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4 O COMPORTAMENTO INFORMACIONAL NO MERCADO DE AÇÕES

4.1 O MERCADO DE AÇÕES

Ações são valores mobiliários que representam uma fração do capital social de uma empresa, representando, para o seu detentor, uma participação nos lucros da empresa (MÜLLER, 2006, p.19). Existem dois tipos de ações no mercado brasileiro: ações preferenciais (PN) e ações ordinárias (ON). As ONs dão aos seus detentores o direito de voto nas decisões da empresa e de receber dividendos. No entanto, as ações deste tipo geralmente têm menor valor de mercado e liquidez, uma vez que estão em grande parte concentradas nas mãos dos controladores da empresa que não as negociam com frequência.

Em contrapartida, os detentores de ações preferenciais têm prioridade no recebimento de dividendos e parte de seu investimento de volta caso a empresa venha à falência, mas não têm direito a voto. Os investidores, em geral, têm mais interesse em receber dividendos do que em participar das decisões da empresa. Por isso, as ações preferenciais são geralmente mais negociadas no mercado de ações do que as ações ordinárias.

Os investidores que compram ações de uma empresa em sua oferta pública inicial (em inglês: IPO – Initial Public Offering) podem vender essas ações a outros investidores no segmento do mercado de ações chamado mercado secundário – um segmento que permite a

compra e venda de ações entre investidores. A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) é responsável pela manutenção do mercado de ações brasileiro, que, por sua vez, está sob a supervisão da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Esta última é uma instituição com o poder de fiscalizar o mercado de ações e, se for o caso, aplicar penalidades e exigir informações e esclarecimentos a empresas de capital aberto e a participantes do mercado (CAVALCANTE; MISUMI; RUDGE, 2005, p.27).

As negociações de ações são realizadas na bolsa de valores e o preço de cada transação é divulgado e torna-se um parâmetro para as novas negociações. É o que se chama de cotação ou preço de cada ação. Os preços das ações podem aumentar ou diminuir, de acordo com o maior ou menor interesse dos investidores em comprar ou vender ações. As expectativas quanto ao desempenho das empresas e da economia do país e do mundo aumentam ou diminuem o interesse em empresas de capital aberto e influenciam o preço de suas ações. De acordo com Fortuna (2011, p.693), “O preço de uma ação em bolsa é fruto das condições de mercado (oferta e demanda) que reflitam as condições estruturais e comportamentais da economia do País e específicas da empresa e de seu setor econômico”.

No passado, profissionais conhecidos como operadores da bolsa se reuniam em um salão para executar fisicamente as ordens de compra e venda solicitadas por investidores às suas corretoras. Atualmente, os investidores ainda negociam ações através de corretoras – instituições financeiras que intermediam o acesso dos investidores à bolsa de valores. No entanto, com as inovações tecnológicas, os pregões (as sessões de negociação) foram totalmente automatizados, portanto, a execução das ordens passou a ser realizada eletronicamente, não havendo mais a necessidade de intervenção dos operadores.

Com as facilidades oferecidas pela Internet, os investidores de varejo (pessoa física) participam do pregão eletrônico, chamado de Megabolsa. “[...] Megabolsa representa uma ampliação dos limites espaciais do pregão da Bolsa [...]” (FORTUNA, 2011, p.698). Desse modo, a pessoa física utiliza um sistema de negociação online (home broker) oferecido pelas corretoras para negociação de ações no pregão eletrônico. Por outro lado, os investidores institucionais têm acesso em tempo real ao ambiente eletrônico da bolsa através do sistema de acesso direto ao mercado (DMA – Direct Market Access).

Como regras fundamentais para o funcionamento do mercado de ações, ordens de compra e venda e informações como o preço e o volume negociado de cada ação estão disponíveis para todos os participantes. Assim, uma das características mais marcantes do funcionamento do pregão é a publicidade das negociações de modo que todas as partes

interessadas possam estar cientes das informações referentes às negociações que acontecem nos pregões. Pelo mesmo motivo de ser transparente, as empresas que têm ações negociadas em bolsa são obrigadas a divulgar periodicamente os balanços e comunicados corporativos sobre seu desempenho financeiro (full disclosure – divulgação integral, um dos princípios do funcionamento do mercado de ações). Por conta desta norma, algumas informações das negociações na bolsa também são divulgadas diariamente nos meios de comunicação de massa (MÜLLER, 2006, p.30).

Os lucros sobre o investimento em ações podem ser auferidos na forma de ganhos de capital (a diferença entre o preço de venda e o preço de compra da ação) e lucros distribuídos pelas empresas (dividendos, juros sobre o capital, bônus em novas ações e subscrição). Para que o investimento em ações valha a pena, seu rendimento deve ser superior ao rendimento da renda fixa acrescido de um prêmio de risco. Cavalcante, Misumi e Rudge (2005, p.195) acrescentam que “o sucesso do investimento em ações depende fundamentalmente da capacidade de análise do investidor”.

A projeção do lucro – que baliza o cálculo do preço justo – é resultado daquela que talvez seja a mais importante das atribuições do analista fundamentalista. O analista estima vendas, custos e despesas, até chegar ao lucro final, utilizando informações de toda natureza sobre a empresa, obtidas em diversos relatórios públicos e em reuniões individuais ou coletivas com a diretoria da empresa. Seu conhecimento do histórico da empresa exerce papel importante (CAVALCANTE; MISUMI; RUDGE, 2005, p.203).

Portanto, Cavalcante, Misumi e Rudge (2005, p.241) afirmam que a seleção de ações para investimento é uma técnica sofisticada porque há uma diversidade de variáveis que podem afetar o preço das ações. Como resultado, esses autores recomendam investimentos em ações somente para pessoas bem informadas porque é importante: assimilar conceitos; conhecer o jargão do mercado e os pontos fortes e fracos das empresas de capital aberto; identificar os ciclos econômicos, etc. Portinho (2009, p.51) acrescenta que, no mercado acionário, o investidor deve estar bem informado sobre as companhias nas quais investe e sobre seus setores e planos de investimentos.

Dessa maneira, o investimento no mercado de ações é relativamente sofisticado, pois envolve: análise política e econômica; compreensão da legislação fiscal; acompanhamento dos negócios das empresas; e muitos outros fatores que podem influenciar os preços dos ativos. Na próxima seção, são discutidas as principais influências sobre os preços das ações.