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3. HIDROGEOLOGIA

3.7. Sistema Aquífero Bauru (SAB)

O sistema aquífero Bauru (SAB, número 4 da Figura 3.1) também é um sistema de extensão regional, localizado no oeste do estado. Com área de 96.900 km², é aflorante por toda a sua extensão e apresenta comportamento livre, mas que pode, localmente, exibir características semi-confinadas a confinadas. É um sistema aquífero raso, com espessuras máximas de 300 m (com valores menores nos vales dos rios e maiores nos espigões e planaltos), o que facilita sua exploração (DAEE 1976, Silva 1983, DAEE/IG/IPT/CPRM 2005, Iritani & Ezaki 2012).

Genericamente, o SAB é constituído por sedimentos arenosos, areno-argilosos, siltosos e carbonáticos de idade cretácea depositados sob climas de condição árida a semi- árida (Iritani & Ezaki 2012). Está inserido na, denominada por Fernandes (1992), Bacia Bauru. As rochas formadoras do SAB foram primeiro classificadas por Soares et al. (1980) em Grupo Bauru, o qual seria composto pelas Formações Caiuá, Santo Anastácio, Adamantina e Marília. Fernandes (1992) propôs nova revisão estratigráfica da sequência sedimentar suprabasáltica, com a separação das unidades nos Grupos cronocorrelatos Bauru e Caiuá. Fernandes (1998) definiu o Grupo Caiuá como constituído pelas Formações Rio Paraná, Goio Erê e Santo Anastácio e o Grupo Bauru pelas Formações Uberaba, Vale do Rio do Peixe, Araçatuba, São José do Rio Preto, Presidente Prudente e Marília mais os Analcimitos Talúva. Paula e Silva (2003) identificou as Formações Caiuá, Santo Anastácio, Araçatuba, Adamantina e Marília e reconheceu duas novas unidades, denominadas Formações Pirapozinho e Birigui.

Segundo DAEE (1979b) e Iritani & Ezaki (2012), o SAB pode ser dividido em duas subunidades hidroestratigráficas. A primeira, localizada no topo, é constituída por rochas sedimentares arenosas com maior presença de material de granulometria mais fina, como lamitos e siltitos, ou com cimento de origem carbonática. Estes compõem o Grupo Bauru, ou a subunidade Bauru Médio/Superior. Os mesmos foram depositados em clima semi-árido sob a influência de água, em sistemas fluviais e de leques aluviais com pantanal interior bem definido. Essas características determinam uma porosidade granular e contínua, mas não uniforme, o que imprime uma menor produtividade à subunidade. É predominante em termos de área de ocorrência, situando-se a norte, leste e sudoeste da área de abrangência do SAB. A segunda subunidade constitui a porção mais basal e é composta por sedimentos mais arenosos com pouco material fino, formando o Grupo Caiuá, ou a subunidade Bauru Inferior. Esses sedimentos foram depositados sob clima essencialmente desértico, de lençóis secos de areia com dunas eólicas e interdunas úmidas. Desse modo, a subunidade basal apresenta uma porosidade granular, contínua e uniforme, o que confere a essa porção uma melhor produtividade. Está localizada principalmente a oeste da zona de abrangência do sistema aquífero.

Paula e Silva (2003) estabeleceu uma correspondência entre unidades litoestratigráficas e hidroestratigráficas e propôs nova classificação para o Grupo Bauru e subdividiu o SAB em sistemas aquíferos Marília, Adamantina, Birigui, Santo Anastácio e Caiuá e nos aquitardes Araçatuba e Pirapozinho. O sistema aquífero Caiuá e o aquitarde Pirapozinho são representados por areias depositadas em ambiente fluvial com eventuais interações eólicas e pacotes argilo-siltosos depositados em ambiente lacustre. O sistema aquífero Caiuá é considerado regional e de comportamento livre (ou semi-confinado nas porções com intercalações do aquitarde Pirapozinho). O sistema aquífero Santo Anastácio é formado predominantemente por arenitos depositados em ambiente fluvial entrelaçado. O sistema aquífero Santo Anastácio é também de extensão regional e comportamento livre, exceto onde é recoberto pelo aquitarde Araçatuba ou sedimentos pelíticos do sistema aquífero Adamantina, em que é caracterizado como semi-confinado. O sistema aquífero Birigui é formado por sedimentos arenosos finos a conglomeráticos, de extensão local e confinado pelo aquitarde Araçatuba. O sistema aquífero Adamantina é de extensão regional, constituído por depósitos arenosos que culminam em pelitos, os quais são indicativos de sedimentação fluvial meandrante, e está coberto localmente pela Formação Marília. E o sistema aquífero Marília é composto por arenitos com baixo conteúdo em argila, intercalações de material pelítico e zonas bastante carbonáticas, sendo considerado de extensão regional, livre a semi-confinado e

contínuo. No Estado de São Paulo, as rochas do SAB repousam sobre os basaltos da FSG e, localmente (e.g. região de Bauru), diretamente sobre os sedimentos das Formações Botucatu e Pirambóia (Paula e Silva & Cavagutti 1994).

Em geral, o SAB possui produtividade de média a alta, o que, somado à facilidade de extração, torna sua utilização para abastecimento público atrativa. Melhores valores em termos de vazão (40-80 m³/h), transmissividade e capacidade específica encontram-se no pontal do Paranapanema e ao longo do rio Paraná, na presença da subunidade Bauru Inferior/Caiuá (Iritani et al. 2000, DAEE/IG/IPT/CPRM 2005). Paula e Silva (2003) determinou que a variedade observada para a vazão é produto da diversidade litofaciológica existente, que coloca em contato lateral e vertical sedimentos com diferentes características de porosidade e permeabilidade. Por se tratar de um sistema aquífero de regime livre, a recarga ocorre por toda sua extensão e diretamente da chuva. No entanto, quase toda a água infiltrada é drenada como escoamento básico, com pequena parcela conduzida ao armazenamento (DAEE 1976).

As águas do SAB são pouco salinas, raramente ultrapassando 300 µS/cm de CE (DAEE 1974, 1976, 1979b). Os maiores valores seriam encontrados nos espigões e planaltos e os menores nos interflúvios e no pontal do Paranapanema (Campos 1987). São águas principalmente do tipo bicarbonatada cálcica ou bicarbonatada cálcico-magnesiana (Campos 1987, CETESB 2013), mas em algumas regiões foram encontradas águas bicarbonatadas sódicas (DAEE 1979b, Campos 1987, 1993, CETESB 2013). Campos (1987) concorda com a subdivisão anterior do Grupo Bauru em aquíferos Bauru e Caiuá, cujas águas distinguem-se das do primeiro por serem fracamente bicarbonatadas (STD < 50 mg/L). O pH das águas varia desde ácido até básico (4,6-9,6) (Campos 1993).

A qualidade da água é classificada como boa, embora tenham sido identificados diversos pontos de valores significativos de nitrato (Campos 1987, Barison 2003, Stradiotto 2007, Varnier et al. 2010, CETESB 2013, entre outros) e cromo (Bertolo et al. 2011, CETESB 2013). Os valores de Cr mais elevados estão associados as porções mais alcalinas e de maior STD do SAB e são atribuídos ao intemperismo de diopsídio rico no elemento (Bertolo et al. 2011). Este é o sistema aquífero com o maior número de casos de valores acima do VMP para nitrato no Estado de São Paulo (CETESB 2013). Seu comportamento regionalmente livre torna o SAB mais vulnerável à contaminação, o que explica a maior incidência de concentrações significativas de nitrato.