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O desenvolvimento das redes e o mercado de tubos centrifugados

O SANEAMENTO URBANO NO BRASIL

2.3 O desenvolvimento das redes e o mercado de tubos centrifugados

Não encontramos em nenhuma publicação técnica ou em levantamentos estatísticos, dados que nos permitam avaliar as performances produtivas das indústrias de tubulações para o saneamento básico. São peculiaridades de um setor das indústrias metalúrgicas que, sendo geralmente pouco expressivo quanto aos volumes produzidos, expressos em peso, não despertam tanto a atenção dos estudiosos dos mercados. Para nós, será de primordial importância conhecer a evolução da capacidade produtiva da indústria nacional fa- bricadora de tubos de ferro fundido, por motivos óbvios. Portanto, as séries estatísticas do crescimento das redes de distribuição de água serão um meio para essa avaliação, a partir da qual será aplicada uma análise crítica, considerando as características técnicas que definiam o produto em cada época da sua própria evo- lução.

45 - Exemplos desse tipo de empresas independentes surgiram em várias cidades interioranas, como por exemplo, em Caeté, no Estado de Minas. Contudo,

QUADRO 2.3– 1 - Extensão das redes: índices comparativos Ano Extensão das Ligações à rede, Índice 1† Índice 2

redes, em km em 1000 unidades 1937 6.986 464,417 0,695 15,042 1940 11.281 671,809 0,876 16,791 1945 13.147 1.038,086 0,986 12.664 1950 16.460 1.316,433 0,876 12,503 1956 22.030 1.945,905 0,971 11.321 1960 29.040 2.511,525 0,907 11,562 1965 48.294 3.457,073 1,014 13,969 1970 59.030 4.987,585 1,132 11,835 1975 75.952* 5.243,871* 1,178 14,483 1980 97.726 8.232,037 1,214 11,871 1985 149.590 11.678,392 1,566 12,809 1990 184.660* 14.693,202* 1,706 12,567 1995 227.953 18.502,767 1,894 12,319 1996 236.111 19.287,554 1,918 12,241

* Indica valores interpolados, pelo Autor - † Índice “m. tubo/ habitante urbano” - ‡ Índice “m. de tubo / ligação à rede”

Fontes: Saneamento Básico: Estatísticas Médico-Sanitárias. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde, 1937;

– (CATÁLOGO BRASILEIRO, 1976–1996; vols. I a XVII)I;

– (ANUÁRIO ESTATÍSTICO nº IV, 1938; vol.41, 1979; vol.58, 1998);

No quadro 2.3–1, apresentamos a evolução do comprimento das redes construídas no País, ao longo dos anos, expressa em quilômetros de tubulações; o quadro é construído a partir de registros iniciados em 1937, recuperados das fontes indicadas. Acrescentamos, também, os valores correspondentes aos números de ligações prediais realizadas sobre essas redes, as quais nos permitirão a construção de números–índice de importância para futuras análises.

A partir desse quadro, faremos uma série de suposições no sentido de obtermos uma visão da po- tencialidade do mercado de tubulações, ao longo de uma evolução já apreciada em título anterior. Conside- raremos que todas as redes de distribuição implantadas até o ano de 1900 não subsistiram, seja porque reali- zadas com materiais de baixa durabilidade, na época ainda experimentais, seja porque tivessem que ser re- movidas devido às expansões subsequentes, nas grandes reformas urbanas do fim do século XIX. Não obs- tante, consideramos que cerca de 2.390 km de redes de adução, acrescidos de alguns trechos de distribuição anteriormente realizados em ferro fundido, subsistiram.

O critério para a avaliação desse quantum foi o de que, entre 1900 e 1937, a expansão da rede se deu a uma taxa igual a 2,94% ao ano, ligeiramente superior àquela do crescimento da população, de 2,2% ao ano. Trata–se de um critério arbitrário, que se apoia no fato de que todo sanitarista procura, sempre, ao me- nos satisfazê–lo em suas realizações. Contudo, esse número constituindo–se em uma base de partida para nossa análise, não introduzirá erro essencial na mesma.

