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COMPORTAMENTO INFORMACIONAL DOS INVESTIDORES DE VAREJO

4 O COMPORTAMENTO INFORMACIONAL NO MERCADO DE AÇÕES

4.6 COMPORTAMENTO INFORMACIONAL DOS INVESTIDORES DE VAREJO

O acesso ao mercado de ações se tornou mais fácil e mais barato aos pequenos investidores desde a promoção do Home Broker pelas corretoras, uma ferramenta online baseada na web ou no smartphone para execução eletrônica de ordens de compra e venda de ações na bolsa de valores. No entanto, em serviços baseados em contatos telefônicos, a negociação de ações envolve conversas entre o investidor e um corretor. Este último estaria disposto a ajudar e a reforçar o relacionamento com seu cliente atuando como um mediador. Neste caso, o investidor poderia sanar dúvidas e discutir a transação com o corretor.

De acordo com Barber e Odean (2002, p.455), apesar dos menores custos e da facilidade de acesso, os investidores lucram menos quando mudam para o ambiente online. Esses estudiosos analisaram 1.607 investidores que passaram da negociação telefônica para a

online durante a Década de 1990 e verificaram que “Ao mudar para o ambiente online, eles

negociam de forma mais ativa, mais especulativa e menos lucrativa do que antes [...]”.

Investidores online geralmente não recebem recomendações de investimento de corretores que eles conheçam pessoalmente. Em vez disso, eles recorrem a inúmeras fontes de informação sobre o mercado, a análises fundamentalistas e técnicas, a salas de bate-papo de fofoca, a jornalistas online e a sistemas sofisticados de recomendação (BARBER; ODEAN, 2001, p.44, tradução nossa).

Barber e Odean (2001, p.41, tradução nossa) dizem que “A Internet está mudando a forma como a informação chega aos investidores e a maneira como os investidores podem agir com essa informação”. Também surgiram empresas que fornecem consultoria financeira

associado à Internet proporcionou a explosão quantitativa da informação e a implosão do tempo de comunicação da informação (LE COADIC, 2004). Para Barber e Odean (2001),

A grande quantidade de dados disponíveis online sobre investimentos propicia que os investidores confirmem suas crenças e pode levá-los a se tornar excessivamente confiantes em sua capacidade de selecionar ações e outros ativos. Um feedback mais rápido pode focar a atenção do investidor no desempenho recente (BARBER; ODEAN, 2001, p.42, tradução nossa).

As informações online podem ser reproduzidas quase sem custo, portanto, com tanta informação disponível gratuitamente na Internet, muitos investidores não estão dispostos a pagar por consultoria. Além disso, é improvável que esses indivíduos paguem mais por qualidade se eles não conseguirem distinguir entre a consultoria de alta e baixa qualidade (BARBER; ODEAN, 2001, p.44). No entanto, O’Connor (2013, p.36, tradução nossa) afirma que “Renunciar às recomendações de consultores profissionais coloca o ônus de encontrar, avaliar e usar a informação diretamente nos ombros dos investidores”.

A abundância de informações gratuitas na Web pode causar sobrecarga de informação. Williamson e Smith (2010, p.45) argumentam que há problemas com a utilidade e a confiabilidade dessa vasta gama de informações disponíveis online. Assim, mesmo tendo acesso a todas essas informações, o investidor pode não ser capaz de auferir lucros. Barber e Odean (2001) afirmam que

A suposição de que mais informação leva a uma melhor tomada de decisão é intuitivamente atraente. Mas a veracidade desta proposição depende da relevância da informação para a decisão e do quão preparado o tomador de decisão está para fazer uso da informação (BARBER; ODEAN, 2001, p.46, tradução nossa).

Nesse sentido, Barber e Odean (2001, p.46, tradução nossa) argumentam que toda essa informação disponível na “[...] Internet trouxe mudanças na forma de investimento que podem impulsionar o excesso de confiança dos investidores proporcionando uma ilusão de conhecimento e de controle […]”. Um maior volume e variedade de informação sobre as quais basear uma previsão ou avaliação pode levar a um rápido aumento da confiança das pessoas na precisão das suas previsões mesmo que não sejam tão precisas de fato.

De acordo com esses autores, os investidores online tendem a se tornar excessivamente confiantes devido ao viés de confirmação, ou seja, eles são convencidos por aquelas informações que transmitem ideias com as quais eles já possuíam uma aceitação prévia. Williamson (2008, online) afirma: “[...] que os investidores podem não buscar informações com uma mente aberta, mas sim buscar informações que confirmem suas próprias opiniões”.

Outro fator que influencia o comportamento dos investidores online é que eles geralmente são mais suscetíveis a eventos de curto prazo. “Se uma informação que capta a atenção tende a influenciar indevidamente as decisões, as tendências de curto prazo podem influenciar cada vez mais as negociações dos investidores pessoa física” (BARBER; ODEAN, 2001, p.48, tradução nossa).

