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Desenvolvimento Organizacional da Escola – Influências, Dinâmicas e Lógicas de Acção

1.3. Contributos para uma análise organizacional: As Teorias Organizacionais

1.3.4. A Teoria da Contingência

Esta teoria nasce de uma série de investigações que procuravam verificar quais as teorias organizacionais que produziam um maior efeito em algumas indústrias. Destes estudos destacam-se os de Lawrence e Lorsch (1963-1966), que vieram comprovar que não há uma melhor maneira de administrar as organizações, mas que a sua eficácia depende da melhor ou pior adaptação às exigências do ambiente.

Em 1967, Lawrence e Lorsch publicam o livro Organization and

Environment que dá conta dos resultados do estudo, que assentam no

pressuposto de que as organizações são sistemas abertos e de que as variáveis organizacionais apresentam um complexo relacionamento entre si e com o ambiente.

Sintetizaremos, de seguida, os principais princípios subjacentes à Teoria da Contingência:

 Não existe uma forma melhor do que todas as outras para administrar uma organização;

 Estabelece-se uma relação funcional entre variáveis administrativas (dependentes) de ambiente e tecnologia (independentes);

 Os problemas básicos em qualquer organização são os problemas da diferenciação e os da integração;

 A existência de sistemas eficazes de resolução de conflitos é extremamente importante para a obtenção de bons resultados organizacionais.

67 A teoria da Contingência, à semelhança da teoria da Administração Científica e da teoria das Relações Humanas, pode ser encarada como referencial na compreensão de alguns aspectos da vida escolar.

Teixeira, no âmbito do estudo que efectuou, selecciona alguns dos elementos desta teoria e estabelece um paralelismo com o que acontece na organização escolar.

A teoria da Contingência baseia-se na consideração de que as organizações são sistemas abertos e de que as variáveis organizacionais apresentam um complexo relacionamento entre si e com o ambiente.

Reportando-se à escola, a autora refere:

A integração no órgão de direcção das escolas básicas e secundárias portuguesas de representantes não só dos pais e da autarquia local mas, também, de representantes dos interesses económicos, científicos e culturais, evidencia, por um lado, que a escola se percepciona como um sistema aberto mas, por outro lado, faz prever relacionamentos complexos que se espera, porém, possam estabelecer-se numa superação de conflitos, continuamente levada a cabo, no sentido do maior enriquecimento das perspectivas da escola sobre si própria e sobre os papéis que é chamada a desempenhar.

(Idem, p.25)

Para Lawrence e Lorsch, os problemas básicos em qualquer organização são os problemas da diferenciação (a sua divisão em subsistemas ou departamentos mas, também as diferenças de atitudes e de comportamentos) e os da integração (o processo pelo qual se procura coordenar as actividades dos vários departamentos).

Também na organização escolar a existência dos Departamentos/grupos, evoca estes problemas de diferenciação e de integração.

68 Também a integração de todos os elementos no seio da organização escolar no seu todo, é um elemento fundamental para que seja viável o sucesso educacional.

A teoria da Contingência acentua a dimensão da incerteza, referindo que as organizações enfrentam futuros que por definição são incertos.

Teixeira aponta quatro aspectos que considera estarem enquadrados nesta perspectiva desta teoria:

- “o estado de reforma permanente da educação;

- a necessidade de levar os alunos a aprender mais, do que a centrar-se na aprendizagem de determinadas matérias muito específicas e temporalmente datadas;

- os novos currículos do Ensino Secundário têm em conta a necessidade de dar aos alunos uma formação geral alargada e um tipo de formação profissionalizante que lhes possibilite reconversões profissionais;

- os professores devem assumir a dimensão da sua formação contínua como um dever e um direito inerentes à sua profissão”(Ibidem).

Todos estes aspectos poderão ser entendidos como uma necessidade de procurar respostas eficazes, face ao desafios e incertezas do futuro.

Um outro princípio que a teoria da Contingência defende está relacionado com a rejeição da ideia de “princípios universais de administração”. Considerando que a prática administrativa é situacional, o administrador deve ter em conta o desenvolvimento de “habilidades administrativas” principalmente as que envolvem componentes comportamentais.

