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O CONCEITO DA INFORMAÇÃO NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

2 EM BUSCA DE UM CONCEITO PARA A INFORMAÇÃO

2.3 O CONCEITO DA INFORMAÇÃO NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

Como pôde ser visto na revisão acima das Ciências Naturais e Sociais, a informação tem sido definida em relação aos objetos de estudo dos pesquisadores cujas obras apresentam conceitos que podem ser aplicados em campos específicos. Apesar de algumas tentativas de integrar os diferentes conceitos de informação, pode ser que não haja ainda um conceito geral de informação que satisfaça a todas as áreas. Na Ciência da Informação, essa diversidade de conceitos também ocorre e normalmente está baseada em pontos de vista/teorias. Nesta seção, discute-se o ponto de vista de Shannon, o ponto de vista cognitivo e o conceito de Buckland de informação-como-coisa.

2.3.1 O ponto de vista de Shannon

A teoria da informação de Shannon teve um impacto em muitos campos, inclusive na Ciência da Informação. Do ponto de vista de Shannon e Weaver, a informação pode ser definida e medida com precisão. A teoria de Shannon forneceu um modelo de comunicação que se relacionava com as teorias da comunicação humana, embora não pretendesse. Assim, as Ciências Sociais e a Engenharia poderiam usar a mesma terminologia e, portanto, se podia pensar que ambos os campos abordavam o mesmo fenômeno.

No entanto, emergiram várias críticas da simples aplicação da teoria da informação à comunicação humana, uma vez que essa teoria se preocupa apenas com o nível sintático (relação de signos com sinais), ou seja, ela não faz referência aos níveis semânticos (relação de signos com significados) e pragmáticos (relação de sinais com humanos) (WERSIG, 2003, p.312). Capurro alega que esta teoria não pode ser aplicada a atividades relacionadas com o conteúdo e o significado das mensagens (CAPURRO; HJØRLAND, 2003, online).

De acordo com Belkin, o conceito de informação de Shannon é praticamente o único conceito de informação formalizado e implementado matematicamente com sucesso. No entanto, a teoria de Shannon diz respeito à quantidade de informação, isto é, se refere à probabilidade de ocorrência de uma mensagem a partir de um conjunto de mensagens possíveis.

Isto parece ser, à primeira vista, uma visão extremamente limitada da informação, e que pode ser difícil de aplicar ao contexto da Ciência da Informação, onde a informação é tradicionalmente associada ao significado da mensagem, e não à probabilidade (ou improbabilidade) do seu recebimento (BELKIN, 1978, p.66, tradução nossa).

Artandi sugeriu que a quantidade de informação de Shannon poderia ser usada como base para pensar a informação no contexto da Ciência da Informação. A preocupação da estudiosa está relacionada com “[...] a transmissão precisa de sinais e a interpretação ‘adequada’ dos sinais recebidos” (ARTANDI, 1973, p.242, tradução nossa). Como a teoria de Shannon é reservada apenas para uso em nível sintático, a autora tenta ampliar a aplicação da teoria de Shannon combinando-a com ideias da semiótica e da redução da incerteza no receptor. Assim, ela recomenda essa abordagem para o nível semântico da comunicação.

Belzer (1973) tenta mostrar que a teoria da informação pode ser usada como uma medida do conteúdo semântico de textos e de citações, resumos e parágrafos. Ou seja, ele afirma que a teoria de Shannon pode ser usada na tentativa de quantificar os significados de uma estrutura de informação como textos, por exemplo. Esta seria uma aplicação mais direta

da medida de informação de Shannon para calcular a relevância dos documentos. Essas

medidas de informação podem auxiliar na construção de sistemas de recuperação de informação que prestam serviço a uma comunidade de usuários tentando identificar documentos relevantes para eles.

2.3.2 O ponto de vista cognitivo

De acordo com Wersig (2003, p.313), a discussão teórica na Ciência da Informação durante a Década de 1970 se concentrou na ‘abordagem cognitiva’. Para Belkin (1990, p.11, tradução nossa), “[...] este ponto de vista levou a avanços significativos em uma variedade de áreas da Ciência da Informação, incluindo bibliometria, estudos de usuários, entrevista de referência e recuperação de informação”.

Para Wilson (1984, p.197, tradução nossa), “[...] a essência da abordagem cognitiva é a ideia de percepção humana, cognição e estruturas de conhecimento”. Belkin (1990, p.11-12) complementa que o ponto de vista cognitivo tem como cerne a ideia de que as crenças e os estados de conhecimento dos seres humanos interagem com o que eles recebem/percebem e produzem.

De acordo com Belkin (1990, p.12, tradução nossa), “Brookes pode ser considerado um dos primeiros defensores da visão cognitiva na Ciência da Informação”. Em sua ‘equação fundamental’, Brookes (1980, p.131) expressa a relação entre informação e conhecimento: ! " + ∆& = ! " + ∆" . Esta equação “[...] declara de maneira geral que a estrutura de

∆" , onde ∆" indica o efeito da modificação.” (BROOKES, 1980, p.131, tradução nossa). Assim, esta equação demonstra a ênfase nas estruturas de conhecimento e suas interações com a informação.

De acordo com Wersig (2003, p.313), a abordagem cognitiva é uma continuação da ‘abordagem de efeito’ que continuou nas Décadas de 1980 e 1990 como ‘abordagem subjetiva’. Algumas variantes receberam maior atenção, a exemplo de: a comunicação da informação para a redução da incerteza; a informação para a resolução de um estado anômalo de conhecimento; a informação como modificadora da estrutura subjetiva do conhecimento; a informação proveniente de uma fonte como uma mensagem carregada de significado que pode influenciar o destinatário em considerações, decisões e ações.

