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O CONCEITO DE INFORMAÇÃO NAS CIÊNCIAS SOCIAIS

2 EM BUSCA DE UM CONCEITO PARA A INFORMAÇÃO

2.2 O CONCEITO DE INFORMAÇÃO NAS CIÊNCIAS SOCIAIS

Nesta seção, o conceito de informação é abordado sob a visão de estudiosos das Ciências Sociais, principalmente da Comunicação, Economia, Filosofia e Psicologia. Estes estudiosos definem a informação de forma mais subjetiva a partir de diferentes perspectivas com implicações na geração, fluxo e valor da informação para o usuário. A informação é definida como: 1) redutora de incerteza em relação à probabilidade da ocorrência de um evento (ARROW, 1962; BATES, 1990; BRAMAN, 1989; RAPOPORT, 1955); 2) como mercadoria de valor econômico que pode ser produzida e vendida para consumo (ARROW, 1962; BATES, 1990; BRAMAN, 1989; BOULDING, 1966; DRETSKE, 1982); 3) como portadora de utilidade para o usuário (BATES, 1990; HARRAH, 1957); 4) como potencial geradora de conhecimento através da interpretação de seu significado pelo usuário (DRETSKE, 1982; FLÜCKIGER, 1997); como força constitutiva da sociedade com poder de construir a realidade social e física (BOULDING, 1966; BRAMAN, 1989).

Alguns cientistas aplicaram a terminologia e os teoremas da Teoria da Informação de Shannon e Weaver a campos nos quais o termo ‘informação’ foi usado em um sentido semântico ou pragmático, ou seja, envolvendo o conteúdo ou os usuários da informação. O psicólogo matemático Anatol Rapoport afirma que esta teoria também tem chamado a atenção dos pesquisadores inclinados matematicamente (RAPOPORT, 1955, p.159).

Rapoport afirma que, em qualquer situação, a informação sobre algo que já se conhece é inútil como informação. “Qualquer tipo de mensagem contém mais ou menos informação a depender do estado de conhecimento dos destinatários” (RAPOPORT, 1955, p.158, tradução nossa). Por exemplo, um artigo de jornal sobre um acontecimento desconhecido contém mais informação para o receptor do que uma notícia sobre algo que já se sabia.

Portanto, a medida da quantidade de informação contida em uma mensagem está relacionada a quanto essa informação tem o potencial de acrescentar em termos de

conhecimento em uma determinada situação a um determinado sujeito. Ou seja, a quantidade de informação está inversamente relacionada com a quantidade de conhecimento pré-existente sobre o seu conteúdo. Rapoport associa sua ideia de informação com a observação de Warren Weaver de que a quantidade de informação em uma mensagem está relacionada não com o que você está dizendo, mas com o que você poderia dizer (RAPOPORT, 1955, p.159).

Além disso, Rapoport explica que, a “quantidade de ordem” está ligada a conceitos probabilísticos e, através deles, à entropia (menos ordem, mais entropia). Mas também está relacionada com a “quantidade de informação”. Por exemplo, muito menos informação é necessária para descrever um arranjo ordenado do que um desordenado. É através dessas noções de probabilidade, ordem e desordem que a entropia está relacionada à informação (RAPOPORT, 1955, p.169-170).

Isso não quer dizer que a informação é portadora da desordem. Pelo contrário, a informação é a portadora da ordem. O que se entende por equivalência entre informação e desordem é que quanto mais desordenada é uma porção do mundo, mais informação é necessária para descrevê-la completamente, ou seja, para torná-la conhecida. (RAPOPORT, 1955, p.171, tradução nossa).

Assim, Rapoport vincula informação à ordem afirmando que é a descrição da desordem que, de fato, consome maior quantidade de informação, ou seja, mais informação é necessária para explicar a desordem e torná-la conhecida aos outros. Com isso, Rapoport tenta mitigar a ideia de igualdade entre informação e desordem (entropia, incerteza) atribuída pela teoria de Shannon.

