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A COMPANHIA FERRO BRASILEIRO: DE 1937 A

5.3 O período PAM – ITAÚ

Em 1973, Schneider e ARBED retiraram–se da sociedade com PaM, na Companhia Ferro Brasileiro. Passou a participar dessa sociedade o grupo Investimentos Itaú S. A.– grupo financeiro–industrial de capital nacional, originário do Estado de São Paulo e com sede na capital daquele estado.

Tratava–se de um movimento de capitais estimulado pelas oportunidades de investimentos gerados no período do milagre brasileiro porque, enquanto Schneider buscava concentrar seus recursos na criação da Mecânica Pesada S. A. e ARBED ampliava suas linhas de produção de fio–máquina na usina de Monlevade, o grupo Itaú visualizava as oportunidades que adviriam dos investimentos crescentes na área social do sane- amento básico, programados pelo estado nacional.

Ao receber os novos acionistas, a direção geral da CFB fez produzir um documento com o título de Informações Gerais – Companhia Ferro Brasileiro – 1973, no qual encontramos, além de um breve histórico sobre as atividades da Empresa, um resumo sobre os investimentos industriais realizados desde 1962; sobre os investimentos fiscais em reflorestamentos; informes sobre as propriedades florestais; demonstrativos de produções, vendas e faturamento; demonstrativos de carteira de encomendas e de contas a receber. Finaliza- va a exposição, um demonstrativo financeiro de resultados, bem como resultados por produtos. Era, pois, um documento destinado a um conhecimento mais profundo da empresa e de sua realidade industrial.

O cuidado com a preparação desse documento bem demonstrava a importância atribuída aos no- vos acionistas, grupo financeiro e industrial considerado como sendo de estrutura administrativa lépida, moderna e eficiente.

Naquele momento, também a Companhia Ferro Brasileiro era dotada de uma estrutura administra- tiva muito leve – sem dúvidas, excessivamente leve – na qual as funções de staff misturavam–se com as fun- ções de administração; e estas, em alguns momentos e setores, com as funções operacionais. Mas não era es- sa atitude organizativa uma resultante de quaisquer improvisações; ao contrário, era bastante pensada. Ela se impunha, tendo em vista as próprias incertezas e inconstâncias do mercado em que operava, que assumia a feição de verdadeiro monopsônio, em que o Estado era, praticamente, o único comprador efetivo. Por outro lado, os órgãos financiadores dos programas de saneamento – invariavelmente as instituições financeiras es- tatais – nem sempre primavam pela pontualidade dos pagamentos a que estavam obrigados, do que resul- tava um fluxo de caixa nem sempre regular, às vezes até caótico, para a empresa credora. Isso a levava a manter parte expressiva dos seus ativos financeiros imobilizados em ouro, ou em Obrigações do Governo Federal e outros títulos diversos, de reconhecida conversibilidade, permitindo–lhe socorrer–se em tais ocasi- ões. Era óbvio, portanto, manter “enxutas” todas as suas estruturas de mais difícil redução nos momentos crí- ticos, que não eram pouco frequentes.

A participação do novo sócio trazia tendência à introdução de modificações no pensamento indus- trial e nos procedimentos tradicionais da empresa: a realização, iniciada em 1973, de um estudo em profun- didade sobre a operacionalidade da CFB, realizado pela Itaú S. A –Planejamento e Engenharia, para cuja con- tratação formal não encontramos referências nos arquivos que nos foi possível consultar, é indicativa daque- la assertiva, além de que havia restrições ao mesmo no corpo diretivo anterior.