Do ponto de vista dos tipos e origens dos tubos empregados registre–se que, entre 1900 e 1915, as redes eram construídas em tubos de ferro fundido, os quais já se haviam imposto pela durabilidade que a- presentavam; eram fabricados integralmente pelos processos de fundição estática, com moldagem em areia. Eram importados, embora já houvesse no País a necessária tecnologia para sua produção.46 Lembremo–nos,

46-Foram fundidos na Usina Wigg, em Miguel Burnier-MG, na primeira década do século XX, sete quilômetros de tubos com 10 cm de diâmetro e 2,5 m de

também, que durante o ano de 1915, por razões da eclosão da Primeira Grande Guerra, já não houve impor- tação de tubos, o mercado ficando inteiramente reprimido até 1916, quando a indústria brasileira de tubos centrifugados passou a oferecer seus produtos ao mercado.

No período compreendido entre 1916 e 1930, essa indústria, a Companhia Brasileira de Metalurgia, em São Paulo, empregando a nova tecnologia da fundição por centrifugação, passava a suprir, parcialmente, a demanda. Em 1918, a indústria nacional já se encontrava em estado de abastecer a demanda (reprimida!) de então. Em 1929 surgia no mercado brasileiro um segundo produtor nacional, implantando–se na cidade de Caeté, em Minas Gerais: era a Companhia Mineira de Metalurgia que, em 1930 transformava–se na razão social Barbaraá S.A. Até o ano de 1936, por força de legislação protecionista, o mercado brasileiro foi inteira- mente suprido por essas duas empresas.

O ano de 1937 traz–nos o sucesso da primeira tomada de posição do capital internacional, com rela- ção à industria de fundição de tubos centrifugados. Foi, ainda , na mesma cidade interiorana de Caeté que as empresas Hauts–Fourneaux et Fonderies de Pont–a–Mousson (PaM), associada à Acieries Réunies de Burba- ch– Esch, Dudelange(ARBED), adquiriram o controle acionário da Companhia Ferro Brasileiro, transforman- do–a em fábrica de tubos centrifugados. Dessa forma, de 1937 até 1946, o mercado de tubos de ferro fundi- do, no Brasil, seria inteiramente suprido pelas duas empresas, a primeira, de capital nacional, a Barbará S.A. (que absorveria a Companhia Brasileira de Metalurgia, desde 1936), e a segunda, controlada pelo capital in- ternacional, a Companhia Ferro Brasileiro.

No período compreendido entre o fim da Primeira Guerra Mundial e o ano de 1960, o tubo de ferro fundido dominou o mercado, mesmo quando um seu concorrente, o tubo de aço, tentou participar desse mercado, através ofertas de preços muito vantajosas. A luta comercial foi disputadíssima, mas o mercado continuou nas mãos do ferro fundido, por decisão técnica dos próprios usuários, que a deixou consignada em parecer oficial, publicado no Diário Oficial da União, em 1924. O fac–simile da capa desse documento é reproduzido na figura 2.3–1.

A partir de 1960, o tubo de plástico passou a deslocar o ferro fundido das redes de pequenos diâme- tros. Naquelas faixas de 50 a 75 mm de diâmetro, que já estavam sendo disputadas pelo tubo de cimento– amianto, o plástico apenas deslocou a este último; mas, nas faixas de 100 a 250 mm, passou a fazer severa concorrência ao ferro fundido, acirrando–se tal concorrência após a criação do PLANASA.

Por outro lado, evoluíram as tecnologias, e o tubo de ferro fundido apresentou ao mercado o novo material denominado ferro nodular, ou ferro dúctil, cujas propriedades mecânicas assemelham–se às do aço, mas sempre guardando a resistência à corrosão peculiar ao ferro fundido. 47

Os diâmetros oferecidos ao mercado evoluíram para até 1,2 m, faixa muito adequada às adutoras necessárias ao abastecimento das grandes cidades.

O aço, por outro lado, evoluiu no campo das proteções anti–corrosivas e adotou juntas do tipo pu- sh–on, em elastômeros. Estas, que eram outro apanágio do ferro fundido, devido à praticidade e rapidez de sua montagem em valas, o que representava menor custo agregado às instalações prontas e entregues ao usuário, tiveram suas patentes caído em domínio público. Em conseqüência, essa tecnologia também passou a equipar o produto concorrente, tornando–o mais atrativo.

