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Construir a Autonomia das Escolas

2.2. As Estruturas de Orientação Educativa / Coordenação Educativa e Supervisão Pedagógica

2.2.2. Competências dos gestores intermédios

O papel determinante dos gestores intermédios passa pela articulação com os órgãos de gestão na concretização do Projecto Educativo com vista ao desenvolvimento de uma escola de qualidade. As suas funções exigem, para além de um perfil adequado, uma enorme responsabilidade, na medida em que, no exercício das suas funções supervisivas terão de mobilizar os agentes educativos que coordenam, no sentido de se envolverem numa acção conjunta, com vista à consecução das grandes finalidades da escola, norteadas pelas linhas orientadoras definidas no Projecto Educativo.

Oliveira (2000, p. 51) procurando enfatizar o papel determinante desempenhado por alguns agentes educativos, dos quais se destaca os gestores intermédios, no exercício de funções de responsabilidade que englobam por inerência uma vertente supervisiva, afirma o seguinte:

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De entre as múltiplas funções hoje atribuídas à escola, há actores sociais que têm mais responsabilidades ao nível da administração e gestão (assembleia, conselho executivo ou director, conselho administrativo, conselho pedagógico, coordenador de estabelecimento); outros ao nível da coordenação e liderança pedagógica e curricular (coordenador de ano, ciclo ou curso e estruturas de orientação educativa) e ainda outros de acompanhamento e orientação profissional (…). De uma forma mais ou menos directa, e ainda que incidindo em áreas distintas, o desempenho destes cargos terá sempre uma vertente de supervisão, no sentido em que se espera que os detentores desses cargos apoiem e orientem os professores no desempenho das suas tarefas, coordenem e avaliem os projectos e actividades que são da sua responsabilidade.

O documento referido anteriormente (Decreto-Regulamentar nº10/99 de 21 de Julho) menciona no nº2 do seu artigo 5º, as competências do coordenador do conselho de docentes e dos departamentos curriculares: “a) Promover a troca de experiências e a cooperação (…); b) Assegurar a coordenação das orientações curriculares e dos programas de estudo, promovendo a adequação dos seus objectivos e conteúdos (…); c) Promover a articulação com outras estruturas ou serviços da escola ou do agrupamento, com vista ao desenvolvimento de estratégias de diferenciação pedagógica; d) Propor ao conselho pedagógico o desenvolvimento de componentes curriculares locais e a adopção de medidas destinadas a melhorar as aprendizagens dos alunos; e) Cooperar na elaboração, desenvolvimento e avaliação dos instrumentos de autonomia da escola ou do agrupamento de escolas; f) Promover a realização de actividades de investigação, reflexão e de estudo, visando a melhoria da qualidade das práticas educativas; g) Apresentar à direcção executiva um relatório crítico, anual, do trabalho desenvolvido.”

O artigo 6º refere-se à coordenação de turma, que deve ser assegurada pelo educador de infância no caso do pré-escolar, pelo professor titular de

121 turma no caso do 1º ciclo do ensino básico e pelo conselho de turma no caso dos professores do 2º e 3º ciclo do ensino básico e do ensino secundário.

O nº3 do mesmo artigo menciona as competências dos titulares de turma e do conselho de turma:”a) Analisar a situação da turma e identificar as características específicas dos alunos (…); b) Planificar o desenvolvimento de actividades a realizar com os alunos em contexto de sala de aula; c) Identificar diferentes ritmos de aprendizagem e necessidades educativas especiais, promovendo a articulação com os respectivos serviços especializados de apoio educativo, em ordem à sua superação; d) Assegurar a adequação do currículo às características específicas dos alunos (…); e) Adoptar estratégias de diferenciação pedagógica que favoreçam as aprendizagens dos alunos; f) Conceber e delinear actividades em complemento do currículo proposto; g) Preparar informação adequada, a disponibilizar aos pais e encarregados de educação, relativa ao processo de aprendizagem e avaliação dos alunos.”

A coordenação das actividades do conselho de turma é da responsabilidade do director de turma que é designado pela direcção executiva. Assim, compete-lhe, conforme vem referido no nº2 do artigo 7º: “a) Assegurar a articulação entre os professores da turma e os alunos, pais e encarregados de educação; b) Promover a comunicação e formas de trabalho cooperativo entre professores e alunos; c) Coordenar, em colaboração com os docentes de turma, a adequação de actividades, conteúdos estratégias e métodos de trabalho (…); d) Articular as actividades da turma com os pais e encarregados de educação, promovendo a sua participação; e) Coordenar o processo de avaliação dos alunos garantindo o seu carácter globalizante e integrador; f) Apresentar à direcção executiva um relatório crítico anual, do trabalho desenvolvido.”

O artigo 8º refere-se à coordenação de ano, de ciclo ou de curso, cuja função é garantir a articulação das actividades desenvolvidas pelas turmas de um mesmo ano de escolaridade, de um ciclo de ensino ou de um curso, conforme o estabelecido no regulamento interno.

As funções de coordenação são realizadas pelo conselho de docentes titulares de turma no 1º ciclo do ensino básico e pelo conselho de directores de turma nos 2º e 3º ciclos do ensino básico e no ensino secundário.

122 No ensino secundário, a coordenação pedagógica pode, de acordo com a especificidade da escola e no cumprimento do estabelecido no respectivo regulamento interno, articular as actividades desenvolvidas pelas turmas, quer ao nível dos vários anos de escolaridade de um curso, quer de dois ou mais cursos.