Com o levantamento de dados para esse estudo – que revolvia as próprias entranhas dessa Usina e sede social,em Caeté –logo foram gerados atritos de difícil transposição entre a equipe dos consultores e a tecnoestrutura daCFB. Tais atritos eram provocados pela pouca sensibilidade histórica dos consultores, cho- cando–se com as sensibilidades presentes onde se mesclavam as atividades administrativas e de staff, então afloradas como brios profissionais feridos, conduzindo a impasses sucessivos; estes, no fundo, previsíveis: de um lado, o pensamento industrialista imperando na CFB, centrado em suas atividades exclusivas de fundido- res–centrifugadores tradicionais, com herança bem sedimentada dos 35 anos das presenças paternalistas de Pont–à–Mousson, ARBED e Schneider; do outro lado, o modo paulista de conduzir a atividade industrial: pragmático, atual, buscando identificar responsabilidades individuais, de forte viés liberal. A solução dos im-

passes não se fez tardar: seria indispensável a presença, dentro do staff da CFB, de um diretor da confiança e afinado com o modo de ser do grupo Itaú. Esse nome seria indicado na pessoa do engenheiro Roberto Paes Leme Henry, o qual foi eleito diretor industrial, que seria sediado na usina de Caeté.132

Durante a administração de Roberto Paes Leme foi concluído o levantamento dos dados necessários ao estudo empreendido e, em seguida, foram editadas as conclusões iniciais e, logo que revistas, o Relatório Preliminar. Em março de 1975, foram editados em sua forma definitiva os demais estudos, onde se destaca- vam os Estudos de Mercado e os Estudos Econômico–Financeiros.

É fundamental assinalar que, em 1973, ao que parece em momento imediatamente anterior ao início da participação do grupo Itaú na sociedade, a CFB contratava extenso estudo de mercado e projeções para o seu desenvolvimento futuro, tendo em vista o planejamento de realizações do saneamento básico acenado através as metas do PLANASA. Os estudos foram contratados com a Compagnie de Pont–à–Mousson (nova razão social de PaM), através da sua controlada alemã, Halbergerhutte, GMBH (HH), centrifugadora situada na cidade de Brebach, na bacia do Sarre.

No correr do mês de janeiro de 1974, missão técnica de HH visitava a usina de Caeté com o objetivo de colher novos dados para os diagnósticos e projetos que, com notável presteza, foram entregues durante o mês de maio de 1974, demonstrando que o mercado brasileiro e sua futura evolução já eram bem conheci- dos dos serviços técnicos da HH.

No Relatório Preliminar da Itauplan, foi considerado que a CFB possuía uma administração excessi- vamente centralizada na cidade do Rio de Janeiro, tendo em vista a descentralização geográfica do seu cen- tro de produção, situado a 500 km do centro decisório. Mas, o que era criticado acerbamente, era a acumu- lação de funções gerenciais nas mãos de pessoa ligada ao staff. Considerava a Itauplan, que o porte da em- presa exigia maior diversificação de funções diretivas, administrativas e operacionais, preconizando níveis mais amplos de delegação de autoridade e de responsabilidades.

Inicialmente tendentes a considerar a empresa apta às expansões diferenciadas, em breve se torna- riam indecisos quanto às estratégias industriais a serem assumidas, porque identificaram traços de asseme- lhamento da CFB com uma verdadeira empreiteira de obras públicas, em razão das suas atividades e postu- ras quanto às contratações de fornecimentos, que fazia, e das cobranças respectivas. Perceberam, então, que o mercado da CFB era, praticamente, restrito ao fornecimento às empresas de economia mista e ao próprio estado nacional; verificaram, também, que a linha de produtos demandados pela iniciativa privada era pou- co significativa no seu universo industrial. Essa presença era detectada no mercado consumidor de tubos para o esgotamento de águas servidas e para as águas pluviais ( tubos esses ditos tipo “Esgoto”), além de pre- sente no mercado de fundidos em areia, em particular para peças demandadas pelas indústrias naval, ferro- viária, automotiva e de maquinários leves e pesados.