Obviamente, que também neste caso, poderemos transpor este princípio para a organização escolar, uma vez que a escola não pode organizar-se com sucesso se, em cada momento, não forem encontradas as soluções que a situação exige.

1.3.5. A Teoria Z

William Ouchi, professor de origem japonesa, é o autor da teoria Z, tendo publicado o seu livro, Theory Z, em 1981.

69 Ouchi estudou a organização das empresas americanas (que designa de tipo A) e das empresas japonesas (de tipo J) e procura descobrir quais são os traços da gestão japonesa que podem ser aplicados em empresas que funcionam num ambiente cultural diferente.

Às empresas onde é possível aplicar esses traços, o autor apelida-as de empresas de tipo Z.

Tendo identificado diferenças estruturais entre empresas americanas e japonesas, propõe que se adaptem às empresas ocidentais, as melhores técnicas de gestão japonesa.

Ouchi evidencia a necessidade da participação nas tomadas de decisão e enfatiza a importância do desenvolvimento de uma cultura/filosofia de empresa.

AS principais características da teoria Z, podem sintetizar-se do seguinte modo:

 O desenvolvimento de uma cultura de empresa tendente à criação de valores e objectivos comuns;

 Sentido de pertença a uma comunidade organizacional (obtido, entre outros, através do emprego de longa duração, do contacto de cada trabalhador com diferentes sectores da empresa e da circulação ampla de informação por todos os membros);

 Decisões tomadas com recurso à participação dos diferentes membros da organização;

 O processo de avaliação e de promoção do pessoal é bastante lento;

 As carreiras são caracterizadas por uma certa “errância” nos diferentes serviços, permitindo um conhecimento mais aprofundado da empresa.

Ouchi defende o pressuposto de que a chave para uma produtividade acrescida, reside no facto dos trabalhadores permanecerem felizes e implicados.

70 Procurando encontrar traços comuns desta teoria na organização escolar, procederemos, de seguida, a uma análise centrada nos pontos onde consideramos existir essa relação:

a) Um emprego de longa duração – tanto os docentes como os funcionários não docentes, a partir do momento que estabilizam a sua situação, podem permanecer numa escola durante muito tempo, apesar de sabermos que esta tendência, está actualmente a sofrer algumas alterações, devido à dificuldade de se conseguir a curto prazo, uma situação profissional estável.

b) Processo de avaliação e de promoção bastante lentos – tendo em conta as actuais exigências em termos de avaliação de desempenho e de progressão na carreira, os docentes que não reúnam as condições exigíveis ou que se vejam impedidos de transitar a um novo escalão por força do estabelecimentos de quotas, poderão como nunca, verem adiadas as possibilidades de atingir um patamar favorável, no âmbito da sua promoção profissional.

c) Desenvolvimento de uma cultura/filosofia de organização – para Ouchi, a noção de cultura implica um certo número de valores que determinam um modelo para as actividades, as opiniões e às acções. Hoje em dia, está muito em voga a ênfase atribuída à cultura de escola numa visão que pretende aproximar-se de uma acção conjunta, caracterizada pela interacção e pelo envolvimento colectivo, na construção das linhas de actuação que deverão nortear a escola, enquanto organização que continuadamente se desenvolve.

A ideia de Projecto Educativo, poderá, em nosso entender, estar enquadrada nesta perspectiva.

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dimensão fulcral da teoria Z, é a da participação. Também nas nossas escolas, este princípio está subjacente às várias

dimensões da dinâmica de grupos. O funcionamento das Departamentos curriculares ou dos conselhos de ano (1ºciclo) ou de turma (2º, 3º ciclos e Ensino Secundário) são exemplos disso, como espaço privilegiado para a criatividade e para a construção conjunta de soluções que visem o sucesso educativo.

Através da análise das diferentes teorias organizacionais que aqui abordámos, poderemos partir para uma reflexão sobre o que se passa na escola, e rapidamente concluímos que são inúmeros os seus pontos comuns.

A maioria destas teorias preocupam-se com o funcionamento das organizações, tendo como principal objectivo, encontrar melhores soluções para a sua eficácia.

Saliente-se que de todos estes estudos, emerge a importância do fenómeno organizacional sobre as acções individuais.