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Vantagem competitiva: precedentes teóricos da análise do diamante nacional de Porter

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VANTAGEM COMPETITIVA: PRECEDENTES TEÓRICOS DA ANÁLISE DO DIAMANTE NACIONAL

DE PORTER

PAULO DE SOUZA NUNES FILHO

Dissertação apresentada à Escola de Administração – Núcleo de Pós-graduação NPGA, da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Administração .

Salvador - Brasil

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VANTAGEM COMPETITIVA: PRECEDENTES TEÓRICOS DA ANÁLISE DO DIAMANTE NACIONAL

DE PORTER

PAULO DE SOUZA NUNES FILHO

Orientador : Prof. Dr. Amílcar Baiardi

Dissertação apresentada à Escola de Administração – Núcleo de Pós-graduação NPGA, da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Administração .

Salvador – Brasil

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Escola de Administração - UFBA

N972 Nunes Filho, Paulo de Souza.

Vantagem competitiva: precedentes teóricos da análise do diamante nacional de Porter. / Paulo de Souza Nunes Filho. – 2006.

193 f.

Orientador: Prof. Dr. Amílcar Baiardi.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Escola de Administração, 2006.

1.Desenvolvimento econômico. 2. Concorrência. 3. Política industrial. 4. Porter, Michael. I. Baiardi, Amílcar. II. Universidade Federal da Bahia. Escola de Administração. III. Título.

338.9 CDD 20. ed.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO

NPGA – NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

VANTAGEM COMPETITIVA: PRECEDENTES TEÓRICOS DA ANÁLISE DO DIAMANTE NACIONAL

DE PORTER

PAULO DE SOUZA NUNES FILHO

Banca Examinadora :

__________________________________________________________ Amílcar Baiardi – Orientador

Doutor em Ciências Humanas, Universidade de Campinas (UNICAMP) Universidade Federal da Bahia (UFBA)

__________________________________________________________ Fernando Pedrão

Doutor em Economia, Universidade Federal da Bahia (UFBA) Universidade Federal da Bahia (UFBA)

__________________________________________________________ Armando Barros de Castro

Doutor em Economia, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP) Fundação Getúlio Vargas (FGV)

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2006

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AGRADECIMENTOS ”Agradeço a Deus por iluminar meu caminho e fazer-me perseverar nos momentos

difíceis ”

”Agradeço ao Prof. Amílcar Baiardi por sua orientação e por acreditar que essa jornada seria possível”

”Agradeço também, a todos os amigos que puderam colaborar nesse processo de construção, em especial aos Profs. Edelvino Góes e Jair Sento-Sé, cuja amizade e solidariedade são inestimáveis ”

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EPÍGRAFE ”Agradeço a Deus por iluminar meu caminho e fazer-me perseverar nos momentos

difíceis ”

”Agradeço também, a todos os amigos que puderam colaborar nesse processo de construção, em especial aos Profs. Edelvino Góes e Jair Sento-Sé, cuja amizade e solidariedade são inestimáveis ”

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SUMÁRIO

Página

· LISTA DE FIGURAS... 11

· LISTA DE QUADROS ... 12

· LISTA DE TABELAS... 13

· LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS... 14

· RESUMO ... 15

· ABSTRACT ... 16

· APRESENTAÇÃO... 17

· CAPÍTULO 01 – Referencial Teórico e Metodologia... 1.1 Introdução... 19

1.2 A definição do objeto de estudo... 21

1.3 As justificativas ... 22

1.4 Os objetivos... 23

1.5 As escolhas teóricas e metodológicas... 23

· CAPÍTULO 02 – Da Vantagem Comparativa à Competitiva... 2.1 O Capitalismo como começo ... 43

2.1.1 O sistema de produção capitalista... 43

2.1.2 Primeiras idéias sobre o sistema econômico ... 48

2.2 Smith e Ricardo – Vantagens Absolutas e Comparativas... 55

2.2.1 Adam Smith e as Vantagens Absolutas ... 55

2.2.2 David Ricardo e as Vantagens Comparativas ... 56

2.2.3 As Vantagens Comparativas e as Teorias de Comércio Internacional... 59

2.3 As Vantagens e o seu lócus ... 63

2.3.1 Os conceitos de Região / Território ... 63

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2.4 Abordagens marxistas sobre a divisão internacional do trabalho

e sobre o intercâmbio desigual... 72

2.4.1 A obtenção de vantagens através da inovação tecnológica... 72

2.4.2 Che Guevara, a valorização do capital e o intercâmbio desigual .. 75

2.5 A Competitividade e suas abordagens ... 78

2.5.1 Conceitos e divergências... 78

2.5.2 Competitividade Sistêmica... 85

· CAPÍTULO 03 – Vantagens e Inovação ... 3.1 O Pensamento de Schumpeter: Inovação, Crédito e Destruição Criativa ... 90

3.1.1 A concepção do equilíbrio de Walras como início ... 90

3.1.2 Teoria do Desenvolvimento Econômico (TDE): Inovação, Crédito e Destruição Criativa ... 94

3.2 A transição de Schumpeter para os Neo-schumpeterianos: Rosenberg, Vernon, Freeman, Nelson & Winter e Dosi... 99

· CAPÍTULO 04 – Vantagens Competitivas e seus Determinantes... 4.1 As Vantagens Competitivas e o cenário atual... 107

4.1.1 Globalização: O discurso e o conceito ... 108

4.1.2 A Crítica de Chesnais sobre a Mundialização do Capital... 110

4.1.3 A teoria da produção internacional: O esforço nas últimas décadas ... 118

4.2 O modelo do Diamante Nacional de Porter... 123

4.2.1 A Vantagem Competitiva do Estado ... 123

4.2.2 Condições de Fatores ... 129

4.2.3 Condições de Demanda ... 133

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4.2.5 Estratégia, Estrutura e Rivalidade ... 140

4.2.6 O Papel do Acaso e do Governo... 146

· CAPÍTULO 05 – Vantagens Competitivas: Criticas ao Modelo de Porter 5.1 Limites explicativos, deficiências e lacunas do modelo ... 150

5.2 A contribuição de Narula - Investment Development Path... 151

5.3 A crítica de Omar Aktouf... 164

5.4 Analise crítica da obra “Vantagens Competitiva das Nações” e do modelo do “Diamante Nacional” de Michael Porter ... 167

· CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 170

· REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 172

· ANEXOS ... 180

A – Livros publicados por Michael Porter (1976 – 2006) ... 180

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LISTA DE FIGURAS

Página

· FIGURA 01 : Modelo de Análise... 39

· FIGURA 02 : Diamante Nacional – Sistema Completo... 40

· FIGURA 03 : Espiral de crescimento, segundo Adam Smith... 54

· FIGURA 04 :Comparativo Vantagens Absolutas versus Comparativas... 58

· FIGURA 05 : Modelos de crescimento baseados no conceito de vantagens... 62

· FIGURA 06 : Fatores que influenciam a localização de indústrias... 70

· FIGURA 07 : Modelo Estrutura – Conduta – Desempenho ... 86

· FIGURA 08 : Classificação das inovações, segundo Schumpeter... 95

· FIGURA 09 : Posição competitiva de um Estado... 124

· FIGURA 10 :Determinantes da vantagem competitiva de um Estado... 130

· FIGURA 11 :Diamante Nacional – Sistema completo... 146

· FIGURA 12 :Desenvolvimento da vantagem tecnológica nacional: O papel Da tecnologia acumulada... 154

· FIGURA 13 : Estágio 01: Investment Development Path... 156

· FIGURA 14 :Estágio 02: Investment Development Path... 157

· FIGURA 15 :Estágio 03: Investment Development Path... 159

· FIGURA 16 :Estágio 04: Investment Development Path... 160

(12)