Harrah (1957) discute uma teoria psicológica da informação que se preocupa com a informação do homem comum. Ele justifica que isso se faz necessário porque a conexão entre a informação e o seu efeito sobre a pessoa não é simples. Esta teoria estaria relacionada com: interpretação; razão e tomada de decisão; e com “[...] as forças relativas dos sentimentos de ‘impacto’ ou ‘surpresa’ ou ‘importância’ ligadas às diferentes situações vivenciadas” (HARRAH, 1957, p.243, tradução nossa). De acordo com Harrah, esta teoria consideraria a informação como relativa ao contexto de sua recepção e aos valores, interesses e experiência dos indivíduos.

Harrah (1957) argumenta que é necessário que a informação seja plausível, interessante e nova. Nessa perspectiva, a informação seria relevante para uma determinada pessoa em função da importância, ou seja, em função do valor de novidade e do valor de interesse (HARRAH, 1957, p.244). Para o autor, “[...] nós sentimos confiança em uma fonte somente depois que muitas mensagens úteis foram recebidas” (HARRAH, 1957, p.248, tradução nossa).

Portanto, uma mensagem é informativa na medida em que é importante. Além disso, ele também considera que a ‘informatividade’ da informação é resultado dos seus possíveis efeitos sobre a ação. Por exemplo, uma pessoa buscará informações que resolverão dúvidas sobre algum direcionamento para a ação. A informação é informativa na medida em que promove a resolução ou levanta um problema. Desta forma, o conhecimento anterior é aumentado pela mensagem informativa recém-recebida (HARRAH, 1957, p.245).

Dretske (1982) adapta e explica algumas ideias básicas da teoria da informação com a intenção de criar uma teoria semântica da informação. Para Drestke (1982, p. 40, tradução nossa), “[...] uma teoria genuína da informação seria uma teoria sobre o conteúdo das mensagens, não uma teoria sobre a forma em que esse conteúdo está codificado”. Ele afirma que a informação tem a ver com o que comunicamos (significado), não com o quanto é comunicado (taxa de transmissão). Dretske ainda afirma que a informação é sempre verdadeira e relativa ao conhecimento pré-existente do receptor.

A informação não requer um processo interpretativo, embora seja uma condição necessária para adquirir conhecimento. O conhecimento pré-existente de um receptor é relevante para a interpretação da informação que ele recebe. Dependendo do seu conhecimento prévio, o destinatário poderá não conseguir decodificar ou interpretar a mensagem. Ou ainda, ele pode pensar que pode decodificá-la, mas fazê-lo incorretamente. (DRETSKE, 1982, p.81).

De acordo com Dretske (1982), a informação é uma mercadoria valiosa. Segundo ele, “a informação é uma commodity que, dado o destinatário certo, é capaz de produzir conhecimento. [...] Ela é, além disso, uma commodity que pode ser transmitida, recebida, trocada, armazenada, perdida, recuperada, comprada e vendida” (DRETSKE, 1982, p.47, tradução nossa). Dretske delimita o escopo da informação à verdade.

Neste sentido do termo, informações falsas e desinformação não são tipos de informação [...]. E falar que certa informação é confiável é falar de forma redundante. [...] A informação é o que é capaz de produzir conhecimento, e como o conhecimento requer verdade, a informação também o exige. (DRETSKE, 1982, p.45, tradução nossa).

Burgin (2003, p.62) discorda da abordagem de Dretske de que a verdade é um requisito para a informação e o conhecimento. De acordo com Burgin, a informação também pode ser falsa e, neste caso, pode diminuir o conhecimento. Em linha com a visão de Dretske de que a informação é uma commodity, Boulding (1966) considera o conhecimento como uma

commodity, um estoque de informações que pode ser comprado e vendido. Ele afirma que a

social. Para Arrow, a informação se torna uma commodity devido à incerteza. Assim, “geralmente, a informação tem um valor econômico, no sentido de que qualquer pessoa que possui informação pode obter maiores lucros do que quem não tem” (ARROW, 1962, p.614, tradução nossa).

Para Flückiger (1997, p.313-314), a informação é um fenômeno mental, um produto cognitivo. Coisas percebidas ou pensadas por indivíduos são portadoras de informação e devem ser entendidas como construções mentais desses indivíduos. Para o autor, “[...] a informação é considerada como uma coisa e, portanto, como um fenômeno privado do indivíduo” (1997, p.315, tradução nossa).

