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4.1 As Vantagens Competitivas e o cenário atual

4.2.1 A Vantagem Competitiva do Estado

Analisar as correlações existentes entre as vantagens competitivas das firmas e dos países é uma tarefa que envolve vários elementos complexos tais como fatores de produção, demanda dos mercados, estrutura da indústria, desenvolvimento tecnológico dentre outros. O trabalho de Michael Porter,65 descrito em seu livro “A Vantagem Competitiva das Nações”, tenta avançar nos estudos sobre a produção internacional e relacionar a competitividade das empresas com a competitividade do Estado-nação ou economia politicamente delimitada. Para tanto são analisados o que Porter categoriza como os determinantes da competitividade nacional; ou seja, o que caracteriza uma nação competitiva é o modo como esses determinantes são trabalhados. Antes, porém, da análise dos determinantes e da estrutura do “Diamante Nacional”, Porter explicita seis características que, à princípio, poderiam levar um Estado a uma posição competitiva (figura 09). Entretanto isoladamente essas características não garantem que essa posição competitiva seja alcançada ou mesmo que o Estado - Nação consiga tornar-se atrativo para novos investimentos externos e empreendimentos privados.

65

- PORTER, Michael E.,A Vantagem Competitiva das Nações. Tradução por Waltensir Dutra. - Rio de Janeiro: Campus 1989. Tradução de : The Competitive advantage of Nations.

INDÚSTRIAS COMPETITIVAS PREÇOS COMPETITIVOS SUPERÁVIT COMERCIAL EXPORTAÇÕES NACIONAIS GERAÇÃO DE EMPREGOS CUSTOS UNITÁRIOS BAIXOS ESTADO COMPETITIVO

Figura 09 – Posição Competitiva de um Estado.

Fonte: Elaborado a partir do Livro “Vantagem Competitiva das Nações”. Elaboração própria.

A primeira característica discorrida por Porter supõe que um Estado no qual todas as empresas ou indústrias fossem competitivas, também teria elementos competitivos. Entretanto essa situação configura-se como ideal, pois nenhum Estado ou mesmo nação possui todos os segmentos de sua indústria desenvolvidos.

A segunda característica estabelece que um Estado, cuja taxa de câmbio torne competitivos os preços de seus produtos nos mercados externos, também conquistará uma vantagem competitiva. Historicamente, nações passaram por períodos de moeda forte e pressão ascendente de preços e, no entanto, conseguiram consolidar uma posição de liderança econômica.

A terceira característica atribui uma posição competitiva a um Estado com uma grande e positiva balança comercial. Novamente, verifica-se que uma balança comercial positiva não pode ser utilizada como indicador único de uma economia potencialmente estruturada e competitiva.

A quarta característica também atribui uma posição competitiva a um Estado com uma parcela crescente das exportações nacionais. Estados e Nações têm apresentado participações estáveis em suas exportações sem usufruir de economias vigorosas.

A quinta característica fundamenta a vantagem competitiva em um Estado que pode criar empregos. Nesse item será relevante não apenas criar empregos (quantitativo) como gerar empregos com qualificações adequadas aos novos padrões tecnológicos da nova economia.

A sexta característica exposta por Porter estabelece que um Estado cujos custos unitários do trabalho são baixos poderá alcançar uma posição de vantagem em

relação a outros Estados. Custos unitários baixos que evidenciem uma sustentabilidade devem ser obtidos através de ganhos de performance e não de baixos salários.

Em sua abordagem, Porter evidencia que as visões econômicas tradicionais, que definem competitividade como uma questão de preços, custos, taxas de câmbio dentre outros elementos, estão aparentemente superadas. Essa concepção levou vários países a manipularem tais fatores na expectativa de conseguirem vantagens no processo de competição global, entretanto os exemplos do Japão e da Alemanha corroboram inversamente às expectativas dessa teoria.

Ademais, notadamente a busca de uma significação para competitividade baseada unicamente através de uma característica isolada, pode levar a uma falsa interpretação da realidade. O conceito de competitividade e a busca dessa vantagem, seja dentro da empresa ou por uma atratividade demonstrada por um Estado ou nação, reside fundamentalmente nos ganhos de produtividade e nos valores agregados disponíveis no processo produtivo e social. Verificar os determinantes dessa produtividade e o seu real crescimento em um determinado período de tempo constitui-se uma das mais importantes tarefas na análise do desenvolvimento econômico.

Ë importante a definição de competitividade para identificar seus fatores preponderantes. A Competitividade pode ser vista como a produtividade das empresas ligada à capacidade dos governos, ao comportamento da sociedade e aos recursos naturais e construídos, e aferida por indicadores nacionais e internacionais, permitindo conquistar e assegurar fatias de mercados. A Comissão da presidência dos EUA sobre competitividade industrial propôs em 1985 uma definição abrangente para competitividade de uma nação66:

66

[...] A Competitividade de uma nação é o grau pelo qual ela pode, sob condições livres e justas de mercado, produzir bens e serviços que se submetam satisfatoriamente aos teste dos mercados internacionais enquanto, simultaneamente, mantenha e expanda a renda real dos seus cidadãos. Competitividade é a base para o nível de vida de uma nação. É também fundamental à expansão das oportunidades de emprego e para a capacidade de uma nação cumprir suas obrigações internacionais. (ESTUDO DE COMPETITIV IDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA (1995) – Coordenação Geral : Luciano G. Coutinho, João Carlos Ferraz – 3a edição – Campinas, São Paulo: Papirus; Editora da Universidade Estadual de Campinas. p.)