LISTA DE QUADROS

Página

· QUADRO 01 : Definições de competitividade – Conceito da firma... 80

· QUADRO 02 : Definições de competitividade – Comércio internacional... 81

· QUADRO 03 : Definições de competitividade – Bem estar econômico... 81

· QUADRO 04 : Condicionantes da competitividade internacional... 88

· QUADRO 05 : Classificação de Riqueza Social, segundo Walras... 91

· QUADRO 06 : Etapas da teoria do equilíbrio, segundo Walras... 92

· QUADRO 07 : Agentes no sistema econômico, segundo Walras... 92

· QUADRO 08 : Estratégias tecnológicas nas empresas, segundo Freeman ... 102

· QUADRO 09 : Classificação das condições de fatores... 131

· QUADRO 10 :Características das condições de demanda... 134

· QUADRO 11 :Características das indústrias correlatas e de apoio... 139

· QUADRO 12 :Fatores que influenciam nas estratégias, na estrutura e na rivalidade de empresas... 141

· QUADRO 13 :Estágios sugeridos por Rajneesh Narula... 163

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LISTA DE TABELAS

Página · TABELA 01 : Número de horas necessárias para a produção de uma

Unidade de tecido e de vinho na Inglaterra e em Portugal... 57 · TABELA 02 : Quantidades de produtos primários necessários para

Adquirir um trator de 30-39 HP... 77

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LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

· COMECON : Conselho de Ajuda Mútua Econômica

· C&T :Ciência & Tecnologia

· ECD :Estrutura - Conduta - Desempenho

· IDP :Investment Development Path

· IED : Investimento Externo Direto

· NICS :Newly Industrialized Countries

· OCDE : Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico

· P&D :Pesquisa & Desenvolvimento

· SCP :Structure – Conduct – Performance

· SOBEET : Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização

Econômica

· TDE : Teoria do Desenvolvimento Econômico

· UCLA : University of California, Los Angeles

· UNCTAD : United Nations Conference on Trade and Development

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RESUMO

A vantagem competitiva das nações. Apenas em seu título o tema já sugere diversidade de dimensões e possibilidades de análise dos aspectos que tornam um Estado - Nação ou uma região mais ou menos competitivo dentro de um determinado contexto econômico. Entrementes, da mesma forma que as dimensões de análise são multi-variadas, inúmeros são os questionamentos que acompanham essa temática tão intrigante. Em quais aspectos residiriam essa vantagem, ou quais fatores seriam decisivos na construção dessa vantagem. Certamente, as vantagens competitivas de países são um dos principais elementos em termos de alocação internacional da atividade econômica, atraindo fluxos de capitais. No caso do modelo de Michael Porter, o foco dessa dissertação, a competitividade é analisada em seus principais determinantes e seus inter-relacionamentos. O modelo é apresentado e criticado em suas deficiências e lacunas como um modelo insuficientemente explicativo do desenvolvimento econômico.

Palavras-Chave: 1. Vantagem Competitiva 2. Desenvolvimento Econômico 3. Michael Porter

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ABSTRACT

The competitive advantage of nations. The theme already suggests diversity of dimensions and many possibilities of analysis of the aspects that became a nation more or less competitive in a certain economical context. Meanwhile, in the same way the analysis dimensions are multi-varied, countless questions accompany such intriguing theme. In which aspects would lie those advantages, or which factors would be decisive in the construction of advantages. Certainly, the competitive advantages of countries are one of the main elements in terms of international allocation of economic activity and capital flows. In Michael Porter’s model, the focus of this work, the competitiveness is analyzed in their main determinants and their inter-relationships. The model is presented and criticized in their deficiencies and gaps not sufficient s an explanatory of an economic development model.

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A P R E S E N T A Ç Ã O

O tema “Vantagem Competitiva” tem sido amplamente explorado nos últimos anos em diversos trabalhos do meio acadêmico pelos estudiosos da área de economia e administração. Várias vertentes teóricas e casos empíricos são exaustivamente pesquisados desde a década de 60 e diversas questões políticas, econômicas e organizacionais são analisadas. O trabalho de Michael Porter sobre vantagem competitiva, aplicada a segmentos e setores, cuja abordagem trata do modo como uma firma coloca em prática suas estratégias genéricas, tem ampla aceitação tanto dentro quanto fora do meio acadêmico. Entretanto, quando o conceito de construção de vantagens competitivas é aplicado ao desenvolvimento econômico de uma região ou mesmo de uma nação, existem várias limitações e deficiências teóricas que o modelo do “Diamante Nacional” de Porter carrega.

Esta dissertação apresenta-se em cinco capítulos, mais as considerações finais e referências bibliográficas. O primeiro capítulo estabelece o referencial teórico e a metodologia utilizada, definindo o objeto de estudo, as justificativas e os objetivos desse trabalho, bem como as escolhas teóricas e metodológicas.

O segundo capítulo inicia a abordagem evolutiva teórica dos conceitos de vantagens, analisando o Capitalismo como sistema de produção, passando por Adam Smith e Ricardo, com seus conceitos de Vantagens Absolutas e Comparativas, e as teorias de comércio internacional. O capítulo prossegue trabalhando os conceitos de região e território sob a ótica econômica, enfocando as idéias de Alfred Marshall e seus distritos industriais. Em seguida, ainda como precedente teórico à análise do modelo de Porter, são identificadas as idéias sobre inovação tecnológica intercâmbio desigual e a obtenção de vantagens. O capítulo encerra com a análise sobre competitividade, seus conceitos e divergências.

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O terceiro capítulo aprofunda a análise da relação entre a obtenção de vantagens e o processo de inovação, abordando o pensamento de Joseph Alois Schumpeter e os neo-schumpterianos Rosenberg, Vernon, Freeman, Dosi e Nelson & Winter.

O quarto capítulo aborda os conceitos envolvidos na discussão sobre a construção da vantagem Competitiva, trabalhando o conceito globalização sob a ótica de Chesnais e o esforço teórico das últimas décadas nas teorias de produção internacional. O capítulo detalha o modelo do Diamante Nacional elaborado por Michael Porter na década de 90, analisando os determinantes: condições de fatores, condições de demanda, indústrias correlatas e de apoio e estratégia, estrutura e rivalidade.

O quinto capítulo realiza a crítica ao modelo proposto por Porter à luz dos precedentes teóricos estabelecidos nos capítulos anteriores. Além das teorias utilizadas, algumas fragilidades intrínsecas do modelo são identificadas por outros teóricos, em especial os artigos de John Dunnig e Rajneesh Narula e Omar Aktouf. É apresentado o modelo IDP (Investment Development Path) construído por Narula a partir dos trabalhos de Dunning.

Nas considerações finais, além do resgate dos principais pontos desenvolvidos a cerca da crítica do modelo de Porter, levantam-se ainda algumas questões específicas que merecem uma maior atenção nas pesquisas acadêmicas.

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1. REFERENCIAL TEÓRICO E METODOLOGIA 1.1- INTRODUÇÃO

O estudo sobre vantagem competitiva tem se transformado em um dos temas mais intrigantes nas últimas décadas. Não apenas por nele estarem relacionados vários conceitos, escolas de pensamento e ou correntes teóricas, mas, sobretudo, por ter deixado o círculo acadêmico e se enraizado nas mais diversas áreas do conhecimento humano e até mesmo no cotidiano das pessoas.

As novas dimensões adquiridas pelo tema proporcionaram sua popularização e em certos aspectos sua vulgarização. Nos sítios de busca o tema é citado aproximadamente 39 milhões de vezes (Google - 2006); e, conceitos como competitividade, barreiras à entrada e inovação tecnológica, transbordam para áreas como engenharia, saúde, ciências sociais, dentre outras. Essa generalidade excessiva tem causado transtornos e pela falta de clareza gerando distorções dentro e fora das escolas de pensamento.

