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COMO SE VISLUMBRAM AS CONCEPÇÕES DE LÍNGUA E CULTURA NO PROJETO PEDAGÓGICO E NOS PROGRAMAS DOS COMPONENTES

Tópico 2: No que se refere à ‘interculturalidade’, este conhecimento foi adquirido durante sua formação no LEMI ou você já o tinha antes?

7 INTERCULTURALIDADE NO ENSINO-APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS

7.2 COMO SE VISLUMBRAM AS CONCEPÇÕES DE LÍNGUA E CULTURA NO PROJETO PEDAGÓGICO E NOS PROGRAMAS DOS COMPONENTES

CURRICULARES DO CURSO LEMI/PARFOR/UESC?

Para tratar este questionamento, segui os mesmos procedimentos adotados anteriormente para a análise do projeto pedagógico e dos programas dos componentes curriculares, com a intenção de identificar quais concepções de ‘língua’ e ‘cultura’ o curso LEMI/PARFOR/UESC privilegia.

Ao fazer a análise do PPC, verifiquei que não estão explícitas, neste documento, as concepção de ‘língua’ e ‘cultura’, todavia, observei nas partes: habilidades, perfil do formando e objetivos do curso alusões implícitas que me permitiram conjecturar sobre esses conceitos. Para isso, relaciono, primeiramente, as habilidades que remetem à ‘língua/linguagem’:

84“[…] to engage with the linguistic and non-linguistic practices of the culture and to gain insights about the way

of living in a particular cultural context. Cultural knowledge is not therefore a case of knowing information about the culture; it is about knowing how to engage with the culture” (LIDDICOAT, 2001, p. 50).

-compreender e produzir a fala e a escrita da língua inglesa, gerando sentido e entendendo o mundo, através da utilização de diferentes gêneros textuais; -refletir analiticamente e criticamente sobre a linguagem como fenômeno psicológico, educacional, social, histórico, cultural, político e ideológico; -compreender os aspectos linguísticos da língua alvo (fonéticos, morfológicos, lexicais, sintáticos, semânticos, semióticos e pragmáticos) tendo em vista o desenvolvimento das competências linguístico- comunicativa, teórico-prática e profissional;

-investigar sobre a linguagem (linguística e literária) e sua relação com os problemas condizentes ao ensino-aprendizagem de língua, percebendo os diferentes contextos interculturais (HABILIDADES DO EGRESSO, UESC, 2009, p. 11).

Depreendo desses segmentos um conceito de língua que transcende “[...] unidades isoladas, descontextualizadas, rígidas, exatas e uniformes [...]” (ANTUNES, 2009, p. 51), ao sinalizar o ‘texto’ como “unidade comunicativa” (BRONCKART, 2006, p. 22). Digo isto por entender que a utilização de diferentes gêneros textuais nos leva a considerar a língua em um âmbito mais abrangente e a situá-la como:

[...] um fenômeno social, como uma prática de atuação interativa, dependente da cultura de seus usuários, no sentido mais amplo da palavra. Assim, a língua assume um caráter político, um caráter histórico e sociocultural que ultrapassa em muito o conjunto de suas determinações internas, ainda que consistentes e sistemáticas. Dessa forma, todas as questões que envolvem o uso da língua não são apenas questões linguísticas; são também questões políticas, históricas, sociais e culturais (ANTUNES, 2009, p. 21, grifos da autora).

As palavras dessa autora sintetizam o conceito de língua que acredito estar subjacente às habilidades listadas, e essas, a meu ver, são ratificadas no perfil do formando quando se espera que:

-Seja um profissional interculturalmente competente, capaz de lidar, de forma crítica, com as linguagens, nos contextos oral, escrito, visual e gestual e consciente de sua inserção na sociedade e das relações com o outro; -Seja um profissional com o domínio do uso da língua, objeto de estudo, em termos de sua estrutura, funcionamento e manifestações culturais, além de ter consciência das variedades linguísticas e culturais;

-Seja um profissional capaz de refletir teoricamente sobre a linguagem, de fazer uso de novas tecnologias e de compreender sua formação profissional como processo contínuo, autônomo e permanente (PERFIL DO FORMANDO, UESC, 2009, p. 17).

Como se pode verificar, esse perfil aponta para um profissional com competência intercultural; criticidade frente aos eventos da língua/linguagem; reflexividade acerca da

língua/linguagem; competência linguístico-comunicativa, ou seja, que sabe sobre a língua e sabe usá-la na comunicação (ALMEIDA FILHO, 2006), dentre outros. Logo, esse perfil se torna coerente com as habilidades que traz, implicitamente, o conceito de língua como lugar de interação e prática social.

No que diz respeito à cultura, as menções tácitas se encontram nas seguintes partes do PPC:

-Seja um profissional com o domínio do uso da língua objeto de estudo, em termos de sua estrutura, funcionamento e manifestações culturais, além de ter consciência das variedades linguísticas e culturais;

-Seja um profissional capaz de agir como sujeito de mudança no ambiente escolar regional, identificando as necessidades dessa escola para promover o seu desenvolvimento social, político, econômico e cultural (PERFIL DO FORMANDO, UESC, 2009, p. 17).

-Preparar o profissional para o exercício da prática do trabalho, da cidadania e da vida cultural;

-Preparar o profissional para que compreenda o processo de construção do conhecimento inserido em seu contexto social e cultural (OBJETIVOS DO CURSO, UESC, 2009, p. 18).

Através desses excertos, posso inferir que o conceito subentendido de cultura está atrelado, inicialmente, ao uso da língua/linguagem, pois se observa que o contexto cultural é apreciado em concomitância com as questões linguísticas. Em seguida, vejo a cultura posicionada na vivência diária, que se contrapõe a uma visão estática de cultura que não constrói significados, somente enfatiza os acontecimentos.

Volto a ressaltar que o projeto pedagógico do curso, em estudo, não explicita os conceitos de ‘língua’ e ‘cultura’. Apenas são mencionados termos-chave como: ‘diferentes gêneros textuais’, ‘linguagem como fenômeno psicológico, educacional, social, histórico, cultural, político e ideológico’, ‘desenvolvimento das competências linguístico-comunicativa, teórico-prática e profissional’, ‘investigar sobre a linguagem (linguística e literária) (...) percebendo os diferentes contextos interculturais’, ‘capaz de lidar, de forma crítica, com as linguagens (...) conscientes de sua inserção na sociedade e das relações com o outro’, ‘domínio do uso da língua (...) consciência das variedades linguísticas e culturais’, ‘preparar o profissional para o exercício (...) da vida cultural’, ‘construção do conhecimento inserido em seu contexto social e cultural’. Conforme relatei antes, esses termos me levaram a deduzir que a ‘língua’ é concebida como interação e prática social e a ‘cultura’ como prática (linguística e não linguística da cultura). Assim como as partes do PPC citadas, acima, são ecos de

discursos oficiais (precisamente do Parecer CNE/CES nº. 492/2001), a minha dedução encontra ressonância neste mesmo parecer, quando na apresentação dos conteúdos