No mercado total da empresa, identificavam uma potencialidade de cerca de 50% da demanda na- cional de tubos para o saneamento básico. Quanto à participação da iniciativa privada no mercado total da empresa, identificam uma demanda histórica equivalente a ¼ da sua produção, em toneladas, mas em pro- cesso de queda acentuada ao longo dos tempos. Fato lamentável, não identificavam o fator da progressiva redução dessa participação, principalmente a do próprio tubo de ferro fundido tipo “Esgoto”, nesse mercado, o que era devido à concorrência do tubo de PVC, tendo em vista o seu menor peso e a maior maneabilidade consequente na construção das grandes edificações.

No mercado de fundidos, assinalavam as oportunidades que, fatalmente, decorreriam com a im- plantação de novas indústrias no Brasil e em Minas Gerais, como por exemplo, a General Motors, a Fiat, Terex e outras, estimuladas pelo I PND.133

132 - Notas manuscritas de Roberto Paes Leme Henry, datadas de 24.05.1974, 31.05.1974 e 04.06.1974. Ele revela nessas notas a sucessão de encontros que

tem com Jean Ricommard, Carlos Charnaux e René Canaud; este último sendo diretor geral da CMB qualifica, portanto, o comando estratégico comum,das duas empresas.

Ver também: ATA da AGE da CFB, realizada em 23 de agosto de 1974; registro na JUCEMG, sob nº 333.630/74; ATA da REUNIÃO do Conselho de Adminis- tração da CFB, em 18 de setembro de 1974 ( Cópia no arquivo do A.);

Quanto ao mercado de tubos para o saneamento básico, o estudo foi excessivamente otimista, pro- jetando demandas com valores superiores, em 40%, ao que projetaria o mais otimista dos operadores desse mercado. Com efeito, baseando–se em levantamentos junto a escritórios de projetos que desenvolviam es- tudos para as Companhias Estaduais de Saneamento, consideraram os próprios desideratos dessas últimas, concluindo por uma demanda, entre os anos de 1974 e 1980, de 93.061 km de tubulações; estas se dividiriam em duas destinações bem precisas: 14.195 km destinados à aplicação em adutoras e 78.866 km às redes de distribuição. Eram esses os valores “mais prováveis” da projeção, os valores “pessimistas” representando 0,785 do primeiro e o considerado “otimista”, 1,058.

Um tal programa seria desenvolvido em 6 anos, de forma que, se em 1980 o PLANASA alcançasse a meta de abastecer 80% da população urbana do país, a demanda provável do mercado seria, em média, 15.510 km/ano de tubulações; dessa demanda, o ferro fundido participaria com cerca de 44%, ou seja, 6.525 km/ano. Ora, a projeção do peso médio que os fornecimentos do ferro fundido garantiria, situava–se em 42,0 kg/m, resultando uma participação de 245.667 toneladas de tubos por ano, durante o período de 6 anos.

A cifra de 245.667 toneladas/ano indicava uma real impossibilidade do atendimento das metas do programa PLANASA, pela indústria nacional do ferro centrifugado. De fato, em inícios de 1974, aquela cifra representava cerca de 1,5 vezes a capacidade fabril instalada, que era de 160.000 toneladas. Por outro lado, os estudos econômicos, baseados nas realidades monetárias de então, mostravam que, malgrado o endivi- damento da CFB ser praticamente zero, não se poderia expandir o seu ativo fixo senão com importantes a- portes de capitais por parte dos acionistas, ou com empréstimos de terceiros. É certo – considerava, ainda, o estudo – uma parte considerável das necessidades totais de aumento da produção poderia ser obtida sem investimento de monta, mas apenas baseada na reorganização operacional das facilidades fabris disponí- veis, o que poderia viabilizar, parcialmente, aquela demanda.134

Por outro lado,o relatório preliminar produzido por HH foi conhecido em maio de 1974 e previa uma evolução da demanda pelo mercado, como mostra o quadro 5.3–I: 135

Quadro 5.3–I – Previsão de demanda do mercado “PLANASA”

Ano 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 Toneladas 154.110 122.230 165.000 177.000 190.000 202.500 214.600

Fonte: Halbergerhutte, Relatório Técnico: janeiro, 1974.