Nessa miríade de conceitos, abordagens e visões, o objetivo desse trabalho é a investigação do tema com um enfoque teórico econômico seletivo: sua origem, evolução na teoria econômica, as diferentes abordagens das escolas de pensamento e os conceitos atrelados. Será realizada uma aproximação histórica ao tema, iniciando com as abordagens de Smith e Ricardo sobre as vantagens absolutas e comparativas e chegando até as vantagens competitivas de Porter e seu modelo Diamante Nacional. Nesse recorte, a vantagem competitiva, cujo conceito é uma construção com múltiplas determinações, terá como ponto de partida os próprios clássicos e a formação dos primeiros elementos que dariam forma, mais tarde, ao conceito de competição e competitividade, até o modelo da nova organização industrial “new industrial

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organization”, cujos trabalhos de Edward Mason e Joe Bain 1956 sobre a estrutura da indústria “SCP – Structure – Conduct – Performance” foram os pioneiros.

Os trabalhos de Joseph A. Schumpeter e dos neo-schumpterianos são essenciais para o entendimento da questão da competitividade e a criação de vantagens. É importante salientar ainda dentre outros, os trabalhos de teóricos como Vernon (1966) destacando a relevância dos fatores específicos nacionais (locais) na construção da Vantagem Competitiva; Hymer (1960) que observou, na década de 50, um crescimento de empresas americanas fora dos Estados Unidos e Pavitt (1987), Cantwell e Hodson (1990), que procuraram identificar em suas pesquisas, as ligações existentes entre a propensão das firmas em produzir fora de suas fronteiras nacionais e as condições competitivas oferecidas.

Nesse contexto, Michael Porter tem sido um dos autores mais citados nas últimas duas décadas tanto no meio acadêmico quanto nos círculos de negócio sobre o tema Vantagem Competitiva, sendo seus estudos e proposições aceitos por determinadas áreas ou correntes teóricas e renegados por outros autores ou teóricos. Os trabalhos iniciais de Michael Porter tiveram como base alguns elementos característicos da nova organização industrial, avançando seus estudos a respeito do tema Vantagem Competitiva com o modelo de desenvolvimento econômico – Diamante Nacional, foco de nossa análise.

Apesar de seu modelo de vantagem competitiva ser extremamente citado e utilizado como instrumento de análise em diversos trabalhos acadêmicos no Brasil. Não se encontram, em nível nacional, análises e críticas do modelo desenvolvido por Michael Porter (Diamante Nacional), o que, no nosso entender, justifica a elaboração desse trabalho.

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1.2 –A DEFINIÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO I. O Problema

Na concepção econômica neoclássica, a vantagem competitiva – resultados consistentemente superiores à média, é um acidente excepcional, uma imperfeição temporária do funcionamento dos mercados. O poder das forças de concorrência, dirigido pela mão invisível dos mercados, tende a corroer todo o lucro acima da média por meio de mecanismos de fluxo livre de capitais à procura da máxima lucratividade (Vasconcellos, 2000). A partir dos anos 70, diversas correntes do pensamento econômico abordaram a questão da vantagem competitiva utilizando abordagens conceituais diferentes.

No final da década de 70 e início dos anos 80 o pensamento porteriano (Aktouf, 2002) começou a influenciar os escritos, o ensino, as práticas e as consultorias em administração. Tudo começou com um artigo que imediatamente suscitou diversos admiradores. A partir de então, as idéias de Porter se tornaram, rapidamente, os fundamentos obrigatórios de disciplinas nos cursos de graduação e pós-graduação em Havard. Porter é autor de 17 livros e de mais de 90 artigos publicados pelas mais prestigiosas revistas acadêmicas.

Segundo Aktouf o “porterismo” tornou-se mais do que uma simples teoria ou um decálogo de normas para o uso de gerentes que querem crer-se estratégicos. Seu modelo analítico passou a ser um molde generalizado de concepção e de análise, uma visão do mundo, uma ideologia plena e inteira.

A problemática, a princípio, consiste em nos interrogarmos acerca dos atributos ou fatores que fizeram as idéias de Porter adquirirem tanta relevância. Pode o modelo de

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Porter de aquisição de vantagens competitivas pelas nações ser universal, válido em todas as situações? Em que ele avança em relação às teorias anteriores e do que ele não trata?

II. A pergunta

Quais são as lacunas teóricas que estão presentes no modelo teórico de Michael Porter (Diamante Nacional) que trabalha com o conceito de Vantagem Competitiva, tendo como fundamentos as teorias precedentes, em especial, o pensamento Neo-schumpeteriano?

III. Os pressupostos

Michael Porter oferece a promessa de modelo de desenvolvimento econômico baseado na construção de vantagens competitivas e uma explicação fundada sobre uma estrutura teórica consistente e empiricamente verificável; capaz de prever o comportamento das empresas, com isso conseguindo articular um influente paradigma no campo da estratégia empresarial; sugerindo ainda que esse conjunto fatores, adotados sistematicamente, fornecerá vantagem competitiva para regiões ou mesmo países, sendo, assim, reconhecido como um modelo de desenvolvimento econômico.

Essa promessa apresenta-se convincente e crível pelo fato de Porter ter se utilizado de conceitos e elaborações de outros teóricos da área que tratam sobre o tema e exposto isso em uma formatação clara e acessível, tanto dentro como fora do meio acadêmico.

1.3 – AS JUSTIFICATIVAS

A ausência na literatura nacional de trabalhos críticos detalhados com foco (teses e dissertações) no modelo de Michael Porter (Diamante Nacional – A construção de Vantagens Competitivas) é a maior justificativa deste trabalho. A pesquisa tem o propósito de identificar as principais lacunas e fragilidades apresentadas pela

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argumentação de Porter na sua proposição de obtenção de Vantagens Competitivas, através do seu modelo Diamante Nacional, como um paradigma de desenvolvimento econômico.

Justifica-se também pela investigação dos conceitos de vantagens desde a origem nos clássicos até as últimas correntes mais recentes (neo-schumpetrianos / evolucionistas), verificando as fontes do desenvolvimento das idéias de Porter. Onde buscou inspiração? Quem são os teóricos e as escolas de pensamento que ele utilizou?

1.4 – OS OBJETIVOS

O propósito deste trabalho de pesquisa será analisar os determinantes que compõem o modelo do “Diamante Nacional” de Michael Porter, à luz de teorias precedentes (conceitos e escolas de pensamento) que tratam do tema Vantagens na Competição, em especial a escola de pensamento neo-schumpteriano. Ao se proceder assim, estar-se-ia verificando suas deficiências enquanto modelo de análise do desenvolvimento econômico de nações ou regiões destacando as principais críticas de acordo com o pensamento neo-schumpetriano, as de John Dunning e Rajneesh Narula e Omar Aktouf.

1.5 – AS ESCOLHAS TEÓRICAS METODOLÓGICAS I. O marco teórico

O tema Vantagem Competitiva possui uma ampla abordagem teórica que se origina nas teorias econômicas e avança pelas teorias organizacionais. Segundo Aktouf (2000), com seus diferentes enfoques, a teoria da vantagem competitiva trabalhada por Porter pretende impor-se como articulação entre a política, a economia e a administração. Entretanto, Aktouf adverte que este gênero de posicionamento em

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relação às teorias mais gerais fica no nível dos aspectos secundários que não acrescentam nada à questão da admissão ou da refutação do argumento central dessa ou daquela concepção histórica, tornada clássica, e, portanto, inevitável.

Apesar desse aspecto geral identificado por Aktouf, a análise de Porter sobre a vantagem competitiva utiliza elementos característicos da Nova Organização industrial e da Teoria da Produção Internacional. Desse modo o escopo do projeto inicia-se com uma evolução do conceito de vantagens absolutas e relativas de Smith e Ricardo (Vantagens Comparativas), passando por Schumpeter (A inovação e papel do empreendedor e a questão do crédito), a abordagem marxista sobre a assimetrias e a construção de vantagens, Vernon e os Neo-schumpterianos e as mudanças tecnológicas (Freeman, Nelson, Winter e Dosi). Ressalta-se ainda os trabalhos recentes de Rosemberg, Perez & Soete sobre inovação e mudança tecnológica vinculadas ao desenvolvimento econômico.