47 - Vide: Publicação no Diário Oficial dos Estados Unidos do Brasil, em 24 de maio de 1924: Parecer sobre Propostas apresentadas em Concorrência Pública

para o fornecimento do material destinado à Repartição de Águas e Obras Públicas do Rio de Janeiro. Tratava-se de parecer calcado em estudos compara- tivos, entre tubos de ferro fundido e de aço, realizado pelos engenheiros André Machado de Azevedo, Mário Fialho de Valladares e Eduardo Eurico de Oli- veira; esses técnicos, comparando experiências européias e americanas com o uso dos dois tipos de tubos, concluem pela durabilidade, sensivelmente mai- or, dos tubos de ferro fundido (pelo menos, 5 vezes maior). Nessas condições, o custo final das tubulações realizadas com o tubo de ferro fundido, embora de maior custo inicial, tornava-se mais interessante. Realmente, até o presente, não temos notícias de nenhum caso de obsolescência generalizada em quaisquer das tubulações de ferro fundido, assentadas desde 1870, entre nós. O problema da longa duração das tubulações das redes de água potável é fundamental, posto que, sendo demédia – digamos, 50 anos – a cada século dever-se-ia refazer todas as redes implantadas no século anterior, o que seria um pesado ônus para o Estado, provavelmente inviabilizando a atividade.

Para a análise da demanda de mercado dessas tubulações, resta–nos, ainda, traduzir as informações de comprimentos de redes às tonelagens correspondentes. Mas, os tubos empregados variaram, não só com os diâmetros usados, mas também com os pesos unitários, expressos por metro linear, segundo as tecnolo- gias de fabricação próprias de cada época e que, invariavelmente, são indicados nos catálogos dos fabrican- tes. Os cálculos correspondentes são fastidiosos, pelo que optamos por dispô–los no “Apêndice I – Determinação do peso médio das redes” , que poderá ser consultado pelos interessados.

Vejamos, pois, essa evolução, tratada por períodos de homogeneidade técnica do produto: ●1900–1915: a fase inicial

Os valores calculados no Apêndice I nos permitem concluir que, para o período entre 1900 e 1915, o comprimento das redes instaladas cresceu em 1301 km, o que equivale a um crescimento médio anual de 86,74 km. Este valor, expresso em toneladas de produtos, representa um movimento fabril de 3.086,2 tonela- das por ano. Este é um valor significativo para a época, porque corresponderia à absorção mensal de 80% da produção de um dos maiores altos–fornos então instalados no País. Eis, portanto, uma das motivações maio- res que estimularam os inventores do processo de centrifugação de tubos de ferro fundido: ao nível de Brasil, um formidável mercado de fundição, que podia beneficiar–se das nossas potencialidades siderúrgicas emer- gentes.

● 1916–1930: O aparecimento e a dominação do tubo centrifugado

O período de 1916 até 1930, se apresentou com importantes mudanças no setor do saneamento básico, a partir do início da fabricação dos tubos de ferro fundido centrifugado. Em virtude, mesmo, das peculiarida- des do processo, foi possível a redução das espessuras dos tubos e, portanto, do seu peso médio, o qual re- duziu–se em cerca de 10% a 24% em relação aos tubos importados, conforme o diâmetro nominal.A conse- qüência maior foi a redução do preço do produto, o que permitiu ao Serviço Público realizar mais redes. Por outro lado, o período viveu o início da urbanização acelerada, fazendo com que o porte das cidades interio- ranas evoluísse, passando a situar–se entre 12.000 e 50.000 habitantes, enquanto as diversas capitais dos Es- tados ultrapassavam a faixa dos 100.000 habitantes. O perfil da demanda de tubos se alterou, em conse- quência, passando a ser incisiva para os tubos com diâmetros superiores a 250 mm, chegando até a 500 mm para as adutoras; estas, agora alimentando estações de tratamento d’água (ETA) equipadas com filtros rápi- dos e com sistemas de desinfecção por cloração, capazes de tratar grandes volumes d’ água na unidade de tempo. É o momento em que Porto Alegre, por exemplo, elabora o projeto de sua grande ETA de Moinhos de Vento, em 1920; é, também, o momento em que São Paulo faz construir o seu sistema do Rio Claro, capaz de uma vazão igual a 3,5 m³ por segundo, algo até então jamais visto na América do Sul, pelo menos até aquele ano de 1925.

Os tubos de médio e grande diâmetro nominal, ou seja, 300, 350, 400, 450 e 500 mm, tornam–se disponíveis no mercado nacional, como se pode ver em catálogo de produtos da época. (CATÁLOGO DE PRODUTOS de BARBARÁ S.A. [Data provável]: 1930). 48 A distribuição de diâmetros para a realização das re- des, passa a ser:

Faixa de DN 50/75 100/150 200/ 250 300/500 Participação,% 64,0 15,0 10,0 11,0

Calcula-se, pois, um peso médio de 33,21 kg/m para uma tal distribuição de diâmetros. Como a ex- pansão da rede, no período, foi igual a 2.009,629 km, ou uma expansão anual média de 134,0 km, conclui–se que a demanda média anual, em toneladas de fundidos, foi de 4.450,14 t, equivalendo a uma produção men- sal de 371 t. Houve, portanto, 44% de aumento da demanda de fundidos, por comparação ao período anteri- or. Sem sombras de dúvidas, foi essa importância do mercado que definiu o aparecimento da segunda fábri- ca de centrifugados entre nós.

