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A escola precisa oportunizar aos alunos desenvolverem sua competência comunicativa e compreender que os falantes ao comunicarem-se agem sobre o mundo e que a língua é ao mesmo tempo objeto e instrumento de ensino perpassando todas as disciplinas escolares. Segundo Gnerre

Todo ser humano tem que saber agir verbalmente [...], isto é, “saber” [...]que tipo de variedade lingüística é oportuno que seja usada. Tudo isto em relação ao contexto lingüístico e extralingüístico que o ato verbal é produzido (2009, p. 06).

No entanto, nem todos os falantes têm acesso às diversas variedades linguísticas, não podendo, dessa forma, desenvolver sua fluência linguística. Os alunos, muitas vezes, ao chegarem na escola não dominam a linguagem que essa instituição utiliza, ou seja, os educandos não dominam variedades prestigiadas, não as compreendem, não sabem se expressar utilizando-as. A escola precisa oferecer aos alunos o acesso ao conhecimento dessas variedades prestigiadas, mas para que os aprendizes adequem suas falas ao contexto de uso, aos interlocutores e às situações comunicativas, é necessário, também, a abordagem das demais variedades, pois quanto maior for suas possibilidades linguísticas, consequentemente, maior será sua competência comunicativa em relação a sua atuação no uso da língua. E como coloca Bortoni-Ricardo “A aprendizagem da norma culta deve significar uma ampliação da competência linguística e comunicativa do aluno [...]” (2005, p. 26).

Os professores devem orientar os alunos sobre as diferenças que as variedades linguísticas possuem para que eles possam monitorar seu próprio estilo. É também interessante o professor, enquanto mediador na construção da aprendizagem dos alunos, trabalhar em sala de aula com atividades que instiguem o uso, a comparação e a reflexão sobre a língua que garantam não apenas a aquisição e o domínio das variantes de prestígio, mas de todas as demais.

Entendemos que a metodologia utilizada pelo professor pode ser pertinente ou não para a aprendizagem dos alunos sobre o uso das variantes linguísticas. E que ser um usuário competente da língua é essencial para a participação efetiva como cidadãos críticos e atuantes no meio social, pois de acordo com os PCN

[...] a língua é um sistema de signos histórico e social que possibilita ao homem significar o mundo e a realidade. Assim, aprendê-la é aprender não só as palavras, mas também os seus significados culturais e, com eles, os modos pelos quais as pessoas do seu meio social entendem e interpretam a realidade e a si mesmas (2001, p. 24).

Deste ponto de vista, desenvolver a competência comunicativa é poder atuar na sociedade como um indivíduo crítico que possui competência para compreender a dinâmica das relações sociais e seu papel perante esta.

Enfatizamos que ao falarmos em competência comunicativa é imprescindível falar sobre letramento, visto que de acordo com Kleiman

[...] o letramento está também presente na oralidade, uma vez que, em sociedades tecnológicas como a nossa, o impacto da escrita é de largo alcance: uma atividade que envolve apenas a modalidade oral como escutar notícias de rádio é um evento de letramento, pois o texto ouvido tem as marcas de planejamento e lexicalização típicas da modalidade escrita (1988 apud MACEDO, 2005, p. 43).

Assim, pode-se dizer que o letramento está relacionado à oralidade e não somente a leitura e a escrita. Saber ler e escrever, assim como utilizar-se da leitura e da escrita irá influenciar na utilização da oralidade das pessoas, ou seja, refletirá na competência comunicativa dos falantes, pois como afirma Soares

Tornar-se letrado traz, também, consequências linguísticas: alguns estudos têm mostrado que o letrado fala de forma diferente do iletrado e do analfabeto; por exemplo: pesquisas que caracterizaram a língua oral de adultos antes de serem alfabetizados e a compararam com a língua oral que usavam depois de alfabetizados concluíram que, após aprender a ler e a escrever, esses adultos passaram a falar de forma diferente, evidenciando que o convívio com a língua escrita teve como consequências mudanças no uso da língua oral, nas estruturas linguísticas e no vocabulário (2012, p. 37).

Portanto, ao falarmos em oralidade, não podemos deixar de ressaltar o desenvolvimento da competência comunicativa dos falantes, visto que para as pessoas atuarem linguisticamente de forma competente com os mais distintos interlocutores e nos mais diversos contextos e situações comunicativas das mais formais às menos informais é necessário ser um falante competente, ou seja, utilizar-se satisfatoriamente da oralidade.

Ademais, Bagno afirma que “O grau de letramento elevado também favorece, é claro, a produção de textos falados mais monitorados, em que a pessoa tenta reproduzir na oralidade

mais formal traços característicos dos gêneros textuais escritos mais monitorados” (2007, p. 46).

Dessa forma, no trabalho com a leitura, a escrita e o letramento, a oralidade precisa ser levada em consideração. Visto que, ainda segundo Bagno

No mundo contemporâneo, com o surgimento da comunicação virtual, por meio do computador, a separação entre o que é tipicamente falado e o que é tipicamente escrito se torna cada vez mais fluida – é só pensar que um bate- papo na internet se faz por meio de sinais escritos... (2007, p. 136).

Sendo assim, acreditamos ser imprescindível discorremos sobre letramento, pois de acordo com Marcuschi “[...] investigar a oralidade não dispensa refletir sobre letramento” (2011 apud COSTA-MACIEL, 2013, p. 57).

No entanto, neste estudo ressaltamos que da mesma forma que existem pessoas que não têm acesso à diversidade de materiais escritos, sabemos que nem todos os falantes têm acesso às diversas variedades linguísticas. Porém, como coloca Freire “Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe de tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa” (2006, p. 69).

Então, ressaltamos que a escola precisa oferecer aos alunos o acesso ao conhecimento das variedades linguísticas de prestígio que eles ainda não dominam. Mas, é preciso ter clareza como destaca Possenti que

[...] o papel da escola não é o de ensinar uma variedade no lugar da outra, mas de criar condições para que os alunos aprendam também as variedades que não conhecem, ou com as quais não têm familiaridade, aí incluída, claro, a que é peculiar de uma cultura mais “elaborada”. É um direito elementar do aluno ter acesso aos bens culturais da sociedade, e é bom não esquecer que para muitos esse acesso só é possível através do que lhes for ensinado nos poucos anos de escola (2012, p. 83).

Também ressaltamos que segundo Bagno “A grande tarefa da educação lingüística contemporânea é permitir, incentivar e desenvolver o letramento dos alunos, isto é, a plena inserção desses sujeitos na cultura letrada em que eles vivem” (1999, p. 86). Assim, compreendemos que ser competente no uso da língua é necessário para que as pessoas possam fazer parte da cultura letrada a que o autor se refere, dessa forma ser letrado tem a ver com o acesso aos usos da escrita em situações diversas e esses usos se apresentam em uma relação não dicotômica com a fala, mas sim podem ser observadas a relação entre ambas em um contínuo, Marcuschi (2007).

Na seção seguinte discutiremos as implicações da gramática nas práticas de ensino.