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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.2. Panorama geral

5.3.3. Comparação com a literatura

Bertolo et al. (2007) dividem as águas do SAC em dois grandes grupos litológicos, com fontes influenciadas por granitos e por gnaisses, esses, por sua vez, subdivididos em gnaisses tipo 1 e 2. Tal abordagem não foi seguida neste trabalho, porém foi possível observar semelhanças entre a composição das águas de gnaisses dos tipos 1 e 2 de

Bertolo et al. (2007) com as de menor e de maior mineralização, respectivamente, do presente estudo.

O município de Águas da Prata apresenta rochas alcalinas do maciço de Poços de Caldas e águas com características particulares, como altos conteúdos de STD, sódio, fluoreto e sulfato. As águas amostradas (Prata e Platina) não exibiram tal padrão, pelo contrário, ambas se mesclaram entre as demais dos dois grupos descritos anteriormente. Segundo informações extraídas de DNPM (2015), águas da marca Prata são extraídas de dois tipos distintos de fontes, as hospedadas por tinguaítos e as hospedadas por metarenitos. A amostra coletada apresenta características composicionais do último litotipo. Por outro lado, segundo DNPM (2015) a fonte Platina ocorre em área de fonolitos, leptinolitos e migmatitos, mas a amostra analisada não apresenta as características de água que interage com essas rochas. Sítio eletrônico da marca informa a exploração de duas novas fontes produtoras de “águas mais leves”, o que possivelmente explica as diferenças observadas e indica que a localização das novas fontes se encontra em outros litotipos que não os alcalinos. Bertolo et al. (2007) descrevem as amostras de águas minerais provenientes de Águas da Prata como águas fortemente bicarbonatadas sódicas, de elevado STD e quantidades apreciáveis de sulfato e flúor. Já Szikszay & Teissedre (1977b) identificam dois tipos principais de fontes na cidade, as de rochas alcalinas, com pH neutro e alto teor de sólidos dissolvidos, e as de arenitos, com pH ácido e baixo teor de sólidos dissolvidos. As amostras do presente estudo se assemelham às do segundo grupo descrito por Szikszay & Teissedre (1977b), exceto pelo pH.

As onze amostras analisadas provenientes da RMSP (Itágua, Poá, Pilar, Inno Vitta, Rocha Branca, Mata Atlântica, Pureza Vital (SP), Crystal del Rey, Crystal Vida, Serra do Cafezal e Frescca) são predominantemente bicarbonatadas sódicas, com pH ácido a neutro (5,3-7,5) e amplo intervalo de CE (20-317 µS/cm). As águas da RMSP estudadas por Szikszay & Teissedre (1977a) são ácidas (pH entre 4,7-5,5), pouquíssimo mineralizadas (24- 58 µS/cm, exceto uma, com CE = 107 µS/cm) e predominantemente bicarbonatadas mistas a magnesianas. Comparativamente, os valores de sílica dos dois estudos também são bastante distintos (11,8-61,7 mg/L para este estudo e 1,1-4,1 mg/L em Szikszay & Teissedre 1977a), mas, neste caso, conforme discutido acima (item 5.2.2), essa divergência pode ser apenas um artefato causado pelas diferentes técnicas analíticas aplicadas em cada caso. Quatro fontes deste contexto (equivalentes às marcas Pilar, Inno Vitta, Mata Atlântica e Poá) foram abrangidas por ambos os trabalhos. Apenas Pilar e Inno Vitta mostraram semelhanças.

A amostra Minalba, proveniente de Campos do Jordão, apresentou pH neutro (7,5), STD (118 mg/L) um pouco acima da mediana do SAC, o segundo maior teor de

magnésio do sistema aquífero e foi classificada como bicarbonatada cálcica-magnesiana. As relações iônicas calculadas apontaram dissolução de silicatos. Szikszay & Teissedre (1979) indicam influência de dolomito para a água da mesma fonte. Da mesma forma, Bertolo et al. (2007) mencionam, para a mesma área, águas semelhantes àquelas em contato com mármores dolomíticos do grupo Açungui no Paraná, com predomínio de intemperismo de carbonatos e precipitação de calcita e dolomita. Apesar das diferenças entre os trabalhos, calcários e dolomitos são litotipos encontrados na região de Campos do Jordão, o que corresponde às interpretações de Szikszay & Teissedre (1979) e Bertolo et al. (2007).

Quatro amostras dos SAC (Bioleve, Acquíssima, Lindoya Original e Água Fria) provenientes do Circuito Paulista das Águas, que abrange os municípios de Lindóia, Águas de Lindóia, Amparo, Socorro, Serra Negra, Monte Alegre do Sul, Holambra, Pedreira e Jaguariúna, foram analisadas. Estas amostras apresentaram composição semelhante, com pH próximo ao neutro (6,8-7,4), baixo conteúdo STD (62-186 mg/L) e foram classificadas como bicarbonatadas mistas. As águas minerais de Lindóia e Águas de Lindóia estudadas por Yoshinaga (1990) possuem valores de pH e a classificação segundo Piper similar, porém a salinidade é menor. No seu estudo, Yoshinaga (1990) obteve rK/rNa > 1, rNa/rCa < 1 e i.t.b. (índice de troca de bases) negativo. Essas razões indicam intemperismo incipiente, menor tempo de residência e maior influência de água de infiltração. Em Lindoia e Águas de Lindoia, as nascentes surgem diretamente de fraturamentos e zonas de fraqueza da rocha sã e a água ascendente provem do meio fraturado (não do manto de intemperismo) (Yoshinaga 1990). Uma possível explicação para a maior salinidade das águas do presente estudo em comparação aos dados de Yoshinaga (1990) é a de que a água esteja ascendendo de regiões com maior tempo de circulação. Já as amostras de águas estudadas por Szikszay & Teissedre (1978) extraídas na mesma região (Lindóia, Águas de Lindoia, Serra Negra, Amparo, Socorro, Monte Alegre do Sul, Itapira e Valinhos) apresentam STD semelhante (38-220 mg/L), porém com menor pH (4,7-5,7) e a classificação Piper foi mais abrangente, ocorrendo águas bicarbonatadas cálcicas, bicarbonatadas magnesianas, bicarbonatadas sódicas, bicarbonatadas mistas, cloretadas sódicas, cloretadas mistas e mistas. Os valores de sílica (33- 49 mg/L) obtidos neste estudo também foram bastante superiores aos de Szikszay & Teissedre (1978) (4,2-8,0 mg/L) (no entanto isto pode ser atribuído a divergências analíticas apenas, item 5.2.2). Os resultados mais discrepantes entre os estudos são para a fonte da água Lindoya Original, São Jorge, que nas amostras deste trabalho tinham pH neutro (6,8 e 7,4), valores ligeiramente maiores de STD (186 e 151 mg/L) e foi classificada como bicarbonatada

mista, ao passo que Szikszay & Teissedre (1978) mencionam pH de 5,3, STD de 62 mg/L e classificação da fonte como cloretada mista.