48 - Tratava-se de catálogo compilado daquele, anteriormente elaborado pela Companhia Brasileira de Metalurgia, a qual desenvolvera toda essa linha de

● 1931 – 1937 : O capital alienígena conquista o seu oppidum

O período compreendido de 1931 até 1937, é caracterizado apenas pelo crescimento das redes de distribuição e adução, com os critérios de repartição iguais àqueles do período anterior, com um peso médio calculado de 33,21 kg por m linear. As duas empresas nacionais que operavam no mercado procuram adap- tar os seus meios de produção às demandas crescentes, mas sem necessidade de novos investimentos im- portantes: aumentam as capacidades de fusão dos seus fornos cubilots,ou aumentam as horas de trabalho das suas linhas de produção, adequando–se às demandas da sua clientela.

É em contexto que se forma a partir de 1934, com a decisão da construção da adutora de Ribeirão das Lajes, que Barbará S.A. decide incorporar a Companhia Brasileira de Metalurgia, mantendo em operação a sua usina de Indianópolis, em São Paulo. Em seguida, em 1937 encerra suas atividades fabris na cidade de Caeté, transferindo–as para a cidade de Barra Mansa, no Estado do Rio de Janeiro, onde faz construir o seu primeiro alto–forno, capaz de 40 toneladas/dia de ferro gusa. Preparava–se, portanto, para a nova eclosão de demanda de tubos, agora para a distribuição na cidade do Rio de Janeiro.

No fim do período, e visando àquele mesmo mercado em ascensão, aparece um novo fabricante, a partir de 1938. Trata–se de capitais franceses e belga–luxemburgueses que, associados, adquirem o controle acionário da antiga usina guseira de Caeté, a Companhia Ferro Brasileiro, transformando–a em usina de fabri- cação de tubos por fundição centrifugada. A saída de Barbará S.A dessa mesma Caeté, facilitou o projeto franco–luxemburguês, tendo em vista o acervo de mão de obra especializada que a primeira ali deixara.

O crescimento das redes de tubulações, no período 1930–1937, foi de 1280 km, correspondendo, portanto, à média de 184 km/ano; tal crescimento, com o peso médio visto acima, de 33,21 kg/m, resultou em uma demanda anual de de 6.110 t/ano ou, em números redondos,510 t/ mês.

● 1938–1950 : O capital alienígena domina o mercado nacional

No período seguinte, de 1937 até 1950, vemo–lo iniciar–se com uma grande expansão das redes de distribuição e adução após a construção da adutora de Ribeirão das Lajes.

Inicia–se a produção da Cia. Ferro Brasileiro, com inegável melhoria dos padrões técnicos de fabricação dos tubos. Não só a qualidade dos tratamentos térmicos, reduzindo a fragilidade dos tubos, mas permitindo a adaptação das espessuras a vários níveis de pressões de trabalho, fator de versatilidade comercial, mas não de redução de preços, de modo absoluto, nessa comercialização.

O nível médio de demanda anual cresceu para a faixa das 27.000 toneladas, equivalendo a um nível mensal de demanda da ordem das 2.200 toneladas.Este mercado era repartido entre as duas concorrentes, o capital estrangeiro tendendo a dominar cerca de 60% do mesmo; tratava–se de maior versatilidade comerci- al, pois as novas instalações da antiga Barbará S.A. agora com a razão social Companhia Metalúrgica Barbará,, em Barra Mansa – RJ, tenham sido projetadas para a produção mensal de 1500 t.

Forte concorrência foi estabelecida entre as duas empresas, embora o mercado fosse–lhes cativo. Contudo, torna–se mais difícil a gestão da Companhia Metalúrgica Barbará: dificuldades financeiras superve- nientes levaram–na. a aproximar–se e considerar as propostas de associação à PaM, que já controlava a Cia Ferro Brasileiro. Dessa forma, a partir de 1951, efetivada a aquisição do controle acionário daquela, o mercado de tubos centrifugados tornava–se um monopólio do capital francês. No plano interno, o mercado passava a ser dividido igualmente entre as duas empresas; no plano externo, o controlador internacional permitia al- gumas exportações à Cia Ferro Brasileiro, mas guardava ciosamente para si esse mercado, concentrando–o na Cia. Metalúrgica Bárbara.

