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COMPORTAMENTO INFORMACIONAL DOS PROFISSIONAIS

4 O COMPORTAMENTO INFORMACIONAL NO MERCADO DE AÇÕES

4.5 COMPORTAMENTO INFORMACIONAL DOS PROFISSIONAIS

Os analistas financeiros são usuários sofisticados de informações sobre mercados financeiros. Estes profissionais têm formação acadêmica e prática para lidar com

investimentos. Há analistas trabalhando no sell-side ou no buy-side. Os analistas sell-side são responsáveis por escrever relatórios para orientar as decisões dos investidores. Por outro lado, os analistas buy-side tomam decisões de compra e venda de ações atuando como investidores institucionais. Os analistas sell-side são tratados aqui como analistas financeiros ou de mercado e os analistas buy-side como gestores de fundos ou investidores institucionais. As semelhanças e diferenças entre esses usuários quanto às suas necessidades de informação, busca e uso são tratadas nesta seção.

Os analistas de mercado têm acesso a informações em tempo real e dedicam 100% do seu tempo a buscar e interpretar informações para escrever relatórios de análise. O conteúdo desses relatórios inclui análises, opiniões e previsões sobre as empresas listadas, sobre setores e sobre a economia local e global. As informações presentes nesses relatórios podem ser publicadas em jornais, pois os jornalistas da imprensa econômica e financeira, às vezes, escrevem artigos de notícias sobre o mercado com a ajuda dos analistas. Uma vez publicadas em jornais, essas informações chegam a um grande público.

Os analistas financeiros mais prestigiados são referência para o mercado. De acordo com Barker (1998, p.5, tradução nossa), “[...] os analistas são solicitados a fornecer uma interpretação qualificada e independente das informações fornecidas pelas empresas”. “No fluxo de informações, os analistas financeiros agem como intermediários de informação entre a equipe de gestão e os investidores” (ARVIDSSON, 2012, p.100, tradução nossa).

Por conta dessa mediação que os analistas realizam para os investidores, os diretores de relações com investidores julgam ser importante manter um canal de comunicação com esses profissionais. Com esse contato, esses diretores visam: informar os analistas financeiros sobre a empresa; manter um preço “justo” para as ações; corrigir/esclarecer mal-entendidos; e saber quais são as necessidades de informação dos analistas.

Os analistas financeiros preferem fontes envolvendo contatos pessoais a fontes escritas/impressas. Nesse sentido, para se comunicar com os analistas financeiros, os diretores de relações com investidores utilizam, sobretudo, canais informais, tais como: conversas telefônicas, reuniões presenciais e e-mail/webcasts. No entanto, as fontes formais, como os relatórios anuais e relatórios trimestrais, são, muitas vezes, a base para a discussão (ARVIDSSON, 2012).

Os contatos interpessoais são uma valiosa fonte de informação e influencia a maneira como os analistas coletam informações. Os analistas “[...] têm a vantagem de usar os contatos informais que adquiriram ao longo dos anos, dentro de uma indústria específica, para obter

informações” (BALDWIN; RICE, 1997, p.679, tradução nossa). Além disso, Baldwin e Rice (1997) afirmam que a experiência e os hábitos de trabalho têm uma influência significativa sobre o uso de fontes de informação/canais de comunicação por esses profissionais.

Os analistas que são membros de associações profissionais têm maior acesso a informações informais e contatos externos. [...] Os analistas do mercado que trabalham em instituições de investimento de maior tamanho e prestígio têm acesso diferenciado a recursos para ajudá-los a obter informações e escrever relatórios de análise. Eles também têm maior apoio orçamentário para conferências, reuniões e visitas às empresas que eles estudam e uso de recursos impressos e informatizados. Da mesma forma, também parece provável que os analistas de mercado que participam mais de reuniões anuais e exposições têm maior acesso a contatos externos à sua organização. Essas reuniões também oferecem aos analistas a oportunidade de trocar informações com esses contatos de forma informal (BALDWIN; RICE, 1997, p.679, tradução nossa).

