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3. HIDROGEOLOGIA

3.3. Sistema Aquífero Tubarão (SAT)

O sistema aquífero Tubarão (SAT, número 5 da Figura 3.1) é um sistema aquífero do tipo sedimentar. De extensão regional, o SAT possui área de 20.700 km2 numa faixa que ocorre de nordeste a sul no Estado de São Paulo. Sua espessura aumenta de leste para oeste, atingindo valores de até 800 m na porção aflorante. É limitado na base pelas rochas cristalinas do SAC e no topo pelas rochas do aquiclude Passa Dois (DAEE/IG/IPT/CPRM 2005, Iritani & Ezaki 2012).

O SAT é formado pelas unidades que compõem o Grupo Tubarão na Bacia do Paraná. É frequente a utilização do termo Supergrupo Tubarão para esse conjunto de rochas,

dividindo-o em Grupos Itararé, na base, e Guatá, no topo (Schneider et al. 1974, França & Potter 1988).

O Grupo Itararé é divido em três ciclos deposicionais, representados por: Formação Lagoa Azul/Membros Cuiabá Paulista e Tabaraí (unidade inferior); Formação Campo Mourão/Membro Lontras (unidade intermediária); e Formação Taciba/Membros Rio Segredo, Chapéu do Sol e Rio do Sul (unidade superior); além da Formação Aquidauana. Esses três ciclos deposicionais correspondem a respostas a mudanças climáticas e do nível do mar, marcando três grandes avanços de geleiras na Bacia do Paraná durante o Permo- Carbonífero. Cada ciclo é constituído predominantemente por arenitos na base, sobreposta por uma porção rica em diamictitos (França & Potter 1988).

A Formação Lagoa Azul compõe-se, na base, predominantemente por arenitos intercalados com camadas de siltitos e folhelhos agrupados no Membro Cuiabá Paulista, e, no topo, ocorrem os sedimentos associados ao Membro Tarabaí, compostos por siltitos intercalados com lamitos seixosos e alguns corpos de arenito. A Formação Campo Mourão é composta principalmente de arenitos contendo sequências de fining upward, na base, e lamitos seixosos, no topo. O Membro Lontras da Formação Campo Mourão tem ocorrência apenas no Estado de Santa Catarina. Na Formação Taciba, o Membro Rio Segredo (porção inferior) apresenta arenitos cinza maciços de granulometria grossa a média, localmente intercalados com siltitos bioturbados, mas subordinadamente ocorrem arenitos finos a muito finos, enquanto o Membro Chapéu do Sol (porção superior) apresenta lamitos seixosos e raros corpos arenosos. O Membro Rio do Sul da Formação Taciba também pertence a porção superior dessa formação, mas ocorre apenas nos estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. A Formação Aquidauana é subdividida em três sequências: inferior, caracterizada por arenitos vermelhos a róseos, com lamitos seixosos, arenitos esbranquiçados e conglomerados subordinados; intermediária, caracterizada, principalmente, por siltitos vermelhos a róseos; e superior, caracterizada por arenitos (França & Potter 1988).

O Grupo Guatá corresponde aos arenitos deltaicos da Formação Rio Bonito e aos siltitos das Formações Palermo e Tatuí, todos de idade permiana (França & Potter 1988). No Estado de São Paulo, o Grupo Guatá é representado pelos sedimentos da Formação Tatuí, depositados em fase de transgressão marinha pós-glacial (Fúlfaro et al. 1984). Mais especificamente, as rochas sedimentares da Formação Tatuí constituem-se de siltitos e arenitos finos concrecionados e silexíticos, além de calcários e folhelhos subordinados (Fúlfaro et al. 1984).

O Grupo Itararé é a principal unidade aquífera do SAT (DAEE/IG/IPT/CPRM 2005). No Estado de São Paulo, o Grupo Itararé permanece indiviso na maioria dos trabalhos, recebendo a denominação de Subgrupo Itararé. A falta de continuidade lateral dos pacotes rochosos, de camadas guias, o grande retrabalhamento fluvial dos sedimentos e a heterogeneidade dendrítica trazida pelas geleiras contribuem para essa dificuldade na classificação do Itararé. Várias propostas de classificação foram apresentadas, porém rejeitadas (Caetano-Chang 1984). Tentativas de associações litológicas, no entanto, foram sugeridas, como no próprio trabalho de Caetano-Chang (1984), que subdividiu o grupo em cinco unidades estratigráficas informais. Nenhuma das associações propostas na literatura será adotada, pois não interferirá nos objetivos deste estudo.

A produtividade do SAT, em geral, é baixa, contudo pode ser bastante variável. Por exemplo, em regiões de litologias mais arenosas e, com frequência associadas a fraturas, predominam faixas de 0-10 m³/h, mas já foram observados valores de 0-40 m³/h (DAEE/IG/IPT/CPRM 2005). Locais com valores de destaque são conhecidos como “ilhas de elevada produtividade”. Essa amplitude nos dados de produtividade é característica da heterogeneidade geológica da unidade (Diogo et al. 1981). A intercalação de sedimentos com grãos grossos e de melhor circulação de água com sedimentos mais finos e impermeáveis dificulta o escoamento da água subterrânea no sentido vertical, caracterizando permeabilidades verticais inferiores às horizontais (DAEE 1981a). Nas regiões confinadas do sistema aquífero, seu rendimento é muito mais baixo em relação a outros sistemas sedimentares e somente são exploradas suas porções livres (DAEE/IG/IPT/CPRM 2005, Iritani & Ezaki 2012).

As águas do SAT são, majoritariamente, bicarbonatadas sódicas, mas subordinadamente bicarbonatadas cálcicas (Diogo et al. 1981, DAEE 1981a,b, Campos 1993, CETESB 2013) e bicarbonatadas mistas (Diogo et al. 1981, DAEE 1981a,b). Em comparação a outros sistemas, o SAT possui um teor de sais dissolvidos um pouco mais elevado (até 421 mg/L), mas ainda é considerado de águas pouco mineralizadas (DAEE 1981a,b, Campos 1993). Todos os valores de STD maiores que 200 mg/L podem ser associados as litologias do Subgrupo Itararé (Diogo et al. 1981). Diogo et al. (1981) encontraram uma tendência de enriquecimento em sais no sentido da drenagem superficial, de leste para oeste. Os valores de pH oscilam entre 4,2 e 9,7 (Campos 1993).

A qualidade das águas desse sistema aquífero é apropriada para o consumo humano (DAEE/IG/IPT/CPRM 2005). Na região de Salto-Indaiatuba, Hypolito et al. (2010) e Ezaki (2011) registraram valores anômalos de flúor para SAT e SAC, especialmente em

poços do SAT ou mistos. Os autores atribuíram como fonte do flúor a interação de águas alcalinas com biotita presente nos corpos granitoides e com argilominerais presentes nas rochas sedimentares e/ou a percolação de fluidos hidrotermais ricos em flúor associados à quebra do Supercontinente Gondwana. CETESB (2013) confirmou a presença de valores anômalos de flúor (2,5 mg/L).