• Nenhum resultado encontrado

Comparação com outras compilações

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.2. Panorama geral

5.2.2. Comparação com outras compilações

O número de amostras deste estudo tenta representar a exploração de cada sistema aquífero. Dessa forma, há maior número de amostras do leste do estado, mas sem deixar de abranger de forma satisfatória o restante do território. DNPM (2015) faz uma caracterização nacional das águas minerais, ao mesmo tempo em que foca nas diferentes regiões brasileiras e em suas respectivas produções por estado. Bertolo et al. (2007) compilaram dados de rótulos dos vasilhames de águas envasadas de todo território brasileiro e as subdividiram em grupos de acordo com a principal geologia das rochas hospedeiras e processos geoquímicos atuantes, mais do que por sua localização geográfica. Szikszay & Teissedre (1981b), por sua vez, dão destaque para o Circuito das Águas Paulista, região metropolitana de São Paulo (RMSP), Campos do Jordão e Águas da Prata, além de alguns poucos exemplares do restante do Estado de São Paulo. Os autores coletaram as amostras estudadas diretamente das fontes. Misund et al. (1999) e Reimann & Birke (2010) estudaram água minerais por todo o continente europeu. Os últimos obtiveram seus dados diretamente de exemplares envasados. Quanto a Campos (1993), o autor estudou as águas subterrâneas do Estado de São Paulo stricto sensu, isto é, não trabalhou apenas com águas minerais ou envasadas como os demais autores.

Os dados de CE e STD obtidos são comparáveis aos reportados por Szikszay & Teissedre (1981b), Bertolo et al. (2007) e DNPM (2015) para águas minerais na área de estudo, mas são inferiores aos verificados em águas minerais engarrafadas na Europa (Misund et al. 1999, Birke et al. 2010, Demetriades 2010, Dinelli et al. 2010, Fugedi et al. 2010, Lourenço et al. 2010, Smedley 2010). Os dados de resíduo seco para águas subterrâneas no Estado de São Paulo reportados por Campos (1993), com 90% dos valores menores que 250 mg/L, são comparáveis aos das águas minerais paulistas consideradas no presente trabalho.

Enquanto a maior parte das amostras estudadas apresentou valores de pH ao redor do neutro, em DNPM (2015) os valores de pH reportados para a área de estudo tendem a valores superiores a 7. Já Szikszay & Teissedre (1981b) observaram principalmente amostras de pH entre 4,7 e 5,3, com exceção das águas de Águas da Prata ou aquelas em contato com diabásios da FSG, que apresentaram pH neutro e alcalino, respectivamente.

Segundo Szikszay & Teissedre (1981b), as águas minerais do Estado de São Paulo são, sobretudo, bicarbonatadas magnesianas a cálcico-magnesianas. No seu estudo, Campos (1993) classificou como bicarbonatadas 88% das águas subterrâneas do estado, das quais 47% corresponderiam a bicarbonatadas cálcicas, seguida das bicarbonatadas sódicas e bicarbonatadas cálcico-magnesianas principalmente. O bicarbonato também foi ânion predominante encontrado no presente trabalho, mas o sódio se destacou mais do que apontado por Szikszay & Teissedre (1981b).

Em oposição aos altos teores de sílica medidos (9,9-76 mg/L, com 40 mg/L de mediana), Reimann & Birke (2010) observam baixo conteúdo de sílica nas águas minerais europeias (mediana de 13,9 mg/L). Bonotto (2016) também verificou valores relativamente elevados de sílica para águas subterrâneas utilizadas em SPA nos estados de São Paulo e Minas Gerais (6,7 a 63,5 mg/L) em comparação a águas envasadas europeias e Lazzerini & Bonotto (2014) encontraram valores importantes de Si (média de 26,4 mg/L, Lazzerini 2013 apud Lazzerini & Bonotto 2014) em águas subterrâneas brasileiras quando comparados à média mundial.

No entanto, Szikszay & Teissedre (1981b) encontraram para mesma região deste estudo concentrações baixas de sílica (1,1 a 13 mg/L), das quais os maiores valores estariam associados às amostras provenientes de rochas sedimentares. Esta associação não foi confirmada para os dados deste trabalho. Uma hipótese que poderia explicar os menores valores de sílica encontrados por Szikszay & Teissedre (1981b) seria que os valores de pH mais baixos proporcionariam menores concentrações de sílica. Neste trabalho, as concentrações de sílica não apresentaram correlação com os valores de pH. Além disso, ao longo dos anos, o emprego de técnicas analíticas mais precisas possibilita obter resultados mais acurados. Dessa forma, a diferença entre os valores medidos neste estudo e os de Szikszay & Teissedre (1981b) pode apenas ser um reflexo das diferenças nas técnicas analíticas utilizadas em cada estudo. A sílica também é mais solúvel com o aumento da temperatura, o que leva águas termais a apresentarem concentrações mais altas do composto. No entanto, isso também não se aplica neste estudo, uma vez que as amostras coletadas são provenientes de fontes frias (< 25ºC) ou hipotermais (25-33ºC). Os feldspatos constituem uma

das mais importantes fontes de Si para as águas, pois, além de mais susceptíveis ao intemperismo do que outros minerais mais ricos em sílica, como o quartzo, são bastante abundantes na crosta. Logo, como as rochas hospedeiras da área tem significativo conteúdo de feldspato, sugere-se que as maiores concentrações medidas para sílica sejam produto do intemperismo do mineral.

5.3. Sistema Aquífero Cristalino (SAC)

5.3.1. Principais características

A maior parte das águas minerais do SAC apresentaram pH em torno do neutro e STD < 150 mg/L. São do tipo bicarbonatadas, mas com proporções variáveis de cálcio, sódio e magnésio, caracterizando a presença de águas bicarbonatadas cálcicas, bicarbonatadas sódicas, bicarbonatadas cálcico-sódicas, bicarbonatadas cálcico-magnesianas e bicarbonatadas mistas (Figura 5.4).

O SAC é a unidade aquífera de maior heterogeneidade litológica no Estado de São Paulo. Mas, independentemente dos litotipos hospedeiros, relações entre pH e STD com os principais íons dissolvidos mostraram que as águas com valores mais baixos de STD são mais ácidas e sódicas, enquanto as mais mineralizadas apresentaram maiores valores de pH e são mais cálcicas (Figura 5.5). As concentrações proporcionais de nitrato também foram mais elevadas nas amostras menos mineralizadas (Figura 5.5), o que marca uma maior vulnerabilidade dessas.

Figura 5.5. Box Plots para amostras do SAC de acordo com os valores de STD. Exceto para pH, valores expressos em porcentagem calculada a partir das concentrações em meq/L.

Duas amostras (Itágua e Poá) não se enquadram nas generalizações acima. Elas apresentaram concentrações de cloreto relativamente elevadas (>10 mg/L), portanto foram classificadas como cloretadas sódicas (marcada por estrelas azuis na Figura 5.4). Teores mais elevados de nitrato nestas amostras sugerem que a distinção observada seria produto de contribuição de origem antrópica. Por isso, tais amostras foram excluídas das estatísticas para

as interpretações anteriores sobre as relações entre composição, pH e STD. Outras amostras (Pilar, Inno Vitta, Klarina, Minabella e Mata Atlântica) também apresentaram valores um pouco superiores de cloreto, porém não altos o suficiente para interferir na sua classificação. Elas são águas provenientes de nascentes, bicarbonatadas sódicas e, com exceção da Minabella, com nitrato representando entre 11 e 32% dos ânions presentes em cada amostra.