II. Revisão da Literatura - Breve histórico das Escolas de Pensamento Econômico

O estudo da teoria da Economia Industrial, ao longo do tempo, não deixa margem à dúvida quanto ao fato de que ela evoluiu com a época, o desenvolvimento tecnológico e as ideologias vigentes em cada período, limitada pelas circunstâncias históricas de cada momento.

Os primeiros pensadores econômicos a formularem uma literatura de maneira ordenada e lógica sobre o sistema econômico, tentando explicar o funcionamento das leis econômicas e do cenário institucional no qual deveriam funcionar, foram os fisiocratas, cujo principal representante era François Quesnay.

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Apesar dos grandes avanços dos estudos no setor agrícola, suas idéias ainda não consideravam como relevantes, no contexto econômico, as unidades de produção industrial que se encontravam na etapa do artesanato ou da manufatura, mas valorizavam as atividades econômicas defendendo, o laissez faire e o laissez passer (plena liberdade na produção e na distribuição).

Os fisiocratas abordavam todos os problemas sob o ângulo de seus efeitos na agricultura. Eles argumentavam ser a terra a única fonte de riqueza, e o trabalho na terra o único trabalho produtivo. As demais atividades, como a indústria e o comércio, embora necessárias, não faziam mais que transformar ou transportar os produtos da terra.

Posteriormente, com a ascensão da produção industrial durante a Revolução Industrial na Inglaterra, desenvolveu-se uma nova ideologia que trouxe consigo teorias econômicas baseadas no liberalismo clássico. Formularam-se, assim, uma série de doutrinas que eram as "Leis Naturais da Economia".

Estas idéias eram baseadas nos fundamentos da doutrina do Laissez-Faire, segundo o qual caberia aos governos assumirem funções de apoio às atividades lucrativas, sem qualquer interferência nos demais assuntos econômicos. Seguindo esta linha de pensamento estão os estudos desenvolvidos por Adam Smith, Ricardo, Malthus, Say. Desse processo estruturado de análise da atividade econômica aparecem os conceitos de vantagens.

Suas concepções teóricas estavam baseadas nas profundas transformações ocorridas no ambiente econômico, caracterizado por uma divisão social entre o campo e as atividades manufatureiras e terciárias, bem como uma dinamização dos relacionamentos setoriais. Assim sendo, a economia adquire um caráter científico na

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medida em que seus representantes passam a centralizar a abordagem teórica na questão do valor, cuja fonte original era o trabalho.

Adam Smith desenvolveu suas idéias dentro do marco do liberalismo, analisando a situação das empresas perante o mercado, procurando explicar a formação de preços pelas firmas com base em duas formas de organização do mercado: a Concorrência

Perfeita e o Monopólio. No sistema de Concorrência Perfeita, a empresa tem seus

preços determinados pelo mercado, através das relações entre oferta e procura, e este preço, por sua vez, determina a produção, os custos e o lucro. Já no monopólio, a empresa tem certo poder de determinação de preços, que se situam acima dos preços determinados no mercado de livre concorrência.

Para David Ricardo, o livre jogo do mercado, ou seja, a lei da oferta e da procura, assegurava não só o equilíbrio econômico, mas também o equilíbrio entre as três classes da sociedade (proprietários fundiários, proprietários de capitais e trabalhadores), mesmo que seus interesses pareçam contraditórios, levando ao equilíbrio também entre nações, com o jogo dos custos comparativos e da especialização garantindo o interesse recíproco de todos (Vantagens Comparativas).

Outro teórico clássico, Jean Baptiste Say, analisando a produção de riquezas, desenvolve o conceito de indústria, salientando os diferentes tipos de indústria e como elas concorrem para a produção. "Define três tipos de indústrias: a) indústria agrícola, quando esta se limita a colher os produtos da natureza; b) indústria manufatureira, quando ela separa, mistura e modela os produtos da natureza para adaptá-los a nossas necessidades; c) indústria comercial ou comércio, quando coloca à nossa disposição os objetos de que necessitamos e que, não fosse ela, estariam fora de alcance".

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A partir de 1870, com as contribuições de Stuart Mill, Marshall, Jevons e outros, são desenvolvidas novas teorias de determinação de preços como tópico básico para a compreensão da alocação de recursos. Estas idéias, denominadas neoclássicas, seguem os preceitos clássicos do comportamento das firmas em relação ao mercado, acrescentando outros elementos quanto ao comportamento da firma em relação às suas decisões de produção.

O tema central da teoria neoclássica passou a ser a sua maneira de analisar a teoria dos preços, fundamentada em uma teoria de valor baseada nos conceitos de utilidade, como elemento essencial na tomada de decisões das firmas. A firma ou empresa, desta forma, consiste em uma unidade primária, a partir da qual os recursos são organizados com o fim de produção em busca da maximização dos lucros.

A análise da escola neoclássica caracteriza-se fundamentalmente por ser microeconômica, baseada no comportamento dos indivíduos e nas condições de um equilíbrio estático, estudando os grandes agregados econômicos a partir desse ponto de vista. Tem como postulado a concorrência perfeita e a inexistência de crises econômicas, admitidas apenas como acidentes ou conseqüências de erros.

A teoria da firma desenvolvida sobre o enfoque neoclássico, descreve o equilíbrio da firma como função de ajustes em termos de variações em unidades produzidas (Teoria da Produção) e de custos (Teoria dos Custos). Neste sentido, em concorrência perfeita, o nível de produção da empresa se situaria no ponto onde os custos marginais se igualam ao preço, assegurando lucros normais para a firma. E no Monopólio, no ponto onde os custos marginais se igualam às receitas marginais, com a conseqüente maximização dos lucros.

Uma outra visão derivada da clássica foi desenvolvida por Marx, e continuada por seus seguidores denominados "Socialistas Científicos". Estes pensadores voltaram suas

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observações para a Economia Industrial analisando o processo de acumulação de capital no sistema capitalista, mostrando haver uma correlação entre a crescente acumulação e concentração de capital e a pauperização relativa da classe operária, o que levaria a contradições básicas do sistema.

A partir de meados da década de vinte do século passado, a teoria econômica tradicional - a neoclássica, preocupada particularmente com a determinação de uma posição de equilíbrio no âmbito da firma e do sistema econômico e com as premissas de concorrência perfeita, passou a ser questionada. A suposição de maximização de lucro como meta única do comportamento empresarial não se mostrava mais suficiente para explicar o comportamento gerencial voltado para outros objetivos que não o lucro.

Com base nesta lógica, as críticas à análise neoclássica trouxeram uma nova visão sobre a determinação de preços, ao questionarem as premissas básicas da concorrência perfeita e a existência de apenas duas formas de organização do mercado propostas pelos clássicos.

Grande parte das pesquisas foi desenvolvida com a proposta de definir melhor o mercado, buscando uma renovação das análises sobre o tipo de organização. Alguns autores como Sraffa criticam a economia neoclássica e os preceitos da concorrência perfeita, questionando a sua não aplicabilidade a qualquer mercado real e salientando a força do hábito, o conhecimento pessoal, a quantidade de produto, a proximidade do vendedor, a existência de necessidades particulares, o prestígio de uma marca e outros, como fatores que influenciam a decisão do consumidor, levando-o a preferir um vendedor em detrimento de outro.

Simultaneamente surgem as teorias da concorrência imperfeita e monopolística que emergem dos trabalhos de Robinson e Chamberlin, criticando também a concorrência perfeita e salientando estas novas formas de competição, como conseqüência do grau

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de diferenciação do produto das firmas, e pela ligação destas à grupos de compradores por algo mais que o preço, assim como: localização do vendedor, marca, custos de transporte e publicidade.

