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CONCEITO DE CONSELHOS DE CONTROLE DE POLÍTICAS PÚBLICAS

para a sua natureza polissêmica quanto para o seu grande potencial inovador no campo da ampliação do regime democrático. Assim, uma das definições avançadas pela literatura especializada sobre os conselhos terá sido aquela que os consideram como órgãos de formação colegiada de vontade e tendo como princípio a tomada de decisão pela maioria ou por unanimidade (GONZÁLEZ, 2000, p. 99).

Outra definição encontrada na bibliografia sobre esse tema e que vem na mesma direção, é aquela que considera os conselhos como “canais de participação que articulam representantes da população e membros do poder político estatal em práticas que dizem respeito à gestão de bens públicos” (GOHN, 2001, p. 7).

Nesta perspectiva, os conselhos são entendidos como órgãos de carácter público ou estatal, isto é, criados pelo Estado e cuja composição reúne representantes tanto da alçada governamental quanto da sociedade civil. Assim, a sua constituição teórica aponta para uma representação mista que acaba congregando diferentes seguimentos em representação do poder executivo governamental e diversos seguimentos representativos dos interesses da sociedade civil organizada.

Sendo órgão de caráter público-estatal, uma das suas principais características é a sua institucionalização no arcabouço jurídico-institucional do Estado através de estruturas representativas criadas por leis (GOHN, 2002, p. 12). Na mesma linha de raciocínio, essas estruturas representativas apresentariam carácter de permanência ao longo do tempo, independentemente da alternância que possa haver no elenco governamental após o fechamento de um dado ciclo eleitoral para a seleção de novas elites dirigentes.

Neste sentido, os conselhos, enquanto órgãos auxiliares ao Poder Político, apresentariam características semelhantes àquelas que Weber (2004) atribui à burocracia – enquanto novo modelo de organização político-administrativa do Estado –, quais sejam: a impessoalidade, a profissionalização dos seus agentes, a definição clara de suas atribuições e competências bem como a sua fundamentação em lei escrita do Estado.

De igual modo, a literatura reza que a sua composição deve ser paritária (GOHN, 2002, p. 12), isto é, constituído de igual representante de entidades governamentais e das instituições da sociedade civil por forma a manter a necessária equidade na representação e,

bem assim, o equilíbrio de forças em contenda. Por outro lado, a sua criação deve ser estabelecida por lei e o seu funcionamento deve ser regido mediante a aprovação, em plenário, do seu regulamento interno que, logo após desse processo, adquiriria força vinculativa ou obrigatória.

Dependendo da sua natureza, diversidade, âmbito, alcance ou amplitude, os conselhos assumiram diversos formatos na atualidade (GOHN, 2002), de acordo com aquilo que são os seus objetivos para os quais foram criados. Nesta perspectiva, destacam-se os conselhos populares cujo paradigma se centra numa visão de esquerda voltada para a mudança ou transformação do modelo hegemônico da democracia representativa através da constituição de representantes da classe operária nos seus locais de trabalho ou na sua comunidade (PANNEKOEK, 1936).

Como exemplo dessas experiências pode ser citado os casos de conselhos como o da “Comuna de Paris”; o conselho dos “sovietes” na Rússia e os conselhos operários de Turim na Itália (GOHN, 2002, p. 10).

Por outro lado, destacam-se os conselhos que se inscrevem em uma perspectiva de análise mais liberal e, que como tal, propõe complementar ou coadjuvar a democracia representativa ao invés de substituí-lo. São, por exemplo, os casos dos conselhos setoriais ou de controle de políticas públicas cujo âmago tem a ver com a formulação, implementação e controle de políticas públicas nos setores como o da saúde, educação, moradia, etc.; conselhos gestores de políticas públicas dos quais se encontram voltados para a implementação e gestão de programas governamentais nas mais diversas áreas da sociedade como alimentação escolar, segurança, etc.; conselhos transversais cuja consideração não encera em um setor específico como são os casos dos Direitos Humanos, questões do gênero ou ambiental.

Todas essas tipologias de conselhos tiveram grande incremento a partir dos finais dos anos 1980 e início dos anos 1990, sobretudo com a emergência das novas democracias e o consequente processo de globalização que permitiu um novo paradigma no relacionamento entre o Estado e a sociedade civil organizada.

Contudo, esses espaços colegiados assumem diversa designação na contemporaneidade podendo muitas vezes aparecer sob a designação de “conselho”,

“comissão” ou ainda “comitê”. Entretanto, todos eles apontam para a existência de organismos nos quais apresentariam composição colegiada e cuja tomada de decisão envolveria discussão, análise e debate entre todos os seus membros ou, pelo menos, parte deles.

Ademais, a proposição desses órgãos nesta tese como espaços que possibilitariam a racionalização no uso do poder bem como a sua repartição entre diferentes setores sociais implica ressaltar a sua diferenciação de espaços semelhantes existentes na administração privada ou pública, mas cuja existência não apresentaria um carácter permanente e perfeitamente institucionalizado nas estruturas administrativas a que diz respeito.

De igual modo, eles se diferenciam de outras formas de mobilização e ação coletiva dos cidadãos promovida pelas instituições públicas ou pela sociedade civil quais sejam os fóruns temáticos nacionais ou locais sobre temas que envolvem a saúde, moradia ou cultura. Assim, por serem órgãos colegiados integrados no poder público-estatal, os conselhos assumiriam tanto a natureza consultiva quanto deliberativa e em alguns casos se revelariam como possuindo ambas as naturezas. Ora, isto leva a que eles sejam integrados dentro do modelo weberiano de colegialidade de cargos executivos por estarem munidos de certas funções político-administrativas junto dos órgãos executivos governamentais.

Nesta perspectiva, os conselhos em análise nesta tese inserem-se no âmbito da colegialidade de funções visto que se tratam de órgãos associados ao poder executivo governamental e, como tal, encarregue de formulação, desenho, implementação e monitoramento de políticas públicas para as mais diversificadas áreas que envolvem a governação do país, entre as quais a saúde, as relações de trabalho e capital e os direitos humanos e cidadania.

2.3 PERSPECTIVAS TEÓRICAS E DEBATE POLÍTICO-IDEOLÓGICO SOBRE OS