Belkin (1978, p.60) afirma que um conceito de informação para a Ciência da Informação deve estar relacionado com a comunicação humana intencional e carregada de significado. Além disso, tal conceito deve abranger as informações solicitadas ou desejadas e o efeito da informação sobre o usuário.

[...] duas pessoas não têm exatamente o mesmo estado de conhecimento, a mesma informação (ou, em geral, os mesmos dados) nunca pode ter o mesmo efeito em duas pessoas diferentes; e, uma vez que o estado de conhecimento de cada um está em constante mutação com as experiências vivenciadas, uma mesma informação (ou dados) nunca pode ter exatamente o mesmo efeito sobre uma pessoa em dois momentos distintos (isso, obviamente, não aborda a questão do que aprendemos por estar expostos à informação) (BELKIN, 1978, p.60, tradução nossa).

O efeito da informação depende: do estado de conhecimento e do conjunto de crenças do receptor; e da persuasão do remetente da informação (BELKIN, 1978, p.61). Belkin e Robertson afirmam que a Ciência da Informação está preocupada com a informação no contexto da transferência de informações de geradores humanos para usuários humanos. Com base na noção de mudança na estrutura, eles sugerem que “informação é algo capaz de transformar a estrutura” (BELKIN; ROBERTSON, 1976, p.198, tradução nossa).

A variedade de conceitos levou a informação na Ciência da Informação a ser considerada como: uma propriedade da matéria; estrutura ou organização; a probabilidade da ocorrência de um evento; redução do grau de incerteza em um estado de conhecimento; um evento que ocorre quando um usuário encontra um texto; insumo à tomada de decisões.

2.3.3 Buckland: Informação-como-coisa

Buckland (1991) analisa vários usos do termo ‘informação’ na Ciência da Informação: informação como processo (intangível) = o ato de informar ou tornar-se informado;

informação-como-conhecimento (intangível) = conhecimento comunicado; informação-como- coisa (tangível) = dados, texto, documentos, objetos, eventos, ou seja, coisas através das quais um indivíduo pode se tornar informado (BUCKLAND, 1991, p.351).

Buckland (1991) enfatiza o conceito de informação-como-coisa e critica a visão estreita de alguns autores que limita a informação ao que é intencionalmente dito, a mensagens humanas com significado. “As pessoas são informadas não apenas por comunicações intencionais, mas por uma grande variedade de objetos e eventos” (BUCKLAND, 1991, p.359, tradução nossa).

Ele sugere que a informação-como-coisa pode ser vista como evidência, isto é, “[...] algo que, se achado e corretamente compreendido, poderia mudar o conhecimento e as crenças do indivíduo a respeito de algum assunto” (BUCKLAND, 1991, p.353, tradução nossa). De acordo com Capurro e Hjørland (2003, online), a informação é o que é informativo para uma determinada pessoa, o que depende das necessidades e habilidades de interpretação do indivíduo.

Neste capítulo, discutiu-se os conceitos de informação construídos por pesquisadores das Ciências Naturais, das Ciências Sociais e da Ciência da Informação. O conceito de informação nas Ciências Naturais foi apresentado, especialmente, através dos estudos de físicos e biólogos. A maioria desses pesquisadores possui uma visão objetiva da informação, segundo a qual, a informação é uma medida de ordem e organização de uma estrutura ou sistema. Enfatizou-se a teoria de Stonier que trata a informação como realidade física capaz de organizar um sistema. O mercado de ações, por exemplo, pode ser considerado um sistema que se organiza conforme são divulgadas informações que auxiliam a tomada de decisão dos investidores e, consequentemente, a correta precificação das ações das empresas.

A Teoria de Transmissão de Informação de Shannon também foi destacada devido ao conceito de informação como medida de incerteza e ao estudo do efeito do ruído na comunicação. A divulgação de informações imprecisas ou a falta de informações da fonte oficial, por exemplo, poderiam gerar ruídos na comunicação com os investidores. Esses ruídos ampliariam o surgimento de informações oriundas de fontes sem a legitimidade da fonte oficial, aumentando a incerteza dos investidores e dificultando a tomada de decisão.

O conceito de informação nas Ciências Sociais, por sua vez, foi abordado sob a visão de estudiosos da Comunicação, da Economia, da Filosofia e da Psicologia. Conforme foi discutido, o valor da informação está relacionado à sua utilidade para o usuário. A informação pode reduzir a incerteza e gerar conhecimento. Além disso, a informação pode se transformar

em mercadoria de valor econômico, pois, por exemplo, um indivíduo com acesso à informação pode obter melhores resultados.

Por fim, tratou-se o conceito de informação na Ciência da Informação sob três diferentes pontos de vista: a Teoria da Informação de Shannon; a abordagem cognitiva; e o conceito de Buckland de informação-como-coisa. A teoria de Shannon, apesar de enfatizar a quantidade de informação transmitida e desprezar o significado da mensagem, foi utilizada como base para: prever a relevância de documentos; e se estudar a transmissão precisa de informações e sua adequada interpretação pelo receptor para a redução da incerteza.

O ponto de vista cognitivo trata a informação como uma mensagem portadora de significado e com potencial de gerar conhecimento para o seu usuário. Essa abordagem levou a avanços em áreas da Ciência da Informação como: bibliometria, comportamento informacional e recuperação da informação. O conceito de informação-como-coisa de Buckland enfatiza que documentos, objetos e eventos podem ser vistos como evidências que, se corretamente compreendidas, poderiam alterar o estado de conhecimento de um indivíduo. Este conceito de Buckland amplia a visão dada por alguns autores que limitam a informação a mensagens humanas com significado. No próximo capítulo, discute-se conceitos como necessidades de informação, busca e uso de informação com base em estudos sobre o comportamento informacional.