Neste contexto surge o enfoque de Schumpeter, que procura romper com a principal coluna de sustentação da teoria neoclássica: a noção de equilíbrio de mercado. De acordo com a teoria schumpteriana, há um constante desequilíbrio micro e macroeconômico decorrente dos esforços inovativos dos agentes em concorrência (Possas, 1996). Esse novo enfoque traz de volta ao debate as vantagens competitivas e sua relação com o processo de desenvolvimento econômico. Às visões de Schumpeter somaram-se outras como as de Bain, Labini, etc... que ajudaram a entender melhor o sistema capitalista contemporâneo.

De fato, a ênfase na interdependência, no conceito de indústria como um número de concorrentes com produção de mercadorias que são substitutas próximas entre si, configurando homogeneidade ou diversificação e o questionamento da livre entrada, associado aos desequilíbrios do mercado, redundaram num processo de centralização e concentração de capitais que propiciou o crescimento das empresas e a formação de mercados com pequeno número de rivais entre si - o oligopólio.

A partir de então, os estudos passaram a enfatizar o conceito de firma como uma organização em crescimento com outros atributos dinâmicos, além dos representados pelas curvas de custos e rendimentos, ou por um equilíbrio baseado nas decisões sobre preço e produção.

Os aspectos relacionados à organização interna e à estratégia de comportamento da empresa assumem relevância. De igual importância, as características da estrutura de mercado e o seu embasamento, principalmente em pesquisas empíricas e estudos econométricos, assumem um papel preponderante. Dentre estas, são típicas as

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seguintes: concentração de mercado, substitutibilidade de produtos, as questões da dimensão das empresas e aquelas relacionadas à entrada potencial de novos competidores limitada por barreiras à entrada de novas firmas. Constituindo-se todos esses elementos como fatores importantes na construção de vantagens no processo concorrencial.

Adicionalmente, podem-se incluir as estruturas de custo, a integração vertical e o grau de conglomeração como elementos constitutivos da estrutura de mercado, caracterizada como o primeiro elo na cadeia de causalidade do modelo de

Estrutura-Conduta-Desempenho, modelo este que passou a ocupar o posto de paradigma

teórico por excelência das teorias microeconômicas auto-rotuladas como verdadeiramente preocupadas com as questões práticas ligadas às empresas, à indústria e aos mercados.

Desta forma, a abordagem da Organização Industrial ou Economia Industrial consolida-se como uma disciplina da Ciência Econômica sob o paradigma

Estrutura-Conduta-Desempenho. A formulação pioneira desta metodologia foi de Joe S. Bain (1959),

tendo como ponto central o relacionamento entre a organização e a indústria, sendo que a estrutura da indústria determina os retornos das organizações que nela estão inseridas. Os autores desta abordagem consideram que a conduta da organização e o seu desempenho resultam diretamente das características da estrutura da indústria.

Finalmente, na década de 70, surgiram novas análises que se adicionaram aos estudos anteriores sobre a estrutura e o desempenho das indústrias, destacando-se duas linhas de pensamento que ganharam influência na moderna economia industrial: as análises de Chicago - UCLA, sustentando a possibilidade de se manter a estabilidade de uma economia capitalista apenas por meio de medidas monetárias, baseadas nas forças espontâneas do mercado. Suas teorias baseiam-se na teoria Quantitativa da Moeda, formulada por meio de uma equação que estabelece uma

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relação entre preços, o número de transações e o volume de dinheiro e sua velocidade de circulação na economia, e a teoria da Contestabilidade, desenvolvida pela escola da Contestabilidade de Baumol-Bailey-Willig.

Simultaneamente à estas vertentes referidas, surge uma nova corrente alternativa de análise da organização industrial baseada na Teoria dos Jogos, formulada a partir de um comportamento de equilíbrio da firma onde esta ajusta quantidades, preços e outras variáveis, de forma cooperativa ou não, basicamente ligada aos primórdios das teorias do oligopólio, deixando de lado as premissas do modelo Estrutura-Conduta-Desempenho. Vale registrar ainda o surgimento da escola neo-schumpteriana, derivada do pensamento de Joseph Alois Schumpeter, cuja atenção principal volta-se para o processo de inovação tecnológica e sua correlação com o desenvolvimento econômico. Outras escolas recentes aparecem nas últimas décadas, com destaque para a corrente regulacionista e os neo-institucionalistas.

III. Nova Organização Industrial / Teoria da produção internacional

Segundo Dunning (1990), a Teoria da Produção Internacional tem chegado a algum grau de maturidade nos últimos 30 anos, na tentativa de oferecer uma explicação geral para as atividades que possam agregar valor em empreendimentos externos efetivados pelas firmas. O autor observa que, de certa forma, já é amplamente aceito, na teoria econômica, que a maior ou menor propensão para uma firma produzir fora de suas fronteiras nacionais, está relacionada a três importantes aspectos: primeiro à capacidade em obter e trabalhar determinados fatores e ativos, tais como tecnologia, capacidade organizacional, empreendedorismo, acesso a mercados, etc...; segundo à capacidade própria de agregar valor e lucratividade à esses ativos e fatores; e terceiro à possibilidade das firmas estarem relacionadas à atividades agregadoras de valor (cadeia de valor), sejam através de firmas locais ou não.

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O consenso em torno desse entendimento tem sido bastante útil para a compreensão das atividades das empresas transnacionais, mas não o suficiente para fornecer subsídios para a análise do IED (Investimento Externo Direto). Para tanto, faz-se necessário uma nova teoria que possa combinar as vantagens competitivas das firmas, com as vantagens nacionais oferecidas dentro de um cenário internacional caracterizado por uma ampla movimentação de capitais.

Vários pesquisadores têm buscado formular conceitos teóricos que possam explicar a origem e o crescimento da produção internacional e as atividades empresariais internacionais, principalmente no que diz respeito às possíveis explicações ou justificativas em relação aos investimentos privados externos. Entretanto, as diversas tentativas, muitas vezes, não conseguem explicar ou identificar os elementos que, em seu conjunto, podem levar à construção de uma teoria que encorpe os diversos comportamentos estratégicos das firmas, em um determinado período de tempo e espaço.

Dunning considera que a diversidade de teorias que surge, com a expectativa de explicar tais fenômenos, advêm do próprio processo de amadurecimento que a teoria econômica vêm realizando nessa área nas últimas décadas. O autor aponta que algumas teorias tiveram um poder explicativo válido por um determinado período de tempo, mas que as relações empresariais internacionais e os cenários mundiais transformaram-se tão rapidamente, que colocaram por terra seus pressupostos. Além disso, é importante observar que as teorias mais recentes abordam esse fenômeno sob diferentes aspectos, tentando investigar características como causalidade, processos envolvidos, ou mesmo possíveis externalidades que estejam atreladas ao objeto de estudo. As escolas e os teóricos buscam contribuir, analisando diferentes modalidades e dimensões que a produção internacional possa assumir, e isso tem colaborado no processo de amadurecimento da teoria econômica.

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Os trabalhos acadêmicos dos últimos anos têm procurado explicar o crescimento da produção internacional, tendo como ponto de partida a firma (uma entidade organizacional). Dunning ressalta a importância de ser dada maior atenção ao ambiente econômico internacional, em especial, à dinâmica estabelecida entre as vantagens competitivas das firmas e as vantagens nacionais oferecidas pelos países.

É importante salientar o esforço teórico efetivado nos últimos trinta anos com o intuito de sistematizar uma explicação satisfatória a respeito do fenômeno da produção internacional. Inicialmente, ainda na década de 60, devem ser destacadas as pesquisas de Stephen Hymer (1960) que observou, na década de 50, um crescimento nas atividades das firmas americanas fora dos Estados Unidos, em especial no Canadá e na Europa, e concentrado em setores industriais.

Seus estudos nesta época ainda estavam fundamentados na explicação tradicional da movimentação internacional de capitais (diferença de taxas entre países), e o autor não demonstrou preocupação com o financiamento das atividades das firmas. Hymer, em sua análise, utilizou-se, também, dos estudos de outro teórico importante nessa área, Joe Bain. As pesquisas sobre barreiras a entrada de Bain (1956), possibilitaram a identificação de alguns elementos (custos absolutos, economias de escala, fatores de produção, fatores de mercado, etc...) que facilitariam ou dificultariam as empresas penetrarem em determinados mercados.