Assim, os recursos institucionais disponíveis para os analistas financeiros também influenciam o uso de canais externos e informais de informação. Por exemplo, um maior apoio para a participação em reuniões anuais e exposições de empresas leva a um maior uso da informação informal. “Os analistas dependem mais de contatos pessoais como uma fonte de informação do que da mídia e de recursos computadorizados” (BALDWIN; RICE, 1997, p.679, tradução nossa).

Bence, Hapeshi e Hussey (1995, p.23) descobriram que as cinco fontes de informação mais importantes a partir da perspectiva dos analistas são: anúncios de resultados, resultados trimestrais, entrevistas pessoais, relatórios anuais e apresentações da empresa. Neste grupo, três das cinco fontes fornecem informação de forma rotineira. Além disso, anúncios de resultados e resultados trimestrais podem ser mais relevantes para decisões de investimento de curto prazo. Assim, os analistas de mercado tendem a fazer mais uso de informações de curto prazo que são rotineiramente recebidas.

Huvila (2010) estudou o comportamento de uso de fontes de informação dos profissionais de finanças corporativas. Ele alega que os principais canais de acesso a informações de finanças e negócios são os serviços de informação providos pelos principais fornecedores internacionais. Os resultados financeiros são frequentemente usados para avaliar as empresas. Apesar disso, em muitos casos, as informações mais úteis são altamente informais. Exemplos de fontes/canais informais são discussões com a alta gerência; visitas; e entrevistas. Esses usuários tendem a valorizar a qualidade, a atualidade e a rapidez na divulgação das informações (HUVILA, 2010, p.2221). “O compartilhamento informal de informações é comum e [...] contribui para o sucesso no trabalho” (HUVILA, 2010, p.2224, tradução nossa).

Os gestores de fundos ou investidores institucionais são responsáveis pela compra e venda de ações em nome dos seus clientes. Esses profissionais representam o outro tipo de usuário sofisticado a ser discutido nesta seção. Os gestores de fundos consideram os analistas financeiros e a equipe de gestão das empresas como importantes fontes de informação. “Eles contam com as recomendações dos analistas e, além disso, eles utilizam informações diretamente das empresas e de outras fontes” (BARKER, 1998, p.4, tradução nossa).

De acordo com Bence, Hapeshi e Hussey (1995), as fontes de informação mais importantes na perspectiva dos gestores de fundos são: visitas às empresas, entrevistas pessoais, relatório anual e apresentações das empresas. Verifica-se que os gestores de fundos buscam informação de forma mais ativa e estão interessados em informações de natureza não tanto de curto prazo “[...], o que sugere que os investidores institucionais têm interesse em uma gama de informações mais restrita do que os analistas e estão mais dispostos a realizar atividades de busca para obter as informações necessárias” (BENCE; HAPESHI; HUSSEY, 1995, p.24, tradução nossa).

Esses comportamentos distintos de busca de informação refletem os diferentes objetivos desses dois tipos de usuários: analistas de mercado e gestores de fundos. Em geral, os estudos apresentados confirmaram a importância de fontes formais de informação, como o relatório anual, mas também revelaram a importância de reuniões pessoais com a gestão da empresa. A preferência pelo contato direto também foi confirmada por outros estudos (ARNOLD; MOIZER, 1984a, b; WILLIAMS; MOYES; PARK, 1996; ECCLES; MAVRINAC, 1995; HOLLAND, 1997, 1998).

Os gestores de fundos consideram as reuniões com executivos como uma fonte vital para obter vantagem competitiva, especialmente em estratégias e prospectos de longo prazo. O acesso privilegiado à gestão empresarial permite aos gestores de fundos avaliar se o desempenho da empresa é susceptível de diferir das expectativas do mercado a longo prazo. Nessas reuniões, a administração das empresas não pode divulgar qualquer informação além do que já se encontra em domínio público, ou seja, não lhes é consentido vazar novas informações que dariam aos gestores de fundos alguma vantagem em relação a outros participantes do mercado de ações.