Um detalhe deve ser considerado no mercado interno; nos anos 40, um novo produto era introduzi- do: o tubo de cimento–amianto que, em virtude de sua inércia química com relação aos gases contidos nas águas habituais do Brasil mostrava certas vantagens face ao tubo de ferro fundido; estes, nos pequenos diâ- metros e por ação do gás carbônico, eram rapidamente colmatados, apresentando fortes reduções da luz de

passagem das águas.49 Ele deslocará cerca de 15% dos diâmetros nominais 50 / 75 das mãos do ferro fundi- do, no período seguinte.

● 1951–1970: O início das transformações profundas

O período de 1951 até 1970 não apresentou sensíveis diferenças no comportamento do mercado, o qual continuou a pertencer, predominantemente, ao ferro fundido, salvo na faixa dos pequenos diâmetros, como foi dito. O deslocamento causado pelo cimento–amianto, em termos de porcentagem sobre a exten- são linear das redes, representará um valor de 13% (ou, 5%, quando expresso em peso equivalente do ferro fundido).

Nessas novas condições, o peso médio do ferro fundido evolui para o valor de 36,74 kg/m dada a maior participação dos diâmetros elevados o que, industrialmente, é um ganho para o ferro fundido. O total das redes instaladas nesse período de 20 anos sendo de 42.570 km resulta em 37.036 km para o ferro fundido ou, em outros termos, uma produção de 1.360.703 t no período.

Essa produção representando cerca de 68.036 t / ano, significará uma sustentada produção média, mensal, de 5.670 toneladas divididas entre as duas empresas. Este é, portanto, o “período de ouro” dos fabri- cantes brasileiros dos tubos de ferro fundido, porque têm um mercado que lhes é subjugado, e onde os pre- ços são formados segundo os seus critérios e maiores interesses.

Contudo, é também o momento em que a concorrência arma–se no sentido de conquistar–lhes par- te desse mercado, aproveitando–se, para tanto, dos saltos tecnológicos dos anos 60, que lançam novos tu- bos, fabricados com polímeros, derivados do petróleo, no mercado. Mas o ferro fundido não permanece está- tico, buscando o desenvolvimento da qualidade do próprio ferro fundido cinzento, o qual evolui para o de- nominado ferro dúctil, ou ferro nodular e a consequente reformulação dos pesos e espessuras de todos os diâmetros nominais, reduzindo–os em média de 20%.50 Era a busca da competitividade face aos novos pro- dutos que surgiam nesse mercado, até então, praticamente cativo do ferro fundido, mas que a partir da dé- cada seguinte mudaria de perfil.

O PLANASA, graças à enorme demanda de produtos que provocou, contribuiu de modo marcante para que os novos materiais passassem a disputar esse tão atraente mercado; e eles o disputaram com certas vantagens para as faixas inferiores de diâmetros(DN 50 / 200), pelas razões que discutiremos oportunamen- te.

● 1971–1995: Um período crítico para a indústria de tubos centrifugados

O período em que entramos agora, de 1971 até 1995, caracterizou–se pelas grandes transformações na área do saneamento básico:

- O nascimento do “Novo PLANASA” e a grande expansão das redes de adução e distribuição;

- A dominação do mercado pelo tubo centrifugado em ferro fundido nodular o qual, apresentando estrutura metálica com notáveis características mecânicas de resistência à tração e alto alongamento, possibilitariam uma verdadeira reengenharia dos tubos centrifugados, conduzindo a uma considerável redução nos seus custos de produção;

- O lançamento no mercado dos tubos centrifugados em ferro nodular, nos diâmetros nominais de 700, 800, 900, 1000 e 1.200 mm, para as grandes aduções e especialmente aptos para a realização dos grandes anéis de subadução, nas metrópoles em estado de densificação populacional, que surgiam entre nós;

49 - Notemos que tal problema já havia sido resolvido por Fernando Arens, desde 1918, quando patenteou o processo de aplicação de uma fina camada de

argamassa de cimento dentro dos tubos, também por centrifugação. Como a indústria francesa ainda não aplicava tal revestimento, ele caiu em desuso entre nós, voltando a ser aplicado no correr dos anos 60, por influência das exigências da indústria norte-americana de tubos. nas normalizações ISSO, o que