Outra importante contribuição nessa área foi feita por Raymond Vernon (1966). Em seu trabalho, o autor, destaca a importância dos fatores específicos nacionais (locais) que influenciam tanto a questão da competitividade das firmas bem como sua capacidade de agregar valor à suas atividades. Em seu trabalho, Vernon (1979) destaca que, para uma completa explicação sobre a produção e comercialização internacional, a teoria deve considerar elementos como as vantagens que autorguem maior capacidade de competir às firmas e nações.

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Na década seguinte as pesquisas de Hymer e Vernon sobre a produção internacional tiveram quatro importantes desdobramentos, quase todos baseados na continuidade de pesquisas de firmas americanas instaladas em outros paises. Autores como Pavitt (1987), Cantwell e Hodson (1990) procuraram identificar em suas pesquisas, as ligações existentes entre a propensão das firmas em produzir fora de suas fronteiras nacionais e as condições competitivas oferecidas por determinados setores de um país. Vários estudos, principalmente estudos comparativos, são desenvolvidos com o intuito de analisar as similaridades de comportamentos dos mercados, o desenvolvimento de padrões em setores e entre firmas, a formação de oligopólios, ou até mesmo as condições pré-existentes em países desenvolvidos (vantagens) que seriam atrativas, para as atividades das empresas transnacionais.

Observa-se que, com a evolução dos estudos econômicos sobre a produção internacional, surge um novo enfoque de análise que passa a identificar a firma não apenas como um agente de transação no mercado, porém como uma entidade organizacional estratégica (produtora de valor), assumindo, por vezes, o papel de agente organizador, tendo, com isso um papel diferenciado na teoria da produção internacional. A década de 70 é caracterizada, também, por uma forte mudança na teoria organizacional. O surgimento de novos modelos de gestão e estruturas organizacionais dá novos contornos e uma maior complexidade de análise à teoria da administração. Vários teóricos, na área econômica, começam a investigar a questão do comportamento estratégico das firmas e suas ilações com as atividades internacionais e o comportamento dos mercados.

È importante salientar, que, ainda na década de 70, o sistema capitalista passa por mais uma forte crise, caracterizada pelo fim do padrão de desenvolvimento pós-guerra: o fordismo. A aceleração das taxas de inflação, a estagnação da produtividade, a redução dos níveis de crescimento, a elevação dos defict públicos e o aumento do

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desemprego são alguns dos elementos que retratam esse momento de crise nos países centrais desenvolvidos.

Filgueiras (1997) identifica alguns elementos que exercem importante papel nesse cenário de alterações das relações econômicas, políticas e sociais mundiais. Dentre os elementos expostos pelo autor, deve ser destacado o processo de reestruturação produtiva dos anos 70. A reestruturação aparece como resposta à crise econômica enfrentada pelos países centrais e propicia mudanças estruturais no âmbito da produção e do trabalho, em que duas perspectivas centrais podem ser analisadas. Sob a perspectiva setorial, pode-se identificar uma reorganização e reorientação dos setores industriais, com a realização de investimentos em setores de ponta (informática, química fina, biotecnologia e telecomunicações), a modernização de setores dinâmicos (automobilístico, máquinas e equipamentos e petroquímica) e o declínio de setores tradicionais (têxtil e siderurgia). Sob a perspectiva de processo de trabalho, verifica-se a adoção de um novo paradigma tecnológico e organizacional, com a migração do uso de tecnologias de base eletromecânicas para tecnologias de base micro-eletrônicas e a utilização de novos esquemas de gestão e organização do trabalho.

IV. Quadro teórico de referência - Michael Porter na literatura econômica

No final da década de 70 e início da década de 80, a crise apresentada pelo capitalismo começa a apresentar reverberação no meio acadêmico e começam a surgir teorias, sobre a produção internacional, mais orientadas por aspectos tais como: o uso da tecnologia e a dinâmica do processo de inovação.

Os novos estudos apontam para uma preocupação em analisar os aspectos dinâmicos da atividade empresarial multinacional e suas alterações ao longo do tempo. Os trabalhos de Michael Porter (1986) e Bruce Kogut (1985) procuram identificar o papel

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central desempenhado pelas vantagens competitivas oferecidas pelos países (recursos, mercados, instituições, etc...), em relação à propensão das firmas em empreender e inovar fora de suas fronteiras. Nesse novo enfoque, as vantagens competitivas das firmas devem ser algo a ser explicado pela teoria, e não mais visto como um aspecto a ser tomado.

Porter (1986) tenta distinguir cuidadosamente quais são as variáveis específicas da firma e dos países que influenciam no processo de globalização. Além disso, Porter, em seu livro Competition in Global Industries, identifica três grupos de produtores internacionais: No primeiro grupo estariam as firmas domésticas que possuem orientação para o mercado externo (exportações). No segundo grupo, Porter classifica as firmas multinacionais que possuem bases externas (exercem atividades com valor agregado) em diversos países, porém possuem uma gestão individualizada em cada país. E no terceiro grupo estão as firmas globais, em que suas posições competitivas em cada país são afetadas pelo seu posicionamento em outros países, necessitando, dessa forma, uma coordenação global de suas operações.

Dunning (1990), observa que mesmo as teorias nas quais as vantagens nacionais assumem um papel relevante como elemento explicativo da produção internacional, dedicam pouca atenção ao modo como as vantagens competitivas nacionais afetam e são afetadas pelo comportamento e pelas estratégias adotadas pelas firmas para produzir e comercializar produtos e serviços fora de suas fronteiras nacionais. Esta interface dinâmica entre os elementos formadores das vantagens competitivas das firmas e dos países será, inequivocamente, tema para novas abordagens na teoria da produção internacional.

V. Porter e a Vantagem Competitiva do Estado

Em sua abordagem de 1986, Porter evidencia que as visões econômicas tradicionais (Teoria Neoclássica), que definem competitividade como uma questão de preços,

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custos, taxas de câmbio dentre outros elementos, estão aparentemente superadas. Essa concepção levou vários países a manipularem tais fatores na expectativa de conseguirem vantagens no processo de competição global. Entretanto os exemplos do Japão e da Alemanha corroboram inversamente às expectativas dessa teoria.

Ademais, notadamente a busca de uma significação para competitividade baseada unicamente através de uma característica isolada, pode levar a uma falsa interpretação da realidade. O conceito de competitividade e a busca dessa vantagem, seja dentro da empresa ou por uma atratividade demonstrada por um Estado ou nação, reside, fundamentalmente, nos ganhos de produtividade e nos valores agregados disponíveis no processo produtivo e social. Verificar os determinantes dessa produtividade e o seu real crescimento em um determinado período de tempo, constitui-se uma das mais importantes tarefas na análise do desenvolvimento econômico.

Nesse momento vale ressaltar, também, as diferenças entre vantagem comparativa e vantagem competitiva. A Teoria das Vantagens Comparativas de Ricardo (1988), trabalhada posteriormente por Heckscher e Ohlin (1933), baseia-se na idéia que todas as nações têm tecnologia equivalente, mas diferem na disponibilidade dos chamados fatores de produção, como terra, mão-de-obra, recursos naturais e capital. Esses elementos, indissociáveis do processo produtivo, foram importantes no entendimento da busca de vantagens tanto entre nações como entre empresas. A otimização dos fatores de produção visando a redução dos custos e o aumento da produtividade foi essencial em termos de competitividade empresarial. Entretanto a necessidade de extrapolar a utilização de mecanismos que busquem um incremento ainda maior na produtividade das empresas, e que contemplem outros fatores também integrantes da competição, fizeram com que a Teoria da Vantagem Comparativa não fosse suficiente para explicar a evolução da competição real. Não incorporar elementos como a definição de estratégias próprias e individualizadas, a movimentação de capital e recursos humanos e tecnologia entre localidade e organizações, coloca limitações à

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teoria das vantagens comparativas com relação a uma explicação lógica dos novos cenários competitivos e às rápidas modificações tecnológicas e econômicas.

