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2.5 A Competitividade e suas abordagens

2.5.2 Competitividade Sistêmica

Teixeira36 (2003) concorda que o conceito de competitividade, embora bastante utilizado nos meios acadêmicos, revela ainda lacunas teóricas e empíricas associadas a estudos sobre estruturas e políticas industriais. Segundo o autor, as distintas acepções do conceito de competitividade estão relacionadas a diferentes linhas teóricas. Dentro da escola neoclássica, o conceito teria forte vinculação industrial, cujo foco seria o distanciamento entre o desempenho de um dado setor industrial e aqueles teoricamente possíveis de serem obtidos através da concorrência perfeita. Essa proxy conceitual explica-se pela utilização de um modelo de concorrência perfeita neoclássica com pressupostos que garantam estruturas industriais perfeitamente

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Possas, M. L. e Carvalho, E.A.; Competitividade Internacional: Um enfoque teórico; mimeo; s.d 36

competitivas com grande número de empresas; homogeneidade dos produtos; ausência de barreiras à entrada; e plena informação.

Teixeira prossegue ainda relacionando, em paralelo à concepção neoclássica, o surgimento de uma outra concepção para o termo competitividade. Essa concepção tem origem na insuficiência que a teoria neoclássica teria para dar respostas razoáveis aos problemas reais em termos de eficiência econômica. Nessa abordagem, na qual a firma teria resgatado um papel de maior relevância, a competitividade estaria associada à indicadores de desempenho resultantes das condutas empresariais que, estariam inseridas dentro de uma estrutura de indústria, que forçariam, por sua vez, a uma conduta. Esse resgate da firma como ator principal no processo econômico fica claro no modelo E-C-D de Mason (1939) Estrutura- Conduta-Desempenho (figura 07).

Figura 07: Modelo Estrutura –Conduta – Desempenho.

Fonte: Adaptado de Scherer e Ross (1990). Elaboração própria.

Nessa abordagem alternativa fica evidente que a eficiência econômica neoclássica (alocativa / distributiva / produtiva) divide espaço com uma eficiência dinâmica por considerar as possibilidades de trade-offs e ainda por considerar lucros extraordinários aceitáveis, dentro de determinados parâmetros, como forma de

Estrutura - Número e tamanho de empresas. -Barreiras à entrada e saída. -Diferenciação de Produto - Integração Vertical Conduta -Estratégia de preço. - Estratégia de mkt. - Estratégia de P&D. -Estratégia de Logística. Desempenho -Eficiência produtiva e alocativa. - Progresso técnico. - Pleno Emprego. -Equidade Sócio- econômica.

viabilizar investimentos em P&D. Entretanto essas duas concepções de competitividade, além de não suprir completamente as lacunas teóricas, trabalham sob uma perspectiva de análise de performance competitiva de atividades específicas (setores / segmentos industriais); Teixeira (2003) coaduna com a opinião de Krugman (1999) que transpor o conceito de competitividade para regiões e países exigiria adaptações metodológicas que não seriam triviais. Para esses autores é difícil estabelecer o que é um país competitivo, devido ao forte componente setorial / microeconômico implícito nessa noção de competitividade.

Entretanto, sob a ótica de Fajnzylber, o conceito de competitividade sistêmica ganha uma análise teórica, consubstanciada em estudos empíricos nas décadas de 70 e 80, em países industrializados (Japão, Estados Unidos e Alemanha) e nos chamados NICs – Newly Industrialized Countries. Apesar de não utilizar o termo competitividade sistêmica, nesses estudos o autor caracteriza a competitividade em duas dimensões: autêntica ou espúria, sendo a primeira obtida através do aumento da produtividade e da incorporação de progresso técnico, e a segunda, conseguida por desvalorizações cambiais, restrições de demanda, subsídios, mão de obra barata, etc... Em síntese, para Fajnzylber (1989), competitividade sistêmica é o resultado da confrontação de sistemas produtivos, esquemas institucionais e organismos sociais.

[…] En el mercado internacional compiten no solo empresas. Se confrontam también sistemas productivos, esquemas institucionales y organismos sociales, em los que la empresa contituye um elemento importante, pero integrado em uma red de vinculaciones com el sistema educativo, la infraestrutura tecnológica, lãs relaciones gerencial-laborales, el aparato institucional público y privado, el sistema financiero, etcétera....”(FAJNZYLBER, F. Competitividad Internacional: evolucion y lecciones .p.XX. 1988)

O autor prossegue ainda sua análise identificando os fatores condicionantes da competitividade internacional (quadro 04).

Condicionantes da Competitividade Internacional (Fajnzylber, 1988) 01. Elevados níveis de investimento.

02. Alocação de recursos para investimentos em setores estratégicos.

03. Legislação trabalhista favorável (flexibilidade, seguridade social, educação, qualidade de mão de obra).

04. Relações trabalhistas harmoniosas e cooperação construtiva entre os distintos atores econômicos, sociais e políticos.

05. Inovações organizacionais (relações de cooperação horizontais intra firmas e inter firmas).

06. Sistema educacional adequado para a formação de recursos humanos habilitados para a reestruturação produtiva com a incorporação de progresso técnico.

07. Construção de vantagens comparativas com a absorção de progresso técnico. 08. Uso de instrumentos de política e a dimensão institucional.

Quadro 04: Condicionantes da Competitividade Internacional.

Fonte: Elaborado a partir do texto “Competitividade Sistêmica: A contribuição de Fernando Fajnzylber” Wilson Suzigan37 e Suzana Cristina Fernandes.UNICAMP. Elaboração própria.

Verifica-se então que, apesar de muitos autores não concordarem com conceito de competitividade em termos macroeconômicos, ou entenderem que transposição do conceito da firma para regiões ou mesmo países é uma tarefa de difícil execução, existe uma corrente de teóricos que advogam que o conceito de competitividade, quando analisado de forma sistêmica, pode ser utilizado para analisar a competitividade de regiões e nações.

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- Suzigan, W; Fernandes, S. C. Competitividade Sistêmica: A Contribuição de Fernando Fajnzylber. IE/UNICAMP. In mimeo. 2002.

” Pretenderíamos com isso dizer que o desenvolvimento econômico não é um fenômeno a ser explicado economicamente, mas que a economia, em si mesma sem desenvolvimento, é arrastada pelas mudanças do mundo à sua volta, e que as causas, e portanto a explicação do desenvolvimento, devem ser procuradas fora do grupo de fatos que são descritos pela teoria econômica”

“O Desenvolvimento, no sentido que tomamos, é um fenômeno distinto, inteiramente estranho ao que pode ser observado no fluxo circular ou na tendência para o equilíbrio. É uma mudança espontânea e descontínua nos canais do fluxo, perturbação do equilíbrio, que altera e desloca para sempre o estado de equilíbrio previamente existente” Joseph Alois Schumpeter, 1934

3 – Vantagens e Inovação