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5.2 COMPETÊNCIA E/OU ATRIBUIÇÕES DOS CONSELHOS

5.2.1 Competências Legais

O CCS

Inicialmente, as competências e/ou atribuições do CCS encontravam-se definidas no artigo 7º do Decreto-lei n.º35/93 que, entretanto, terá sido revogado pela Lei n.º 74/VIII/2014 que cria o Conselho Econômico, Social e Ambiental. Devido ao longo período de vigência desse Decreto-lei e o consequente funcionamento do CCS até 2014 nos parâmetros desse Decreto, procedemos à análise das competências constantes nesse dispositivo legal até porque não encontraríamos informações caso tivéssemos optado pela análise da Lei n.º 74/VIII/2014 tendo em conta que ela ainda não foi regulamentada.

Assim, o Decreto-lei n.º35/93 consagra um total de 9 competências e/ou atribuições do CCS reservadas às áreas de concentração econômica, segurança social, relações de trabalho e capital. Da análise efetuada e, em linha com aquilo que é sua essência como órgão de natureza consultiva, se constata seis (6) competências de carácter consultivo, duas (2) de natureza monitória e uma (1) de autogestão.

políticas econômicas, na proposição de medidas para o regular funcionamento das unidades empresariais, bem como na emissão de pareceres quando solicitados, ou por iniciativa própria sobre questões ligadas à política econômica e financeira, ao emprego, às condições de trabalho, à política salarial, à previdência e segurança social.

Por seu turno, as competências de carácter monitório abrangem áreas como as de avaliação da eficácia da implementação da legislação laboral e social, bem como as áreas da análise das implicações laborais e sociais das estratégias de desenvolvimento.

As atribuições de autogestão dizem respeito à elaboração do seu regulamento interno “podendo nele prever normas sobre a organização das estruturas de segundo nível, repartição das competências e sobre o funcionamento, bem como o funcionamento de sessões especializadas destinadas a estudos e análises de setores determinados” (Decreto-lei n. 35/93, incisos 1 e 2). Inexistem disposições sobre competências de carácter decisório e executivo o que demonstra claramente a sua natureza enquanto órgão institucional voltado para o aconselhamento do Governo em matérias que envolvem as relações entre o capital e trabalho.

Portanto, o Conselho funciona como mecanismo de negociação e diálogo entre o Estado representado pelo Governo e os parceiros sociais com representação no Conselho com vista à chegada de um acordo sobre as políticas econômicas e sociais do Governo e, assim, contribuir para o estabelecimento de um clima de estabilidade social e governamental no país.

Essa característica do Conselho orientado para o diálogo e concertação sociais torna-se evidente na distribuição das suas atribuições no âmbito da qual a área de maior concentração do Conselho reside na sua função consultiva em detrimento de outras áreas sobre a qual ele se debruça. Ou seja, o CCS foi criado com o objetivo de o Governo consensualizar e obter um parecer favorável sobre as suas políticas econômicas e sociais junto dos parceiros sociais e assim criar um clima que possibilita o desenvolvimento equilibrado desses setores de atividade.

Portanto, a inexistência de competências executivas e decisórias mostra o real alcance e dimensão do CCS enquanto órgão que tem por função a pacificação entre trabalhadores e empregadores e a legitimação das políticas do Governo em matéria econômica e da legislação laboral através da busca de consenso entre a representação das confederações da classe

trabalhadora e empregadora do país.

A nosso ver o esvaziamento dessas competências demonstra que a responsabilidade de decisão e execução de políticas recai sobre órgãos específicos do poder executivo (Governo), cabendo ao CCS apenas a função de fazer o monitoramento das políticas consensualizadas em sede de Concertação Social e a emissão de pareceres, quer através da iniciativa própria, quer quando solicitados pelo poder executivo.

Assim, o funcionamento do CCS configura uma prática neocorporativista (SCHMITTER, 1974) através da qual o Estado busca promover o seu interesse por via de obtenção de um parecer favorável da parte dos parceiros sociais com representação no Conselho.

A CNDHC

No que se refere às competências legais da Comissão Nacional para os Direitos Humanos e a Cidadania (CNDHC), elas se encontram dispostas no Decreto-lei n.º 38/2004. Elas abrangem as áreas da educação, investigação e consultoria ao Governo em matéria dos Direitos Humanos, Direito Internacional Humanitário e Cidadania.

Deste modo, constata-se um conjunto de 18 competências distribuídas entre as diversas áreas de concentração acima referidas. Dessas competências, 4 se apresentam como sendo de carácter executivo visto que se refere à realização e promoção de iniciativas que sirvam para educar, formar e incentivar o respeito pelos Direitos Humanos, Direito Internacional Humanitário e Cidadania, e uma (1) se apresenta como sendo de cariz decisória relacionada com a participação na elaboração dos currículos escolares em todos os níveis de ensino.