Portanto, a informação é construída com base nas percepções ou processos mentais de um indivíduo. Além disso, a informação pode aumentar o conteúdo estrutural da mente do indivíduo, aumentando a sua capacidade de interagir com o ambiente. Flückiger (1997, p.317) também amplia o conceito de informação de Dretske, pois ele defende que a informação não precisa ser ancorada na realidade e na verdade. Ele acomoda a informação verdadeira, bem como a desinformação consciente e inconsciente, ou seja, informações completamente imaginárias ou deliberadamente falsas, em sua teoria da informação.

Braman (1989, p.235) discute a informação em quatro categorias de definições: a informação como um recurso, como uma commodity, como uma percepção de padrões e como uma força constitutiva na sociedade. As definições de informação como um recurso enfatizam os usos que as pessoas fazem da informação ao invés de seus efeitos sobre as pessoas e a sociedade. A definição de informação como uma commodity inclui a troca de informações proprietárias baseadas em relações contratuais. Neste caso, a informação é algo que tem valor econômico e pode ser produzido e trocado para consumo.

A informação da perspectiva da percepção de padrões tem passado e futuro, é afetada por motivos e outros fatores ambientais e causais e tem efeitos. As definições nessa categoria se concentram na capacidade da informação em reduzir a incerteza. A incerteza está relacionada à probabilidade da ocorrência de um evento. De acordo com Braman (1989, p.238, tradução nossa), “a entropia é assim equiparada à ignorância e, por sua vez, a formas menos estáveis de organização, enquanto que as formações sociais estáveis são consideradas de baixa entropia”.

As definições na categoria de informação como força constitutiva na sociedade conferem à informação um papel ativo na formação do contexto. A informação, seu fluxo e uso têm um enorme poder na construção da realidade social e física. A informação é

influenciada e influencia o meio ambiente. Nesse contexto, “para os psicólogos sociais, a geração de informações e seus fluxos literalmente constroem a realidade” (BRAMAN, 1989, p.240, tradução nossa).

Segundo Bates, a informação pode ser considerada como um bem econômico ou

commodity. “[...] a informação é algo que (a) pode ser transferido, (b) tem alguma utilidade, e

(c) é capaz de ter um valor ligado a ela” (BATES, 1990, p.38, tradução nossa). Por exemplo, a informação sobre o mercado de ações pode criar valor através da sua utilização. Nessa perspectiva, cinco atributos afetam o valor da informação: certeza, divulgação, aplicabilidade, conteúdo e utilidade para decisão. “O valor de um bem de informação, X, pode então ser expresso como o valor esperado a ser obtido pelo uso desse bem, ou expresso como Valor de X = E [uso (X)]” (BATES, 1990, p .384, tradução nossa). Portanto, o valor da informação reside na sua potencial utilidade para o usuário.

A noção de informação como bem privado se concentra na ideia de informação de mercado e na redução da incerteza. Dentro desse foco, o valor da informação pertence a quem controla a informação e o seu uso. Por outro lado, segundo a noção de informação como bem público, o consumo da informação não afeta a disponibilidade do bem (BATES, 1990, p.388).

Conforme foi discutido sobre o conceito de informação para as Ciências Sociais, a informação é capaz de reduzir a incerteza em relação à probabilidade da ocorrência de um evento. A incerteza pode transformar a informação em uma mercadoria de valor econômico que pode ser produzida e vendida para consumo. O valor da informação, neste caso, residiria na potencial utilidade da informação para o usuário. A informação é também considerada como potencial geradora de conhecimento através da interpretação de seu significado que, por sua vez, depende do conhecimento pré-existente, do contexto, dos valores, dos interesses e da experiência dos indivíduos.

Na próxima seção, aborda-se o conceito de informação na Ciência da Informação. Os trabalhos de alguns cientistas da informação tiveram influência da teoria da informação de Shannon e, assim, tendem a tratar a informação de uma forma mensurável. Outros estudos no campo ampliam o conceito de informação com um ponto de vista cognitivo que enfoca os efeitos para o usuário da informação. Por fim, descreve-se os principais usos do termo “informação” de acordo com Buckland com maior atenção ao uso do termo para denotar as “coisas” que podem ser consideradas informativas.