Essa definição reconhece que a competitividade internacional de economias nacionais é construída a partir da competitividade das empresa que operam dentro do Estado e que conseguem exportar seus produtos e serviços. Vale salientar que esse conceito é sistêmico e com retroalimentação, pois a nação que consegue saldos positivos em suas relações internacionais e que consegue agregar valor a sua renda per-capita, notadamente irá influenciar nas estratégias empresarias adotadas nos vários segmentos de sua economia.

Nesse momento vale ressaltar, também, as diferenças entre vantagem comparativa e vantagem competitiva. A teoria das vantagens comparativas de Ricardo67, trabalhada posteriormente por Heckscher e Ohlin68, baseia-se na idéia que todas as nações têm tecnologia equivalente, mas diferem na disponibilidade dos chamados fatores de produção, como terra, mão-de-obra, recursos naturais e capital. Esses elementos, indissociáveis do processo produtivo, foram importantes no entendimento da busca de vantagens tanto entre nações como entre empresas. A otimização dos fatores de produção visando a redução dos custos e o aumento da produtividade foi essencial em termos de competitividade empresarial. Entretanto, a necessidade de extrapolar a utilização de mecanismos que busquem um incremento ainda maior na produtividade

67

- RICARDO, David . On the Principles of Political economy and Taxation The works and Correspondence of David Ricardo (vol. I). Cambrigde, Cambrigde University Press (1988).

das empresas, e que contemplem outros fatores também integrantes da competição, fizeram com que a teoria da vantagem comparativa não fosse suficiente para explicar a evolução da competição real. Não incorporar elementos como a definição de estratégias próprias e individualizadas, a movimentação de capital e recursos humanos e tecnologia entre localidade e organizações, coloca limitações à Teoria com relação a uma explicação lógica dos novos cenários competitivos e às rápidas modificações tecnológicas e econômicas.

Ademais as vantagens comparativas podem apenas constituir-se em vantagens passageiras ou vulneráveis. Os custos dos fatores podem ser modificados rapidamente através da utilização de novas tecnologias. Os subsídios governamentais podem tornar empreendimentos viáveis ou não por determinado período de tempo. Os baixos custos de trabalho podem ser modificados de uma região para outra através dos processos de deslocamentos intensivos. A facilidade de manipulação desses fatores como diferencial para a competição tem fomentado diversas regiões a disputarem e atraírem indústrias para implantarem novos empreendimentos locais.

O novo cenário econômico tem diminuído a importância dos custos desses fatores principalmente em indústrias que utilizam intensivamente tecnologia sofisticada e mão- de-obra altamente especializada. A utilização de novas tecnologias possibilitou às empresas ter capacidade de compensar os fatores escassos, por meio de novos produtos e processos. Entretanto essa análise deve ater-se a determinados segmentos industriais que podem prescindir desses fatores. Paralelamente à utilização de tecnologias avançadas diminuindo o papel dos fatores, esse novo cenário liberta as empresas da necessidade de instalação de suas bases em localidades específicas.

Com o fenômeno da globalização da economia e a internacionalização das empresas seria lógico concluir, então, que, à primeira vista, o Estado perdeu sua importância no

sucesso empresarial das organizações. Entretanto, a realidade tem demonstrado que essa conclusão pode ser precipitada na medida que tem sido cada vez mais relevante e estratégica a escolha da localização dos novos empreendimentos empresariais.

Parece lógico, então, que novas perguntas apresentem-se na ordem do dia : Quais são os novos determinantes de competitividade para um Estado? Quais características verdadeiramente podem responder e explicar a consolidação de um Estado ou Nação que possui vantagens que sejam fomentadoras de um desenvolvimento econômico estruturado e sustentável? É certo que além dos fatores econômicos trabalhados pela teoria da vantagem comparativa, novos elementos tais como diferentes estruturas econômicas, valores, culturas, instituições e histórias nacionais irão também ser preponderantes no entendimento da construção de vantagens competitivas nas economias nacionais. Obviamente uma única explicação não será suficientemente abrangente para colocar um ponto definitivo no problema, entretanto algumas configurações apresentam-se como indicadores dessa explicação.

A primeira configuração está baseada na utilização por parte das empresa de economias de escala. Esta possibilita a redução de custos e o conseqüente descolamento da necessidade de instalação das unidades produtivas próximas das fontes de recursos. Associadas às economias de escala estão mais duas configurações: o processo de pesquisa e desenvolvimento (P&D) utilizado cada vez com maior intensidade pelas indústrias e a curva de aprendizado que diminui os custos com o volume cumulativo e favorece o processo inovativo.

Pode-se estabelecer então uma conexão entre essas aparentemente diferentes configurações, desde que o eixo comum resida no conceito amplo de tecnologia. A nova teoria deve fazer da melhoria e inovação em métodos e tecnologia de produtos e processos um elemento central dessa análise. O Estado que possa criar e manter essas condições de melhoria e inovação tecnológica conseguirá atrair empreendimentos sustentáveis. O Estado que ofereça tais condições conseguirá atrair

competidores bem sucedidos em indústrias sofisticadas que passarão a centralizar o controle efetivo, estratégico, criativo e técnico na localidade onde estará sediada.

Porter, em seu estudo realizado no final da década de 80, focaliza oito países (Coréia, Itália, Suécia, Japão, Suíça, Alemanha, Grã Bretanha e Estados Unidos) com o propósito de analisar a competição internacional. O seu modelo do “Diamante Nacional” tenta categorizar o Estado Competitivo através da análise das diversas condições / determinantes (Condições de Fatores, Condições de Demanda, Indústrias Correlatas e de Apoio e Estratégia, Estrutura e Rivalidade das empresas), que trabalhados, poderiam levar um Estado à uma posição de excelência no cenário da competitividade econômica internacional.