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Nos últimos tempos os gêneros textuais têm sido significativamente motivo de muitos estudos no sistema educacional. São vários os profissionais que se dedicam a pesquisar abordagens significativas para seu ensino, pois há a sugestão de nas escolas focar, atualmente, o ensino de língua materna nos gêneros textuais, a qual se deve ao Interacionismo Sociodiscursivo (doravante ISD), que, segundo Goularte (2010), trata-se de uma teoria fundada por Jean Paul Bronckart e um grupo de pesquisadores da Universidade de Genebra a qual concebe a linguagem como sendo um fenômeno social e histórico.

No Brasil, os PCN (2001) adotaram uma definição em relação à língua semelhante a do ISD, pois a compreende como sendo um sistema de signos históricos e sociais que permitem as pessoas atribuir significado ao mundo e a realidade. Então, os PCN que se trata de um dos documentos que norteiam o ensino na sociedade brasileira, aderiram as ideias do

ISD, assim como outros documentos que regem o ensino em nosso país e os gêneros textuais passaram a ter destaque no trabalho com a língua.

Neste estudo partimos da ideia que a comunicação verbal só é possível através dos gêneros, assim quanto mais gêneros textuais as pessoas conhecem e dominam mais competentes elas irão ser em sua atuação verbal. Dessa forma, no contexto escolar o trabalho com os gêneros em sala de aula é essencial, visto que poderá contribuir para que os alunos atuem verbalmente de forma competente nas mais variadas situações verbais das quais participam. Segundo Dolz, Noverraz e Schneuwly

Criar contextos de produção precisos, efetuar atividades ou exercícios múltiplos e variados: é isso que permitirá aos alunos apropriarem-se das noções, das técnicas e dos instrumentos necessários ao desenvolvimento de suas capacidades de expressão oral e escrita, em situações de comunicação diversas (2004, p. 82).

Assim, os professores precisam ter consciência que devem tornar a sala de aula um contexto favorável para o trabalho com os gêneros na qual seja proporcionado o acesso a atividades variadas que oportunizem aos alunos circularem nas diversas comunidades linguísticas.

No trabalho com gêneros textuais, os professores podem utilizar-se da sequência didática a qual ainda, na perspectiva de Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), trata-se de um conjunto de atividades escolares as quais são organizadas, de forma sistemática, em torno de um determinado gênero textual o qual pode ser oral ou escrito. A sequência didática tem por finalidade contribuir para que os alunos dominem melhor determinados gêneros, permitindo- lhes que escrevam e falem de forma mais adequada de acordo com as situações comunicativas das quais participam cotidianamente e sua estrutura de base pode ser representada da seguinte forma:

Figura 1 - Esquema da sequência didática. Fonte: DOLZ, Joaquim; NOVERRAZ, Michèle;

SCHNEUWLY, Bernard. In. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004.

Na sequência didática segundo Dolz, Noverraz e Schneuwly PRODUÇÃO INICIAL Módulo 1 Módulo 2 Módulo n PRODUÇÃO FINAL Apresentação da situação

Após uma apresentação da situação na qual é descrita de maneira detalhada a tarefa de expressão oral ou escrita que os alunos deverão realizar, estes elaboram um primeiro texto inicial, oral ou escrito, que corresponde ao gênero trabalhado; é a primeira produção. Essa etapa permite ao professor avaliar as capacidades já adquiridas e ajustar as atividades e os exercícios previstos na sequência às possibilidades e dificuldades reais de uma turma. Além disso, ela define o significado de uma sequência para o aluno, isto é, as capacidades que deve desenvolver para melhor dominar o gênero de texto em questão. Os módulos, constituídos por várias atividades ou exercícios, dão-lhe os instrumentos necessários para esse domínio, pois os problemas colocados pelo gênero são trabalhados de maneira sistemática e aprofundada. No momento da produção final, o aluno pode por em prática os conhecimentos adquiridos e, com o professor, medir os progressos alcançados [...] (2004, p. 84).

É importante ressaltar que a sequência didática pode ser adaptada às necessidades dos alunos e utilizada tanto com a expressão escrita quanto com a expressão oral.

Enfatizamos que os professores, enquanto mediadores na construção da aprendizagem dos alunos precisam trabalhar em sala de aula com gêneros que garantam não apenas a aquisição e o domínio das variedades prestigiadas, mas de todas as demais, para que de fato os alunos possam atuar de forma competente linguisticamente.

