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Compreender a ligação entre Redes Sociais e Moda

3 Capítulo: Estudos de Caso 3.1 The Blonde Salad

4.1.1 Compreender a ligação entre Redes Sociais e Moda

Apesar de este estudo se focar especificamente no Fashion Film enquanto futuro da comunicação online de Moda, tendo este formato como principal difusor as Redes Sociais tornam-se importante entender se estas plataformas têm igualmente presença no futuro. Como vimos com Chervinski e Souza (2015), as Redes Sociais marcaram uma nova era de informação e comunicação. Atualmente representam uma das pontes mais importantes entre empresas e consumidores competindo acerrimamente com meios estabelecidos há muitos anos como a televisão e a imprensa. Permitem um diálogo mais rápido, expressivo e direto, estão introduzidas no quotidiano de praticamente qualquer cliente, permitem a comunicação “boca-a-boca” a grande escala e o acesso a qualquer hora e em qualquer lugar. Este facto é por si só um argumento convincente de que as Redes Sociais estão realmente aqui para ficar, mas depois da análise realizada foram levantadas algumas observações de como estas são ainda mais úteis no que toca ao mercado da Moda.

A escolha de definir Moda enquanto fenómeno social não foi tomada levianamente. O facto de que praticamente qualquer autor conceituado abordar este campo de uma forma ou de outra pelo seu cariz social, tornou óbvio que esse era um fator importante a ser referido e que faria a ligação entre Moda e Redes Sociais ainda mais fácil de ser conseguida. Esta perspetiva foi bastante frutífera e várias das características do conceito Moda que foram detetadas podem ser aplicadas às Redes Sociais surgindo várias semelhanças entre os dois campos. Em primeiro lugar, Moda e Redes Sociais partem de facto do mesmo núcleo, são duas áreas construídas pelas Homem em civilização e exploradas principalmente no uso social. Posto isto, verificamos que quase qualquer fenómeno que parta do elemento social da Moda se pode rever também nas Redes Sociais já que a influência é a mesma: o ser humano em sociedade.

Tomamos como primeiro exemplo as duplas dicotómicas que Georg Simmel (1957) estabelece e que vários outros autores referem. Começamos pelo par Diferenciação e Imitação. Como estudamos, Simmel (1957) explica como a Moda permite que sujeito se possa sentir simultaneamente integrado ou distanciado de certos grupos sociais escolhendo imitar ou diferenciar-se das modas por eles adotados. As Redes Sociais vêm permitir o mesmo: uma declaração pública de imitação ou

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distanciamento de modas e tendências comportamentais e estéticas, mas queremos estender ainda mais a interpretação desta dicotomia. Referiu-se como desde que as leis sumptuárias foram abolidas o indivíduo ganhou uma maior liberdade de expressão individual como consequência da liberdade de escolha na forma como se veste. As redes sociais representaram algo bastante similar, a possibilidade de expressão individual pública sem qualquer tipo de censura ou filtro. Podemos concluir que tanto a Moda como as Redes Sociais permitem algo que já foi referido, a escolha de o sujeito afirmar a forma como se encaixar nas massas porque se estas plataformas dão espaço para o distanciamento dão também para a aproximação ou imitação. As Redes Sociais trouxeram acima de tudo conectividade, e esta conectividade estende-se não só aos grupos sociais offline, mas a novas possibilidades de ligações humanas que se travam por gostos, interesses e contextos iguais. A semelhança nas Redes Sociais, tal como na moda, pode trazer a inserção num grupo especifico e a sensação de pertença e segurança.

No que toca à dicotomia Massa e Elite as semelhanças são também detetáveis. Falamos bastante da democratização que as Redes Sociais trouxeram e seria de esperar que devido a esse facto a hierarquização que a Moda constrói não se aplicasse a esse mundo digital. No entanto, tal como Dorlfes (1990) afirma, a mesma evolução aconteceu com a Moda só que em vez de esse fenómeno anular a hierarquia de influência, inverteu-o passando as Massas a ser origem de tendências. Esta dinâmica é bastante semelhante à inversão de poder nas Redes Sociais que já tanto abordámos, hoje a voz do utilizador comum é mais importante, mais poderosa e chega mais longe sobrepondo-se a qualquer norma que as empresas ou outros órgãos queiram impingir. Mas, da mesma forma que democratizam, as Redes Sociais criam uma nova hierarquia que, como vimos, com a sua evolução, parece estar até a por em causa essa democratização. Como vimos pelo desenrolar da história, o poder de ditar tendências já se concentrou em designers, Marcas e revistas e com as Redes Sociais não se dilui, passa para um novo agente, os influencers. Os ditadores encontram-se agora nas Redes Sociais e o seu poder é medido pelo número de seguidores e visibilidade que têm.

Este facto leva à conclusão que a Moda não sobrevive sem hierarquia. Carvalho (2015) afirma mesmo isso, como esta dinâmica é essencial porque conservar o desejo da Massa de ascender a Elite e isso, claro, traz grandes interesses comerciais. Assim, as semelhanças entre moda e redes sociais mostram como as segundas servem tão bem as necessidades da primeira e não só no que toca às dicotomias que referimos até agora. As Redes Sociais conseguem facilmente acompanhar, por exemplo, o modelo fast fashion nomeadamente: a necessidade do imediato e o desejo de novidade constante (as atualizações nas redes podem e são feitas a qualquer momento), a conectividade (as redes ligam e fundem mais que nunca a linha entre produtor e consumidor), a importância do valor marca atualmente (as redes sociais apresentam uma oportunidade de as marcas criarem mais conteúdo engajador e de se conectarem ainda mais com os seus públicos, reforçando o valor marca) e o respeito pela individualidade (a possibilidade de expressão individual). E mesmo sendo estas características do modelo fast fashion, algumas destas necessidades estão já a chegar aos mercados

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Para além das semelhanças que mostram a proximidade entre as duas áreas, não podemos deixar de referir o grande impacto que a inserção das Redes Sociais tive no mercado de Moda que também já foi aqui analisado. Quando se identifica uma mudança tão significativa num mercado com centenas de anos de existência por uma área completamente nova é impossível não considerar a sua real importância. As Redes Sociais, como vimos, abalaram estruturas tradicionais, hierarquias de podere formas de comunicação, e ainda que de forma reticente a própria indústria fomenta cada vez mais essa mudança.

Em suma e como já explicado, esta relação entre Moda e Redes Sociais não é o foco deste estudo, mas a sua interligação reforça a importância deste e da possibilidade de os Fashion Films, formato que parte das Redes Sociais, ser um dos agentes mais importantes da comunicação de Moda futura.