Williamson e Smith (2010, p.51-52) fizeram uma pesquisa com investidores online e identificaram que a Internet foi o canal mais usado para buscar informação. Na categoria da Internet, os sítios das corretoras e serviços de dados e gráficos foram amplamente utilizados. No entanto, sítios de informações financeiras e sítios de relações com investidores das empresas foram usados com menor frequência. Jornais e mídias eletrônicas (rádio e TV) também foram fontes de informação populares. As consultorias telefônicas e face-a-face com corretores foram raramente utilizadas.

Williamson e Smith (2010) também reconheceram que informações ou sugestões de familiares, amigos ou conhecidos (fontes de informação interpessoais) foram usadas com mais frequência do que os participantes queriam admitir. Estes autores concluíram que os investidores online precisam de ajuda

[...] para lidar com a sobrecarga de informação, aprender a equilibrar a constante necessidade de informações com a tomada de decisões sensatas, realizar uma análise sistemática ao usar a informação [e] usar judiciosamente as sugestões de fontes interpessoais de informação (WILLIAMSON; SMITH, 2010, p. 72, tradução nossa). Analisando o compartilhamento e o uso de informações pelos investidores em comunidades virtuais, O’Connor (2013, p.36) afirma que é fundamental que os investidores

online saibam avaliar a qualidade das informações que encontram nos fóruns de bate-papo

porque: podem impactar o resultado dos seus investimentos; as informações divulgadas em fóruns online podem influenciar os movimentos dos preços das ações; a informação ou desinformação pode ser introduzida e circular em fóruns de bate-papo com o propósito expresso de manipular os preços das ações.

No Brasil, esse impacto no mercado de ações não seria crítico, uma vez que os investidores de varejo são responsáveis por menos de 15% do volume financeiro (B3, 2016e). No entanto, é extremamente importante ter em conta um possível impacto negativo sobre a poupança destes investidores individuais devido à falta de avaliação adequada das informações encontradas online.

O’Connor (2013) identificou que a falta de conhecimento foi a causa mais frequente para o comportamento informacional colaborativo; a complexidade da informação foi a segunda razão mais frequentemente identificada para participar de comunidades de

investidores virtuais; e, em menor grau, a falta de acesso a fontes de informação. “A falta de acesso normalmente se deve aos custos (de informações pagas) do que à falta de oferta” (O’CONNOR, 2013, p.42, tradução nossa).

O’Connor (2013) examinou as fontes citadas por postagens em comunidades virtuais e verificou que os tipos de fontes mais citados foram: postagens em fóruns de discussão, livros, fontes de serviços de classificação de risco e fontes de notícias. Sítios com informações financeiras abrangentes, ferramentas financeiras, sítios e blogs de gurus de investimento, sítios de informações financiados por instituições financeiras, revistas, jornais, e boletins de notícias foram citados de forma menos intensa. Os sítios de empresas, fontes de referência, informações governamentais e meios de comunicação foram os tipos de fontes menos citados. Assim, este estudo demonstra que os investidores online

[...] baseiam-se fortemente em fontes pessoais de informação, são mais propensos a valorizar e utilizar materiais tradicionais como jornais e que as fontes de informação são raramente contestadas sendo largamente aceitas como confiáveis (O’CONNOR, 2013, p.44, tradução nossa).

Foi descoberto neste estudo de O’Connor que os investidores que participam de comunidades virtuais têm preferência por fontes de informação interpessoais. Desse modo, percebe-se que as informações obtidas de outros investidores são muito valorizadas, porém a maioria das pessoas não quer admitir isso conforme salientam Williamson (2008) e Williamson e Smith (2010).

O’Connor (2013) também observou um elevado número de postagens citando fontes de informação populares e não eruditas ou científicas. Além disso, “o uso de informações relacionadas a investimentos fornecidas por uma entidade que tem interesse na venda de produtos e serviços financeiros [...]” foi motivo de preocupação (O’CONNOR, 2013, p.46, tradução nossa). Outro ponto observado foi a falta de contestação das fontes: “Os membros pareciam concordar implicitamente sobre o que tornava as fontes confiáveis para o investimento. Muito raramente as fontes eram contestadas” (O’CONNOR, 2013, p.46, tradução nossa).

O principal foco deste capítulo foi a discussão do comportamento informacional no mercado de ações de analistas financeiros, investidores institucionais e investidores de varejo. Para tanto, buscou-se também fornecer uma visão geral do mercado de ações brasileiro e das informações relevantes para a tomada de decisão nesse contexto. Em seguida, considera-se os procedimentos metodológicos utilizados para coletar e analisar os dados a fim de tentar responder às questões de pesquisa.