Desta forma, é imprescindível que os professores possibilitem aos alunos o acesso a uma diversidade de gêneros textuais, pois como ressaltam Santos, Mendonça e Cavalcante “[...] dada a diversidade de práticas sociais presentes numa sociedade, também serão diversos os gêneros textuais nela presente” (2007, p. 29). Sendo assim, os professores precisam contemplar a diversidade de gêneros textuais que circulam socialmente e estar preparados para propiciarem em sala um ambiente de letramento no qual os alunos se deparem e construam os mais diversos gêneros e possam refletir sobre sua linguagem, estrutura, relevância e finalidade.

Assim, compreendemos que na abordagem da variação linguística através dos gêneros textuais os professores são fundamentais, já que através deles os alunos em sala de aula poderão ter ou não acesso aos mais diversos gêneros.

O trabalho com os gêneros textuais precisa ocorrer de forma sistemática, através de situações didáticas diversificadas e atrativas que despertem a atenção e o interesse dos alunos. É possível promover em sala de aula a reflexão sobre as partes orais das palavras e também escritas através dos gêneros como, por exemplo, parlendas, quadrinhas, poemas, canções, etc; que os alunos conhecem e aprendem de cor e podem permitir a exploração dos efeitos sonoros acompanhado da escrita das palavras, enfim, são inúmeros os gêneros textuais que podem ser utilizados em sala de aula para o trabalho com a variação linguística. Portanto, corroboramos com a seguinte afirmação de Bagno

[...] a escola deve dar espaço ao maior número possível de manifestações linguísticas, concretizadas no maior número possível de gêneros textuais e de variedades de língua: rurais, urbanas, orais, escritas, formais, informais, cultas, não cultas etc. [...] A escola, insisto, tem de se abrir a todos os gêneros em que se pode concretizar o uso da língua (2001, p. 59).

Ou seja, a escola deve abordar a diversidade de gêneros textuais que circulam na sociedade, utilizando-os para que os alunos desenvolvam cada vez mais sua competência comunicativa. Pois, como enfatiza Bagno

O ensino tradicional nunca levou em conta a infinita variedade dos gêneros textuais existentes na vida social, limitando-se a abordar somente os gêneros escritos literários de maior prestígio - o conto, o romance, às vezes a crônica, raramente a poesia -, e desprezando quase completamente o estudo dos gêneros textuais característicos das práticas orais, sobretudo por causa do milenar preconceito contra a língua falada, tradicionalmente considerada “caótica” e “sem gramática” (2002, p. 55).

No capítulo seguinte, discorreremos sobre os fundamentos e procedimentos metodológicos utilizados em nosso estudo.

3 FUNDAMENTOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia utilizada para este estudo envolveu uma pesquisa qualitativa. Na perspectiva de Bogdan e Biklen (1994), a pesquisa qualitativa possui o ambiente natural como sua fonte direta de dados, o pesquisador como sendo seu instrumento principal, a investigação é descritiva, os pesquisadores se preocupam mais com o processo do que com os resultados ou produtos, os dados coletados tendem a ser analisados de forma indutiva e o significado é foco de atenção. Segundo Minayo, esse tipo de pesquisa “[...] trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes” (2015, p. 21).

Sendo assim, possibilita observar os fenômenos ocorridos no ambiente pesquisado tentando compreendê-los, descrevê-los e interpretá-los de forma detalhada. Pois, como colocam Bogdan e Biklen “O objectivo dos investigadores qualitativos é o de melhor compreender o comportamento e experiência humanos” (1994, p. 70).

A pesquisa qualitativa supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o contexto e a situação que está sendo investigada e de acordo com Flick

[...] usa o texto como material empírico (em vez de números), parte da noção da construção social das realidades em estudo, está interessada nas

perspectivas dos participantes, em suas práticas do dia a dia e em seu conhecimento cotidiano relativo à questão em estudo (2009, p. 16).

Bogdan e Biklen (1994) ressaltam que neste tipo de pesquisa, o pesquisador introduz- se no universo dos participantes que pretende investigar, busca conhecê-los e ter sua confiança, assim como dar-se a conhecer e registra sistematicamente o que ouve e observa no decorrer da pesquisa.

Portanto, acreditamos que a pesquisa qualitativa melhor se adequou para atender aos objetivos propostos nesta investigação, visto que, de acordo com Deslandes (2015), é esperado que a opção metodológica permita que os objetivos do estudo sejam alcançados.