de propaganda.

Nessa mesma reunião, foi aprovada a compra do 6º andar do Edifício Sul Americano, situado na Ave- nida Nilo Peçanha, nº 26, para sediar os escritórios da Empresa na cidade do Rio de Janeiro, onde ela efetiva- mente permaneceu até o ano de 1991. Detalhe interessante é que o edifício em questão era resultante de

101 - Notas de despesas, manuscritas e assinadas por Gaston Maigné, datadas de 6 de junho de 1938 e 13 de junho de 1940. Arquivo do Autor.

102 - Tratava-se de uma farmácia recém-instalada, de propriedade do sr. José Cançado, farmacêutico e ex-analista químico da empresa. Essa farmácia ainda

permanecia nas mãos de descendentes do primeiro proprietário, até nos anos 70.

103 - Nota (memorando) de 18 de dezembro de 1941, do Diretor Geral para o Diretor de Usina. Arquivo do Autor; A discussão acima é interessante para

chamar a atenção para novos estudos de assuntos relativos às relações empregadores-empregados, no período que estudamos. Em particular, observe-se que os 70% de descontos citados, eram provenientes de compras de gêneros diversos -alimentos, produtos de limpeza, tecidos - no Serviço de Armazém. Não se tratando aqui de um caso de escravidão disfarçada, como o sabemos; torna-se instigante o estudo da evolução do poder de compra dos salários operários nas cidades industriais que se formavam no interior brasileiro.

uma incorporação realizada pela Companhia de Seguros Sul América, também controlada pelos interesses da ARBED, e da qual o sr. Jules Verelst também era administrador. Dessa forma, o referido administrador abste- ve-se de votar naquela decisão.

As decisões seguintes, ainda tomadas naquela reunião, mostram bem como a empresa desenvolvia um caráter paternalista em suas relações com a comunidade caeteense: aprovava–se uma doação de área de terra à Cúria Metropolitana de Belo Horizonte, para a construção de uma igreja no bairro de José Brandão;104 foi aprovado um crédito adicional, de Cr$ 300.000,00, para a construção da igreja em questão, que viria a ser a acolhedora igreja de São Francisco de Assis.

O contraponto dessa realização vem a seguir, no bojo da apreciação de um novo pedido assinado por 32 pessoas praticantes de religião protestante, também operários da CFB e residentes em José Brandão, solicitando as facilidades para a construção de um templo: a decisão foi a de que não se justificaria fazer tão vultosa obra para tão poucas pessoas. Felizmente para esse grupo de protestantes, estava presente um dire- tor que, provavelmente mais liberto de preconceitos religiosos, propõe que fosse posto à disposição daque- les crentes um local já construído, onde eles pudessem celebrar os seus cultos de forma condigna; a Diretoria acatou a proposta do sr. Henri Fillios e autorizou sua realização.

Um outro pedido então apreciado foi o da doação de cerca de 620 m de tubos de 100 mm de diâmetro para a construção de uma rede adutora que abastecesse o Asilo S. Luís, obra meritória, de amparo a menores desva- lidos, situado no sopé da Serra da Piedade e até hoje existente. Também aqui, defendido pelo sr Adelmo Lodi, o pedido foi prontamente atendido.

Finalmente, ainda por proposição do sr. Adelmo Lodi, abordou–se uma importante questão, que era a da criação de um hospital, provavelmente de 50 leitos e pertencendo a CFB, que deveria ser construído e instalado no próprio bairro de José Brandão. O assunto foi encaminhado com a justificativa de que tal obra, pelo fato de a população operária de José Brandão estar crescendo muito aceleradamente, era absolutamen- te necessária. O sr. Gaston Maigné, apoiando o projeto, informava que a Santa Casa da Misericórdia de Caeté “já não satisfazia às necessidades, sendo capaz de atender apenas o Centro de Caeté.” Completava o seu pen- samento dizendo que, não obstante, “é preciso pensar no custeio de uma tal obra,” J. Verelst tomava a pala- vra, dizendo não ser possível realizar uma tal obra agora, mas que seria necessário estuda–la em vários exer- cícios, bem como estudar a sua exploração.