A distribuição da demanda apresentada totalizava 1.225.740 toneladas em 7 anos, o que representa- ria uma demanda média anual de 175.105 toneladas ou, adotando o mesmo peso médio, 42,0 kg/m , 4.169 km, valor cerca de 38% inferior à projeção realizada por Itauplan.

Uma tal diferença mostrava que os critérios projetivos adotados eram fundamentalmente diversos nos dois levantamentos e, provavelmente, Itauplan adotara índices diretores mais elevados, além de se ter orientado pelo volume dos projetos que estavam em marcha, ou seja, pelo desiderato político das Estatais do saneamento. Não estavam advertidos de que, historicamente, o trabalho das empresas do saneamento básico, sempre fora caracterizado pelo estoque de projetos prontos, que permaneciam aguardando as opor- tunidades de financiamentos para a sua implantação.

133 - In: ESTUDO de MERCADO. São Paulo: Itauplan, 1975; março, p.139; Cópia no arquivo do A. Observe-se que o mesmo fenômeno ocorria na Europa, onde

o mercado de tubos para esgoto e águas pluviais nas construções prediais valia-se de uma legislação severa e indutora, que observava a rápida deterioração dos tubos em PVC, bem como a exalação de vapores tóxicos destes, quando dos sinistros, o que não ocorria com o ferro fundido. Essa legislação aceitava como causa de auxílio à rápida propagação do fogo, o colapso das tubulações de PVC ao conduzirem os gases quentes de um andar a outro. Referimo-nos, aqui, ao primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento ( I PND) elaborado pelo governo Médici para o período 1972-74.

134 - RELATÓRIO Econômico-Financeiro. Caeté: Itauplan, 1975; março;

O critério de Halbergerhutte, ao contrário, foi o das consultas reiteradas às diretorias de desenvolvi- mento das instituições estaduais e municipais de saneamento, com o recorte das informações colhidas nas diretorias financeiras dessas mesmas entidades, resultando daí uma perspectiva mais equilibrada e consen- tânea com as possibilidades financeiras disponíveis, no curto prazo, para as empresas de saneamento, bem como das reais possibilidades da indústria nacional fabricadora de tubos.

De fato, quando lançamos um olhar retrospectivo sobre as realizações do PLANASA, verificamos que diversos percalços ocorreram no período de 1974 a 1980, entre os quais o de disponibilidades financeiras e os relativos a atrasos nos prazos de fornecimentos de tubos e respectivas conexões; porém, não foram so- mente esses os problemas que ocorreram; de fato, a meta de abastecimento a 80% da população urbana somente foi alcançada em 1984.

Em dezembro de 1984, o comprimento das redes instaladas no país era de 142.150 km, enquanto que, em dezembro de 1973, esse comprimento instalado era de 76.426 km. Vale dizer, num período de 11 anos, houve um crescimento de 64.276 km nas redes instaladas. Essa realização esteve bem mais próxima das projeções de HH, que das realizadas por Itauplan, resultados que projetam algumas certezas sobre as dife- renças de técnicas adotadas, bem como sobre outros possíveis motivos dos atritos intergrupais, anterior- mente registrados.