Aos conselhos de docentes compete: “ a) Planificar as actividades e projectos a desenvolver, anualmente de acordo com as orientações do conselho pedagógico; b) Articular com os diferentes departamentos curriculares o desenvolvimento de conteúdos programáticos e objectivos de aprendizagem; c) Cooperar com outras estruturas de orientação educativa e com os serviços especializados de apoio educativo na gestão adequada de recursos e na adopção de medidas pedagógicas destinadas a melhorar as aprendizagens; d) Dinamizar e coordenar a realização de projectos interdisciplinares das turmas; e) Identificar necessidades de formação no âmbito da direcção de turma; f) Conceber e desencadear mecanismos de formação e apoio aos directores de turma e de outros docentes (…) para o desempenho dessas funções; g) Propor ao conselho pedagógico a realização de acções de formação no domínio da orientação educativa e da coordenação das actividades das turmas.”

O artigo 9º refere-se ao coordenador de ano, de ciclo ou de curso, eleito entre os membros que integram, respectivamente, o conselho de docentes e o conselho de directores de turma. No nº2 do mesmo artigo são definidas as suas competências: “ a) Coordenar a acção do respectivo conselho, articulando estratégias e procedimentos; b) Submeter ao conselho pedagógico as propostas do conselho que coordena; c) Apresentar à direcção executiva um relatório crítico anual, do trabalho desenvolvido”.

O artigo 10º menciona a figura do professor tutor, que poderá ser designado pela direcção executiva, cuja função está associada ao acompanhamento, de forma individualizada, do processo educativo de um grupo de alunos, de preferência ao longo de todo o seu percurso escolar. A este professor compete: “ a) Desenvolver medidas de apoio aos alunos, designadamente, de integração na turma e na escola e de aconselhamento e orientação no estudo e nas tarefas escolares; b) Promover a articulação das actividades escolares dos alunos com outras actividades formativas; c)

123 Desenvolver a sua actividade de forma articulada, quer com a família, quer com os serviços especializados de apoio educativo, designadamente, os serviços de psicologia e orientação e com outras estruturas de orientação educativa.”

Por último, o artigo 11º permite a criação da coordenação de outras actividades, designadamente no que se refere a projectos de desenvolvimento e no âmbito dos serviços especializados de apoio educativo, assegurando a sua articulação com outras instâncias, através da representação no conselho pedagógico e na assembleia de escola.

O desempenho destas competências requer profissionais qualificados, com perfil e formação adequados para o exercício destes cargos, no que se refere ao acompanhamento e supervisão do projecto educativo e no apoio aos docentes que participam na sua concretização.

Os normativos que enquadram o regime de autonomia acentuam as funções desempenhadas pelos gestores intermédios, como já foi referido. No entanto, é sabido que os diplomas, por si só, não operam mudanças significativas na escola. Neste sentido, as escolas necessitam de profissionais capazes de intervir de forma activa nas dinâmicas da escola, mobilizando todos os docentes que coordenam em torno do mesmo objectivo: construir uma escola de qualidade e, como refere Canário (1995, p. 7), promover uma cultura organizacional “por acção e interacção dos respectivos actores sociais.” Com a publicação do Decreto-Lei nº 75/2008 de 22 de Abril as estruturas surgem com a designação de estruturas de coordenação educativa e supervisão pedagógica e têm por objectivo, segundo o referido normativo, a gestão curricular na aplicação do currículo nacional e dos programas e orientações curriculares e programáticas definidos a nível nacional e ainda, o desenvolvimento de componentes curriculares por iniciativa do Agrupamento. Refere também que a estas estruturas compete ainda, a organização, o acompanhamento e a avaliação das actividades de turma ou grupo de alunos, a coordenação pedagógica de cada ano, ciclo ou curso e a avaliação de desempenho dos docentes.

124 2.2.3. Revisão do Estatuto da Carreira Docente – Atribuição de novas competências aos gestores intermédios

O Decreto-Lei nº 139-A/90 de 28 de Abril que legisla o Estatuto da Carreira Docente, foi substancialmente alterado pelo Decreto-Lei nº 1/98 de 2 de Janeiro, sofre recentemente alterações mais significativas com a publicação do Decreto-Lei nº15/2007 de 19 de Janeiro. Entre outras medidas, implementa o novo sistema de avaliação de desempenho de professores, cujo resultado influenciará o acesso ou a progressão na carreira dos docentes.

O mesmo documento, no nº2, do artigo 5º, capítulo III, vem reforçar e alargar as competências dos coordenadores de departamento curricular ou do conselho de docentes, sem prejuízo do que se encontrava anteriormente estabelecido no Decreto-Regulamentar nº 10/99 de 21 de Julho, referindo quais as funções dos docentes que detêm cargos desta natureza:” a) Coordenação da prática científico-pedagógica dos docentes das disciplinas, áreas disciplinares ou nível de ensino; b) Acompanhamento e orientação da actividade profissional dos professores, especialmente no período probatório; c) Intervenção no processo de avaliação de desempenho dos docentes das disciplinas, áreas disciplinares ou nível de ensino; d) Participação no júri da prova pública de admissão ao concurso de acesso na carreira.”

Por força desta alteração à legislação, importa referir que o alargamento das funções atribuídas às estruturas de orientação educativa, implica uma maior responsabilização no exercício das suas funções, o que exige, cada vez mais, a atribuição de cargos de supervisão a elementos que detenham um perfil adequado, para além de formação específica nesta área, de modo a garantir uma intervenção eficaz e a promoção da qualidade do sistema educativo.

2.3. O Projecto Educativo (PE) como alavanca mobilizadora de uma