Essa assembléia foi assim encerrada, mas a idéia da construção do hospital ligado à empresa, era uma dessas idéias–força que evoluem, não obstante as reticências de alguns. Realmente, em 15 de junho se- guinte, o sr. Maigné enviava carta a J. Verelst, capeando um estudo completo para a criação do referido hos- pital, inclusive o seu competente anteprojeto, declarando ter sido ele realizado sob a orientação do dr. Adel- mo Lodi. Declarava o sr Maigné que a obra fora orçada em Cr$ 420.000,00, e os gastos com móveis, rouparia e equipamentos seriam orçados para o exercício de 1945. No período de 21 de junho a 21 de julho daquele a- no,os demais diretores manifestaram a sua concordância com a obra, através de cartas enviadas a J. Verelst, delicada forma de pressão, tipicamente mineira, tão cedo aprendida pelos europeus.

A chave para o entendimento do porquê dessa obra estava na justificativa do sr. Maigné, anterior- mente citada, de que não havia capacidade na Santa Casa local, para atender senão à população residente no centro da cidade de Caeté. Sem margem a dúvidas, queria ele significar que a população europeia ligada a CFB, não se sentia à vontade e segura, em sendo atendida naquele nosocômio.

O que realmente acontecia, então, era a interação conflituosa da nova comunidade industrial com a tradicional comunidade caeteense. A liderança política local ainda era exercida pelo “Coronel” José de Mello Júnior, o mesmo que se atritara com a gerência de Barbará SA, em 1936.

A Santa Casa da Cidade de Caeté, fundada em 1905, teve como provedor, de 1937 até 1956, o sr José Nunes de Mello Júnior. A direção da Santa Casa era, efetivamente, um trunfo político para o “Coronel” José de

104 - Esta viria a ser a Igreja de São Francisco de Assis. O bairro operário da CFB, que se situava no Distrito da Penha, incluindo a região histórica dos Mundéus,

Mello, que podia reafirmar sua supremacia através da administração e destinação dos leitos do nosocômio. Com o seu desenvolvimento, a CFB tendo necessidade de garantir uma assistência médica de qualidade aos seus empregados, enviou o seu diretor administrativo, Francisco de Assis da Silva Brandão, para tratar de um acordo nesse sentido, com o provedor. Naturalmente, comprometendo-se a injetar recursos importantes na- quele nosocômio, a empresa desejaria a contrapartida de administrar tais recursos, ou seja, substituir-se a pessoa de José de Mello. A reação desse prócer político – em parte previsível – foi violenta: expulsão do seu gabinete, sob intensa agressão verbal, do representante da CFB.105

O episódio ter-se-ia esgotado em si, não fosse outra atitude, verdadeiramente impulsiva e atrabiliá- ria, do então provedor: proíbe os médicos da Santa Casa de acolher os empregados da CFB, que demandas- sem internação.106 Tal medida, embora absurda, levou os médicos daquela Instituição a prodígios de imagi- nação para, em não recusando assistência devida às pessoas, também não transgredirem as determinações do poderoso chefe do mandonismo local.

Diante desses fatos, passamos a entender a afirmação do sr. Gaston Maigné quanto à pequena capa- cidade da Santa Casa de Caeté, bem como a aprovação das medidas construtivas para aquele que seria o fu- turo Hospital Adelmo Lodi, da forma tão incomum como foi conduzida (SILVA,1973; pp.42–54).

Em realidade, a empresa crescia e seus dirigentes praticavam, por várias razões bem sabidas, mas que não nos cabe examinar no presente texto, um crescente paternalismo. A sistemática desse modo de rea- lizar a ação social, que era indispensável, evoluía no sentido de a administração empresarial substituir–se à ação pública da autoridade municipal. Afinal, não era esse o exemplo da ação social que já vinha sendo apli- cada, com inteiro sucesso, na vizinha cidade de Sabará, bem como naquela nova, João Monlevade, pela asso- ciada da CFB, a Belgo Mineira?

Já era extensa a ação da CFB no campo público: a sua vila operária, contando com cerca de 500 habi- tantes antes de 1937, no ano de 1939 já contava com cerca de 1.000 habitantes e; em 1942, 3.000 habitantes em uma vila já contando com cerca de 600 casas, ruas calçadas e com instalações de água e esgoto, um hotel e um cinema e, mesmo, um centro esportivo dotado de um campo de futebol, de porte oficial, tudo constru- ído pela empresa ao longo do tempo.. É importante ser destacado que, nesse momento, o ensino primário em José Brandão já havia sido assumido pela CFB, contando então com uma escola com capacidade para 300 alunos. Quanto ao nível secundário do ensino, estava em curso a montagem de uma escola de ensino profis- sional, formando artífices em mecânica, eletricidade e metalurgia, e que deveria ter início muito em breve.107

Praticamente, a cidade de Caeté não contava com iluminação pública. Salvo a pequena usina gera-