A previsão de HH teve por base as situações comerciais esperadas pelos órgãos responsáveis pelos trabalhos de implantação das redes. É fato que essas previsões foram efetuadas em unidades de peso (tone- ladas) e não em unidades métricas ( quilômetros) para o ferro fundido; isso traduz a marca da sua origem: ór- gãos comerciais, onde são convertidas as unidades lineares, próprias dos projetos, para as unidades de peso nas quais são habitualmente negociados os fornecimentos, seus custos FOB, seus custos de transporte, os descontos eventuais e comissões dos agentes comerciais dos fabricantes. Os fabricantes, inclusive, preferem a expressão em peso para os seus produtos, porque suas atividades fabris são pensadas, programadas, medi- das e controladas pela sua expressão ponderal de metal a ser transformado. A expressão em metros lineares é própria dos projetistas porque, no desenvolvimento dos seus projetos de redes de água, é fundamental o conhecimento dos seus comprimentos, real e virtual, determinantes das perdas de carga que essas redes so- frerão e, consequentemente, das potências elétricas necessárias para manter os fluxos de água demandados. As previsões de HH para o mercado de tubulações, considerando todos os materiais e em todas as faixas de diâmetros, expressas em percentagens do mercado total, são reproduzidas no quadro 5.3– II.

Essa projeção de mercado, de aparência conspícua e dinâmica, respondeu a uma necessidade ime- diata, de avaliação no curto prazo da sua evolução. Para o médio prazo, contudo, introduzia um falso aspecto de estabilidade continuada das faixas de diâmetros demandadas, ano após ano, como se os projetos hidráu- licos permanecessem sempre iguais em termos da relação entre redes de adução e de distribuição. Os per- centuais totais, por faixas de diâmetros, apresentavam–se, também, muito estáveis e com uma amplitude de variação de mais ou menos 5,0%, traduzindo, estatisticamente, uma ilusória estabilidade. Contudo, se obser- vássemos dentro de cada faixa, principalmente nas faixas de DN 50 –150 e de DN 200 a 400, perceberíamos a queda continuada da participação do cimento–amianto, bem como a subida da participação do PVC.

Da mesma maneira, apercebemo–nos da queda da participação do ferro fundido na primeira faixa, o que ocorria, também, por uma competente conquista de mercados pelos fabricantes do PVC.

Quadro 5.3–II - Evolução do mercado total de tubos para o saneamento básico, DN 50 – 600 , em % em peso DN Material 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 50 a 150 CA 10,3 11,1 6,8 6,2 6,0 5,7 5,1 4,5 FF 18,1 14,2 16,1 15,2 14,6 13,8 13,0 12,2 PVC 20,3 27,0 24,1 25,6 26,4 27,5 28,9 30,3 Total da faixa 48,7 52,3 47,0 47,0 47,0 47,0 47,0 47,0 200 a 400 CA 9,4 10,1 9,6 9,2 8,5 8,4 7,9 7,3 FF 25,8 21,6 26,7 26,4 26,5 26,2 25,7 25,2 PVC 0,8 1,2 0,7 1,4 2,0 2,4 3,4 4,6 PA 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 Total da Faixa 36,4 33,3 37,4 37,4 37,4 37,4 37,4 37,4 450 a 600 CA 0,4 0,4 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 FF 10,7 9,5 10,9 10,9 11,0 11,1 11,4 11,6 Aço 3,0 3,7 3,4 3,4 3,3 3,2 3,0 2,9 PA 0,8 0,8 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 Total da faixa 14,9 14,4 15,6 15,6 15,6 15,6 15,6 15,6

Fonte: Relatório HH, janeiro de 1974, p.54;

Legendas: CA= cimento–amianto; FF= ferro fundido centrifugado; PVC= plástico (cloreto de polivinila);

PA= poly–arm (fibra de vido + resina epoxílica)

Por outro lado, essa projeção de HH não levava em conta a iminente conquista, pelo ferro fundido, de parte expressiva do mercado dos diâmetros superiores a 600 mm, até então pertencendo ao aço e ao ci- mento armado. Posto que, tanto a CFB como a CMB estavam em fase de lançamento dos seus tubos em ferro nodular, com diâmetros nominais até 900 mm na CFB e até 1200 mm na CMB, podemos entender este fato como uma medida de estratégia comercial, já que o lançamento oficial dessas gamas não se daria antes da realização do Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária, promovido pela ABES e programado para ser ins- talado na cidade de Salvador, em 1975.136

Contudo, é incompreensível que não tenha sido detectado a progressiva conquista, pelo PVC, do mercado que era dominado pelo ferro centrifugado, na faixa de 200 a 400 mm, principalmente para os tubos de diâmetros 200 e 250 mm, fato que se acentuaria após 1985.