Em matéria consultiva, a CNDHC apresenta um número de 6 competências que podem ser exercidas por iniciativa própria ou quando solicitados sobre qualquer diploma em matéria dos Direitos Humanos ou Direito Internacional Humanitário já em vigor ou em fase de elaboração.

No que tange à área investigativa, ela dispõe de um número de 3 atribuições que podem ser enquadradas dentro das competências monitórias na medida em que se encontram

voltadas para a investigação e monitoramento de situações que constituem violação aos Direitos Humanos e Direito Internacional Humanitário em Cabo Verde.

Quanto às competências de autogestões ou administrativas elas estão reservadas ao Conselho Coordenador que se constitui como um órgão executivo por excelência da CNDHC. Elas são em número de 4 e estão relacionadas com a laboração do regimento interno e outros instrumentos de gestão da comissão.

O CNS

Relativamente ao Conselho Nacional de Saúde (CNS), é possível identificar um total de oito (8) competências. Dessas, 3 se afiguram como sendo de natureza monitória visto que se relacionam com a questão de prevenção da doença e de acompanhamento do serviço nacional de saúde, quer seja no que toca ao relacionamento entre os diversos sectores implicados, quer seja no âmbito do desenvolvimento da intersetorialidade das ações de prevenção e promoção da saúde.

Quanto às restantes, uma (1) se revela como sendo de carácter decisório relacionada com a participação na formulação da política da saúde, 3 se apresentam como de natureza consultiva na medida em que se encontram voltadas para o pronunciamento do CNS sobre projetos de legislação, ou sobre assuntos que lhe sejam solicitados pelo membro do governo responsável pelo sector da saúde. Por último, o conselho apresenta uma competência de autogestão relacionada com a aprovação do seu regulamento interno.

A tabela seguinte apresenta a distribuição dessas atribuições legais mediante as tipologias acima definidas bem como suas respectivas porcentagens. Essa distribuição nos permitirá avaliar o primeiro indicador dessa variável e, averiguar até que ponto suas atribuições legais são efetivamente exercidas na prática através da expedição de deliberações, recomendações ou moções.

TABELA 4: CLASSIFICAÇÃO DAS COMPETÊNCIAS LEGAIS DOS CONSELHOS

COMPETÊNCIA CCS % CNDHC % CNS %

Decisória - 1 5,55 1 12,5

Consultiva 6 66,6 6 33,33 3 37,5

Executiva - 4 22,22 -

Autogestão 1 11,1 4 22,22 1 12,5

TOTAL 9 100 18 100 8 100

Fonte: Elaboração própria com base nos documentos legais dos Conselhos.

A observação desta tabela permite-nos constatar que a distribuição das competências difere de Conselho para Conselho revelando assim a real vocação e natureza dos mesmos no cumprimento daquilo que são as suas atribuições legais. A distribuição das competências legais do CCS demonstra, claramente, que ele é um órgão voltado para a consulta do Governo, pois essa função ocupa a maior parte do bolo, representando mais do que 60%. A não existência de competências decisórias e executivas e a pequena porcentagem reservada às competências monitórias e de autogestão (22 e 11% respectivamente) em comparação com as de caráter consultivo, ilustra bem a sua natureza de procura de diálogos e aconselhamento por parte do Governo em relação aos parceiros sociais.

De igual modo, a CNDHC apresenta uma distribuição na qual a maior porcentagem recai sobre a competência consultiva (33,3%) seguida da executiva e de autogestão (ambas situando-se à volta dos 22%). Essa distribuição reflete bem a sua natureza enquanto órgão de proteção, consulta e monitoramento de políticas públicas em matéria dos Direitos Humanos e Cidadania.

Por outro lado, a CNDHC é o único que possui a competência executiva, mostrando que além de funcionar como órgão consultivo do Governo em matéria dos Direitos Humanos, é também um mecanismo que atua na execução das medidas aprovadas em plenário visando a defesa, promoção, formação, consciencialização e divulgação dos Direitos Humanos, Direito Internacional Humanitário e Cidadania em Cabo Verde.

No que toca ao CNS, constata-se um equilíbrio entre as competências monitórias e consultivas (37, 5% cada), o que mostra que ele se trata de um organismo voltado para a consulta e monitoramento de políticas públicas do setor da saúde.

Em nossa opinião, a grande demanda que ainda prevalece nesse setor, parece ter pesado na decisão das autoridades sanitárias em forjar um órgão orientado para o acompanhamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS) numa área em que a enorme carência

leva a que as políticas sejam implementadas com necessária eficiência e eficácia.

Por outro lado, não há referência à competência executiva e, em relação às competências decisórias e de autogestão, o CNS apresenta uma porcentagem bastante reduzida (ambas situando se à volta dos 12, 5%).