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Conselho Nacional de Saúde (CNS)

4.1 O MODELO DOS CONSELHOS DURANTE A I REPÚBLICA

4.2.2 Conselho Nacional de Saúde (CNS)

Os primeiros passos no sentido da criação do CNS devem-se à aprovação da Lei n.º 62/III/89 de 30 de dezembro que define as bases gerais a que se devem organizar os serviços da saúde. Assim, terá sido previsto no n.º 4, artigo 8º, da referida Lei a existência de um Órgão de natureza consultiva que facilita o desenvolvimento da participação a nível central de entidades com intervenção ou interesse no setor da saúde.

Tendo as bases da saúde sido aprovadas pela Assembleia Nacional Popular a 30 de dezembro de 1989, o CNS viria a ser criado, junto do membro do governo responsável pelo setor da saúde, pelo Decreto-lei n.º 180/90 de 29 de dezembro no qual define a sua natureza, competência, composição e o seu respetivo funcionamento.

Todavia, a aprovação desse Decreto que cria o CNS não foi seguida da sua regulamentação pelos seus membros componentes o que evidencia que o Conselho não se reuniu para definir e aprovar o seu regulamento interno através do qual passará a pautar a sua conduta.

Note-se que essa criação ocorreu ainda durante o Regime de Partido Único e a menos de um mês das primeiras eleições livres e multipartidárias realizadas a 13 de janeiro de 1991 que ditaram a derrota do então Partido (PAIGC) e a chegada ao Poder do recém-criado Movimento para a Democracia (MpD).

Assim, com a alternância política, o novo Governo procedeu a uma série de reformas políticas e administrativas na estrutura do Estado que passa a organizar-se em bases político- ideológicas diferentes daquelas que sustentaram o Estado durante a vigência do monopartidarismo.

Essas reformas estenderam-se a todos os setores sociais, nomeadamente aos da saúde que desde a década de 1990 vem passando por diversas reestruturações na organização e funcionamento dos serviços da saúde, visando a sua modernização e racionalização na implementação do serviço nacional de saúde.

Portanto, essas transformações enquadram-se no âmbito do novo texto constitucional aprovado em 1992, no qual, no seu artigo 68.º, n.º 1, estabelece como universal o direito e o dever de defender e promover a saúde por parte de todos os cidadãos, independentemente da sua condição econômica.

Além disso, esta Constituição, nos seus números 2 e 3 do mesmo artigo, determina o seguinte:

 N.º 2 o direito à saúde é realizado através de uma rede adequada de serviços da saúde e pela gradual criação das condições econômicas, sociais e culturais necessárias para garantir a melhoria da qualidade de vida das populações.

 N.º3 para garantir o direito à saúde incumbe ao Estado, designadamente: a) assegurar, de acordo com os recursos econômicos disponíveis, um serviço

nacional de saúde universal e hierarquizado, baseado no atendimento integral com prioridade para as atividades preventivas;

b) incentivar a participação da comunidade nos diversos níveis dos serviços de saúde;

c) articular e disciplinar as iniciativas públicas e privadas em matéria de saúde; d) disciplinar e controlar a produção, comercialização e o uso de produtos químicos, biológicos, farmacológicos e outros meios de tratamento e de diagnósticos (ASSEMBLEIA NACIONAL, CRCV, 1992).

Não obstante essa determinação constitucional, a institucionalização de um Conselho Nacional de Saúde só viria a ser prevista na Lei Orgânica do Ministério da Saúde em 1999 aquando da aprovação da nova estrutura orgânica do referido ministério.

Assim, esta nova estrutura orgânica aprovada pelo Decreto-lei n.º 24/99 de 3 de maio estabelece “como órgãos consultivos do Governo em matéria de política de saúde e funcionamento do Sistema Nacional de Saúde e de Política farmacêutica, o Conselho Nacional de Saúde e a Comissão Nacional de Medicamentos”.

Esses dois órgãos consultivos do Governo em matéria da saúde seriam complementos indispensáveis ao funcionamento do Serviço Nacional de Saúde em vigor desde a independência nacional, sem que, no entanto, tivessem existido ou criado órgãos específicos que visassem o seu monitoramento ou avaliação.

Deste modo, a previsão de um órgão como o CNS na orgânica do Ministério da Saúde veio suprir essa necessidade ao dotar o sistema nacional de saúde de um órgão colegiado que serviria de base para o cumprimento dos objetivos propostos ou traçados na área da saúde e que, em última instância, seria o bem-estar social e psíquico da população.

Todavia, não obstante a consagração desse órgão na estrutura governamental responsável pela saúde em 1999, a sua regulamentação e funcionamento só viria a acontecer 6 anos mais tarde, ou seja, em 2005 – altura da sua aprovação em Conselho de Ministros e sua regulamentação por parte dos membros que o compõem em sua reunião de 21 de dezembro de 2005.

O Decreto-lei (n.º 23/2005) que define a criação do CNS decorre da própria aprovação, pela Assembleia Nacional, da Lei n.º 41/VI/2004 que estabelece as bases do Serviço Nacional de Saúde no âmbito das quais a existência de um Conselho Nacional de Saúde se afigura como um dos elementos centrais uma vez que se define como órgão de

acompanhamento/monitoramento do Serviço Nacional de Saúde.

Assim, a experiência do funcionamento de um Conselho Nacional de Saúde em Cabo Verde, enquanto órgão que promove a participação dos cidadãos na organização e funcionamento dos serviços da saúde é ainda recente quando comparado com outros países dos quais se incluem, por exemplo, o Brasil no qual a criação de um órgão colegiado, como o CNS, na estrutura orgânica do Ministério da Saúde É datada 1937 e se deve à necessidade de controlar os serviços prestados na área da Saúde (GONZÁLEZ, 2000).

De modo idêntico, a criação do CNS em Cabo Verde visa dar cumprimento aos princípios constitucionais de saúde para todos bem como a canalização da participação de todos na promoção e proteção da saúde enquanto bem físico, psicológico e mental do indivíduo.

Posto isto, no tópico seguinte procederemos à discussão do processo de criação e institucionalização da CNDHC na orgânica do governo.