As projeções de ITAUPLAN tiveram o grande mérito de individualizar os dois subgrupos do mercado, relativos aos tubos para as redes de adução e para as redes de distribuição. 137 O trabalho da Itauplan mos- trou que, no mercado total de tubulações, 18% (em unidades de comprimento) destinavam–se à adução e 82% às redes de distribuição. Além disso, entre as faixas de diâmetros disponíveis, para a adução, já apresen- tava a participação esperada para os diâmetros superiores a 600 mm. Os quadros 5.3–III e 5.3–IV mostram as distribuições levantadas.

136 - Notemos que o primeiro tubo em ferro nodular, no diâmetro de 900 mm, foi fabricado industrialmente na CFB em 13 de dezembro de 1973. Em 1974 a

usina já produzia cerca de 75% de sua produção de tubos em ferro nodular mas, para os grandes diâmetros, havia ainda que se conquistar o mercado.

137 - Para os projetistas, a divisão supra é fundamental e nítida: redes de adução são aquelas que conduzem a água bruta do seu ponto de captação até às

estações de tratamento d’água (ETA); nestas, a água sofre os tratamentos de remoção dos sólidos em suspensão, bem como os tratamentos de desinfecção , tornando-a uma água com características de potabilidade; são, portanto tubulações capazes de grandes vazões. Redes de distribuição são aquelas que, partindo das ETA, conduzem as águas potáveis para a distribuição domiciliar. Nas cidades de grande porte, com o abastecimento público realizado atra- vés de reservatórios intermediários, existe uma classe de tubulações de diâmetros médios e grandes, a que denominamos de subadutoras, porque partici- pam da distribuição com a adução de vazões também importantes; são, contudo, intrinsecamente, redes de distribuição.

Quadro 5.3–III - Setor de Adução: Distribuição por faixa de diâmetro e por material – em %, km

Faixa DN PVC CA FF AÇO TOTAL até 25 8,4 5,3 10,2 – 23,9 300 a 600 – 1,2 23,3 1,6 26,1 > 600 – – 12,0 38,0 50,0 TOTAL 8,4 6,5 45,5 39,6 100,0

Fonte: Cia. Ferro Brasileiro. Estudo de Mercado– Itauplan, março,1975, p. 004.

Rearranjo da apresentação, pelo Autor.

Quadro 5.3–IV - Setor de Distribuição: por faixa de diâmetros e por material em %, km

Faixa DN PVC CA FF AÇO TOTAL 5 0 a 1 0 0 4 5 , 1 2 , 1 2 4 , 4 – 7 1 ,6 1 5 0 a 2 5 0 1 0 , 4 5 , 7 7 , 5 – 2 3 , 6 3 0 0 a 6 0 0 – 0 , 3 4 , 5 – 4 , 8 TOTA L 5 5 , 5 8 , 1 3 6 , 4 – 1 0 0 , 0

Fonte: Cia. Ferro Brasileiro–Estudo de Mercado: Itauplan, março,1974, p. 004.

Rearranjo de apresentação do Autor.

Verificava-se, imediatamente que, para as faixas de diâmetros de 250 mm até 600 mm, o ferro fun- dido dominava o mercado: não havia outro produto – mesmo o aço – que oferecesse as garantias de durabi- lidade e preços como as oferecidas pelo ferro fundido centrifugado. Na faixa superior a 600 mm, o aço domi- nava e o ferro fundido tinha presença modesta, resultante de importações, mas que por isso mesmo, não competia com o aço. Agora, com as ampliações de suas linhas de fabricação, a CFB já poderia competir com o aço, até o diâmetro nominal de 900 mm.