Ademais as vantagens comparativas podem apenas constituir-se em vantagens passageiras ou vulneráveis. Os custos dos fatores podem ser modificados rapidamente através da utilização de novas tecnologias. Os subsídios governamentais podem tornar empreendimentos viáveis ou não por determinado período de tempo. Os baixos custos de trabalho podem ser modificados de uma região para outra através dos processos de deslocamentos intensivos. A facilidade de manipulação desses fatores como diferencial para a competição tem fomentado diversas regiões a disputarem e atraírem indústrias para implantarem novos empreendimentos locais.

O novo cenário econômico tem diminuído a importância dos custos desses fatores principalmente em indústrias que utilizam intensivamente tecnologia sofisticada e mão-de-obra altamente especializada. A utilização de novas tecnologias possibilitou às empresas ter capacidade de compensar os fatores escassos, por meio de novos produtos e processos. Entretanto essa análise deve ater-se a determinados segmentos industriais que podem prescindir desses fatores. Paralelamente a utilização de tecnologias avançadas diminuindo o papel dos fatores, liberta as empresas da necessidade de instalação de suas bases em localidades específicas.

Com o fenômeno da globalização da economia e a internacionalização das empresas seria lógico concluir, então, que, à primeira vista, o Estado perdeu sua importância no sucesso empresarial das organizações. Entretanto, a realidade tem demonstrado que essa conclusão pode ser precipitada na medida que tem sido cada vez mais relevante e estratégica a escolha da localização dos novos empreendimentos empresariais.

Parece lógica a importância de modelos de análise que abordem essas questões e tentem fornecer um entendimento para as novas perguntas que se apresentem na

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

39 -ordem do dia: Quais são os novos determinantes de competitividade para um Estado? Quais características verdadeiramente podem responder e explicar a consolidação de um Estado ou Nação que possui vantagens que sejam fomentadoras de um desenvolvimento econômico estruturado e sustentável? É certo que além dos fatores econômicos trabalhados pela Teoria da Vantagem Comparativa, novos elementos tais como diferentes estruturas econômicas, valores, culturas instituições e histórias nacionais irão também ser preponderantes no entendimento da construção de vantagens competitivas nos Estados ou Nações? Michael Porter tenta dar essas respostas através de seu modelo de análise - Diamante Nacional.

Modelo de análise da Pesquisa

VANTAGEM COMPETITIVA: PRECEDENTES TEÓRICOS DA ANÁLISE DO DIAMANTE NACIONAL DE PORTER

C o n c e ito T e rr itó rio s e re g iõ A s s im e tri a s e In te rc â m b io V a lo riz a ç ã o d o C a p ita l T e o ria s d a p ro d u ç ã o in te rn G lo b a liz a ç ã o M u n d ia liz a ç ã o d o C a p ita l

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PRECEDENTES TEÓRICOS

PRECEDENTES TEÓRICOS

Figura 01. Modelo de Análise. Fonte: Elaboração própria.

O projeto de pesquisa utilizará no seu modelo de análise (figura 01) o conceito central de Vantagem Competitiva. Alinhado ao conceito central será analisado o modelo teórico do Diamante Nacional de Michael Porter, que tenta ser um modelo de desenvolvimento econômico baseado na construção de Vantagens Competitivas para um Estado ou Nação.

Dentro de seu modelo (figura 02) analisaremos seus determinantes e os conceitos mais importantes que contribuem para o entendimento do modelo e as críticas das

Vantagem Competitiva

Diamante Nacional Vantagens Absolutas – Adam

Smith

Vantagens Comparativas – Ricardo

Teorias do Comércio Internacional

C o n c e p ç ã o d o E q u ilí b ri o In o v a ç ã o T e c n o ló g ic a C o m p e ti ti v id a d e S is tê m ic a D e te rm in a n te s d o M o d e lo L im it e s E x p lic a ti v o s I D P C rí ti c a s a o M o d e lo

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idéias de Porter em sua explicação da Construção das Vantagens Competitivas, à luz das teorias precedentes.

Figura 02: Diamante Nacional - Sistema Completo.

Fonte: Extraído do livro Vantagem Competitiva das Nações.

VI. Os procedimentos, técnicas e delimitação do universo de pesquisa

Esta pesquisa foi desenvolvida mediante revisão bibliográfica abrangendo publicações nacionais e internacionais e trabalhos acadêmicos inéditos (Teses e Dissertações produzidas no país) que versam sobre o tema e adotou os seguintes procedimentos: 01) Revisão da literatura econômica que tratam sobre o tema

Condições de fatores Estratégia, Estrutura e Rivalidade das empresas Indústrias Correlatas e de apoio Condições de demanda Ação do governo Acaso

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Vantagens Competitivas, desde a abordagem clássica até a escola de pensamento neoschumpetriana; 02) Identificação e análise do conceito de competitividade e seus elementos; 03) Inserção de Porter na literatura econômica com a apresentação do modelo de análise do Diamante Nacional como modelo de desenvolvimento econômico através da construção de vantagens competitivas; 04) Identificação dos seus principais determinantes do modelo à luz literatura revisitada; 05) Verificação da origem das idéias e conceitos utilizados pelo autor dentro da teoria econômica, e; 06) Crítica do modelo sob a ótica das escolas de pensamento econômico, em especial a visão neo-schumpeteriana.

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”Não só o trabalho aplicado diretamente às mercadorias afeta o seu valor, mas também o trabalho gasto em implementos, ferramentas e edifícios que contribuem para a sua execução ” David Ricardo, 1823

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2. DA VANTAGEM COMPARATIVA À COMPETITIVA 2.1 - O Capitalismo como começo

2.1.1 - O sistema de produção capitalista

Quando são tratados os temas Vantagens Absolutas, Vantagens Comparativas ou Vantagens Competitivas é preciso entender antes um pouco em que contexto histórico esses temas são propostos e seus conceitos construídos. Para tanto, mister se faz uma síntese da origem do sistema de produção capitalista, bem como de algumas de suas características e sua evolução. O Capitalismo como sistema econômico, político e social dominante surgiu muito lentamente, num período de vários séculos, muito antes das tentativas de compreensão de Adam Smith. Embora não haja concordância entre os economistas e historiadores de economia sobre quais as características essenciais desse sistema, podem-se identificar quatro conjuntos de esquemas institucionais e comportamentais (Hunt, 1985): produção de mercadorias, orientada pelo mercado; propriedade privada dos meios de produção; um grande segmento da população que não pode existir a não ser que venda sua força de trabalho no mercado; e comportamento individualista, aquisitivo, maximizador, da maioria dos indivíduos dentro do sistema econômico.

Antes de identificar, de forma sintética, as características do Capitalismo, é importante observar que um dos elementos centrais desse sistema, embora não exclusivo, foi sua capacidade de produzir excedentes sociais. Na evolução histórica da economia capitalista, a maioria das pessoas, em cada sociedade, trabalha para produzir o necessário para sustentar e perpetuar o modo de produção, bem como o excedente social, enquanto uma minoria se apropria deste excedente e o controla.

Segundo Hunt, a primeira característica definidora do capitalismo relaciona o valor de uso e o valor de troca dos bens produzidos. A produção de mercadorias existe, enquanto sistema, desde que os produtos são fabricados pelos produtores sem

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qualquer interesse pessoal imediato em seu valor de uso (quando uma mercadoria é avaliada por seu uso na satisfação pessoal das necessidades), mas, sim em seu valor de troca (os produtos têm valor porque podem ser trocados por moedas). Dessa forma, a produção de mercadorias não é um meio direto de satisfação de necessidades, mas sim um meio de adquirir moeda pela troca de produtos por moeda.