Ainda assim, essas reuniões podem ter vários benefícios informacionais, pois existem: a interação face a face através da qual a informação pode ser efetivamente comunicada e interpretada; o valor confirmativo da informação; o efeito de uma melhor comunicação através da construção de relacionamentos. Portanto, as reuniões representam um canal

eficiente através do qual os gestores de fundos podem acumular e assimilar informações. “Uma das funções comumente citadas das reuniões foi a de confirmar ou, alternativamente, pôr em dúvida as informações e premissas utilizadas nos modelos [analíticos]” (BARKER et

al, 2012, p.213, tradução nossa).

As reuniões são um fórum para a criação de conhecimento porque ajudam os gestores de fundos a ‘ver as coisas’ de diferentes ângulos, a dar significado a todas as informações de outras fontes. Enfim, elas podem fornecer alguns insights aos gestores dos fundos que proporcionariam um melhor enquadramento das informações de outras fontes e, por conseguinte, a construção de uma melhor compreensão da empresa (BARKER et al, 2012, p.213). Além disso, os gestores de fundos buscam “[...] usar as reuniões para construir relacionamentos de longo prazo com os executivos das empresas e, assim, aprimorar o nível de interação” (BARKER et al, 2012, p.213, tradução nossa).

Isso poderia funcionar de duas maneiras. Em primeiro lugar, quanto melhor os executivos conseguirem entender os investidores, melhor eles seriam capazes de ajudá-los respondendo às suas necessidades de informação. Em segundo lugar, quanto melhor conhecerem os executivos, mais os gestores de fundos poderiam se engajar e entender o que eles aspiram para a empresa, a sua estratégia e o seu contexto (BARKER et al, 2012, p.214, tradução nossa).

Gestores de fundos procuram obter e assimilar informações tentando ver à frente do mercado, a fim de gerar lucro investindo em antecipação a uma mudança de preço da ação. Portanto, além de considerar as informações que se relacionam com o curto prazo, eles também tentam avaliar o longo prazo.

É neste contexto que a ênfase dos gestores de fundos na importância das reuniões se concentra predominantemente sobre a possibilidade de poder avaliar a alta administração da empresa. Dos vários fatores que são considerados pelos gestores de fundos como influenciadores de uma mudança no preço da ação entre agora e um ou dois anos, foi a qualidade da equipe executiva que eles se sentem capazes de julgar com suas reuniões face a face. [...] Nesse contexto, os gestores de fundos descreveram diversos métodos de extração de informação, como a observação da dinâmica interpessoal entre o diretor executivo e o diretor financeiro, provocando um pouco os executivos para testar suas reações ou, na maioria das vezes, observando como responderam às questões colocadas (BARKER et al, 2012, p.215, tradução nossa).

Barker et al (2012) criticam a relevância excessiva conferida pelos gestores de fundos a informações coletadas a partir de reuniões curtas, infrequentes e normalmente formais. Os gestores de fundos depositam confiança nas garantias proporcionadas pelo caráter e enfatizam a sua capacidade de avaliar atitudes comportamentais dos executivos e inferir a partir deste julgamento a competência da administração e o desempenho futuro da empresa.

Portanto, como se pode notar, as fontes de informação que envolvem contatos diretos foram consideradas como sendo muito importantes para os usuários sofisticados de

informações financeiras, analistas buy-side (gestores de fundos) e analistas sell-side (analistas de mercado). Contudo, alguns tipos de fontes de informação formais (relatórios anuais e resultados financeiros, por exemplo) foram considerados importantes por serem utilizados como base para a discussão durante as reuniões.

Conclui-se que as fontes formais de informação são importantes, porém estes usuários sentem a necessidade de ter acesso à administração da empresa para expor dúvidas e obter confirmação de sua compreensão. Eles também consideram o contato direto como importante para avaliar a forma que os membros da administração interagem uns com os outros e a confiança com que eles respondem às perguntas. Além da interação entre analistas e executivos, o relacionamento e o intercâmbio informal de informação entre os próprios analistas são bem avaliados por estes usuários.