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Os estudos linguísticos e literários devem fundar-se na percepção da língua e da literatura como prática social e como forma mais elaborada das manifestações culturais. Devem articular a reflexão teórico-crítica com os domínios da prática – essenciais aos profissionais de Letras, de modo a dar prioridade à abordagem intercultural, que concebe a diferença como valor antropológico e como forma de desenvolver o espírito crítico frente à realidade (BRASIL, 2001, p. 31).

Nesse momento surge a questão: será que os componentes curriculares em estudo corporificam essa proposta? Quais concepções de ensino de línguas e de cultura são privilegiadas nesses componentes? Para responder esses questionamentos passo a analisar os sete programas dos componentes curriculares do núcleo estrutural que apresentam termos que indicam possíveis inferências de como a ‘língua’ e a ‘cultura’ podem ser concebidas (Quadro 24).

Quadro 24 Ementas dos Componentes Curriculares do Núcleo Estrutural que apresentam possíveis inferências de como a ‘língua’ e a ‘cultura’ podem ser concebidas

COMPONENTES CURRICULARES

EMENTA

Língua Inglesa - Habilidades Integradas I

Prática integrada das habilidades linguístico-discursivas da língua inglesa. Dimensões do engajamento discursivo: o eu e o outro.

Língua Inglesa - Habilidades Integradas II

Prática integrada das habilidades linguístico-discursivas da língua inglesa. Dimensões do engajamento discursivo: o eu e o mundo.

Língua Inglesa - Habilidades Integradas

III

Desenvolvimento sistemático da competência comunicativa em língua estrangeira: compreensão e produção orais e escritas em nível intermediário. Desenvolvimento e extensão do vocabulário do aprendiz. Desenvolvimento de projeto de ensino.

Língua Inglesa - Habilidades Integradas

IV

Aprofundamento das estruturas da língua, enriquecimento do léxico e aperfeiçoamento da compreensão e produção orais e escritas em nível intermediário. Desenvolvimento de projeto de ensino.

Língua Inglesa - Habilidades Integradas V

Aprimoramento da competência comunicativa: estímulo à expressão da opinião e à capacidade de argumentação, interpretação e produção de textos.

Língua Inglesa - Habilidades Integradas

VI

Aprimoramento da competência comunicativa: estímulo à expressão da opinião e à capacidade de argumentação, interpretação e produção de textos. Discussão sobre aspectos

socioculturais. Reflexão sobre os processos de ensino e aprendizagem de LE.

Comunicação e Cultura Definição de Comunicação e Cultura. Estudo dos aspectos interculturais da comunicação.

Fonte: Elaboração própria, com base no Projeto Pedagógico do Curso LEMI/PARFOR/UESC.

Através destas ementas compreendo que a língua é concebida como discurso/prática social/prática de interação dialógica, apoiada na abordagem comunicativa. O interagir com o outro e com o mundo acontece por meio dos textos (gêneros textuais), e “abarca outros elementos além do linguístico, pois abrange normas e convenções que são determinadas pelas práticas sociais que regem a troca efetivada pela linguagem” (ANTUNES, 2009, p. 54). Com esse entendimento posso afirmar que as ementas ressoam as propostas do Parecer CNE/CES nº. 492/2001 e dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Estrangeira (1998). Entretanto, ainda não posso depreender sobre a concepção de cultura; nem se os programas estão em consonância com essas ementas; nem tão pouco por qual vertente o ensino comunicativo envereda, uma vez que existem diferentes interpretações da abordagem comunicativa85 presentes no ensino-aprendizagem de línguas. Para tanto, desloco a atenção para os programas desses componentes.

Após análise dos sete programas faço as seguintes considerações: os componentes curriculares de Língua Inglesa - Habilidades Integradas I e II apontam, em suas ementas, para a prática integrada das habilidades linguístico-discursivas e para os engajamentos discursivos do eu com o outro e do eu com o mundo. Com isso, entendo que se pretende desenvolver as habilidades básicas (escutar, falar, ler e escrever) que nos possibilitam atuar socialmente no uso da língua, como também, compreender e contextualizar essa atuação através da interação pela linguagem (verbal ou outras), observando não somente os elementos linguísticos, bem como outros elementos (quem diz o quê; para quem; por quê / para quê; quando; onde; etc.),

85Segundo Bizón (1994), a abordagem comunicativa pode apresentar diferentes interpretações, a saber:

comunicativizada, funcionalizada, inocente, ultra-comunicativos/espontaneístas e crítica. As interpretações comunicativizada “[...] tentaram dar ao estruturalismo uma roupagem nova, comunicativizando algumas tarefas, sem rediscutir as concepções fundamentais da abordagem. As configurações funcionalizadas, por sua vez, dizem respeito à primeira geração do movimento, até 1979, e consistem na organização do ensino em uma listagem de funções. A ‘inocente’ realiza o ideal da negociação da interação propositada, do encontro e da troca no discurso, mas não coloca como primordial a necessidade de tomar o discurso na sua dimensão histórico-crítica, de problematizar o mundo e as relações na aprendizagem da L-alvo. A configuração espontaneístas ou ultra- comunicativa refere-se às interpretações equivocadas de que ser comunicativo consiste em ser espontâneo, não havendo necessidade de planejamentos, apenas de bastante comunicação. A tendência crítica, por sua vez, preocupa-se com as reflexões teóricas acerca da abordagem considerando importantes todas as fases que envolvem o processo de ensino-aprendizagem; além de tomar o aluno como sujeito histórico e seus interesses e necessidades/objetivos como ponto de partida dentro do processo. O objetivo é promover o ensino-aprendizagem por meio de um discurso histórico e (politicamente) crítico” (Bizón, 1994, p. 60-61).

ou seja, considerar a dimensão discursiva atrelada à dimensão linguística e, em tempo, oportunizar que o estudante se envolva e envolva outros no discurso (BRASIL, 1998). Assim, subjaz que essas ementas direcionam para a concepção de língua como discurso/prática social/prática de interação dialógica (como já relatado anteriormente). Contudo, observei que enquanto os objetivos específicos de Língua Inglesa - Habilidades Integradas II corroboram com essa visão de língua, os objetivos de Língua Inglesa - Habilidades Integradas I apresentam outro entendimento, como podemos verificar a seguir:

Quadro 25 - Objetivos Específicos do componente curricular de Língua Inglesa - Habilidades Integradas II

OBJETIVOS ESPECÍFICOS