A segunda característica é a propriedade privada dos meios de produção. Essa é expressa pelo direito que a sociedade facultou a determinadas pessoas de determinar como matérias-primas, ferramentas, maquinaria, etc.., seriam utilizados. Essa característica permitiu ao sistema capitalista a apropriação do excedente social1. A propriedade se concentra na mão de um pequeno segmento da sociedade – os capitalistas, que por sua vez, não precisava desempenhar qualquer papel direto no processo produtivo, de modo a controlá-lo, pois a propriedade lhe dava esse controle.

A terceira característica, decorrente da propriedade privada dos meios de produção, é que a maioria dos agentes no processo produtivo, já que não são proprietários dos meios de produção, devem vender sua força de trabalho para que possam sobreviver dentro do sistema. Na relação entre proprietários dos meios de produção, capitalistas, e a classe trabalhadora que oferece sua força de trabalho, é estabelecido um elo de dominação entre classes. Desse modo, diferente de qualquer outro sistema produção anterior, o Capitalismo faz da força produtiva humana uma mercadoria em si mesmo – força de trabalho – e gera um conjunto de condições pelas quais a maioria das pessoas não pode viver, a não ser que elas sejam capazes de vender a mercadoria de que são proprietárias – a força de trabalho – a um capitalista, em troca de um salário. Com este salário, podem comprar dos capitalistas somente uma fração das mercadorias que eles mesmos produziram. O restante das mercadorias que produziram constitui o excedente social e é retido e controlado pelos capitalistas. A

1

- É importante lembrar que a transição do sistema feudal para o capitalista tem como mudança essencial à desvinculação de um sistema paternalista, baseado em crenças e tradições medievais para uma situação onde direitos e deveres eram expressos através de contratos.

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quarta e última característica é a de que a maioria das pessoas é motivada por um comportamento individualista, aquisitivo e maximizador.

A saída do sistema medieval para o sistema capitalista é marcada por uma significativa mudança nas relações de produção. Os costumes e a tradição eram a chave das relações no feudo, no qual à vontade do senhor feudal prevalecia sobre as demais (lavradores, servos, comerciantes, etc...), não havendo um poder central que pudesse impor um sistema de leis. Em troca, o senhor feudal fornecia proteção, supervisão e administração da justiça; já no sistema capitalista a lógica é baseada no cumprimento de leis de caráter universal e contratos.

Vários fatores foram responsáveis pelo processo de transição do sistema de produção medieval para o capitalista, entretanto vale destacar uma alteração que teve forte impacto e que propiciou uma sucessão de modificações nas atividades produtivas exercidas pela sociedade medieval2. Segundo Hunt, na Idade Média a hierarquia social era baseada nos laços do indivíduo com a terra e o sistema social por inteiro repousava em base agrícola. Era de se supor, então, que qualquer alteração na base agrícola obtivesse desdobramentos significativos em toda a sociedade da época3. Dessa forma, o mais importante avanço tecnológico4 da Idade Média, com significativos impactos econômicos e sociais, foi a substituição do sistema de plantio de dois campos para o sistema de três campos. Essa mudança no processo de plantio com a introdução de uma rotação de cultivos e períodos de descansos fizeram

2

- Segundo Hunt, outras forças de mudança também foram instrumentais na transição para o Capitalismo. Entre estas estava o despertar intelectual do século XVI, o período de grandes descobertas e novas rotas de navegação (Índia, África e Américas), o fluxo de metais preciosos para a Europa, etc...

3

- Para maiores esclarecimentos sobre a passagem da agricultura medieval para a agricultura capitalista ver BAIARDI, A. . MUDANCAS TECNICAS NA AGRICULTURA MEDIEVAL E O PROCESSO DE TRANSICAO PARA O CAPITALISMO. OPS, v. 2, n. 8, p. 13-19, 1997.

4

- Nesse período não é dado à tecnologia qualquer tratamento teórico especial, ao passo que a acumulação de capital, o crescimento da população e os recursos naturais é que terão um significado muito mais ativo que a qualquer mudança tecnológica.

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com que a agricultura medieval ganhasse maior eficiência e produtividade. Ainda segundo Hunt, o sistema de três campos proporcionou outras mudanças importantes:

[...]Plantações de aveia e forragem, na primavera, permitiam a criação de mais cavalos, que começaram a substituir o boi como principal fonte de energia, na agricultura. Os cavalos eram muito mais rápidos e, assim, a área cultivável pôde ser estendida. Maiores áreas cultivadas permitiram que o campo alimentasse centros urbanos mais populosos. Com o cavalo, o transporte de homens, mercadorias e equipamentos tornou-se muito mais eficiente. Um arado puxado por bois exigia três homens para controlá-lo e um arado puxado por cavalos poderia ser operado por um só homem. Além disso, no século XIII, o custo do transporte de produtos agrícolas foi substancialmente reduzido, quando a carroça de duas rodas foi substituída pela de quatro rodas, com eixo dianteiro móvel. (HUNT, História do Pensamento econômico: Uma Perspectiva Crítica, 1985. p. 32 - 33).

As alterações propiciadas pelas invenções e a utilização de novas tecnologias propiciaram o crescimento de cidades e vilas à época, provocando desdobramentos (externalidades positivas) na produção de bens manufaturados com a ampliação dos trabalhadores urbanos que não tinham relacionamento com a terra (artesãos, nas categorias de mestres e aprendizes), descolando dessa forma da lógica da economia medieval de base essencialmente agrícola.

A melhoria na produtividade e os incrementos na produção agrícola tiveram desdobramentos também em relação ao comércio, dando origem aos primeiros capitalistas comerciantes. O excedente agrícola e também de manufaturas tornava-se disponível tanto para mercados locais (dentro da própria Europa) como internacionais. O fortalecimento do comércio reforçou o crescimento das cidades industriais e comerciais, que por sua vez, auxiliou no processo de desintegração do feudalismo medieval e na transposição do sistema de produção medieval para o sistema capitalista.

Lá pelo século XV, as feiras já estavam sendo substituídas por cidades comerciais, onde florescia um mercado permanente. O

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comércio, nessas cidades, se tornara incompatível com os restritos costumes e tradições feudais. Geralmente, as cidades conseguiam ganhar independências de seus senhores feudais e da Igreja. Sistemas complexos de câmbio, compensação e facilidades creditícias se desenvolveram nesses centros comerciais, e instrumentos modernos, como cartas de crédito, tornaram-se de uso corrente. Novos sistemas de leis comerciais foram criados. Ao contrário do sistema paternalista de execução de dívidas, baseado nos costumes e na tradição vigentes no feudo, a lei comercial era fixada por um código preciso. Assim, esta lei tornou-se a base das modernas leis capitalistas dos contratos, títulos negociáveis, representação comercial e execuções em hasta pública. (HUNT, História do Pensamento econômico: Uma Perspectiva Crítica, 1985. p. 34 - 35).

O sistema capitalista passou por diversas fases na Europa devido aos diferentes graus de amadurecimento das regiões. A fase mercantilista que deu origem aos primeiros capitalistas comerciantes foi o ponto de partida para que à medida que o comércio prosperava e se expandia para diversas regiões dentro e fora da Europa, a necessidade de produtos manufaturados induzia a uma maior importância do processo produtivo. As tradições e costumes perderam espaço para o mercado e suas regras e quando isso se consolidou surgiu então o Capitalismo.

Um outro aspecto importante a ser analisado diz respeito às novas classes sociais e econômicas que surgiram desse processo de transposição de um sistema para outro. O sistema de trabalho da era medieval era baseado em uma classe servil que trabalhava nas terras do senhor feudal cultivando os campos para a sua própria subsistência e para alimentar os donos da terra. Com a expansão dos ofícios dos artesãos e o nascimento das indústrias de manufaturas modificam-se as formas de produção. No período medieval, o artesão (trabalhador) vendia um produto acabado ao comerciante feito através de sua habilidade (arte). Com a expansão da necessidade de crescimento da produção de manufaturas para atender o crescimento populacional das cidades, o trabalho é segmentado e o trabalhador oferece apenas sua força de

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